segunda-feira, 13 de abril de 2015

Escola está fora da rota de 172 mil jovens

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por Joana Suarez
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Com a morte do pai, Lorraine Stephanie, na época com 15 anos, precisou sair da escola para trabalhar e ajudar a mãe em casa. Luiz Eduardo Costa, 19, largou a sala de aula há dois anos para complementar a renda da família, que está reformando a casa. Com apenas 13 anos, Eduarda Stefany Gonçalves vê alguns jovens conquistando a independência financeira e planeja fazer o mesmo para juntar dinheiro para sua festa de 15 anos. Histórias diferentes mostram a mesma realidade: 27,5% dos mineiros de 15 a 17 anos não conseguem conciliar trabalho e estudo.

Ao todo, 172 mil adolescentes mineiros estão longe das salas de aula. Em todo o país, o número chega a 1,7 milhão. Eles são os “invisíveis” na demanda por uma vaga no ensino médio – e nesse universo a necessidade de trabalhar está entre as principais causas da evasão escolar. A redução das vagas no período noturno é mais uma das formas de exclusão.

“A relação com o trabalho diz respeito à sobrevivência e à possibilidade de menino viver sua juventude, porque ele quer comprar uma roupa, sair com a namorada. É a escola que tem que se adaptar à realidade dele, e não o contrário”, destaca o doutor em Educação Juarez Dayrell. 

Segundo ele, em 2008, uma grande pesquisa sobre os motivos de evasão escolar constatou a falta de interesse como fator de desistência do aluno à época. “Quando falamos isso, parece que o problema é o aluno, mas quando a gente se aproxima do cotidiano escolar, nós vemos que há um conjunto de fatores que produzem essa falta de interesse: a aula chata, o professor, a dificuldade, o cansaço do aluno que trabalha”, diz Dayrell.

“Cheguei à 8ª série com 13 anos e tomei três bombas por causa das amizades na rua. Aí, desisti da escola. Eu não escutava ninguém. Quando olho para trás, penso quanto tempo perdi. Já podia ter formado há cinco anos”, desabafa Cláudio Vinicius Santos, 21, que hoje tenta concluir o ensino médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Há que frisar que a responsabilidade pela evasão não é apenas da escola. Professores em instituições inseridas em comunidades carentes e violentas perdem muitos alunos para o crime – aí incluído o tráfico de drogas – e para a prostituição. “Ele quer ter renda, mas não consegue emprego. Daí ele procura o dinheiro fácil”, conta um docente.
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Fonte: Jornal O TEMPO (MG)

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