terça-feira, 30 de julho de 2013

Educação e política


Minas Gerais retrata o Índice de Desenvolvimento Humano brasileiro

.
Por: Alice Maciel, Daniel Camargos e Marcelo da Fonseca
.
O Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDHM) mostra que Minas é um retrato fiel das desigualdades e problemas que se perpetuam pelo país. Reflexo de sua posição geográfica e características históricas, o estado se aproxima das regiões mais desenvolvidas do Brasil quando avaliados os dados colhidos em municípios do Sul, Centro e Triângulo Mineiro, mas se mantém com níveis preocupantes quando são consideradas as estatísticas das regiões Norte e dos vales do Jequitinhonha e Mucuri. A ambiguidade nacional se repete na avaliação geral de Minas em comparação com os últimos anos. Se por um lado o estado avançou do patamar de médio para o de alto desenvolvimento, por outro está na última colocação da Região Sudeste e fica atrás de todos os estados do Sul. A educação, apesar de registrar avanços na última década, continua sendo o setor mais atrasado tanto nos municípios mineiros como no país.
.
O relatório divulgado ontem pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em parceria com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e Fundação João Pinheiro (FJP), avaliou a realidade de todos os 5.565 municípios brasileiros com base nos dados colhidos pelo Censo de 2010. Assim como o IDH Global, que é divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e trata das realidades sociais dos países, o IDHM aborda as situações locais e sintetiza em uma escala de 0 a 1 as características de cada cidade. Quanto mais próximo de um, maior o desenvolvimento humano. O relatório é produzido a cada 10 anos e aborda como critério os dados relativos à expectativa de vida, a renda e a educação da população.
.
“O IDHM 2013 apresentou algumas mudanças metodológicas em relação aos levantamentos feitos nos últimos anos, especialmente na educação. A opção foi manter as três dimensões (longevidade, renda e educação) pela relevância e por indicar características essenciais do desenvolvimento”, explica Ana Paula Salej, pesquisadora da FJP. Em relação ao último relatório, divulgado em 2000, o IDHM de Minas saltou 17%, de 0,624 para 0,731, passando da classificação de médio desenvolvimento para alto desenvolvimento. na comparação com 1991, quando o índice mineiro era de 0,478, o salto foi de 52,9%.
.
Apesar de registrar o maior avanço nos três itens avaliados no levantamento divulgado ontem, a educação se manteve a mais baixa entre os indicadores, com 0,638. Em 2000, o indicador era 0,470. “A educação foi a dimensão em que tivemos o melhor desempenho, mas teremos que acelerar para recuperar o que ficou para trás. Tivemos uma melhoria de 36%, mas ainda existem grandes desafios em relação a uma parcela da população que nós precisamos colocar dentro dos sistemas de ensino”, avalia André Barrence, diretor do escritório de Prioridades Estratégicas do governo de Minas. Já a expectativa de vida no estado foi avaliada em 0,838 ante 0,759 em 2000, e a renda da população mineira saltou de 0,680 há 10 anos para 0,730.
.
Entre os 853 municípios mineiros, Nova Lima teve o melhor desempenho no IDHM, com índice de 0,813, e ficou na 17ª posição do ranking nacional. Segundo avaliação dos pesquisadores, a explicação para o melhoria de Nova Lima – passou da 13º posição em 2000, para a 1º – está ligada ao crescimento das atividades econômicas e do surgimento de novos condomínios fechados, o que contribuiu para aumento da arrecadação e geração de renda. A capital mineira ficou na segunda posição, com índice de 0,810, e na 20º colocação no ranking nacional.
.
Em comparação com os outros estados, Minas perdeu posição para Goiás em relação ao relatório de 2000 e ocupa agora o 9º lugar, com uma média de 0,731 no IDHM. O estado, porém, está à frente da média nacional, que registrou 0,727. Os primeiros três colocados da lista são o Distrito Federal, com índice de 0,818, seguido por São Paulo, com 0,783, e Santa Catarina, 0,774. Com os piores indicadores aparecem Alagoas, com 0,631, Maranhão, 0,639, e Piauí e Pará, que registraram 0,646. “É claro que a ambição é de estar entre os melhores do país. Mas Minas tem características particulares que influenciam esse resultado, que ainda não é o desejado, mas demonstra avanços importantes”, diz Barrence.
.
OS MAIS ATRASADOS Araponga, na Zona da Mata, tem o segundo pior IDHM do estado, atrás apenas de São João das Missões, mas é o pior no quesito educação. Demonstrando desconhecimento do que seja o IDH, o prefeito de Araponga, Anylton Sampaio Moura (PPS), justificou que desde a gestão passada os moradores de baixa renda não estão sendo cadastrados no Bolsa-Família, programa do governo federal. “Nos programas federais de saúde e educação as pessoas também não estão sendo cadastradas”, acrescentou sem saber dizer o nome dos programas. Ele acrescentou ainda que o mercado do café, que move a economia do município, está ruim.
.
Já o prefeito de Bonito de Minas, no Norte do estado, José Reis (PPS), culpou os governos estadual e federal pelos baixos índices registrados no município, que detém o terceiro pior IDHM de Minas e também a terceira renda mais baixa do estado. Ele afirmou que os governos abandonaram a cidade. “Não recebemos indústria. E para a agricultura familiar crescer precisamos de estradas”, afirmou, acrescentando que 88% da receita da cidade vem do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Para mudar o cenário, José Reis contou que Bonito de Minas e outras seis cidades da região criaram um consórcio público que será responsável por atrair investimentos. “É como se tivéssemos criado a oitava prefeitura, que será responsável por captar recursos para investir nos sete municípios”, exemplificou.
.
Fonte: Estado de Minas (MG)

segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Papa da esperança

.
Por: Lúcio Alves de Barros*
.
“O jovem é essencialmente um inconformista. E isso é muito lindo!” (Papa Francisco)
.
A visita do Papa Francisco no Brasil é mais do que um momento histórico. O sorridente e simpático chefe de Estado trouxe boas novas à Jornada Mundial da Juventude. Juventude meio desatenta, entregue ao hedonismo, ao consumo desenfreado e ao egoísmo próprio da “modernidade recente”. O líder da igreja católica não poderia neste sentido - dentre tantas outras - se furtar de três importantes mensagens.
.
A primeira mensagem proveniente de um discurso não improvisado apelou para a esperança, a capacidade de se surpreender com Deus e em Deus, e a manutenção da alegria. A esperança é uma velha virtude que acompanha os religiosos. Esperar é ter expectativas, pensamento positivo em torno de coisas e acontecimentos melhores. A esperança inspira mudança, regozijo, novos ares e possibilidades. Não há dúvida que é uma boa pedida. No entanto é uma sempre e necessária crença, principalmente acompanhada da chama do Espírito Santo. Pode ser que o pontífice acredite - nesse mundo de hipocrisia -, que poucos têm essa virtude e que não mais acreditem em mudanças significativas. Se são poucos ou não, o fato é que é difícil esperar em um mundo repleto de corrupção, ganância, falsidade, deslealdade e podridão. No Brasil, esperar não tem adiantado muito, mas o recado foi dado e a fé com alegria, já existente entre nós, é o combustível perfeito para atender ao pedido do pontífice.
.
Uma segunda mensagem foi direcionada ao espírito rebelde, revolucionário e atento dos jovens. Para o Papa, são eles os atores privilegiados e que possuem a capacidade de modificar uma igreja “caduca” que venera e alimenta a mentalidade de “príncipes”. Neste caminho o recado coube não somente aos cardeais, bispos e padres, mas às lideranças católicas que há tempos se enclausuraram em suas igrejas transformando-as em micro poderes repletos de “santidades”. O pontífice apontou para a obrigatória modernização da igreja e defendeu o abandono de determinadas tradições e a venda de “falsas esperanças”. A mensagem não é jovem para muitos que fazem parte da igreja desde os anos de 1970. A ideia lançada aos católicos e à "jovem igreja" do século 21 é a de novamente seguir o caminho de Jesus Cristo optando pelos excluídos e pelos que tem fome e sede de Paz. É preciso levantar o oprimido, deixá-lo falar e se colocar ao seu lado. A igreja católica neste caminho, apesar das críticas do pontífice, lembra o ideário da Teologia da Libertação. Não obstante a crítica que teceu não a colocou como protagonista no cenário, preferindo afirmar que “Toda a projeção utópica (para o futuro) ou restauracionista (para o passado) não é do espírito bom. Deus é real e se manifesta no hoje. O ‘hoje’ é o que mais se parece com a eternidade; mais ainda: o ‘hoje’ é uma centelha de eternidade. No ‘hoje’, se joga a vida eterna".
.
A última mensagem proposta é a manutenção de um Estado laico. Esta proposta vai de encontro a todo fundamentalismo – inclusive o cristão – intolerância e diferença. Ela se baseia na possibilidade do multiculturalismo, da igualdade e da fraternidade entre os seres humanos. Um estado laico abre espaço para muitos, fecha as portas aos privilégios e impede abusos de poder em nome de um deus ou de uma casta. A fala de um Papa, um chefe de Estado e talvez uma das pessoas mais influentes neste século é de suma importância nesta atual conjuntura. Primeiro, porque preserva no campo político a democracia como arena de relações de poder e, em segundo, porque admite a responsabilização daqueles que no poder devem prestar contas. A mensagem em defesa de um estado laico não impede, entretanto, a imbricação da religião com a política. O velho lema "ver-julgar-agir" é totalmente político e cabe à toda liderança religiosa vigiar o seu rebanho, guiá-lo em tempos difíceis, apontar o erro, denunciar os males, proteger os desprivilegiados e sustentar o amor, a paciência e a luz presente no coração dos seres humanos. Em outras palavras, cumpre “sustentar os passos de Deus em seu povo”.
.
O Papa Francisco deixou o solo brasileiro no dia 28 de julho por volta das 20 horas. Disse que já sentia saudades. Em um país carente de tudo foi oportuna sua visita. Prometeu retornar em 2017. Quem sabe até lá, e vamos torcer para isso, muitos levem suas palavras a sério. Ouvir é diferente de escutar. Não é por acaso que a igreja católica perdeu e continua perdendo espaço no mercado da fé. A puxada de orelhas com carinho e respeito do pontífice foi muito séria. Já que ele pede, não custa rezar por ele e pedir para que nossas orelhas não se arrebentem e que em sua volta possamos pelo menos olhar de outra forma para o Papa que beijou crianças, tomou chimarrão, ganhou muitos presentes, andou em carro aberto e no mínimo mostrou que se pode ter e exercer o poder com certa humildade e pouca ostentação.
.
*é professor na FAE (Faculdade de Educação) da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais)

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Violência na escola

.
Além das crônicas dificuldades inerentes ao ensino público brasileiro, sempre discutidas e alvo de polêmicas, mas nunca solucionadas a contento, mais um fator negativo vem se somar à fragilização da categoria dos professores. Presentemente, eles estão também ameaçados por situações de violência e de desrespeito à autoridade.
.
Casos revoltantes são veiculados, com frequência, por todo o País, a respeito do quadro constrangedor, retratando desde a difícil convivência entre mestres e alunos até a perpetração de atos de agressividade por parte dos estudantes.
.
Pesquisa divulgada pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) revela que quase 70% dos mestres sentem que sua autoridade, dentro e fora da sala de aula, ficou sensivelmente abalada no decorrer dos últimos anos. Está sendo solapado, dessa forma, um dos itens essenciais do sistema educacional, que se baseia na hierarquia e na cordialidade entre aqueles que ministram conhecimentos e seus discípulos.
.
Dados aferidos por aquela entidade demonstram que mais de 25% dos professores da rede pública já foram ameaçados, pelos estudantes, por meio de agressões verbais, enquanto outros 7,5% chegaram a sofrer atos de violência física. Lápis e canetas, objetos que são naturalmente usados para o aprimoramento da aprendizagem e das noções de civilidade e convivência social, transformam-se por vezes em instrumentos usados para agredir.
.
Em bairros de Fortaleza, são habitualmente registrados casos de rebelião e agressão, praticados por adolescentes de escolas públicas contra seus mestres. Mas, geralmente, eles são acobertados pela impunidade legal atribuída ao menor de idade ou, até mesmo, pela complacência de quem dirige os estabelecimentos de ensino. Analisando outro aspecto da questão, relacionado à insegurança na escola pública, vários assaltos são praticados à luz do dia, ao ponto de acarretar a interrupção no funcionamento de alguns estabelecimentos, durante dias seguidos ou mesmo semanas, devido à inexistência dos mínimos requisitos necessários para garantir a integridade física das vítimas. Mesmo quando entra em cena a ação policial, esta se limita geralmente ao incidente ocorrido naquele momento.
.
Além dos salários concedidos aos professores, defasados frente à realidade, e da inadequação dos equipamentos e da estrutura física de grande parte das escolas públicas, torna-se inadmissível ignorar mais esse indesejável processo de cerceamento ao exercício do ensino. Em meio a tantas carências e dificuldades, milhares de professores necessitam revestir-se de uma boa dose de idealismo e sacrifício para levar a razoável termo suas atividades profissionais.
.
Agravantes de tal ordem só contribuem para ressaltar o desgaste progressivo do ensino na rede pública nacional, resguardadas as louváveis exceções dos que procuram superar, ao custo de muitos esforços, dedicação e paciência, um contexto comprometedor de elementares princípios no campo da educação.
.
São necessárias, mas não bastam as passeatas pacíficas de protesto, de pais e alunos, no sentido de pressionar as autoridades para reverter a situação, nem as inflamadas promessas políticas de melhorias ao calor dos debates e reivindicações. O que se faz necessário, sobretudo, com inarredável urgência, é a adoção de medidas concretas e precisas que tenham como metas tanto a educação em si como as garantias da imprescindível segurança para exercê-la.
.

domingo, 14 de julho de 2013

"As vantagens de ser invisível" (indicação)

.
Por Elen Martins
.
Minha opinião sobre "As Vantagens de ser Invisível"
.
1- Demorei a ver, mas deixei reservado por causa dos trabalhos anteriores dos atores principais que gostei muito como “Efeito Borboleta, Precisamos falar sobre Kevin e Harry Potter”.
.
Não achei pesado, não achei que seja um filme de romance como muitas pessoas são induzidas a ver e depois não gostam do filme. É um filme mais sobre amizade e tem uma... forma mais leve para dar início a grandes discussões em grupo sobre a fase de transição da vida colegial para universitária. Pode ser apresentada de pais para filhos, de professores para alunos ou mesmo em grupo de amigos. Com seus alunos, não sei qual matéria seria mais prudente apresentar... Porque este filme mostra diversos problemas que qualquer jovem pode passar nesta fase: bullying, homossexualismo, aborto, abuso sexual,suicídio, interação social, entre outros.
.
2- Séria ótimo se aqui no Brasil as nossas escolas pudessem disponibilizar “uma cópia de um livro literário” para leitura dos alunos, eu já teria outra visão do mundo nesta faixa etária.Grandes clássicos.Como sempre vejo em muito s filmes.
.
3- Fui até “a baixo e além” hahaha jurando que já tinham postado sobre este filme e desisti de procurar e fazer uma postagem nova, apenas foi bom porque desenterrei alguns postes antigos interessantes e vi todas às criticas possível de outros.
.
4- Qualquer filme que tenha músicas do Bowie e Smith são inspiradores.
.
.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Furtos na escola

.
Por Patrícia Pereira
.
.
Queixa comum entre alunos e professores, os furtos ocorridos dentro da escola agora têm números oficiais: quase 30% dos gestores de todo o país relataram casos de furtos a alunos e 16% a professores, realizados por pessoas da própria escola. Os dados são do questionário da Prova Brasil 2011, que foi respondido por diretores de mais de 56 mil escolas públicas brasileiras. Especialistas ouvidos pela Escola Pública explicam como docentes e gestores devem agir nesses casos e apontam os principais erros cometidos. E fazem uma advertência: os furtos precisam ser coibidos para evitar o clima de insegurança na escola, mas muitos desses "delitos" não deveriam ser enquadrados como furtos se analisados sob a ótica da criança.
.
Para a socióloga Miriam Abramovay, coordenadora do projeto Violência e convivência nas escolas brasileiras (parceria da Organização dos Estados Ibero-americanos, MEC e FLACSO), pequenos furtos ocorridos na escola se tornaram corriqueiros e foram banalizados. "Fiz três grandes pesquisas sobre o tema que se tornaram livros. Elas mostram que o furto não é associado à violência na escola", diz Miriam. E este é o grande mal: tratar o tema como algo pouco importante. Essa visão contribui para que a escola não crie regras claras que coíbam os furtos e trate cada caso de uma forma, o que aumenta a sensação de insegurança entre os alunos e cria um clima escolar ruim.
.
"Enquanto se chama a polícia para alguns casos de furto, não se leva a sério outros e até se culpa o aluno vítima do roubo, dizendo que foi ele quem não 'cuidou' de seus pertences. Isso gera uma sensação de impotência e uma falta de confiança no espaço escolar", explica Miriam.
.
Postura da escola.
O conselho número 1 dado pelos especialistas é transformar o furto ocorrido em uma situação educativa. "Como se trata de uma escola, deve-se agir de modo educativo e não meramente especulativo e policialesco", diz Sonia Mari Shima Barroco, psicóloga escolar, professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e coordenadora do projeto Enfrentamento da violência na escola, envolvendo a UEM, a Universidade Federal do Paraná e a Universidade Federal de Rondônia.
Miriam explica que cada escola deve ter suas regras e tentar resolver o problema internamente. "As regras devem ser claras, escritas, e criadas em consenso com os alunos após muitas conversas em que fique entendido o que é o furto, como quem é furtado se sente e como a ocorrência de furtos pode contribuir para que os alunos e a escola tenham problemas agora e também no futuro", diz.
.
Sonia lembra que quando os furtos se apresentam na escola, ou mesmo antes disso, é preciso trabalhar junto aos alunos, às famílias, aos funcionários e aos próprios professores conteúdos formativos sobre a vida em coletividade e a importância e os valores dessa convivência.
.
"Não se trata de temática isolada a ser contemplada em uma única turma ou série. Isso pode ser feito de diferentes maneiras, como, por exemplo, por meio da arte ou do uso de matérias informativas sobre a sociedade e a vida na atualidade", diz Sonia.
.
Roberto da Silva é professor da Faculdade de Educação da USP e foi conselheiro do Instituto Latino-Americano para Prevenção ao Delito e Tratamento da Delinquência (Ilanud), da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele ressalta que o furto é um ato infracional e o diretor, segundo consta no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é a autoridade competente no âmbito escolar para lidar com a situação - ouvindo o conselho de Escola e a Associação de Pais e Mestres. Para ele, deve-se sempre buscar a resolução interna do conflito e evitar a criminalização do comportamento da criança.
.
Pais, Conselho e Polícia.
Sonia recomenda que a escola comunique o fato ocorrido aos pais do aluno que cometeu o furto e que os oriente a respeito de medidas disciplinares educativas. Mas Miriam adverte que os pais devem ser chamados sempre com cuidado. "É preciso entender o contexto familiar do aluno antes. Saber se os pais têm o hábito de bater nele ou dar castigos severos, por exemplo, o que pode piorar o comportamento do aluno. Os pais deveriam ser aliados, mas a realidade é que há grande distanciamento. Primeiro, a escola deve tentar resolver, depois chamar os pais e, em último caso, o Conselho Tutelar", diz.
.
A ressalva a respeito de envolvimento do Conselho Tutelar é feita, em especial, para alunos mais novos. Segundo Miriam, encaminhar o aluno ao Conselho Tutelar é algo que o marginaliza diante dos outros, o que pode comprometer seu futuro. Caso o autor do furto seja descoberto, Roberto Silva difere crianças e adolescentes na hora de decidir como a escola deve agir. Quando se trata de um aluno menor de 12 anos de idade, o caminho é comunicar aos pais, dar orientação e apoio e promover a assinatura de um Termo de Responsabilidade e supervisionar para que não haja reincidência.
.
"Se o Termo de Responsabilidade não for integralmente cumprido, pode-se impor aos pais a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta, com prazo determinado, frequência e atividades a serem cumpridas. Somente a quebra dos acordos feitos no âmbito desse Termo de Ajustamento de Conduta justificaria a comunicação ao Conselho Tutelar", explica Silva.
.
No caso de furto cometido por adolescente de 12 até 18 anos incompletos, valem todos os procedimentos indicados acima, diz. "Se todas as tentativas de resolução pacífica do conflito forem infrutíferas, inclusive a interveniência do Conselho Tutelar, pode-se, segundo a realidade do município, acionar a Guarda Civil ou a Polícia Militar", explica. O professor ressalta que, caso se chegue a esse extremo, a escola deve se munir do máximo de informações que comprovem a autoria do fato (o flagrante, a acusação direta da vítima ou a posse do objeto do furto com o autor), a materialidade do fato (descrição detalhada do objeto do furto) e de prova testemunhal (ter duas ou mais testemunhas que reconheçam o autor e aceitem se identificar e testemunhar).
.
Já para Miriam, chamar a polícia para fazer um boletim de ocorrência é o pior que pode acontecer: "a polícia só deve ser chamada em situações muito graves."
.
Erros da escola.
Surpreendidos pelo furto, muitos professores, diretores e mesmo inspetores costumam tomar medidas ineficientes e até inconstitucionais. A principal delas é tornar o fato público antes que se tenha apurado responsabilidades, o que ajuda a alimentar o clima de desconfiança, de insegurança e de "busca" por culpados, diz Silva. Segundo ele, há muita confusão de perda, extravio ou esquecimento com furto, o que provoca constrangimento geral e, ao final, se percebe que tudo não passou de um mal-entendido.
.
Silva condena também a aplicação de sanções ou punições coletivas, tais como a revista da mochila de todos os alunos e a suspensão coletiva de atividades. "Ambas ilegais, pois não existe no Código Penal nem no  ECA a figura da 'punição coletiva', o que é clara violação do artigo 5º do ECA", explica. Outro erro grave é a detenção de crianças e adolescentes em ambientes fechados da unidade escolar, tais como banheiros, despensa ou sala de direção, por mera suspeita, sem que haja qualquer determinação judicial, o que configura cárcere privado, menciona Silva. Assim como tentativas de imobilizar, amarrar ou algemar crianças e adolescentes até a chegada de autoridade policial, o que configura infração ao artigo 5º do ECA.
.
O preconceito é outra falha apontada por Silva - e não apenas ligado à cor da pele ou à aparência física. "Existe a culpabilização de alunos sobre os quais pesam certos estereótipos, principalmente o fato de ter cumprido ou estar cumprindo medida socioeducativa; ter pai, mãe ou outro familiar preso ou envolvido em atividades criminosas; morar em locais desfavorecidos socialmente, como cortiços, favelas e invasões; ou ser usuário de algum tipo de droga que cria dependência", diz Silva.
.
Miriam ressalta que a escola deve ser criteriosa e só acusar diante de certeza. "É preciso ter muito cuidado. Há casos em que um não gosta do outro e inventa que foi ele quem furtou", diz Miriam.
.
Vigilância.
A instalação de câmeras nas salas de aula e em outros espaços da escola tem sido cada vez mais comum, mas é controversa. Sonia vê nas câmeras um lado positivo: "ante o contexto de violência que se processa fora e dentro da escola, constituem um fator inibitório e estratégia fundamental ao gestor", diz.
.
Já Miriam classifica a atitude como "lamentável". "Experiências internacionais mostram que quanto mais se tenta usar esse tipo de medida repressiva, mais os alunos tentam burlar esses mecanismos e conseguem. Quanto mais se sentem vigiados, mais querem aparecer e serem considerados os 'piores'. A cultura do espetáculo mexe muito com os alunos. Além disso, cria-se um clima de repressão dentro da escola, o que não é sinônimo de educação", diz Miriam.
.
Silva concorda. Segundo ele as câmeras - assim como chips de monitoramento remoto, grades por todos os lados, rígidos controles de entradas e saídas e seguranças uniformizados, sejam ou não policiais - são medidas de exacerbação dos mecanismos de controle social quando visam mais à vigilância do que à segurança de crianças e adolescentes. Todas essas medidas desconsideram códigos e valores próprios da infância e julgam e intervêm junto às crianças e adolescentes a partir de uma cultura adultocêntrica, explica.
.
Motivações - É preciso saber que crianças podem 'levar' coisas e não necessariamente entendem isso como furto, explica Sonia. É o que também afirma Roberto Silva: "a maioria dos 30% de furtos entre alunos identificados pelo MEC provavelmente não seriam interpretados como 'ato infracional' se fosse analisada de um ponto de vista estritamente pedagógico e não jurídico ou criminológico. A motivação para o ato não é nem a de empobrecimento do outro nem a de enriquecimento ilícito do autor", diz.
.
Ele explica que um menino pode usar seus apetrechos pessoais - tênis, boné, celular, MP3, etc. - para ostentar classe, riqueza e privilégio diante de outros e com isso levar vantagens com diretores ou professores, ter mais amigos e atrair a atenção das garotas. Esse aluno pode ser vítima de subtração desses bens, não porque outros meninos queiram deixá-lo 'mais pobre' e se tornarem 'mais ricos', mas simplesmente para equilibrar as regras do jogo na participação em grupos,  e no exercício da liderança. Neste caso, diz Silva, a motivação não é de natureza criminológica, é própria dos jogos infantojuvenis. "Se o adulto próximo não entende a lógica de competição das crianças, vai intervir de forma inadequada, seja impedindo que eles exercitem e criem as próprias regras, aprendendo a negociar as diferenças e encontrando o ponto de equilíbrio nessas relações, seja simplesmente rotulando e, consequentemente, punindo como 'furto' comportamentos que nada têm a ver com a lógica consumista e possessiva da atualidade."
.
Silva frisa que adultos não gostam de ostentação e geralmente reagem de forma hostil, com inveja, sabotagem ou desprezo, por vezes chegando à violência, vingança e morte. "Crianças e adolescentes, em plena fase de desenvolvimento, talvez ainda vejam possibilidades de colocar essa 'competição' em termos igualitários simplesmente subtraindo do outro instrumentos, recursos, meios e objetos que os coloquem em vantagem na competição por afeição, participação e prestígio dentro de grupos da mesma idade. Interpretar e punir tal comportamento como crime é o próprio crime contra a lógica infantil", afirma Silva.
.
 
O que fazer em caso de furto na escola?- Crie regras para coibir os furtos e trate todos os casos com a mesma importância.

- As regras devem ser claras, por escrito e criadas em consenso com os alunos.

- A resposta aos furtos deve ser feita de forma educativa.

- Trabalhe temas sobre convivência com toda a comunidade escolar.

- Busque resolver o problema internamente e evite criminalizar o aluno.

- Converse com os pais e só recorra ao Conselho Tutelar quando tiver esgotado outras alternativas.

- A polícia só deve ser chamada em situações muito graves.
O que não fazer:- Não torne o problema público até ter apurado as responsabilidades.

- Não reviste as mochilas de todos ou dê suspensões coletivas.

- Não detenha crianças em ambientes fechados da escola sem determinação judicial. Não imoblize, amarre ou algeme o aluno.

- Cuidado com preconceitos raciais, sociais, estereótipos ou contra alunos que cumprem medida socioeducativa.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Votação do Plano Nacional de Educação está atrasada há 3 anos

.
Diferentemente do projeto dos royalties do petróleo, que será apreciado nesta terça-feira (02) no Senado, o Plano Nacional de Educação ainda não tem data para ser votado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da casa. Tramitando no Congresso desde dezembro de 2010, o texto traçaria 20 metas educacionais para o período entre 2011 e 2020. Na teoria, ele deveria entrar em vigor no dia 1º de janeiro de 2011. Na prática, como está atrasado, sua vigência valerá até 10 anos a partir de sua entrada em vigor. Só na Câmara dos Deputados, o texto recebeu mais de três mil emendas.
.
Dentre as 20 metas do PNE, estão a inclusão de 3,2 milhões de crianças e adolescentes na educação básica e a equiparação dos salários dos docentes com profissionais de outras áreas com escolaridade equivalente. A 20ª meta, a reserva de 10% do PIB para a educação, é considerada por especialistas como a mais significativa do texto. Para o governo federal, ela só seria cumprida se o projeto de lei original que reservava 100% dos royalties para a Educação fosse aprovado sem alterações.
.
Para a diretora-executiva do movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, apesar de muitos manifestantes terem levado cartazes onde se pedia “10% do PIB para a Educação”, a aprovação do PNE não entrou na pauta dos protestos que lotaram as ruas do país.
.
- O PNE não ganhou a grande massa. Se você perguntar para uma pessoa na rua o que é o PNE, provavelmente ela não vai saber responder. Mas se houver uma pressão popular, o voto do parlamentar será influenciado – disse a diretora-executiva do Todos pela Educação.
.
Priscila afirma ainda que o atraso em quase três anos de vigência do PNE deixa estados e municípios sem coordenação, o que reduziria o impacto de políticas concertadas:
.
 - Eles ficam sem coordenação, sem alinhamento. Enquanto o PNE não é aprovado, alguns os governos estaduais e municipais fazem planos locais e até tentam antecipar as metas, mas não são todos que têm essa boa vontade.
.
Fonte: O Globo (RJ)

Agressões fazem parte da triste rotina do professor brasileiro

.

No início de 2012, enquanto dava uma de suas aulas no Colégio Estadual Santa Gema Galgani, em Curitiba, o Professor de Matemática Francisco Gasparin Neto foi interrompido por um Aluno do Ensino médio que chegou atrasado. Como sempre faz nesse tipo de situação, Neto instruiu o Aluno a sair, pedir licença e entrar novamente. O fim desse diálogo terminou na delegacia.
.
O estudante, que tinha 18 anos, se revoltou com o pedido e deu início a uma série de ofensas, feitas em alta voz e tom intimidador. O caso passou pela direção e em seguida o Professor registrou um boletim de ocorrência. Depois de uma audiência de conciliação, o estudante foi obrigado a pagar cestas básicas à comunidade local. Ele foi condenado por desacato a funcionário público no exercício da função.
.
Diálogo entre as partes é a melhor solução
.
 A Secretaria Municipal de Educação (SME) e a Secretaria de Estado da Educação (Seed) optam pela cautela no que diz respeito às medidas que um Professor vítima de agressão deve tomar. Segundo a assessoria da SME, a orientação dada aos Docentes da rede municipal é de que toda situação de violência, seja entre estudantes ou envolvendo profissionais de Ensino, deve ser resolvida dentro da própria Escola, a partir do diálogo.
.
Como a maior parte das Escolas da prefeitura atendem apenas crianças até o 5.º ano do Ensino fundamental – apenas 11 Escolas atendem Alunos do 6.º ao 9.º ano – , o volume de ocorrências de agressão contra Professores tende a ser menor. Mesmo assim, quando ocorrem, o procedimento padrão é resolver a situação com os responsáveis pela pedagogia e direção. Em alguns casos as famílias são chamadas e participam na Escola da tomada de decisão sobre como o estudante pode se retratar diante de sua atitude.
.
De acordo com a Seed, as Escolas estaduais também são instruídas a resolverem os problemas internamente, e a agirem preventivamente sempre que um profissional nota o risco de violência. Tanto em caso de agressões verbais (calúnia, difamação e injúria) quanto físicas, os pais do estudante agressor são convocados e se faz o registro do ocorrido no livro ata da Escola. Quando ocorre uma agressão grave, o Batalhão da Patrulha Escolar Comunitária (BPEC) pode ser acionado.
.
Nessas situações, o Conselho Tutelar recebe um ofício e comunica a autoridade policial para que se faça um boletim de ocorrência numa delegacia. No caso de Curitiba, que conta com estabelecimento específico, o boletim deve ser feito na Delegacia do Adolescente. Por fim, o caso será encaminhado à Vara da Infância e Juventude ou ao Ministério Público da região. A punição, em geral, são medidas sócioeducativas.
.
A atitude do Professor Neto é uma raridade. Receber agressões verbais faz parte da rotina de muitos profissionais de Educação. No entanto, confusos diante do que podem ou não fazer, a maior parte simplesmente tolera o desrespeito, ou transfere o problema à coordenação pedagógica, função que, em tese, não deveria se responsabilizar pela distribuição de broncas. “Muita coisa seria diferente se mudássemos nossa conduta, e passássemos a usar os artifícios legais contra toda a violência e desrespeito”, afirma Neto.
.
No mês de maio, uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular e pelo Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo mostrou que a cada dez Professores daquele estado, pelo menos quatro já sofreram agressões físicas ou verbais por parte de Alunos. O mesmo relatório mostra ainda que 42% dos Docentes já viram Alunos sob efeito de drogas, e 29% testemunharam tráfico dentro da Escola.
.
Segundo a APP-Sindicato, não há dados sobre a frequência das agressões feitas por Alunos contra Professores no Paraná, mas são constantes e variadas as histórias de violência compartilhadas por profissionais com seus colegas. “Seria algo muito importante se o governo promovesse uma pesquisa qualitativa e quantitativa sobre esse tipo de ocorrência”, sugere a Professora Janeslei Aparecida Albuquerque, se­cretária de formação política e sindical da APP.
.
Problema histórico.

Para o doutor em Educação e Professor da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Joe Garcia, é necessária uma análise mais ampla, que se refere à cultura de agressão nas Escolas em geral. “Em nosso país é recente a proibição da violência física contra Alunos, embora seja ainda muito presente a violência simbólica”, diz.
.
Para Garcia, em geral, as agressões surgem de uma mentalidade que vê a violência como um instrumento legítimo para resolver conflitos, lidar com as diferenças, expressar discordância ou mesmo responder à violência que vem do outro. “Os estudantes estão reproduzindo uma lógica social que tem sido alimentada no mundo há séculos”, diz, lembrando que, em nome da Educação, métodos violentos foram usados para lidar com tudo aquilo que era julgado inapropriado ou intolerável.
.
Fonte: GAZETA do Povo. (PR)