sábado, 31 de agosto de 2013

Por ano, 3 mil professores desistem de dar aula nas escolas estaduais de SP

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A cada dia, oito professores concursados desistem de dar aula nas escolas estaduais paulistas e se demitem. A média de pedido de exoneração foi de 3 mil por ano, entre 2008 e 2012. Salários baixos, pouca perspectiva e más condições de trabalho estão entre os motivos para o abandono de carreira.
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Os dados obtidos pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação são inéditos. A rede tem 232 mil professores - 120,8 mil concursados, 63 mil contratados com estabilidade e 49 mil temporários. A fuga de professores também é registrada na rede municipal de São Paulo, mas em menor escala. As escolas paulistanas têm média de 782 exonerações por ano desde 2008.
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Proporcionalmente ao tamanho das redes, o índice no Estado é duas vezes maior. Além disso, a capital conseguiu ao longo dos anos ampliar em 12% o número de efetivos, enquanto a rede estadual tem 10 mil concursados a menos do que em 2008. Os docentes que abandonaram o Estado migraram para escolas particulares, redes municipais ou dão adeus às salas de aula. O bacharel em Educação Física Marco Antonio Uzunian, de 30 anos, decidiu ser instrutor de uma academia e hoje também trabalha em uma empresa.
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Apenas um ano em uma escola estadual na Vila Carrão, na zona leste da capital, foi suficiente para ele desistir. Uzunian é um dos 2.969 efetivos que pediram exoneração só no ano passado. É o maior índice desde 2008. "Na escola eu não conseguia tocar um projeto de verdade, não tem apoio nem companheirismo", diz.
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O bolso pesou na decisão. Depois de concursado, só pôde pegar uma jornada de 10 horas. "Eu não tive opção de jornada maior. Essas 10 aulas me rendiam R$ 680." A Secretaria da Educação não respondeu por que há limite de jornada para novos docentes.
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Crise. Nem a estabilidade do funcionalismo público tem impedido demissões. Formado em Matemática pela Federal do Paraná, Fabrício Caliani ingressou na rede estadual em 2004. Abandonou em 2009 para ficar em escola particular. "Escolhi ser professor por vocação e faço meu trabalho bem feito. O que eu ganhava até me aposentar não ia compensar enfrentar tudo isso", diz ele, que dava aula em Bastos, no interior paulista.
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Mesmo sem ter emprego em vista, Eduardo Amaral, de 39 anos, pediu exoneração em abril de 2012 - depois de 8 anos na rede. "Para além da questão do salário, jornada e condições de trabalho adversas, tem o dia a dia da escola. É um ambiente hostil", diz ele, que hoje trabalha na Câmara Municipal de São Paulo.
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Professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Romualdo Portella considera os dados muito altos. "Temos reconhecido que a questão-chave da educação é o professor, mas precisamos ter atratividade de carreira, boa formação, retenção e avaliação", diz.
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A Secretaria da Educação defendeu que o número de exonerações representa só 1,63% do total de efetivos. Em relação à diminuição do número de efetivados, a pasta argumentou que aposentadorias, mudanças e mortes devem ser levados em conta. O governo não informou quantos concursos realizou desde 2008.
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A questão docente não é uma preocupação apenas do Estado de São Paulo, mas um drama vivido em todo o País. Estimativa recente aponta déficit de 170 mil professores de Matemática, Física e Química. Mas estatísticas do Ministério da Educação (MEC) revelam uma situação ainda mais grave: o número de interessados em ser professor está caindo a cada ano, o que torna mais difícil suprir as demandas.
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De 2006 a 2011, o número de alunos que entraram em Licenciatura e Pedagogia caiu 7,5%. Em 2011, último ano em que os dados estão disponíveis, foi registrado o menor volume de pessoas que ingressaram nesses cursos desde 2004. Foram 662 mil matriculados em cursos presenciais e na modalidade a distância em todo País.
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O total de diplomados interrompeu crescimento registrado entre 2000 e 2009. Desde então, já apresentou queda de 11%. Em 2011, 358 mil pessoas formaram-se em Licenciatura ou Pedagogia, formação padrão para atuação na educação básica (do ensino infantil ao médio). Apesar de desaceleração no ritmo de formação, o número de professores no País tem aumentado nos últimos três anos. Em 2012, existiam 2,1 milhões de docentes de educação básica.
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A superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação (Cenpec), Anna Helena Altenfelder, lembra de pesquisa recente da Fundação Carlos Chagas (FCC) que mostra que os jovens não querem ser professores. "O estudante do ensino médio respeita o professor, mas diz ‘eu não quero’, porque ele vê a dificuldade e a vida dos docentes", afirma. "Há uma questão da precarização da atividade: do salário, progressão na carreira à valorização social do magistério."
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Perfil. Com esse contexto negativo, a carreira docente não tem atraído, em geral, os alunos com melhor desempenho no ensino médio. "O Estado de São Paulo, por exemplo, tem 98% de seus professores formados nas instituições privadas, que em geral têm as piores condições, professores menos qualificados e formam mal o aluno", diz o professor de Educação da USP Romualdo Portella.
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Dados de levantamento da FCC revelam que 39,2% dos professores do País são de famílias de baixa renda (de até 3 salários). Além disso, 45,6% dos professores têm mães com nenhuma escolaridade ou que cursaram apenas até a 4.ª série.
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Fonte: Folha de São Paulo.
 

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Décadas de dilema na escola pública

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Por: Daniela ASrbex
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Na sala de visitas, todos falavam ao mesmo tempo. Parecia reunião de turma da escola. E era. A diferença estava na idade dos participantes. Formandos de 1977, os ex-alunos do ginásio da Escola Estadual Marechal Mascarenhas de Moraes, o Polivalente de Teixeiras, não têm mais 15 anos. Estão na casa dos 50, tornaram-se pais, alguns até avós. O que os une, no entanto, é a profunda ligação com o colégio que os transformou. Por isso, há quase quatro décadas, eles têm encontro marcado para enganar a saudade. Não só os antigos estudantes participam, mas professores da época, diretora, merendeira e outros funcionários. Hoje o grupo de antigos estudantes é composto por procurador federal, oficial da Marinha, empresários, enfermeiros, professores universitários. Juntos, eles são o retrato de uma escola pública que deu certo, cujo projeto pedagógico conseguiu contagiar meninos e meninas por uma vida inteira. A experiência da turma de 77 é provocadora. Trinta e seis anos depois, o Polivalente mudou de cara. É hoje uma das escolas estaduais com o maior número de ocorrências policiais da cidade. É mais que isso. É a imagem do que se transformou a escola pública brasileira. O que os especialistas tentam explicar é em que momento o ensino público perdeu a sua importância na sociedade. O que a sociedade quer saber é como resgatar um modelo escolar recente de sucesso.
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Construído em 1974, o Polivalente mudou o cenário do Teixeiras, na Zona Sul. Era a primeira vez que um bairro pobre receberia uma escola grandiosa no tamanho e na proposta pedagógica, a ponto de fazer muitos alunos do Centro, que já estudavam em colégios particulares, migrarem para lá. Rapidamente, o Marechal Mascarenhas de Moraes conquistou espaço na vida da comunidade e fincou raiz no coração dos alunos da sexta, sétima e oitava séries do antigo primeiro grau, hoje ensino fundamental. Inovador, ofereceu bem mais do que o quadro e o giz. Além das matérias tradicionais, o Polivalente tinha coral, teatro, dança e esporte, dispondo, ainda, de quatro práticas no currículo: industrial, comercial, agrícola e educação para o lar. "Nas práticas comerciais, por exemplo, cada um tinha a sua mesa. Havia balcão, mimeógrafo, nós aprendíamos todo o processo de venda, questões de almoxarifado, estoque, emissão de nota fiscal. Na prática agrícola, contávamos com trator. Criávamos coelho, e a horta produzia tanto que os alunos carentes levavam parte da produção para casa. Na educação para o lar, aprendemos como sentar a mesa, a comer de garfo e faca, a fazer pratos básicos, a dar bainha em uma calça e tivemos até aulas de puericultura e educação sexual. Nas artes industriais, havia uma gráfica. Fomos nós que fizemos o convite de formatura", lembra Geraldo Aquino, 50 anos. Ex-presidente do Centro Cívico, o empresário mantém o espírito de liderança da juventude, sendo o grande responsável por manter a união da turma. "Devo muito ao Polivalente. Os valores que carrego até hoje, aprendi nessa escola", explica Geraldo, que hoje reside em Goiás.
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Evandro Mendonça Fortuna, 51 anos, do Centro Regional de Inovação e Transferência Tecnológica (Critt) da UFJF, divide com o amigo da escola a gratidão pelo que recebeu. "Não aprendemos só matemática e português. Aprendemos a ser gente. Quando saí de lá, fui morar sozinho no Rio. Sabia costurar e cozinhar", lembra. A bióloga Vera Lúcia Teixeira, 52, residente em Barra Mansa (RJ), conta que teve o interesse pela biologia despertado nas aulas de ciências. "O professor Jarbas levava a gente a campo. Também plantávamos e aprendíamos a valorizar o meio ambiente de forma prática. Todo mundo adorava ir para a escola. Não ficávamos numa sala só, estagnados. Ao invés de o professor trocar de sala, os alunos é que trocavam a cada disciplina. Era como se a gente fosse em busca do conhecimento", revela a vice-presidente do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. A diretora da época, Cesarina de Lima, 65, destaca que uma das funções da escola era justamente o despertar de talentos. "A educação é a base de tudo, haja vista os profissionais competentes que nossos alunos se tornaram. A amizade construída entre estudantes, professores e direção perdura até hoje. A gente era uma família polivalente."
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Aluna da turma de 1977, a enfermeira Regina Muniz, 50, não consegue esquecer as revolucionárias aulas no laboratório de ciências, com o professor Jarbas. "Um dos dias mais marcantes para nós se deve à sensibilidade do Jarbas, que permitiu que observássemos os espermatozoides pela lente de um microscópio. Só vim ter uma aula como essa de novo na faculdade", comenta, antes de dar uma gargalhada. "A gente está procurando até hoje o doador desse material. De vez em quando, um assume a autoria", diverte-se Gilson Farani, 50, que atualmente trabalha em um escritório de advocacia.
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'Os professores acreditavam naquela proposta'
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Olhar para trás pode ajudar a dar uma nova direção ao presente da educação. Embora não existam fórmulas prontas para ganhar o interesse do aluno, a experiência do Polivalente de Teixeiras mostra que é possível fazer a diferença e criar um ambiente propício ao aprendizado. Depende de muitas coisas, mas também do comprometimento da equipe pedagógica com a comunidade escolar. "Um dos diferenciais era o interesse dos professores por nós. Sentíamos essa proximidade, e isso foi importante na nossa formação como indivíduos. Por isso, além da nossa, outras turmas tiveram uma história de sucesso", comenta o engenheiro Wesley Braga, 50.
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Toninho Dutra, superintendente da Funalfa, é mais um exemplo. Um ano mais novo do que a turma de 1977, ele teve o interesse pela cultura despertado na escola. "Iniciei teatro lá. Havia humanidade presente em todas as disciplinas, e o projeto pedagógico passava pela questão dos valores. A escola era um lugar de prazer, no qual os professores se aproximavam dos alunos."
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A enfermeira Regina concorda: "Os professores acreditaram naquela proposta e deram muito de si. Isso acabou nos contagiando. Havia uma magia que permaneceu nas nossas vidas." Para a procuradora da Fazenda Nacional Maria Aparecida da Silva, 50, havia acolhimento. "O papel transformador dessa escola na minha vida foi fundamental. Além da proposta da formação intelectual, havia calor humano. O Polivalente reunia gente de vários níveis, e eu estava no da indigência social. Mesmo nessa condição, a escola me mostrou que era possível mudar."
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O depoimento da procuradora é carregado de emoção. Filha de mãe lavadeira e pai servente de pedreiro, ambos analfabetos, ela lembra que não tinha sapato para estudar e que precisava encontrar com a irmã no caminho da escola, a fim de trocar com ela o seu chinelo por um kichute. Como na sua casa haviam dez bocas para comer, muitas vezes, Aparecida chegava com fome no Polivalente e era socorrida pela cantineira Thereza Maria Carnot, hoje com 80 anos. "Ela era um dos corações da escola naquela cantina. Dona Thereza tinha a consciência que primeiro era necessário forrar o estômago para a criança aprender. Ninguém nunca percebeu, mas ela me dava almoço antes do início das aulas. A pedagogia do amor funciona muito. O Polivalente me educou, mas também mostrou que estaria ao meu lado. Tive mobilidade social por conta dessa orientação pedagógica."
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A ex-cantineira do colégio sustenta que tinha consciência da sua missão, mas que não imaginava o alcance das suas ações na vida desses ex-alunos. "Nunca me passou pela cabeça que eu fui tão importante para aquelas crianças. Hoje agradeço a Deus por não ter passado pela vida em vão. Na minha comida, o ingrediente a mais era o carinho."
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Perda de recursos e falta de projetos
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Apesar de ser um ideal democrático, a educação para todos impôs dilemas desconhecidos pelas escolas até a década de 1990, como a massificação do ensino, provocada pela urbanização acelerada. Antes disso, a escola pública ensinava para minorias. Quase metade da população até o início da década de 1980 não frequentava os bancos escolares. Segundo o doutor em sociologia Rudá Ricci, ao universalizar o ensino fundamental, colocando nas escolas quase 100% das crianças de 7 a 14 anos, o Poder Público deu um passo importante em favor da infância e adolescência brasileira, porém não se preparou para isso. O fato é que, nesse período, alunos das classes média e alta trocaram a rede pública pela privada, migração provocada pelo fim do financiamento externo da educação no país. A perda de recursos levou a um quadro de desorganização dos projetos educacionais, culminando na perda de qualidade do ensino e no desmonte de escolas, como as polivalentes. Os salários dos educadores, que na década de 1970 chegavam a 12 mínimos, também foram achatados.
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Fragilizada na sua importância, as escolas públicas tornaram-se endereço dos filhos das classes trabalhadoras, cujos pais e avós, muitas vezes, jamais sentaram num banco escolar. O fato é que muitos filhos da rua conquistaram um passaporte para o mundo letrado, mas o choque de cultura foi inevitável. Para piorar, os professores, que estavam acostumados a dar aula para estudantes ideais, até hoje não conseguiram se adaptar à realidade do novo público. "O professor se acostumou a culpar o aluno pelo não aprendizado. Mas ele precisa entender que, para muitos estudantes, a escola é o único espaço de aprendizagem. Por isso, não pode desistir desse jovem, porque, muitas vezes, a família já desistiu. É preciso apostar que o aluno é capaz", analisa a atual diretora do Polivalente de Teixeiras, Lilian Maria Custódio Toledo, cujo colégio conta com 853 alunos.
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Perfil dos docentes
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O pró-reitor de Graduação da UFJF, Eduardo Magrone, analisou, em sua tese de doutorado, o perfil dos docentes em momentos distintos da história e diz que hoje falta identidade simbólica entre mestre e aluno. "Hoje o professor se veste e fala como aluno e, muitas vezes, tem que vender coisas no intervalo para a mãe do aluno ou assumir outras ocupações nos finais de semana. Já nos anos 1950, tinha formação muito superior à oferecida hoje pelos cursos de pedagogia. Se tornar professora era um bem disputadíssimo para as filhas das camadas média e alta. Com uma formação diferenciada, elas entravam na sala de aula como alguém que simbolicamente não estava na mesma posição do aluno e tinha a sua autoridade reconhecida por sua competência. Hoje, no entanto, o professor, muitas vezes, tem que apelar para recursos constrangedores, e o aluno perde o pouco respeito que tem."
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Além disso, Magrone cita a falta de identificação do professorado com as escolas da rede pública e com o próprio alunado. "O mesmo professor, muitas vezes, tem posturas profissionais diferentes na escola pública e privada, cuja divisão espúria está cristalizada. No fundo, há uma divisão classista. É como se voltássemos ao tempo da escravatura, da casa grande e da senzala. Essa divisão é uma máquina de produzir desigualdades. Na escola de massa, o aluno é um número. Ele não tem identificação com a escola e o professor também não. O professor da rede privada, quando perguntado, diz o nome da escola em que trabalha. Agora se perguntar para o professor da escola pública, ele vai dizer que é na rede municipal ou estadual. Ele não diz o local. Hoje não há mais o sentimento de missão e nem uma forte identidade com a escola e com os alunos."
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Para a diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE), Victória Mello, a perda da importância do papel da escola na vida das comunidades afetou a valorização e a identidade dos educadores. Segundo ela, a educação passou a ser tratada como mercadoria, produto que está a venda. "A desvalorização da escola acompanha o papel secundário reservado aos trabalhadores brasileiros no mercado de trabalho mundial. Os trabalhos mais complexos são para uma minoria do setor privado e a melhor formação escolar também. Na escola pública, a formação é aligeirada, não sendo necessário tempo de permanência na escola, nem um currículo que compreenda as complexidades do mundo do trabalho atual e nem professores com boa formação. No decorrer desse processo, o professor foi perdendo o encantamento. Tornou-se mero transmissor de conhecimento empacotado de um currículo escolar que vem sendo construído em função de avaliações externas. Com isso, seu papel foi sendo reduzido, resultando na perda da identidade como educador. Isso gera desânimo e adoecimento", destaca Victória.
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Educação só é prioridade no discurso
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"O futuro da escola pública é o passado", afirma o doutor em sociologia, Rudá Ricci. Para o especialista, o compromisso com o indivíduo, presente nas escolas de ontem, precisa ser resgatado. "Isso não é só uma questão de melhoria do salário do professor, mas de um projeto de educação das escolas. Que tipo de pessoas queremos formar? Aquelas preparadas para o vestibular ou as que se constroem, que fazem para si e o país?"
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O pró-reitor de Graduação da UFJF, Eduardo Magrone, faz coro: "A elite brasileira não sabe o que quer e não tem um projeto estratégico de país. Desta forma, a educação fica como sendo a eterna prioridade só no discurso." Para se ter compromisso com o indivíduo, não só com a prestação do serviço, Rudá defende a contratação de professores em tempo integral, para que ele tenha condição de manter seu foco nos estudantes e na formação a longo prazo. "Recursos nós temos, o que não temos é um projeto dos governos para a educação."
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Magrone defende que o projeto para a educação passe pela reformulação dos currículos e pela própria formação oferecida pelos cursos de graduação. "O primeiro choque do aluno de pedagogia e licenciatura é o estágio. As universidades preparam muito mal o professor, porque não preparam para essa escola que está aí. Nas diretrizes curriculares dos cursos de pedagogia, a palavra ensino aparece poucas vezes." O pró-reitor confirma que, apesar da inadequação do currículo, há muita resistência em modificá-lo.
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A solução seria a retomada do modelo do passado ou a construção de um novo modelo baseado nos valores do passado? "Aquela sociedade já não existe mais. Temos que aprofundar o atual modelo no que ele tem de positivo, pois foi esse modelo que colocou para dentro da escola quase 100% das crianças de 7 a 14 anos, que universalizou o ensino fundamental. Então ele tem as suas virtudes. Os principais problemas são de gestão e principalmente o professor. É preciso pensar em como formar o professor para que ele veja esses alunos com um novo olhar e não como alguém que está selado ao fracasso."
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Fonte: Tribuna de Minas (JF-MG)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A criança e a infância

Por Rosely Sayão*
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"Não basta ser criança para ter infância." Essa frase contundente está presente no documentário "A Invenção da Infância" (disponível na internet) dirigido por Liliana Sulzbach, que propõe uma reflexão sobre os estilos de vida de nossas crianças no mundo atual. É uma frase que persegue meus pensamentos, conduz o meu trabalho e que, no último sábado, me fez pensar muito.
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É que no dia 24 de agosto comemorou-se o Dia da Infância. Grandes reportagens a esse respeito nos veículos de comunicação ou mesmo pequenas notas lembrando a data, por acaso apareceram? De um modo geral, pouco vimos a esse respeito. A lembrança da existência dessa data parece ter ficado restrita aos grupos que, de maneira direta ou indireta, trabalham com e/ou para crianças. Faz sentido esse silêncio da sociedade a respeito de uma data que, aliás, não deve ser considerada comemorativa. A infância está desaparecendo e temos contribuído de modo expressivo para isso. Como temos feito isso?
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Para começar a pensar, temos de considerar que ser criança é um fato biológico, mas o modo como ela vive essa etapa da vida, que vai até a adolescência, depende de múltiplos e complexos fatores, entre eles o modo social de pensar a criança. É aí que entramos. De um modo geral, cada vez mais a criança, notadamente a que pertence à família de classe média, tem sido tratada como um ser que precisa ser preparado para o futuro. Há algumas décadas, passamos a acreditar que quanto mais precocemente a criança for engajada em situações de estudos formais, maiores as chances ela terá de êxito no futuro.
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Já temos inúmeros estudos e pesquisas que comprovam que iniciar o contato com o conhecimento sistematizado mais cedo não contribui no aprendizado que deve ocorrer a partir dos sete anos. Por isso, tudo o que conseguimos ao fazer isso é deixar de ver a criança em seu presente, ou seja, a vemos muito mais como um ser que, um dia, será alguém. Também temos deixado a criança cada vez mais tempo na escola. As três ou quatro horas iniciais se transformaram, progressivamente, em cinco, seis, oito, dez e até 12 horas de permanência no espaço escolar! Se considerarmos que ir para a escola é o trabalho da criança, elas têm trabalhado demais, à semelhança de seus pais, os adultos.
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Temos entendido que o tempo de permanência na escola é uma necessidade social já que os pais têm se dedicado muito à vida profissional. Conheço profissionais que trabalham muito além da jornada e justificam o excesso como necessário para dar conta da responsabilidade profissional. E a pessoal, com os filhos, onde temos colocado tal responsabilidade?
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Crianças têm se alimentado como adultos que se alimentam mal. E, como estes, têm enfrentado doenças por causa disso. Esse fato não ocorre por falta de informação dos responsáveis pelas crianças e sim pela falta de paciência e dos cuidados necessários que elas necessitam. Ah, mas elas pedem, exigem até, as porcarias ofertadas insistentemente e disponíveis em todos os cantos. Sim, mas por isso vamos permitir que fiquem escravas de seus impulsos e que consumam como adultos?
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Abordei dois pontos apenas de nossa contribuição direta para o fim da infância. Há muitos outros. Por isso, todo dia deveríamos fazer essa reflexão: queremos que nossas crianças tenham infância, ou já consideramos esse conceito obsoleto?
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*Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de "Cotidiano".

Educação e humor


Educadores apontam riscos da reforma paulista

Por Paulo Saldaña - O Estado de S.Paulo
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Resgatar boas ideias e introduzir novidades. Essa foi uma das formas com que o prefeito Fernando Haddad (PT) resumiu o programa de reforma da educação municipal, anunciado este mês. Entretanto, mais do que resgatar e inovar, o plano terá de ser capaz de fazer funcionar medidas conhecidas e até existentes na rede, mas que encontraram dificuldades para se tornarem efetivas para a melhoria do aprendizado.
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A linha geral do programa é aumentar a exigência para os alunos do ensino fundamental, acompanhando desempenho, oferecendo recuperação e, caso não haja jeito, reprovando quem não progrediu. A reforma aumenta de dois para cinco anos as chances de retenção - medida criticada pela maioria dos especialistas, que receiam aumento nos índices de reprovação, que só puniria quem tem mais dificuldades e que pode refletir em abandono da escola. Nas estratégias para o acompanhamento surgem as boas ideias a resgatar, citadas por Haddad. Provas e boletins bimestrais e lição de casa obrigatória. Atualmente, a aplicação de provas e lição de casa ficam a critério de cada professor.
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Para a pesquisadora em Educação Paula Louzano, doutora pela Universidade de Harvard, a maioria das ações propostas tem grande risco de não se consolidar porque não deve resolver o problema de aprendizado. "Pesquisas internacionais mostram que, geralmente, as melhores medidas para a educação são as mais complexas. Porque a educação é complexa. Ter prova bimestral, por exemplo, depende do tipo de avaliação, do que se faz com ela", diz.
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Paula afirma ainda duvidar da forma como a Secretaria de Educação vai acompanhar as iniciativas e completa: "A sensação ao se lançar uma reforma é a de que nada estava acontecendo antes na rede, o que não é verdade". A recuperação também será um desafio no novo plano. A implementação de reforço no contraturno na rede já esbarrou em problemas de estrutura e de falta de educadores.
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Professora do Instituto Superior de Educação Vera Cruz, Maria José Nóbrega participou como consultora de um dos programas de reforço em leitura da rede nos últimos três anos. "Além da falta de professores, as escolas não tinham como acomodar os alunos, não havia sala nem transporte. A gente não conseguia fidelizar os alunos. A família não deixava ficar porque não tinha como voltar para casa", diz ela, que atua como assessora em programas de formação do Ministério da Educação.
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Ciclos. Maria José elogia a organização da proposta, mas aponta algumas lacunas. O ponto principal é na divisão dos ciclos - antes separados em dois, passaram a ser divididos em três: Alfabetização (1.º ao 3.º ano), Interdisciplinar (4.º ao 6.º ano) e Autoral (7.º ao 9.º ano).
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"O único que a gente consegue ver o que será é o de alfabetização, porque os outros dois ciclos são uma caixa-preta", diz. Ela aponta também o risco de abandono de currículos. "A educação tem de apostar a longo prazo. Ao desmontar uma proposta e colocar outra, isso passa para o professor que ele não precisa se aplicar com aquilo, porque logo vai mudar de novo."
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O professor de Artes Fabiano Chrisostomo, de 29 anos, afirma ver o projeto de reforma do ensino municipal com otimismo. "A possibilidade de retenção em mais anos vai aumentar o comprometimento do aluno e do professor com o aprendizado. Ajuda a entender melhor o papel da escola", diz ele, que leciona em uma escola de São Mateus, zona leste de São Paulo.
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A pesquisadora Vanda Ribeiro, do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação (Cenpec), ressalta que o processo de implementação é essencial. "Depende muito do arranjo dos processos de ensino, aprendizado, relação com currículo e planejamento. O tiro no pé será se a secretaria não tiver estratégia bem delineada de como vai evitar o aumento da reprovação", diz. "Será necessário mexer no jeito de fazer e vai depender muito do diálogo com a rede."
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Segundo o secretário de Educação, Cesar Callegari, o trabalho para ouvir as propostas dos educadores está se intensificando. "Estamos olhando todas as contribuições, alertas e vários pontos serão retocados. Mas a secretaria tem convicção forte no que anunciamos", diz.
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Fonte: O Estado de Sâo Paulo (SP)

sábado, 24 de agosto de 2013

Educar para crescer


Universidade Fumec não contará com câmeras do Olho Vivo

Os alunos da Universidade Fumec, no bairro Cruzeiro, zona Sul de Belo Horizonte, terão que conviver com o medo e com a insegurança até pelo menos o fim deste ano. Apontada pelo reitor da instituição, Eduardo Martins de Lima, como uma das soluções para coibir a ação de bandidos no entorno da universidade, a instalação de câmeras do programa Olho Vivo no bairro está descartada pelo Governo do estado. Nenhum dos 158 equipamentos previstos para a cidade – até dezembro – irá contemplar os bairros Cruzeiro e Anchieta, conforme adiantou o Hoje em Dia na edição de 28 de maio e reforçou, na sexta-feira (23), a coronel Cláudia Romualdo, chefe do Comando de Policiamento da Capital (CPC). “A distribuição dos equipamentos está mantida conforme planejamento já divulgado”, afirmou. As câmeras serão instaladas na região de Venda Nova (54), no Barreiro (54) e nos bairros Floresta (23) e Cidade Nova (27), na região Leste.
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Segundo o reitor da Fumec, a instituição estaria disposta a custear a colocação dos equipamentos no entorno do prédio, que fica na rua Cobre. “Já colocamos isso à prefeitura, ao Governo do estado e à Polícia Militar. Temos como financiar equipamentos públicos de segurança, como as câmeras do Olho Vivo”, afirmou. De acordo com o tenente-coronel Alberto Luiz, porta-voz da PM, no entanto, o custeio de equipamentos públicos por instituições privadas está fora de cogitação. “A faculdade não está proibida de fazer seu monitoramento por câmeras, mas em via pública isso não é papel da Fumec, seria usurpação da função pública”, explicou.
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Reunião
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A reunião realizada na sexta na reitoria da universidade, entre representantes da Fumec, estudantes, moradores, representantes da PM, da Guarda Municipal, da prefeitura e de associações de moradores foi motivada pela onda de assaltos e ataques a estudantes na região.
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Na última semana, a estudante de Direito, Joice Silva, de 21 anos, foi violentamente abordada por um homem, enquanto se dirigia à Fumec. Ela teve pertences pessoais roubados, foi fisicamente agredida e precisou ser levada para o hospital.
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Segurança
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De acordo com o tenente-coronel Alfredo Alves Veloso, comandante do 22º Batalhão, responsável por monitorar a área, desde o início da semana o policiamento da região foi reforçado. Os bairros serão monitorados e dentro de dez dias uma nova reunião será feita para avaliar a necessidade de aumentar o efetivo. "Até agora, acredito que foi planejado seja suficiente para dar uma resposta positiva a fim de minimizar os problemas relacionados à segurança pública na região", avaliou.
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Fonte: Hoje em Dia (MG)

PM reforça segurança no bairro Cruzeiro após agressão a universitária

campanha fumec22 de agosto de 2013.
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Fonte (Hoje em DIa - MG)
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A Polícia Militar informou nesta quinta-feira (22) que reforçou a segurança no bairro Cruzeiro, região Centro-Sul de Belo Horizonte, após as denúncias de assaltos e agressões, principalmente no entorno da Universidade Fumec. O ataque à estudante de direito Joice Gomes da Silva, de 21 anos, mobilizou os alunos da instituição. Um abaixo assinado online foi criado e já conta com mais de mil assinaturas. E a grande repercussão do caso já teria surtido efeito.
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"O contingente foi aumentado em número de viaturas e policiais. Os militares vão atuar em operações para prevenir crimes na região e darão atenção especial em motocicletas", garantiu o tenente-coronel Alfredo Veloso, comandante do 22º Batalhão. Conforme o responsável pela guarda do entorno da Fumec, após os últimos casos de violência, a polícia traçou um plano específico para a região, que irá beneficiar tanto os cerca de 15 mil universitários, quanto os moradores do bairro.
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"Por questão de segurança, não posso divulgar quantos militares fazem a segurança na região, mas, desde sexta-feira, estamos fazendo uma ação voltada para o bairro", disse. Ele reforçou que todas as vítimas devem registrar boletim de ocorrência para que a polícia possa fazer um planejamento da região. Uma reunião com a reitoria da Fumec e o comando da PM esta prevista para ocorrer nesta sexta-feira (23), às 11 horas. O tema será a criminalidade no bairro. Foram convidados para o encontro também as associações de moradores dos bairros Cruzeiro e Anchieta, comerciantes da região, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MG), a Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis), além de representantes dos DCE's e DA's e dos próprios alunos. No mesmo dia, os universitários estão organizando atos em prol de mais segurança. Ele irão se concentrar em frente a Fumec às 9h15, 15 e 18 horas.
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A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e a PM, alegando questões estratégicas de segurança, não divulgaram estatísticas de crimes na região.
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Vítima fala de seu drama
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"Não consigo passar na rua da minha casa sozinha, só acompanhada com amigos, pois estou com muito medo. Mas aos poucos vou conseguir lidar com esse drama e voltar a minha rotina". O relato é de Joice Gomes, que foi assaltada e agredida com socos quando seguida para a universidade.
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Ela contou que estava atravessando a rua Oliveira, em direção a rua Cobre, quando foi abordada por um homem que a empurrou contra um carro. "Ele mandou eu soltar os objetos e, ao pegar meu celular, virou minhã mão. Foi quando quebrou minhas unhas. Eu gritei muito. Ele me deu um soco na costela e saiu correndo", lembrou.
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Conforme a jovem, algumas pessoas que presenciaram a ação tentaram deter o suspeito, mas um comparsa estava a sua espera e os dois fugiram. "Eu dei uns dois passos e desmaiei. Me levaram para uma lanchonete e chamaram a polícia e o Samu", contou a vítima. A jovem disse que ficou assustada com a repercussão que o caso tomou. "Acho que se os moradores da região colaborassem com essa luta, ajudaria bastante. Não podemos esperar que um aluno ou morador daqui morra ou sofra algo pior. Os responsáveis pela segurança pública da região têm que tomar alguma providência".
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Fonte: Jornal Hoje em Dia (MG)

domingo, 18 de agosto de 2013

Responsabilidade é dos pais

Foto (O Tempo - MG).
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Por Litza Mattos e Raquel Sodré
Nestes tempos desafiadores em que vivemos, em que o mercado de trabalho exige cada vez mais dedicação de homens e mulheres, é comum a educação dos filhos ser dividida com outras pessoas, como uma babá, os professores da creche ou escola, ou uma avó, por exemplo. O problema é quando, em vez de dividida, a educação é totalmente delegada a terceiros.
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Um dos riscos dessa atitude é de a criança estabelecer vínculos mais fortes com o cuidador do que com os pais, o que pode gerar insegurança e perda da referência de autoridade. “Essas pessoas, muitas vezes, alimentam o medo e o temor das crianças para fazê-las obedecer”, ressalta o professor Francisco Liberato, diretor do Colégio Logosófico em Belo Horizonte.
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O remédio para isso, no entanto, é a participação ativa dos pais na vida dos filhos. “A segurança dependerá de como os pais se relacionam com esses filhos. O que importa não é a quantidade, mas a qualidade do tempo que se passa junto deles”, esclarece a psicopedagoga Ana Cássia Maturano, especialista em problemas de aprendizagem.  Greiciane Cristina Costa, 32, é técnica em enfermagem, trabalha como babá há dez anos e reconhece que muitas profissionais têm, sim, grande influência na vida das crianças. “Como as crianças acabam passando mais tempo com as babás e as enfermeiras elas acabam nos chamando de mamãe, mas sempre corrigimos. Uma boa profissional sabe seu lugar e que pode, inclusive, complementar a educação passada pelos pais”, afirma.
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Em sua experiência, a babá relata que cerca de 80% dos pais não se preocupam muito com os filhos, mas para evitar que qualquer informação importante seja deixada de lado, ela faz um relatório diário da criança. “Nesse caderninho anoto tudo o que a criança comeu e como se comportou”, diz. E, quando combinado com os patrões, as babás também podem dar bronca e ensinar o dever de casa. “A autonomia ou não da babá é combinada no momento da entrevista, porém, sempre podemos corrigir as crianças maiores de 2 anos, colocando na cadeirinha do pensamento”, conta a técnica em enfermagem.
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Parceria. Babás e escolas têm a função de ajudar os pais na criação dos filhos, mas não de agir no lugar deles. Fernanda Senna, 41, preferiu colocar o filho em uma escola quando percebeu a divergência dos valores passados pela babá. “Meu filho estava aprendendo a falar coisas que não era do nosso vocabulário”, diz.
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Segundo Ana Cássia, mesmo com as atribuições do dia a dia, é possível ser participativo. “Aquela uma hora que você tem com a criança à noite pode servir para brincar, mas também para olhar a agenda, por exemplo”, recomenda. Já o professor Liberato acredita que “há necessidade de uma parceria entre a escola e a família. A escola não pode e nem deve substituir os pais”, comenta.
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Fonte: O Tempo (MG)

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Educação em humor


Aluna é espancada em calourada no campus da UFMG

Uma aluna de pedagogia afirma ter sido espancada nessa quarta-feira (14), dentro do campus Pampulha na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na capital. Segundo a vítima, Miriam Gomes Alves, 26, o agressor cursa Restauração e Conservação na escola e é ex-namorado dela. A jovem contou que o ato de violência ocorreu durante discussão entre os dois. “Ele me jogou no chão, me arrastou pelos cabelos, me enforcou e sentou na minha cabeça. Infelizmente a gente vê esse tipo de machismo dentro de uma universidade”, relatou Miriam.
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O namoro durou um ano, e eles estavam separados desde fevereiro deste ano, segundo a jovem, que preferiu não expor o motivo da briga. A agressão teria ocorrido durante a festa de alunos da faculdade de Belas Artes, para recepcionar o calouros. Segundo a vítima, eles estavam em um local escuro e ninguém presenciou a agressão. A reportagem não obteve o contato do suposto agressor.
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Miriam conta que pediu socorro para o estudante de letras Franz Galvão Costa Piragibe, 26, por telefone. O jovem levou a vítima à 9ª Delegacia Distrital de Venda Nova para prestar queixa anteontem. “Ela estava machucada na cabeça, na perna e nas mãos. O pior é que a UFMG não pune esses agressores”, reclamou Piragibe.
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Queixas
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A falta de segurança no campus é alvo constante de reclamações de estudantes. Segundo eles, agressões como a dessa quarta (14) não são coibidas, e os autores não são punidos, diferentemente do que informou a UFMG. A assessoria de imprensa da instituição afirmou que os casos são apurados por processos administrativos e os responsáveis, punidos.
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A UFMG ainda informou que a vítima precisa prestar queixa à instituição – o que ainda não foi feito – para que um processo administrativo seja aberto. Entretanto, segundo a assessoria, o caso deve ser apurado após a publicação da reportagem de O TEMPO. O agressor pode receber advertência, suspensão e expulsão. A UFMG disse que, diante de agressão, os alunos devem procurar os seguranças do campus e que há uma guarita próxima ao prédio onde Miriam foi agredida.
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Denúncia. Nesta quinta (15), a jovem fez exame de corpo e delito no Instituto Médico Legal e prestou queixa na Divisão Especializada de Atendimento da Mulher, do Idoso e do Portador de Deficiência, que vai investigar o caso. Uma outra aluna da Universidade Federal de Minas Gerais teria sido agredida também por um estudante na última segunda-feira (12), durante uma festa também no campus Pampulha. Segundo o relato da estudante de ciências sociais Silvia Regina de Jesus Galvão, 35, uma estudante foi agredida e quebrou o dente.
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A reportagem de O TEMPO não conseguiu fazer contato com a vítima.
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“Estamos cada vez mais ouvindo esses relatos de agressão, que não são coibidas”, afirma a estudante. A UFMG disse que realiza palestras e debates repudiando qualquer tipo de agressão dos alunos.
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Entrevista
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Miriam Gomes Alves (estudante agredida)
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Como ocorreu a agressão?
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Primeiro, ele me agrediu verbalmente me chamando de louca e imbecil, depois apertou meu braço com força, me jogou no chão e começou a me bater. Ele chegou a me arrastar pelos cabelos, me enforcou e sentou na minha cabeça.
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Alguém te ajudou?
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Não. Nós estávamos em um lugar escuro e onde não tinha quase ninguém. Eu cheguei a ver duas pessoas uniformizadas passando, que eu acho que eram seguranças do campus, mas eles não fizeram nada. Eu liguei para um amigo que veio me buscar e me levou à delegacia.
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A senhora já ouviu relato de outras agressões a mulheres no campus?
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Sim. Essas agressões são recorrentes. Na última segunda-feira mesmo soubemos de uma aluna que quebrou um dente depois de ser agredida por outro aluno.
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Fonte: O Tempo (MG)

Pelo campus da UEMG em BH


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Por uma universidade pública e gratuita. Já passou da hora da terra prometida chegar aos seus fieis. A Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) merece o seu campus. Em Belo Horizonte, as discussões se arrastam há anos. É hora de dar um basta e no mínimo negociar o início, o desenvolvimento e a data da entrega de um campus que vai favorecer há milhares de alunos, funcionário e professores. Alunos vocacionados à música, ao cuidado da infância – como é o caso do curso de pedagogia, à administração pública e às artes. A proximidade das eleições e o momento de “novo choque de gestão” é a hora perfeita para um compromisso político e ético. Mais que isso, é a hora do governo em tela – no caso o PSDB – mostrar a que veio. Que deixem o campus da UEMG nascer. Que ele venha forte como uma criança bem cuidada e cresça sedento de conhecimento e saúde como é o processo do adolescer e da juventude. E que no fim, cultive para sempre na memória a sempre sabedoria, própria da envelhescência daqueles que sabem repousar o conhecimento nosso de cada dia.
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Lúcio Alves de Barros (professor da faculdade de Educação da FAE / UEMG / BH)

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A banalidade do mal

 
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Por Marcelo Barros
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Nessa semana, o mundo recorda os quase 70 anos do dia em que a humanidade perdeu sua inocência e viu o lançamento da primeira bomba atômica, no caso, jogada pelo governo dos Estados Unidos da América sobre a população de Hiroshima (no dia 06 de agosto de 1945). Dois dias depois outra bomba norte-americana caía sobre a cidade de Nagazaki, ambas no Japão. No Ocidente, os meios de comunicação divulgaram a noticia de que esse era o único modo de acabar com a guerra. No entanto, desde dois meses antes, no dia 06 de junho, as tropas aliadas tinham conquistado a Normandia e vencido o exército alemão, o que levou à rendição de Hitler e ao fim da guerra na Europa. A quase indiferença com a qual, naquele momento, a maior parte das nações encarou a destruição das duas cidades, a morte de milhares de pessoas inocentes e as consequências da radiação sobre as gerações seguintes só pode ser compreendida se se toma consciência do racismo ocidental em relação aos orientais. Além disso, sem dúvida, uma cultura de convívio com a morte conduz as pessoas a acharem menos horrível o sofrimento dos outros, principalmente se estão distantes. Alguns anos depois, em Jerusalém, ocorria o julgamento de Adolf Eichmann, o oficial nazista que organizava o transporte dos judeus para os campos de extermínio. A imprensa havia descrito Eichmann como uma espécie de cérebro monstruoso do mal. Como correspondente da revista New Yorker, afilósofa judia Hannah Arendt assistiu ao julgamento de Eichmann e sobre isso publicou o livro que escandalizou muita gente. O livro se intitula: "A banalidade do mal”. Ao contrário do que dizia a opinião pública, ela afirmou: "Eichmann era um homenzinho insignificante e medíocre, cuja única característica notável era não pensar e não dar o menor sinal de uma autêntica personalidade própria, nem de direita, nem de esquerda e não estar ligando para o bem ou para o mal”. Quanto mais ela o entrevistava, mais se dava conta: era impossível conversar com ele, não porque ele mentisse, mas simplesmente porque não tinha pensamento próprio. Repetia frases prontas e argumentos que aprendeu no exército nazista. Segundo ele, a responsabilidade do que fez não era sua e sim dos chefes que lhe mandaram matar judeus. E isso é que foi grave porque, ao não se dar o trabalho de pensar, ele cometeu um verdadeiro genocídio e se tornou responsável pelo sofrimento e pela morte de milhões de pessoas.
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Por revelar essa banalidade do mal e por revelar que algumas organizações judaicas também colaboraram com o nazismo, Hannah Arendt sofreu muitas pressões e incompreensões. Ela revelou que os judeus que tinham muito dinheiro e poder não morreram, nem foram perseguidos. Morreram os pobres e as pessoas comuns. A imprensa e o Estado de Israel se sentiram traídos. Esse conflito é o tema do filme "Hannah Arendt”, ainda em cartaz no circuito das cidades maiores do Brasil. Esse tema poderia parecer restrito a aquele período da história, mas não é. Para muita gente, o mal continua a ser algo de banal e corriqueiro. Quem opta por fazer o bem e se doa na construção de um mundo mais justo tem de aprofundar o seu pensar e constantemente rever o seu modo de agir. Quem faz o mal nem precisa de opção.
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Aqui no Brasil, no tempo da escravidão, muitas pessoas de bom coração tinham escravos sem se perguntar sobre isso. Nas operações policiais, há soldados que agridem pobres na rua por serem negros ou estarem mal vestidos. Depois, voltam à casa, beijam a esposa, tomam nos braços o filho pequeno e lhe fazem carinho.
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Segundo nos ensina Hannah Arendt, uma sociedade que não faz pensar e não torna acessível a todos a capacidade de aprofundar criticamente a própria história transforma homens e mulheres em pessoas sem responsabilidade moral, mesquinhos executores do que pensa e transmite qualquer programa sensacionalista de rádio ou televisão que transmite os crimes do dia misturados com a propaganda de Coca-cola. Como Poncio Pilatos no julgamento de Jesus, essas pessoas lavam as mãos e deixam o mal se perpetuar, como a banalidade de suas vidas. Para quem crê, Paulo escreveu aos cristãos de Roma: "Não se conformem com esse sistema do mundo, mas se transformem continuamente pela renovação da mente” (Rm 12, 2).
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HOMO LATTES



 


 Por Sérgio Bruno Martins
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Em
artigo publicado neste caderno na semana passada, o professor Angelo Segrillo toca num ponto delicado: os processos de seleção para professores em universidades públicas. Trazendo a público um “segredo de polichinelo”, ele relata que não é raro acontecerem concursos claramente “arranjados” para favorecer candidatos ligados a grupos específicos e outras artimanhas do gênero. Contra esse quadro patrimonialista, sugere Segrillo, o ideal seria aproveitar o atual clima de insatisfação “com todo tipo de corrupção no país” para se propor mecanismos mais transparentes, impessoais e padronizados; uma possibilidade aventada é a criação, pelo Ministério da Educação, de uma comissão independente para este fim.
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Concordo integralmente com Segrillo a respeito da necessidade de enfrentar abertamente essa questão. No entanto, creio que o enfoque na corrupção perde de vista sua dimensão mais fundamental: a estrutura acadêmica da qual o atual modelo de concursos públicos faz parte. A ênfase na moralização dos concursos não só deixa intocada tal estrutura, como tende a reforçá-la; é como se nada em seu cerne merecesse crítica, faltando apenas azeitar melhor a máquina através de um controle mais rigoroso das pessoas que nela operam. A palavra de ordem é impessoalidade. Mas será que tudo realmente se resume ao erro humano? E será que tamanha padronização não ameaçaria a diversidade de universidades e departamentos? Não seria o caso de dar um passo atrás e recolocar o problema dos concursos num contexto mais amplo?
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Em linhas gerais, o modelo de conhecimento que rege a universidade pública no Brasil hoje pode ser descrito como produtivista e objetivista. Produtivista porque enfatiza a produção constante e abundante, sobretudo na forma de artigos em revistas indexadas. Objetivista porque toda essa produção é qualificada de acordo com uma escala pré-estabelecida de categorias e assim traduzida em pontos. Eis o dogma deste modelo: todo dado qualitativo será redutível a termos quantitativos. E eis seu corolário: o valor de um pesquisador será determinado, de forma análoga, pela soma dos pontos marcados pela sua produção. Nasce assim o Homo lattes, um produtor de conhecimento determinado por toda uma estrutura que não cessa de lhe dizer: “quanto mais, melhor”.
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Objetividade enganosa
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Numa banca de seleção, isso leva com frequência à seguinte cena: ao invés de ler, analisar e discutir o mérito e a pertinência de um conjunto selecionado de trabalhos de um determinado candidato para a vaga que se quer preencher, o que os examinadores fazem é somar os pontos “contidos” em seu currículo completo (numa aberração adicional, o candidato é obrigado a enviar de antemão um volumoso dossiê de documentos comprovando a autenticidade de todo e qualquer item listado em seu currículo; no trato com a burocracia, o que vige é a presunção de desonestidade). Estranhamente, o que a banca lê durante o concurso não são textos produzidos no dia a dia da pesquisa, mas uma prova com ponto sorteado na véspera. Nesse insólito vestibular para professor, o que é efetivamente avaliado é o desempenho do candidato em condições extremamente tensas e adversas (o que, nos dias de hoje, inclui escrever de próprio punho), e que não se assemelham a nada com que ele vá lidar profissionalmente caso seja selecionado. Somados os pontos (sempre eles...) de todas as etapas do processo, está escolhido, de forma supostamente objetiva, o futuro professor.
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O Homo lattes tirando uma pilha de fotocópias comprobatórias e o professor convidado a contar pontos em currículos inchados nada mais são do que duas imagens extremas — mas tristemente normalizadas, porque corriqueiras — do que a academia está se tornando sob os auspícios do produtivismo e do objetivismo. Que formação intelectual pode advir desse contexto? Que ética do conhecimento está implícita aí? Que espécie de saber se pode esperar desse acadêmico burocratizado? Queremos acadêmicos conformados ao que já se conhece, ou capazes de abrir perspectivas críticas e científicas?
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É sobre perguntas como essas, e não apenas sobre remédios para a corrupção, que o problema dos concursos deve nos fazer pensar. E, dito isso, vale perguntar também se o patrimonialismo de que fala Segrillo é de fato um defeito pontual no sistema, ou se ele não é em certa medida um produto deste. Afinal de contas, não há álibi mais perfeito para os que conhecem bem os meandros burocráticos e os meios de manipulá-los: a escolha do professor, por mais enviesada que seja, estará sempre legitimada de antemão pela suposta objetividade do processo. Não seria mais interessante abandonar esse mito da objetividade de uma vez por todas e buscar transformar os processos de seleção numa oportunidade de cultivar discussões consequentes a respeito dos rumos de um determinado departamento ou universidade? Será que todo argumento subjetivo deve ser banido da discussão sob suspeita de ser necessariamente escuso? Não é possível imaginar que uma discussão menos mediada por rankings e pontuações possa ter o benefício justamente de trazer à luz as disputas intelectuais e políticas que acontecem e vão continuar acontecendo? Melhor que tentar debelar tais disputas é torná-las parte de uma dinâmica acadêmica mais organicamente engajada com os rumos das universidades.
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Assim como o que está em jogo nas manifestações atuais não é simplesmente a corrupção, mas sobretudo uma crise na própria estrutura da democracia representativa (da qual a corrupção é provavelmente um dos sintomas), o problema das universidades também não pode ser reduzido aos desvios de conduta de grupos e indivíduos (que, quando ocorrerem, devem evidentemente ser punidos). É verdade que uma mudança estrutural desse patamar em nossa cultura acadêmica pode parecer com uma montanha a ser movida. É verdade também que isso envolve certas questões que extrapolam o âmbito da universidade (por exemplo: até que ponto é possível resguardar a singularidade profissional do professor universitário em meio às leis que regem o funcionalismo público?). Porém, e creio que aqui estou novamente de acordo com Segrillo, o silêncio certamente não serve ao interesse comum.
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Sérgio Bruno Martins é doutor em história da arte pela University College London

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Universitária em cadeira de rodas perde aula por falta de acesso

RIO - A estudante Lorena Melo Martins, de 22 anos, faz faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de Fortaleza (Unifor), mas está enfrentando dificuldades para frequentar o curso devido aos problemas de acessibilidade do prédio, na capital do Ceará. Ela passou por uma operação no joelho e, obrigada a usar uma cadeira de rodas, não consegue chegar à sala de aula porque a rampa até o segundo andar é íngreme demais. Depois de perder várias aulas, a aluna fez um relato sobre seu drama no Facebook. O post já tem mais de 6,2 mil compartilhamentos e 170 comentários. “Todos os dias venho pra aula e não consigo chegar nas salas de aulas por causa da péssima acessibilidade da universidade”, conta ela, antes de descrever com detalhes os diversos apelos feitos à Unifor e os constragimentos que sofreu. “Já me humilhei, chorei e perturbei as pessoas aqui na universidade por uma coisa que é minha de DIREITO! Não só minha, mas de TODOS!”.
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De acordo com seu texto na rede social, Lorena pediu à coordenadoria do curso para passar sua turma a uma sala no térreo. Mas, em vez disso, a direção deixou à disposição três pessoas para ajudá-la a subir a rampa todos os dias. No começo, deu certo, ainda que de mal jeito, mas, nesta segunda-feira (12), a aluna chegou ao local no horário certo e não havia ninguém para ajudar. Depois de um telefonema, veio um funcionário.
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“O segurança demorou 20 minutos pra chegar. Mesmo assim, ele não conseguiu me levar, pois tenho 1,80m e sou gorda. Impossível subir a rampa do bloco C”, critica a estudante, que perdeu a aula nesse dia. “Já é a terceira semana de aula que começo perdendo”. O direito de ir e vir é de todo brasileiro, previsto no Artigo 5 da Constituição Federal. A Lei de Acessibilidade, criada em 2004, exige que toda construção de uso coletivo ofereça facilidades a cadeirantes. De acordo com o arquiteto Arthur Fortaleza, da Unifor, a faculdade tem cerca de 20 blocos. Nove deles foram construídos em 1972. Nestes, as rampas de ligação com os andares superiores são mais íngremes do que as demais. Os alunos sentem a diferença mesmo caminhando. Para pessoas em cadeira de rodas, ele reconhece, é bem complicado.
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- Até o momento, todos os problemas que aconteceram por causa das rampas haviam sido contornados, com mudanças de salas. Mas isso não foi possível neste caso. Estamos para apresentar à diretoria um plano que prevê melhorias na acessibilidade do campus - diz Artur.
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Já a estudante termina seu relato com um desabafo. “Enfim, a Unifor é uma das maiores universidades particulares do Nordeste, é um local de uso coletivo, ou seja, tem OBRIGAÇÃO de ser acessível. Amigos arquitetos e estudantes da Unifor, gostaria de pedir a ajuda de vocês para, juntos, termos uma universidade acessível para todos. Isso é NOSSO direito!”
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Faculdade que aprovou aluno sem conhecimento do professor fraudou sistema, diz docente

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A Faculdade de Tecnologia do Comércio, que não existe mais e era mantida pela Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), fraudou o sistema de lançamento de notas para aprovar um aluno sem a validação do professor. É o que denunciou, nesta quarta-feira (14), o docente, que conseguiu, em uma decisão inédita da Justiça do Trabalho de Minas Gerais, indenização de R$ 10 mil por danos morais, como divulgado em matéria de O TEMPO dessa terça-feira (13). Ainda segundo o profissional, em outras ocasiões, pelo menos dois colegas sofreram a mesma pressão na instituição e acabaram aprovando alunos sem nota suficiente.
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Além de ser pressionado por coordenadores nos corredores da instituição, o professor, que tem 27 anos de experiência, foi demitido após se recusar a mentir dizendo que tinha aprovado o aluno. “O pessoal da coordenação me pediu descaradamente que aprovasse o aluno. Eu disse que, se não houvesse um meio legal de fazer isso, não faria. Depois, chegou às minhas mãos um e-mail – que foi copiado para mim por engano – em que o coordenador dizia que o correto seria que o professor fizesse o lançamento (da nota). Mas que, se tivessem dificuldades com o professor, a coordenação poderia validar ou assinar. Uma pessoa, que possivelmente foi uma coordenadora pedagógica, entrou no sistema e lançou, no meu lugar, a nota de aprovação do aluno”, contou o professor, que pediu para não ter o nome divulgado.
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O fato ocorreu no primeiro semestre de 2010 na disciplina gestão fiscal e tributária, do curso tecnólogo em gestão financeira. O aluno não realizou as atividades que eram pré-requisito para aprovação. Posteriormente, o docente precisou assinar um documento em que constava que o estudante havia sido aprovado. Entretanto, ele inseriu uma observação informando que a nota não havia sido dada por ele. “Não procurei a Justiça por dinheiro, isso foi um desaforo. Eu fui chamado por outra turma para ser homenageado na formatura e a instituição sequer me comunicou do convite”, relata revoltado. Ainda conforme o professor, o aluno não teve culpa. “Nunca tive problemas com o estudante. Ele é uma pessoa madura e acho que teve problemas de natureza pessoal. Eu teria aplicado novos exames, mas ele nunca me procurou, e o semestre letivo já havia terminado”.
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A CDL-BH, mantenedora da faculdade, preferiu não se pronunciar sobre o assunto.
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Mercantilização da educação
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 A advogada do Sindicado dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sindprol-MG), Luciana Azevedo Moreira, que defendeu o professor, avalia como positiva a decisão da Justiça. “É uma vitória porque a educação está sendo tratada como mercadoria, e o professor está desvalorizado”, relata. Para a defensora, a autonomia do professor precisa ser respeitada. A ação foi protocolada na Justiça em julho de 2012 e a decisão final foi divulgada no último mês. “Não cabe mais recurso. No primeiro momento, pedimos uma indenização de R$ 50 mil. A Justiça concedeu, porém a instituição entrou com recurso. A indenização foi fixada em R$10 mil, mas o teor da decisão não mudou”, explica a advogada.
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O presidente do Sindprol-MG, Gilson Reis, relata que essa decisão inaugura um novo tempo de “enfrentamento do desrespeito”. “Espero que seja a primeira de dezenas ou centenas de decisões. O que acontece atualmente é que o aluno, que é o cliente da instituição, é tratado como superior ao processo de conhecimento, e isso tem provocado a queda da qualidade do ensino”, afirma.
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 Conforme Reis, o profissional precisa se valorizar, mesmo que isso signifique colocar seu emprego em jogo. “Os docentes não podem aceitar essas situações e precisam também denunciar e entrar na Justiça. Sabemos que essa prática acontece, mas não podemos ser coniventes com essas práticas”, analisa.
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Fonte: O Tempo (MG)

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Professor obrigado a aprovar aluno receberá R$ 10 mil por danos morais

O TRT- 3ª Região (Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais) condenou uma instituição de ensino de Belo Horizonte a indenizar um ex-professor por danos morais em R$ 10 mil por considerar que o docente foi obrigado pela instituição de ensino a aprovar aluno que não teria obtido nota satisfatória na disciplina ministrada por ele.
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O professor alega que, em 2009, ministrava o curso de Gestão Financeira e Tributária em instituição de ensino tecnológico ligada à CDL-BH (Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte) e teria sido forçado pelos coordenadores a mudar a nota de um estudante.
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Diante da sua negativa, eles teriam modificado o conceito (nota) dado ao aluno que, assim, colou grau. O professor ainda afirmou que se sentiu "constrangido e desrespeitado" por também ter sido preterido na cerimônia de colação de grau da turma na qual seria homenageado. De acordo com a assessoria de imprensa do tribunal, a juíza substituta Gilmara Delourdes Peixoto de Melo, da 40ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte, apurou que a unidade de ensino "invalidou as prerrogativas" do professor "suplantando sua autoridade e o constrangendo a aprovar um aluno que havia sido reprovado".
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A magistrada ainda disse ter verificado que o "conceito B" (que permitiu a aprovação do aluno) havia sido inserido no diário de classe eletrônico, a partir de avaliação dada pelos coordenadores, o que "não encontra qualquer amparo nos estatutos da ré". Ainda conforme a magistrada, o setor tinha apenas a prerrogativa de avaliar pedido de concessão de nova oportunidade para exame, cujo resultado teria que passar pelo crivo do professor.
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"O reclamante teve sua autoridade esvaziada pela instituição, que, a despeito das considerações do mesmo, aprovou o aluno, esquivando-se de submeter ao professor da disciplina a avaliação do exame suplementar, lançado no Diário de Classe por outrem", registrou a juíza.
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Conforme informações repassadas pelo tribunal, a instituição ainda reteve o convite de formatura da turma de formandos, que havia escolhido o reclamante como homenageado.
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"Para a juíza, ficou claro o assédio mediante adoção de método de isolamento social, o qual busca retirar a credibilidade da vítima em seu ambiente de trabalho", trouxe nota do órgão.
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Outro lado
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A assessoria da CDL-BH (Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte) informou que a instituição não iria se pronunciar sobre o assunto.
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Fora da lei, 11 capitais negam tempo livre a professores

Cinco anos após ser aprovada no Congresso, a lei que fixa condições mínimas aos professores de escolas básicas públicas não é cumprida em 12 das 27 capitais. Uma delas não paga o piso salarial e as outras 11 não concedem jornada extraclasse mínima.
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A regra determina piso salarial de R$ 1.567 no ensino fundamental e médio (jornada de 40 horas semanais).
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Também exige que o docente fique 1/3 do período fora das aulas, para preparação de atividades, por exemplo.
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Levantamento da Folha com secretarias municipais de Educação aponta que em 11 capitais o período extraclasse é inferior ao exigido (Belém, Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis, Maceió, Manaus, Natal, Recife, Salvador, São Paulo e Vitória). Em relação ao valor do salário, Macapá paga R$ 1.345 --menos que o piso, portanto.
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A lei visa melhorar condições de trabalho dos docentes em atividade e atrair mais jovens para o magistério. A maior dificuldade para se cumprir a regra da jornada extraclasse é que ela requer contratação de docentes, pois os professores já em atividade teriam de dar menos aulas.
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Segundo a Undime, que representa secretários municipais de Educação, gestores buscam cumprir a regra, mas alegam falta de verbas.
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"Todo mundo vai ter de ceder nesse processo", disse a presidente da Undime, Cleuza Repulho, referindo-se a prefeituras e sindicatos.
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Editoria de Arte/Folhapress
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SANÇÃO
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A lei não prevê sanção automática ao gestor que descumpra a regra. Ao sancionar a norma, o então presidente Lula afirmou que só cabe punição se comprovada a desonestidade do administrador.
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Pesquisador da USP em direito administrativo, Gustavo Justino de Oliveira entende que a própria legislação sobre improbidade prevê punição a quem desrespeita lei como a do piso do magistério. Um passo necessário é o pedido do Ministério Público. Já Carlos Ari Sundfeld, pesquisador da PUC e da FGV, vê como exagerada uma ação de improbidade em casos que não se caracterizem má fé. Diz, porém, que há respaldo legal para que docentes peçam cumprimento da lei.
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Resolução do Conselho Nacional de Educação estabeleceu 2015 como prazo final de transição. A regra, porém, não tem força de lei. Há divergências sobre o alcance da lei do piso. "Atividade intelectual, principalmente como a docência, exige reflexão e preparação", disse o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara.
Já Ilona Becskeházy, consultora em educação, considera ser mais importante a definição de currículo claro para as escolas, melhoria nos materiais e infraestrutura.
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Fonte: Folha de São Paulo

O capitão Nascimento e Amarildo

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Elio Gaspari*
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Wagner Moura foi homenageado durante o Festival de Gramado e dedicou o prêmio que recebeu aos seis filhos do pedreiro Amarildo, sumido desde o dia 14 de julho. Ele foi o inesquecível capitão Nascimento do filme “Tropa de elite”, um retrato da brutalidade policial, recebido em muitas plateias com aplausos em cena aberta, numa glorificação da tortura. Esse comportamento refletia um momento da demofobia nacional. O governador Sérgio Cabral já defendera a legalização do aborto como um preventivo pacificador das comunidades pobres do Rio de Janeiro: “Pega na Rocinha (onde vivia Amarildo). É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal.” O raciocínio estava estatisticamente errado, foi apenas um grito d’alma. Ocorreu-lhe também murar 19 comunidades com uma barreira de 11 quilômetros. Combatido o projeto, surgiu um derivativo: que tal cercas vivas?
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Seria enorme injustiça atribuir a Cabral uma liderança demófoba. Ele apenas refletia um sentimento expresso por muita gente. Afinal, aplaudia-se o capitão Nascimento ao enfiar a cabeça de um cidadão num saco de plástico. Com uma diferença: Wagner Moura representava. Pois foi exatamente o ator quem disse o seguinte em Gramado:
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“Lá na Rocinha tem uma família que tem seis filhos que não vão almoçar com o seu pai. Eu sei por que não vou almoçar com meu pai. Ele ficou doente e morreu. Mas eles não sabem. Eu gostaria que as autoridades do Rio de Janeiro, para que esses seis filhos tenham um Dia dos Pais mais feliz, pudessem dar uma resposta, que eles pelo menos soubessem o que aconteceu com o pai deles.”
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O que aconteceu a Amarildo? As câmeras da UPP da Rocinha tiveram uma pane e não registraram sua saída do prédio onde estivera detido. Tudo bem, Rubens Paiva fugiu da escolta do DOI e, depois de outubro de 1973, cerca de quarenta guerrilheiros foram resgatados no Araguaia por um disco voador albanês.
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O secretário José Mariano Beltrame poderia exibir as planilhas que registraram outras panes em câmeras de UPPs. Os GPS da guarnição não estavam ligados. Novamente: com que frequência a polícia do Rio circula com GPS desligados? Amarildo teria sido morto por traficantes e seu corpo levado para um lixão. Qual empresa coletou o lixo da Rocinha?
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Amarildo e sua mulher seriam ligados ao tráfico. Demonizar a vítima é coisa antiga: hierarcas da ditadura disseram que Vladimir Herzog tinha ligações com o serviço secreto inglês e o DOI revelou que ele poderia ser emocionalmente instável porque fizera psicanálise. Ademais, confessara sua ligação com o Partido Comunista.
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Wagner Moura vocalizou o grito de um novo tempo. No século XX matavam-se pobres e comunistas. No XXI, quando tantos comunistas ou congêneres estão nos palácios, pode-se parar de matar pobres. Ainda não se sabe quem sumiu com Amarildo, mas as explicações capengas dadas pela polícia embutem a suposição de que a sociedade engole qualquer coisa.
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O massacre da Candelária, praticado depois da redemocratização do país, saiu barato para seus autores. Mas Guimarães Rosa ensinou: “As pessoas não morrem, ficam encantadas.” Os oito mortos de 1993 encantaram-se na memória brasileira e o Papa Francisco lembrou: “Candelária nunca mais.”
Nunca mais?
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*é jornalista
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