segunda-feira, 28 de julho de 2014

Mais que um jogo

Por Wilma Freitas  *
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A Alemanha não limitou sua revolução aos campos de futebol para transformar derrotas em vitórias. O país também usou um resultado ruim em um ranking mundial de educação em 2001, para rever e transformar seu modelo de ensino.
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Um ano antes, a Alemanha amargava o 21º lugar dentre os 31 participantes do Programme for International Student Assessment (Pisa). À época, apenas 37% dos alunos do país concluíam o ensino médio e se habilitavam a entrar em uma universidade. O desempenho abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) levantou um profundo debate sobre a educação no país e fez a Alemanha revolucionar seu projeto educacional.
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O modelo alemão é dual, ou seja, a profissão não é isolada do contexto de vida do aluno. O maior diferencial desse processo de formação profissional e acadêmica acontece após o primeiro segmento do ensino fundamental. Aos 10 anos, os alunos passam por dois anos de orientação científica, a fim de identificar em quais áreas têm mais habilidade, ampliando as chances de se destacarem no mercado de trabalho. A reforma levou a Alemanha a subir o ranking educacional no Pisa e chegar a 12º em Ciências, o 16º em Matemática e o 19º em Leitura. O planejamento é facilitado pela autonomia dos estados alemães em relação à educação. Conseguem administrar a formação de acordo com a demanda econômica de cada região. Com o modelo, apenas 6% dos alunos do país estudam em escolas particulares e, em dez estados, as instituições de ensino superior são públicas.
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A estratégia de superação e inclusão profissional empreendida pela Alemanha provocou uma reviravolta no ensino. O que vimos acontecer na Bahia, além de ser uma política da Federação Alemã de Futebol, demonstra o resultado de uma educação para a responsabilidade e solidária. Em 2013, uma equipe do Senac RJ realizou um viagem técnica às alemãs Berlim e Munique para conhecer o que era desenvolvido no país e buscar parcerias acadêmicas. Com as visitas, a instituição observou in loco o método aplicado e avaliou o progresso após maciço investimento educacional. As escolas são equipadas com instalações e laboratórios adequados ao desenvolvimento profissional, voltados para a qualificação dos alunos, além de modernas instalações de ensino base, fundamentais para o sucesso do futuro profissional.
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Método semelhante ao processo educacional alemão, qualificando jovens para o mercado de trabalho utilizando a experiência in loco como ponto principal é desenvolvido também pelo Senac RJ há mais de uma década. As estratégias pressupõem o desenvolvimento profissional como resultado do engajamento do estudante em seu processo de aprendizagem. E a relação entre prática e teoria se dá por meio de problemas e desafios enfrentados em situações reais ou em casos que simulem a realidade do contexto de trabalho.
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Este é um modelo viável. E comprova que, muito além das linhas do campo, o Brasil também pode fazer seu golaço na educação.
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*Wilma Freitas é superintendente de Educação do Senac RJ
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