quarta-feira, 25 de junho de 2014

Professor brasileiro é um dos que mais trabalha, afirma relatório da OCDE

Os professores brasileiros de escolas de ensino fundamental, gastam, em média, 25 horas por semana só com as aulas. O número é superior à média de aproximadamente 30 países, como a Finlândia, Coreia, Estados Unidos, México e Cingapura. Lá, os professores gastam, em média, 19 horas por semana ensinando em sala de aula, ou seja, um porcentual 24% menor. O posição brasileira é inferior apenas à do Chile, onde os professores gastam quase 27 horas em aulas.
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O docente brasileiro, contudo, usa até 22% mais de tempo que a média dos demais países em outras atividades da profissão, como correção de "tarefas de casa", aconselhamento e orientação de alunos. Todos os dados são da mais recente Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) divulgada nesta quarta-feira (25) na França.
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Junto com o Brasil, não foram apenas países ricos e integrantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - coordenadora da pesquisa - que participaram do estudo. Outras nações emergentes e também países menos desenvolvidos fizeram parte da pesquisa. Polônia, Bulgária, Croácia, Malásia e Romênia fazem parte do conjunto de nações integrantes da edição 2013 da Talis. Os dados foram obtidos junto a mais de 14 mil professores brasileiros e cerca de 1 mil diretores de 1070 escolas públicas e privadas de todos os estados do País. Os docentes e dirigentes responderam aos questionários da pesquisa, de forma sigilosa, entre os meses de setembro a novembro de 2012. Cada questionário tinha cerca de 40 perguntas.
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Em âmbito nacional, o estudo foi coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), vinculado ao Ministério da Educação (MEC). Em 2007, o Brasil também participou da primeira rodada da pesquisa, a Talis 2008, que foi publicada no ano seguinte.
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Objetivo: A pesquisa tem como principal objetivo analisar as condições de trabalho que as escolas oferecem para os professores e o ambiente de aprendizagem nas salas de aula. De acordo com o Inep, "a comparação e análise de dados internacionais permite que os países participantes identifiquem desafios e aprendam a partir de políticas públicas adotadas fora de suas fronteiras".
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Diferente do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), que prioriza a avaliação dos alunos, do seu contexto e da escola, no Talis, o foco está mais centrado nos docentes. "O programa Talis é um programa de pesquisas que visa preencher lacunas de informação importantes para a comparação internacional dos sistemas de ensino", afirma estudo da Universidade Federal do Paraná liderado pela pesquisadora Rose Meri Trojan.
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"Desperdício"
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A pesquisa também quis saber do professor quanto tempo de aula é voltado, efetivamente, para a aprendizagem. E o número é pouco animador para o Brasil. Mesmo com uma carga de 25 horas de aulas por semana, mais de 30% do tempo desses encontros regulares é "desperdiçado" em tarefas de manutenção da ordem dentro da sala e em questões burocráticas, como o preenchimento de chamadas e outras atividades administrativas. Só o tempo gasto para por "ordem na bagunça" dos estudantes representa 20% do tempo total da aula. Com serviços administrativos, são gastos 12%. De aula mesmo, ou seja, atividades de aprendizagem, o professor dispõe apenas de 67% do tempo. É a pior situação entre todos os países avaliados. Na média dos países pesquisados, quase 80% do tempo é voltado, exclusivamente, para a aprendizagem.
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"Precisamos otimizar mais o tempo em sala de aula. O Brasil ainda tem como foco o ensino, mas é preciso se voltar para a aprendizagem. Não podemos desperdiçar tanto tempo com outras questões", afirma Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, um dos principais fatores de dispersão do aluno é a própria defasagem que ele tem em termos de conhecimento por uma série de fatores, inclusive os socioeconômicos. "Os alunos que chegam no fundamental veem com baixa proficiência ou possuem uma diferença muito grande em relação aos demais estudantes. Isso é um dos fatores que faz com que ele não fique atento às aulas e o professor precise gastar mais tempo organizando a dispersão", fala Alavarse.
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Deslocamento - Além de usar mais horas por semana ensinando, parte dos professores brasileiros ainda sofre com o desgaste em descolamentos. Isso porque, muitos deles trabalham em mais de um estabelecimento.
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"Ainda temos que enfrentar o desafio da reorganização do corpo de professores nas escolas públicas. O ideal era que ele estivesse vinculado a apenas uma escola. No entanto, é comum docentes, especialmente dos anos finais do ensino fundamental, ensinarem em mais de um estabelecimento, já que certas matérias que eles lecionam têm uma carga horária e número de turmas limitado", afirma Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
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No Brasil, cerca de 40% dos mais de 2 milhões de professores da educação básica dão aulas em cinco ou mais turmas. E aproximadamente 20% deles ensinam em pelo menos dois estabelecimentos. Já em São Paulo, 26% dos professores dão aulas em duas escolas. Os dados são do Censo Escolar 2013 divulgado no início deste ano pelo MEC.
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Perfil - Além dos dados sobre condições de trabalho e ambiente de aprendizagem, a pesquisa da OCDE também traçou o perfil do docente brasileiro. Confira os números da pesquisa aqui.
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'Educação não é mercadoria: setor privado precisa de uma regulamentação urgente'
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Depois da participação na aprovação, pelo Congresso, do Plano Nacional de Educação (PNE) - uma das principais bandeiras de reivindicação da União Nacional dos Estudantes (UNE) -, a entidade vai focar sua atuação, a partir de agora, na regulamentação mais efetiva do ensino superior privado do País. Essa supervisão mais eficiente das 2.112 faculdades, centros universitários e universidades particulares (87% do total de instituições de ensino superior do Brasil) será possível com a aprovação do projeto de lei que cria o Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação da Educação Superior (Insaes). Isso é o que afirma a presidente da UNE, Virgínia Barros, de 28 anos.
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"Quem se posiciona de forma contrária ao projeto fala que é mais um instituto que vem para inchar o Estado brasileiro e aumentar a burocracia. Eu não concordo com essa avaliação. Acho que o Insaes vem para aumentar a eficiência do próprio Estado no processo de fiscalização", afirma Vic, como é mais conhecida.
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Confira, no vídeo, a posição da UNE sobre a regulamentação do ensino privado, o balanço da gestão no primeiro ano de mandato encerrado agora em junho, além de outros temas envolvendo políticas públicas, movimento estudantil, eleições e Copa. Aqui.
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Superinstituto - O novo 'superinstituto' do Ministério da Educação (MEC) prevê a criação de mais de 500 cargos públicos ao custo que ultrapassa os R$ 40 milhões. O Insaes passaria a assumir algumas atividades da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) do MEC e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), ambos responsáveis pela regulação do setor.
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Hoje, tanto o Inep quanto a Seres sofrem com falta de pessoal e infraestrutura, o que compromete a fiscalização da qualidade do ensino ofertado pelas instituições privadas. Contudo, o projeto - que foi apresentado pelo executivo federal em 2012 -, ainda está em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara. O Ministério da Educação (MEC) esperava que ele fosse apreciado ano passado para que passasse a valer a partir deste ano.
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O setor privado, em geral, critica a criação e a formatação do instituto. Atualmente, o total de estudantes matriculados em faculdades e universidades de ensino superior no País ultrapassou a marca de 7 milhões em 2012. Mais de 70% desses alunos estudam em instituições privadas.
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