quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

"Ronda escolar" reduz em 56% o número de pequenos delitos cometidos em colégios

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A Polícia Militar realiza, nas instituições públicas do município, o projeto Ronda Escolar. Este faz parte do Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd) e surgiu com o objetivo de combater a incidência de práticas ilícitas nesses ambientes. A atuação das autoridades nos colégios da rede estadual e municipal reduziu em 56% o número de ocorrências.
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O comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (BPM), major Correia Lima, disse que a ronda é realizada diariamente nas Escolas públicas do município, em algumas delas as ações são intensificadas.
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"Durante o período de veraneio e Carnaval, mesmo sem haver aulas, demos continuidade ao programa, visitando as instituições em dias e horários alternados. Com o início das aulas, a ronda voltou a ser diária", informou o major. Em alguns colégios, as ações são intensificadas devido à maior gravidade do problema. "É o caso das Escolas Duarte Coelho e Jerônimo Rosado, ambas localizadas no Walfredo Gurgel", explicou o comandante.
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Dados do 2º Batalhão de Polícia Militar indicam que as Escolas estaduais localizadas no Santo Antônio, Malvinas, Carnaubal, Pintos e Alto de São Manoel apresentavam os maiores índices de ocorrências. Ele ainda destaca que as ocorrências de maior incidência dizem respeito aos furtos e uso de drogas. "Se os diretores, Professores e Alunos presenciarem algum delito e quiserem pedir ajuda, podem entrar em contato com o BPM, através do 190, ou visitando a nossa sede. Estamos à disposição da população", destacou Correia Lima.
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Programa conta com 60 policiais para atuar junto às instituições
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O “Ronda Escolar”, ligado ao Proerd, atua não apenas em Mossoró. Natal, Santa Cruz e Parnamirim também contam com a ronda, os municípios reunidos possuem um efetivo de 60 policiais militares devidamente capacitados para atuar junto às instituições de Ensino.
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Para potencializar as ações do “Ronda Escolar”, também é desenvolvido o Proerd nas Escolas. A ação tem como base o princípio da integração social, com dinâmica de grupos, aulas interativas e envolventes com a colaboração e participação do Professor.
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O programa é composto de 15 lições que abordam noções de cidadania, técnica para resistir às pressões dos colegas e da mídia quanto ao uso de drogas e prática de violência, maneira de lidar com o estresse, bem como a promoção da autoestima.
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O Proerd foi criado por duas Professoras pedagogas no ano de 1983, na cidade de Los Angeles (Estados Unidos) com a sigla Dare (Drugs Abuse Resistance Education). Com apenas dois anos de aplicação do programa, fronteiras foram rompidas e atualmente já é aplicado em mais de 58 países. No Brasil, o programa foi iniciado no Rio de Janeiro, em 1992, expandiu-se para os demais estados, chegando ao Rio Grande do Norte em 2002.
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Fonte: O Mossoroense (RN)

Reciprocidade


Alunos estudam há três anos em escola improvisada no ES

Alunos da escola de São Paulinho, em Presidente Kennedy, no Sul do Espírito Santo, estão há três anos estudando em um local improvisado. Alguns nunca entraram em uma sala de aula. Tudo porque o município não consegue terminar a reforma de uma unidade escolar localizada no bairro. A Secretaria Municipal de Obras informou que, em 60 dias, a unidade deve ser entregue.
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As aulas acontecem no Ginásio Poliesportivo Jayme Navarro de Carvalho. Crianças com idades entre quatro e 12 anos são obrigadas a estudar no calor e sem o mínimo de conforto. "O lugar é muito quente e as crianças são obrigadas a estudar no calor. Isso é um desrespeito com os funcionários e com os alunos, por isso reivindicamos a entrega da escola à comunidade", pede a dona de casa Cynara Cristina.
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Michely Machado também tem um filho que estuda no local e denuncia que as crianças chegam a passar mal por causa da falta de estrutura do lugar. "Pela manhã é até tranquilo, mas à tarde, o calor é insuportável. As crianças chegam em casa com tonteira e vomitando, tem mãe que não manda o filho para a escola há uma semana por causa disso. Prejudica o ensino, porque se passa um carro o barulho é tão grande que ninguém consegue ouvir nada", reclama.
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O secretário de Obras de Presidente Kennedy, Miguel Lima, admitiu falhas no projeto de reforma da escola e garantiu que a conclusão da obra está próxima. "São problemas técnicos que envolvem de acertos nas planilhas de engenharia, mas esses acertos já estão sendo providenciados Acredito dentro de 60 dias a unidade deve ser entregue à população", promete.
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Fonte: G1 - on line

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Educação à distância


sala de aula


Escolas lutam contra violência em sala de aula (25/02/2013)

 
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Atingido com um pequeno vaso de plantas na cabeça, o Professor de História Antonio Mario Cardoso da Silva foi para o pronto-socorro e fez boletim de ocorrência na polícia. O autor da lesão corporal: um Aluno. A agressão aconteceu numa Escola pública de Diadema, na Grande São Paulo, há cerca de um ano, e foi presenciada pela mãe do estudante. Horas antes, o jovem, da 6ª série do Ensino fundamental, havia sido repreendido por Silva por mau comportamento.
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- Se fosse um objeto maior, ele poderia ter me matado - diz o Professor.
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Como esse, casos de agressão física entre Professores e Alunos têm se repetido nas Escolas públicas e privadas de todo o país. Segundo dados do Ministério da Educação (MEC) tabulados pela Fundação Lemman e pela Meritt Informação Educacional, 4.195 Professores de Língua Portuguesa e Matemática que dão aulas para Alunos de 5º e 9º ano do Ensino fundamental disseram que foram agredidos fisicamente por estudantes dentro de colégios em 2011. O número representa 1,9% dos 225 mil Docentes que responderam a questionário aplicado durante a Prova Brasil, exame realizado pelo MEC.
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Para tentar reduzir os episódios de violência no ambiente Escolar, colégios de todo o país estão oferecendo cursos de resolução de conflitos para Professores e Alunos, e apostando nas técnicas de mediação para promover o diálogo e evitar o confronto. O levantamento das respostas da Prova Brasil mostra que o número de Professores agredidos em 2011 é similar ao de 2007, quando 2,3% dos Docentes (6.677) afirmaram que foram agredidos por Alunos.
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Professora por 23 anos, Nádia de Souza Barbosa, de 56 anos, foi agredida por um Aluno de 5ª série, que bateu a porta da sala três vezes em suas costas. Dias depois, foi ameaçada pelo irmão do Aluno, e a parede da sala de aula foi pichada com o desenho de um fuzil. Segundo Nádia, na Escola pública onde ela dava aulas, na Zona Sul do Rio, por diversas vezes Alunos jogavam urina nos Professores do alto de uma escada. Nádia acabou sendo aposentada.
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- O médico me diagnosticou com depressão, síndrome do pânico e transtorno de estresse pós-traumático. Fiquei mais de dois anos em tratamento. Não tenho mais condições de voltar às salas de aula - disse a Professora aposentada de História.
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Para tentar reagir aos casos de violência, sindicatos de Professores no país têm criado canais para receber denúncias dos Docentes. O Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais, que representa Professores de Escolas particulares, recebeu uma denúncia de violência nas Escolas a cada três dias entre 2011 e 2012, incluindo agressão física, verbal e dano ao patrimônio.
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O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) estima que os casos de agressão a Professores estejam crescendo cerca de 20% a cada semestre. Entre 2008 e 2011, o sindicato recebeu 157 denúncias de agressão, roubo, vandalismo e ameaças em Escolas paulistas. Mas também há casos de agressões contra Alunos. No questionário, 3.327 Professores (1,5%) relataram que em 2011 houve agressão física contra Aluno cometida por Professor na Escola em que atuavam. Em 2007, 4.197 Professores (1,62%) relataram que Alunos foram agredidos fisicamente por Docentes.
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Foi o que aconteceu com uma aluna de 11 anos de uma Escola municipal do Rio em 2010, quando um Professor jogou um apagador no rosto dela durante a aula. O caso foi noticiado pela imprensa, e o Professor foi transferido para outra Escola. A família desistiu de entrar com ação por danos morais por temer represálias e a transferência da garota para um colégio longe de casa.
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- Mas até hoje chamam ela de "garota do apagador" na Escola - conta a advogada da família da adolescente, Consuelo de Freitas.
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Na tentativa de diminuir os casos de violência no ambiente Escolar, colégios de vários estados do país estão investindo na formação de Educadores para que eles saibam lidar melhor com a questão. No Rio, muitas Escolas têm optado por oferecer cursos de mediação para Professores e Alunos, para que eles priorizem o diálogo para resolver os conflitos. Educadores de cerca de 150 Escolas estaduais e privadas já fizeram curso de mediação Escolar promovido pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), incluindo colégios como Teresiano e São Bento. Segundo a desembargadora Leila Mariano, responsável pelo projeto do TJ-RJ, o número de casos de violência na Escola que chegam ao Judiciário impressiona. Para ela, muitas vezes uma sentença judicial não é o suficiente.
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- Nas Escola, as relações são continuadas. A Professora e o Aluno que brigam estão ali no dia seguinte. Se a gente não tentar resolver o problema emocional deles, a questão não vai parar ali - diz a desembargadora.
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Desde 2011, Alunos, diretores, Professores de Escolas municipais têm recebido treinamento sobre resolução de conflitos, abordando temas como mediação e justiça restaurativa. Os cursos já foram oferecidos a Docentes e estudantes de cerca de 60 colégios e em 2013 devem chegar a outras 20 Escolas localizadas em áreas conflagradas ou recém-pacificadas. Além disso, inspetores de disciplina também receberão treinamento.
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- Os Alunos (que passaram pelo treinamento) já começaram a disseminar na Escola um comportamento diferente. Eles ensinam os colegas a aprender a ouvir - disse André Ramos, responsável pelo programa Escolas do Amanhã, da prefeitura do Rio.
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No Pará, 300 Professores e assistentes sociais de Escolas estaduais farão curso de especialização de um ano e meio para saber lidar com as diversas formas de violência na Escola.
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- Queremos construir planos de convivência na Escola - contou Izabela Jatene, coordenadora do programa Pro Paz, do governo do Pará.
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Especialistas apontam defasagem nas escolas
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As Escolas precisam aprender a lidar melhor com conflitos, aproximar-se mais da realidade dos Alunos e investir em formação de Professores, para que casos de violência diminuam, na opinião de especialistas. Para Miriam Abramovay, autora de livros sobre violência na Escola e coordenadora da área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, as Escolas não estão conseguindo vencer a cultura da violência e não têm um diagnóstico sobre as razões de tantos conflitos no ambiente educacional.
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- A Escola é muito defasada em relação à realidade dos Alunos. Temos uma Educação do século XIX para Alunos do século XXI, com uma linguagem que não chega aos jovens. A Escola é chata e entediante para os Alunos. E isso cria conflitos - diz Miriam.
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Para Luciene Tognetta, pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da Unicamp e da Universidade Estadual Paulista, ainda há um problema generalizado de formação de Professores, que não são preparados para lidar com a agressividade de crianças, nem para se relacionar bem com elas. Na opinião de Luciene, os Educadores não usam bem o tempo que têm para debater sobre a violência na Escola.
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- Nos encontros semanais que os Professores têm para discutir questões como essas, eles preparam festas juninas, vendem calcinhas e trocam receitas de bolo - diz Luciene.
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O pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP Renato Alves afirma que muitas vezes as Escolas não dão a devida atenção a violências menores que acontecem em sala de aula, e elas acabam se transformando em algo maior.
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- A violência física é a ponta de um iceberg de outras violências que acontecem e não são tratadas. Ninguém dá um soco do nada. Começa com olhares, xingamentos e empurrões. Se o Professor pede algo para o Aluno, e ele responde de forma atravessada ou se o Professor responde de forma atravessada, isso vira uma bola de neve - afirma.
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Segundo Alves, as Escolas foram perdendo função ao longo do tempo e não se preocupam mais com a convivência e bons relacionamentos. De acordo com ele, se antes os colégios eram voltados para a formação de profissionais, hoje eles estão mais preocupados com a aprovação em vestibulares.
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Fonte: O Globo (RJ) on line 

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Educados e trancados

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Por Cláudio Andrade*
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A correspondente para assuntos da Europa, Aline Pinheiro (do site brasileiro Consultor Jurídico) noticiou que, na Inglaterra, a legislação em vigor permite que uma criança seja julgada a partir dos dez anos de idade. No entanto, o governo britânico noticiou que se gasta cinco vezes mais para manter uma criança presa do que em uma escola particular.
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Partindo desse princípio e contrário a qualquer alteração que vise ao aumento da idade penal, o governo da 'terra da rainha' deseja criar um sistema educacional dentro dos presídios, possibilitando às crianças presas um estudo adequado que viabilize à ressocialização. O projeto aguarda referendo popular.
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Confesso, caros leitores, que considero tais informações como lastimáveis. Um país europeu fomentando a inversão da construção ética e moral de um cidadão! A formação de um menor se inicia no lar. No âmbito familiar, por meio dos pais ou responsável legal, esses pequenos seres em formação têm o direito à necessária ética e à basilar moral que servirão de alicerce para a suplantação dos naturais obstáculos da vida.
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Albert Einstein já eternizou o pensamento por meio do qual afirmou que é fundamental que o estudante adquira uma compreensão e uma percepção nítida dos valores. Segundo ele, tem-se que aprender a ter um sentido bem definido do 'belo' e do 'moralmente bom'.
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Esse aprendizado inicial é uma preparação para o ingresso desses pequenos seres nos bancos escolares. A fundamental construção, feita pelos detentores do poder familiar e complementada pela escola, evita consideravelmente que o futuro adolescente se torne um pretenso delinquente, desprovido de sentimentos benignos e capaz de variadas atrocidades.
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Com uma preparação firme, a redução do ingresso, no sistema carcerário, é coerente. A draconiana ideia inglesa de levar para as prisões um sistema de ensino para as crianças cumpridoras de penas é uma inversão de valores imensurável. Não nos custa lembrar que a ressocialização dos adultos já é uma frustração governamental em diversos países, inclusive no Brasil. No caso de crianças, entendo que a iniciativa provavelmente está fadada ao insucesso.
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Não tenho conhecimento da natureza dos crimes mais cometidos na Inglaterra tampouco dos delitos praticados pelas crianças encarceradas. Mas, pode-se afirmar categoricamente que a inversão de valores (quando o estudo vem após o cárcere) é assustador e deve servir como sinal de alerta. Estariam os ingleses reconhecendo que a delinquência é inevitável e que a educação é um método secundário de controle?
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A educação boa ou ruim, aplicada nas melhores escolas do continente europeu ou nos grotões africanos, é sempre melhor do que trancafiar uma criança. A formação seja completa ou deficitária ainda salva, protege e distancia os seres humanos das armadilhas que podem conduzi-los a anos de prisão.
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A cela não é o local apropriado para uma criança sentir o aroma das páginas de um livro novo. Não é o ambiente carcerário o mais indicado para que os menores viajem ao ouvirem as mais belas histórias que a literatura possa oferecer-lhes.
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No ambiente prisional, fatalmente as lágrimas, a dor e a saudade deixarão desconexas as letras dos livros, borradas pelas lágrimas escorridas e cheias de anotações saudosas de um mundo que se foi.
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Como disse de forma sábia Dean William R. Inge: "O importante da educação não é o conhecimento dos fatos, mas dos valores."
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* - Advogado e Professor Universitário.
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Polícia rastreia autor de ameaça a estudante do blog 'Diário de Classe'

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A Polícia de Florianópolis (SC) vai pedir à Justiça autorização para ter acesso ao número de IP (Internet Protocol) do computador a partir do qual foi publicada no último sábado uma ameaça contra Isadora Faber, de 13 anos, que mantém no Facebook a página Diário de Classe — em que a estudante denuncia problemas da escola pública que frequenta. De acordo com o delegado Ricardo Guedes, da Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente e Mulher da capital catarinense, o inquérito sobre a investigação do caso deve ficar pronto em um prazo de até 30 dias. Caso o responsável pela mensagem seja identificado, poderá responder por crime contra a honra e ameaça.
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Segundo Isadora, o comentário publicado no sábado dizia que a estudante "está com os dias contados". O autor do texto afirmava ainda que iria "meter bala bem na testa da mãe e do pai (sic)" da adolescente e a aconselhou a ficar "de olhos bem abertos quando sair de casa e da escola".
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Diante da ameaça, no domingo, os pais de Isadora registraram um boletim de ocorrência no 8º Distrito Policial. Por envolver uma vítima com menos de 18 anos de idade, o caso foi encaminhado à Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente e Mulher.
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"Ela já recebeu muitas críticas, mas ameaça de morte foi a primeira vez", lamentou Mel Faber, mãe da estudante. Apesar do incidente, Mel diz que a filha não vai interromper as postagens. "Fico muito preocupada. Já cogitei até trocá-la de escola, mas ela insiste em continuar, afirmando que ainda tem muito o que fazer pela instituição."
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Na página "Diário de Classe" Isadora registra problemas enfrentados pela Escola Municipal Maria Tomázia. As críticas, no entanto, têm incomodado alguns professores e funcionários da instituição, além de colegas de sala da garota. Não é a primeira vez que a família de Isadora recorre à Polícia em razão da repercussão causada pelas denúncias da menina na web.
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Em novembro, a adolescente contou pela rede social que teve a casa apedrejada e que sua avó, de 65 anos, foi atingida na testa por uma das pedras. No mesmo mês, uma pessoa cuja identidade é mantida em segredo procurou o Ministério Público para denunciar que a estudante estaria correndo perigo dentro de sua própria escola. Desde então, o MP fez recomendações à instituição para proteger Isadora.
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Fonte: Veja on line.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Brasil em preto e branco


O resgate da categoria “espírito”

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Leonardo Boff *
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Na cultura atual a palavra “espírito” é desmoralizada em duas frentes: na cultura letrada e na cultura popular.
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Na cultura letrada dominante, “espírito” é o que se opõe à matéria. Materia sabemos mais ou menos o que é, pois pode ser medida, pesada, manipulada e transformada, enquanto “espírito” cai no campo do intangível, indefinido, e até nebuloso. A matéria é a palavra-fonte de valores axiais da experiência humana dos útimos séculos. A ciência moderna se construiu sobre a investigação e a dominação da matéria. Penetrou até as suas últimas dimensões, às partículas elementares, até o campo Higgs no qual se teria dado a primeira condensação da energia originária em matéria: os tão buscados bósons e hádrions e a chamda “partícula de Deus”. Einstein comprovou que matéria e energia são equipolentes. Matéria não existe. É energia altamente condensada e um campo riquíssimo de interações.
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Os valores espirituais, na acepção moderna convencional, situam-se na super-estrutura e não cabem nos esquemas científicos. Seu lugar é o mundo da subjetividade, entregues ao arbítrio de cada um ou a grupos religiosos. Exprimindo-o de uma maneira um tanto grotesca, mas nem tanto, podemos dizer com José Comblin, grande especialista no tema:“quando se fala em ‘valores espirituais’, todo mundo imagina que está falando um burguês numa reunião do Rotary ou dos Lions Club depois de uma abundante ceia regada a bons vinhos e servida com comidas finas; para o povo em geral ‘valores espirituais’ equivale a ‘palavras belas mas ocas”. Ou então pertence ao repertório do discurso eclesiástico moralizante, espiritualizante e em relação hostil com o mundo moderno.
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Em razão disso, a expresão “valores espirituais” surge com mais frequência na boca de padres e de bispos de viés conservador. Deles se ouve amiúde que a crise do mundo contemporâneo reside fundamentalmente no abandono do mundo espiritual: a não frequência da missa ou de qualquer referência explícita à Igreja hierárquica.
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Mas com os escândalos havidos nos últimos tempos com os padres pedófilos e com os escândalos financeiros ligados ao Banco do Vaticano, o discurso oficial dos “valores espirituais” se desmorlizou. Não perdeu valor, mas a instância oficial que os anuncia conta com muito pouca audiência.
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Na cultura popular, a palavra “espírito” possui grande vigência. Ela traduz certa concepção mágica do mundo à revelia da racionalidade aprendida na escola. Para grande parte do povo, especialmente os influenciados pela cultura afrobrasileira e indígena, o mundo é habitado por bons e maus espíritos que afetam as distintas situações da vida como a saúde e as doenças, a vida afetiva. os sucessos e os fracassos, a boa ou a má sorte. O espiritismo, codificou esta visão de mundo pela vida da reencarnação. Possui mais adeptos do que se suspeita.
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No entanto, os últimos decênios nos demos conta de que o excesso de racionalidade em todas as esferas e o consumismo exacerbado geraram saturação existencial e também muita decepção. A felicidade não se encontra na materialidade das coisas mas em dimensões ligadas ao coração, ao afeto, às relações de amor, de solidariedade e de compaixão.
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Por toda as partes, buscam-se experiências espirituais novas, quer dizer, sentidos de vida que vão além dos interesses imediatos e da luta cotidiana pela vida. Eles abrem uma perspectiva de iluminação e de esperança no meio do mercado de idéias e de propostas convencionais, veiculadas pelos meios de comunicação e também pelas assim chamadas “instituições do sentido” que são as religiões, as igrejas e as filosofias de vida. Elas ganharam força através dos programas de TV e dos grande shows religiosos que obedecem à lógica da espetacularização massiva e que, por isso mesmo, se afastam do caráter reverente e sagrado de toda religiosidade. Numa sociedade de mercado, a religião e a espiritualidade se transformaram também em mercadorias à disposição do consumo geral. E rendem muito dinheiro.
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Não obstante a referida mercantilização do religioso, o mundo espiritual começou a ganhar fascínio embora, na maioria das vezes, na forma de exoterismo e de literatura de auto-ajuda. Mesmo assim ele abriu uma brecha na profanidade do mundo e no caráter cinzento da sociedade de massa. Nos meios cristãos emergiram as Igrejas pentecostais, os movimentos carismáticos e a centralidade da figura do Espírito Santo.
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Estes fenômenos supõem um resgate da categoria “espírito” num sentido positivo e até anti-sistêmico. O “espírito” constitui uma referência consistente e não mais colocada sob suspeita pela crítica da modernidade que somente aceitava o que passava pelo crivo da razão. Ocorre que a razão não é tudo nem explica tudo. Há o irracional e aracional. No ser humano há o universo da paixão, do afeto e do sentimento que se expressa pela inteligência cordial e emocional. O espírito não se recusa à razão, antes, precisa dela. Mas vai além, englobando-a num patamar mais alto que tem a ver com a inteligência, a contemplação e o sentido superior da vida e da história. Em termos da nova cosmologia ele seria tão ancentral quanto o universo, este tambem portador de espírito. A era do espírito?
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A sair pela Vozes, do autor: Fogo do céu: o Espirito Santo no universo, na humanidade, nas Igrejas e religiões 2013.
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* Leonardo Boff - é teólogo, professor, escritor e cronista

Recuperação de escolas afeta 12,8 mil estudantes em BH

No lugar de mesas e cadeiras, picaretas e marretas. Tradicionais colégios da rede estadual de ensino de Belo Horizonte tombados pelo patrimônio histórico estão passando por reforma geral. Em três delas, as intervenções estão a pleno vapor. Outras três, entre elas a Escola Estadual Governador Milton Campos, mais conhecida como Estadual Central, estão na lista de espera, aguardando licitações e avaliações. Cerca de 12,8 mil alunos já estão ou serão afetados em breve. Mas, em meio a essa onda de restauração, a experiência da Escola Estadual Barão do Rio Branco, na Savassi, Região Centro-Sul, mostra que o processo pode ser bem mais extenso. Nele, as portas foram fechadas há dois anos, com promessa de reabertura em 2013, ano do centenário da edificação. Mas somente serão reabertas daqui dois anos e meio, quando devem ser concluídas as obras.
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No primeiro grupo escolar da capital, serão exatos 900 dias de intervenções, iniciadas em meados de janeiro. O plano inicial contemplava apenas uma reforma pontual, depois que três salas da escola foram interditadas pela Defesa Civil, há um ano, e uma das quadras fechada quando parte do muro caiu. Por causa de rachaduras, infiltrações e mobiliário quebrado, a edificação tombada em nível estadual ganhou restauração ampla. Mas, passados dois anos, muros quebrados pela metade e as pichações que passaram a fazer parte da paisagem da escola deram a sensação a quem passa pelo local de total abandono.
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O subsecretário de Administração do Sistema Educacional da Secretaria de Estado de Educação, Leonardo Petrus, afirma que a demora se deve ao tamanho do colégio e ao montante de investimentos – R$ 6 milhões. “Batalhamos durante pouco mais de um ano para um adequado projeto pela importância da edificação e para que ele fosse aprovado por todos os órgãos que fazem o controle desses bens”, diz. Os 1,3 mil estudantes estão atualmente em 10 salas do Instituto de Educação de Minas Gerais (Iemg), no Bairro Funcionários.
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Outra construção emblemática da cidade, do início do século 20, em estilo neoclássico, é a Escola Estadual Barão de Macaúbas, no Bairro Floresta, Região Leste de BH. No início do ano passado, foi detectado um problema estrutural e, por isso, os 1,1 mil alunos foram transferidos para um espaço da Escola Estadual Pedro Américo, no bairro vizinho de Santa Teresa. “Também vimos que não adiantava uma restauração apenas estrutural, era preciso fazer algo completo”, conta o subsecretário. As obras, de pouco mais de R$ 3 milhões, começaram em meados do ano passado e têm conclusão prevista para fevereiro de 2014.
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Na Escola Estadual Pandiá Calógeras, no Bairro Santo Agostinho, Centro-Sul, a edificação tombada em nível municipal será restaurada em duas etapas. A primeira, que começou no fim de janeiro, vai cuidar da recuperação e reforma do telhado da escola. A previsão de conclusão são 180 dias. Leonardo Petrus informou que a segunda fase, que cuidará da estrutura, será licitada. O cronograma de obras deve se estender por mais um ano e meio. Enquanto isso, os 1,6 mil estudantes estão e um prédio alugado, no mesmo bairro. Todas as obras são acompanhadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e pela Secretaria Municipal do Patrimônio Histórico. As intervenções estão a cargo do Departamento de Obras Públicas do Estado de Minas Gerais (Deop-MG).
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Estadual Central na lista
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O Estadual Central, no Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul, será a próxima escola da lista. A licitação para o prédio arquitetado por Oscar Niemeyer (1907–2012) será aberta assim que for concluído o orçamento do projeto, previsto para o fim do mês e estimado em R$ 9 milhões. A expectativa é de início das obras ainda este ano. Se tudo correr como o previsto, os alunos deverão ser remanejados já no segundo semestre letivo. Ainda não se sabe se parte deles ocupará um anexo do colégio ou se será preciso mudar de endereço. Tudo vai depender da decisão de fazer uma reforma por etapas ou não – o que pode influenciar no tempo de obras, entre dois e três anos.
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“Não recordo de investimento ou restauração do mesmo nível e complexidade que estamos propondo para essa edificação”, diz Leonardo Petrus. “Precisamos consertar problemas que o próprio tempo vai gerando, além de cumprir normas técnicas, sem descaraterizar o patrimônio. Essa complexidade exige alto custo, que se justifica pela manutenção das características históricas, onera obra e aumenta o prazo de execução”, acrescenta.
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Na Escola Estadual Afonso Pena, outra centenária do grupo, na Avenida João Pinheiro, já começou o levantamento da situação da estrutura. No Instituto de Educação, a secretaria está encomendando os estudos. No interior, a Escola Estadual Manuel Inácio Peixoto, em Cataguases, Zona da Mata, está sendo reformada. Os trabalhos no prédio, também de Niemeyer, têm o acompanhamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
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Fonte: Estado de Minas (MG) 

Não basta ter razão

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Por Ferreira Gullar*
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Entendo que alguém, que durante toda a vida tenha tido o marxismo como doutrina e o comunismo como solução dos problemas sociais, se negue, a esta altura da vida, a abrir mão de suas convicções. Entendo, mas não aprovo. Tampouco lhe reconheço o direito de acusar quem o faça de "vendido ao capitalismo." Aí já é dupla hipocrisia.
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Tornei-me marxista por acaso, ao ler o livro de um padre católico sobre a teoria de Marx. É verdade que o Brasil daquela época estava envolvido na luta pela reforma agrária e pelo repúdio ao imperialismo norte-americano, que se assustara com a Revolução Cubana.
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Confesso que meu entusiasmo por um Brasil concretamente mais democrático não me permitiu examinar, ponto por ponto, a doutrina marxista, para nela descobrir equívocos e propósitos inviáveis.
Não ignorava, claro, as acusações feitas ao regime soviético, mas atribuía aqueles erros à fase stalinista que, após a denúncia feita por Khruschov, havia sido superada. A verdade é que essas questões - sobretudo depois que os militares se instalaram no poder - não estavam em discussão: o fundamental era derrotar a ditadura e avançar na direção do regime socialista.
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Com o AI-5, em dezembro de 1968, a repressão aos comunistas e opositores do regime militar intensificou-se, multiplicando-se os casos de tortura e assassinatos. Tive que deixar o país e ir para a URSS. Convivendo ali apenas com militantes brasileiros e de outros países, pouco pude conhecer da vida dos cidadãos soviéticos, a não ser daqueles que pertenciam à máquina oficial. De Moscou fui para Santiago do Chile, aonde cheguei poucos meses antes da queda de Allende.
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Mergulhado no conflito ideológico que opunha as duas potências antagônicas - URSS e EUA -, não me foi possível ver com maior clareza o que de fato acontecia nem muito menos os erros cometidos também por nós, adversários do imperialismo norte-americano. Isso se tornou evidente para mim, anos mais tarde, quando o sistema socialista ruiu como um castelo de cartas.
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Tornou-se então impossível não ver o que de fato ocorria. O regime soviético não ruíra porque um exército inimigo invadira o país. Pelo contrário, foi o povo russo mesmo que pôs fim ao sistema e o fez porque ele fracassara economicamente. Não obstante, muitos companheiros se negavam a aceitar essa evidência. Passaram a atribuir a Gorbatchov a culpa pelo fim do comunismo, como se isso fosse possível. A verdade é que as pessoas, de modo geral, têm dificuldade em admitir que erraram, que passaram anos de sua vida (e alguns pagaram caro por isso) acreditando numa ilusão.
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E, além do mais, é compreensível, uma vez que o socialismo propunha derrotar um sistema econômico injusto e pôr em seu lugar outro, fundado na igualdade e na justiça social.
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É verdade também que em alguns países onde o socialismo se implantara muito foi feito em busca dessa igualdade. Não obstante, algo estava errado ali, já que o regime era obrigado a coibir a livre opinião e impedir que as pessoas saíssem livremente do país. A pergunta é inevitável: alguém, que vive no paraíso, quer a todo custo fugir dele?
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Tampouco o regime capitalista é o paraíso. Longe disso. A diferença é que, dele, podemos sair se o decidirmos, criticá-lo e, pelo voto, mudar o governante. Mas não é só isso. O capitalismo é dinâmico e criativo porque é a expressão da necessidade humana de tudo fazer para melhorar de vida. Neste momento mesmo, milhões de pessoas estão inventando meios e modos de criar empresas, realizar empreendimentos que lhes possibilitem lucrar e enriquecer.
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Como poderia competir com isso um regime cujo processo econômico era dirigido por meia dúzia de burocratas, os quais, em nome do Partido Comunista, tudo determinavam e decidiam? Isso conduziu o comunismo ao fracasso e levou a China a tornar-se capitalista para escapar do desastre que pôs fim ao sistema socialista mundial.
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O capitalismo, por sua vez, é o regime da exploração e da desigualdade, precisamente porque se funda no egoísmo e na busca do lucro máximo. Se deixarmos, ele suga a carótida da mãe. O grande problema, portanto, é este: como estimular a iniciativa criadora de riqueza e, ao mesmo tempo, valer-se da riqueza criada para reduzir a desigualdade.
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Ferreira Gullar é cronista, crítico de arte e poeta. Escreve aos domingos na versão impressa de "Ilustrada" da Folha de São Paulo.
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Folha on line

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Crimes violentos têm alta de 16% na região metropolitana

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A força-tarefa lançada há quase um ano pelo governo do Estado para conter a epidemia de violência em Minas ainda não conseguiu reduzir o número de vítimas. Só na região metropolitana de Belo Horizonte, que abrange 41 cidades, o índice de crimes violentos subiu 16,3% em janeiro deste ano, na comparação com o mesmo período de 2012. Os dados são da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds).
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Foram 3.957 ocorrências no mês passado, contra 3.401 no janeiro anterior. Como consequência dos crimes, 160 pessoas morreram assassinadas na capital e seus arredores nos últimos 30 dias, uma média de cinco óbitos por dia. No mesmo período de 2012, foram 159 ocorrências de homicídio - na época, a Seds não divulgava o número de vítimas.
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Mau exemplo. Entre as cidades com os piores índices da região está Contagem, que apresenta um dos mais significantes aumentos de violência. O número de homicídios cresceu 41%, e o de crimes violentos em geral, 39,7%. Já os casos de roubo e extorsão mediante sequestro tiveram um crescimento mais elevado (43%), passando de 504 registros em 2012 para 721 neste ano.
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A média é de 23 assaltos ou extorsões por dia na cidade, alguns deles resultando em morte, como ocorreu com Guilherme Monteiro de Jesus, 19, na noite de domingo. Ele foi assassinado com um tiro na cabeça, no bairro Cidade Industrial, em Contagem. Segundo a Polícia Militar, o jovem acelerou o Palio que conduzia ao ser abordado por três homens. A suspeita é de que ele tenha reagido a uma tentativa de assalto.
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O chefe da Seção de Planejamento e Operações da 2ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp) da PM, major Carlos da Costa, afirmou que o combate aos crimes em Contagem é dificultado pelo fato de eles não estarem concentrados em bairros específicos. "Essa é uma característica do tráfico no município, ele é pulverizado. As quadrilhas estão migrando constantemente", disse.
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A PM não informou o efetivo da região metropolitana, nem se há perspectiva de ampliação da equipe. Segundo o major, os policiais têm intensificado a presença nas ruas, como forma de intimidar os bandidos. "Já a prisão é mais difícil, precisa de trabalho de inteligência da polícia e mandado de prisão da Justiça, o que leva tempo", argumentou.  O titular da Seds, Rômulo Ferraz, foi procurado, mas, segundo sua assessoria de imprensa, ele não tinha horário na agenda para entrevistas. (Com José Vitor Camilo/Especial para O TEMPO)
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Estatística - Estado passa a divulgar o número de vítimas
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A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) corrigiu, a partir de janeiro, o que, segundo especialistas em segurança pública, era uma maneira de "jogar para baixo o índice de violência" em Minas. Ao invés de divulgar apenas o número de ocorrências de assassinato, passou a divulgar o de vítimas, o que já acontece em outros Estados, como São Paulo. Antes, por exemplo, uma chacina, com cinco mortes, era contabilizada apenas como um homicídio.
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No mês passado, 364 pessoas morreram vítimas de violência no Estado, segundo o relatório da Seds. Já os registros de homicídio totalizaram 355. O número de vítimas também é maior que o de ocorrências na região metropolitana, que registrou 160 vítimas contra 155 notificações do crime.
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"O número de vítimas é um dado que facilita a compreensão do público sobre a criminalidade em sua cidade. O Estado tem o dever de divulgá-lo para a população", afirmou o especialista em segurança pública Robson Sávio.
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Segundo o sociólogo, quanto mais detalhamento estatístico houver, com discriminação inclusive da idade das vítimas e do local do crime, melhor será a análise para a elaboração de ações de prevenção. "Não basta divulgar dados, é preciso estudá-los para elaborar estratégias". (LC)
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Fonte: O Tempo (MG)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Valores éticos e morais na atuação parlamentar

Por José Matias-Pereira*
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As recentes eleições dos novos dirigentes do Parlamento brasileiro receberam um enorme destaque por parte da mídia. Essas coberturas, em geral, tinham como pano de fundo fatos que envolviam os dois principais candidatos a possíveis desvios nos campos éticos e morais. Sem entrar no mérito das acusações — as quais estão sendo analisadas nos âmbitos do Ministério Público e do Poder Judiciário —merece uma maior reflexão o teor do discurso feito pelo novo presidente do Senado Federal, pouco antes da sua eleição. Eleito com 56 votos dos seus pares, o que equivale a 71% do total dos senadores, ele retornou seis anos depois ao cargo ao qual renunciou, depois de ter sido alvo de denúncias de corrupção, acusado de ter parte de suas despesas pessoais custeadas por uma empreiteira. A renúncia ao cargo de presidente do Senado, segundo noticiado na ocasião, fez parte de um acordo político que impediu uma possível cassação do seu mandato.
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Entendemos relevante destacar no seu pronunciamento a afirmação de que “a ética não é objetivo em si mesmo. O objetivo em si mesmo é o Brasil, é o interesse nacional”, sintetizando que a “ética é meio, não é fim.” Considerando as distorções contidas nessa afirmação, visto que é sabido que ética e política interagem de forma permanente, temos como propósito neste artigo abordar algumas questões relevantes que envolvem a compreensão da ética e da moral. Pressupomos que a ética é obrigação da nação, por ser um princípio indispensável na construção de uma sociedade democrática e justa.
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Inúmeros filósofos e pensadores, em distintos períodos da história, a começar pelos gregos, trataram especificamente dos temas relacionados com a ética e com a moral. Os pré-socráticos, Aristóteles, os estoicos, os pensadores cristãos patrísticos, escolásticos e normalistas, Kant, Espinoza, Nietzsche, Paul Tillich, entre outros. A reflexão que o indivíduo deve fazer na sua busca de responder à pergunta “como devo atuar ante os outros?” é o ponto inicial da discussão sobre a moral e a ética. Assim, a questão fundamental da moral e da ética trata sobre a vida em sociedade, o que permite que o ser humano conviva com os outros seres humanos, tendo por referência um conjunto de regras e valores que guiam a sua conduta.
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A ética, que pode ser aceita como um conjunto de princípios que orientam a atuação do homem, quando estudada no âmbito da gestão pública, apresenta uma profunda integração com a relação que existe entre o Estado e a sociedade. Sua relevância fica mais nítida quando envolve o exercício da cidadania. Nesse sentido é importante assinalar as diferenças básicas que existem entre ética e moral: a ética é um principio, a moral trata sobre os aspectos de condutas específicas; a ética persiste, a moral é passageira; a ética é universal, a moral é cultural; a ética é uma norma, a moral é uma conduta da norma; e a ética é teoria, a moral é prática.
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A partir destas distinções torna-se necessário lembrar que é importante que os governantes, os políticos e os empresários procurem aprofundar mais a sua compreensão sobre o tema – a ética – que deve ser praticada sem distinções, de forma sistemática, por todos os indivíduos numa sociedade. Registre-se que a prática da ética é um dever básico dos que governam ou representam a nação, em particular, na atuação parlamentar, visto que sua prática é essencial para legitimar a instituição parlamento junto à sociedade.
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Feitas estas considerações, podemos concluir que, tanto do ponto de vista filosófico como político, a afirmação do novo presidente do Senado Federal de que “a ética é meio, não é fim” é uma afirmação completamente extemporânea e equivocada. A ética, conforme ensinam os grandes pensadores que se dedicaram ao seu estudo, é a base, ou seja, o alicerce indispensável da nossa convivência em sociedade. A ética não é negociável, nem pode ser elástica, na medida da conveniência de cada indivíduo, empresas, partidos políticos ou governos. A sua prática, sem subterfúgios, é fundamental para a sobrevivência das instituições, do governo, da administração pública e do Estado democrático de direito.
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* - José Matias-Pereira, professor de administração pública e pesquisador do programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade de Brasília, é doutor em ciência política pela Faculdade de Ciências Políticas e Sociologia da Universidade Complutense de Madri.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Escola em Carnaval


Escolas particulares ignoram MEC e superlotam as salas

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Salas superlotadas, alunos desconfortáveis e sem a atenção necessária, pais insatisfeitos e professores sobrecarregados. O cenário, muitas vezes associado às instituições públicas, também é uma realidade na rede particular de Belo Horizonte. Em algumas escolas, 55 estudantes dividem o mesmo espaço, quando a recomendação do Ministério da Educação (MEC) é de 35. Para especialistas, o problema reflete a mercantilização da educação e prejudica o aprendizado.
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Segundo o MEC, o número de alunos em sala no ensino fundamental não deve ser maior que 30. No ensino médio, o limite é de 35 adolescentes. Mas a estudante Cláudia*, 17, que faz o terceiro ano do ensino médio no colégio Educare Pitágoras, divide a sala com outros 54 colegas. Ela acredita que, se o número fosse reduzido, teria mais atenção dos professores. A mãe da garota, Márcia*, 47, reclama que o valor pago de mensalidade, R$ 1.163, não condiz com o serviço. "No último ano antes do vestibular, as salas deveriam ser reduzidas para dar mais atenção à dificuldade e à ansiedade de cada um. Sou professora e sei que não conseguiria manter a mesma qualidade nesse cenário", diz. A doutora em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carmem Eiterer explica que a preocupação dos pais é pertinente. "Eles não terão atenção individual. O ruído na sala aumenta, os meninos ficam mais dispersos, e, certamente, o aprendizado é comprometido. A escola prioriza o lucro em detrimento da qualidade."
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Fabiana* diz que se surpreendeu ao saber que a sala do filho de 12 anos, na sétima série do colégio Magnum, tem 43 crianças. Segundo ela, na série anterior eram três turmas, mas, nesta, a escola optou por condensar todos os alunos em apenas duas. A mensalidade é de R$ 887. "Pelo valor, o atendimento que recebemos deveria ser diferenciado. Mas, com tantos alunos, acho difícil que a escola cumpra esse papel", afirma.
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Cristiane* conta que a filha de 10 anos está em uma sala com 41 colegas, na terceira série do ensino fundamental, no colégio Santo Antônio. "O professor não poderá ser tão cuidadoso quanto deveria tendo que dividir a atenção com tantos meninos", lamenta.
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Contraponto. O diretor da unidade Venda Nova do Magnum, Eldo Pena Couto, garante que o excesso de alunos na sala de aula não compromete a qualidade do ensino. "Se eu tenho um bom profissional, ele atenderá a todos. Basta ver que as escolas tradicionais têm mais de 40 alunos, mas mantêm bons índices de aprovação no vestibular e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)", afirmou.

A diretora da rede Pitágoras, Andréa Brasil, diz que a sala citada comporta até 70 alunos com conforto, e que o número não compromete o ensino. O Colégio Santo Antônio não se pronunciou.
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Professores / Sindicato diz que lucro de instituições é abusivo

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O valor pago por seis alunos é o suficiente para arcar com o salário de um professor do ensino fundamental. A informação é do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro). Na avaliação do diretor da entidade Marco Eliel Santos de Carvalho, a superlotação não se justifica.
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Carvalho afirma que as crianças e os jovens estão cada dia mais hiperativos e demandando atenção. "Sem mencionar a saúde do professor. Ele terá que se esforçar fisicamente mais em sala e em casa, nas correções de provas e trabalhos, sem ganhar mais. As escolas têm que entender que educação não é uma mercadoria qualquer", disse.
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O Ministério da Educação (MEC) recomenda que os pais fiquem atentos e cobrem das escolas.

Público. A coordenadora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE), Beatriz Cerqueira, disse que a superlotação é frequente na rede estadual. "Eles não podem recusar matrículas e lotam as salas". A Secretaria de Estado informou que nenhuma escola tem mais que 40 alunos, como manda a Lei 16.056/2006.
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(Fonte: O Tempo - MG)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Drogas estão próximas a 74% das escolas de Belo Horizonte

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O consumo e o tráfico de drogas têm sido alvo de preocupação não só para pais e órgãos ligados à segurança pública como para os mais de 54.500 diretores das escolas públicas brasileiras que apontaram o problema como algo comum em 35% das instituições de educação no país. Em Minas Gerais, o índice chega e 41% e, em Belo Horizonte, é pior ainda: 74%.
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Os dados fazem parte de um questionário socioeconômico da Prova Brasil 2011, aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgada em agosto do ano passado e disponibilizados agora na plataforma QEdu: Aprendizado em Foco, uma parceria entre a Meritt e a Fundação Lemann - organização sem fins lucrativos voltada para educação.
De acordo com o coordenador de projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins, a plataforma foi lançada há dois meses para que os dados fossem aproveitados da melhor forma por pais, diretores e governos. "Todo dia assistimos notícias de violência e esse problema no Brasil não pode ser isolado das escolas, que fazem parte de um todo maior", afirma.
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Estudante de uma escola estadual na capital mineira, Izabel Luizi Santos, 16, confirma que o consumo de drogas é frequente nas proximidades do colégio. "No ensino médio é mais comum. Já presenciei pessoas fumando (maconha) na área de lazer do colégio ou matando aula para usar drogas ou beber (álcool). Acho que os alunos poderiam, inclusive, ter as mochilas revistadas", diz.
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A assessoria de imprensa da Polícia Civil disse que o foco do Departamento de Investigação Antidrogas é atingir o fornecedor de drogas que trabalha "no atacado". No entorno das escolas, geralmente, fica o traficante que trabalha com pequenas quantias. Nenhum representante da Polícia Militar retornou o pedido da reportagem para comentar o assunto.
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Cautela. Segundo o coordenador do Observatório da Juventude da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Juarez Dayrell, existe uma visão muito negativa da juventude. "É inegável que existe o tráfico, mas não acredito que nas escolas da capital tenha tanta droga assim, uma vez que outros dados sobre a criminalidade não apontam esse aumento significativo", diz.
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A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança, Urbana e Patrimonial de Belo Horizonte disse que a Guarda Municipal está presente em todas as 186 escolas da rede e que, em pouco tempo, todas as escolas terão câmeras de vigilância. Já a Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais, que conta com mais de 3.700 escolas, não quis se manifestar sobre o assunto e alegou, através de sua assessoria de imprensa, que, como os dados se referem a um universo exterior às escolas, a questão está fora do alcance e da responsabilidade da pasta.
Esforços
Falhas são apontadas por diretores
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Falhas na segurança pública possibilitam a presença das drogas nas proximidades das escolas. É o que acredita o diretor Alber Fernandes, da Escola Estadual Três Poderes, em Belo Horizonte. "A escola acaba sendo muito vulnerável. Já achei maconha dentro do banheiro da escola e trabalhamos para evitar, inclusive, o primeiro contato. Uma sugestão seria a constante ação policial com as blitze", afirma. Já o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais, Emiro Barbini, aponta mudanças na lei, crescimento da população e a facilidade ao acesso como outros fatores para o aumento no consumo de drogas pela juventude. "A escola particular tem uma atenção redobrada dentro e fora dos muros. Algumas chegam a ter um custo maior com equipes a paisana do lado de fora para observar qualquer movimentação", diz. (LM) - Fonte: O Tempo (MG)

Tráfico próximo a escolas é maior no DF

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A incidência do tráfico de drogas nas redondezas de Escolas do Distrito Federal é a maior do país, conforme levantamento feito com base nos últimos questionários da Prova Brasil e do Censo Escolar, elaborados em 2011 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Essa conclusão foi obtida a partir do trabalho das organizações sem fins lucrativos Meritt e Fundação Lemann, que cruzaram os dados dos dois formulários. Na capital do país, 53,2% das direções dos 88 estabelecimentos de Ensino da rede pública informaram casos de venda e compra de substâncias ilícitas nas proximidades das unidades. O percentual do DF é 18,2% acima da média nacional.
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No mais recente estudo da Secretaria de Segurança Pública local, os números mostram que, entre janeiro e julho de 2012, foram registrados 146 casos de tráfico de drogas e 407 de uso e porte de entorpecentes em um perímetro de 100 metros das Escolas públicas. Nesse período, Ceilândia, Taguatinga, Gama e Planaltina foram as quatro regiões que lideraram os índices de venda dessas substâncias no DF. No quesito uso e porte de entorpecentes, Ceilândia e Gama continuaram no topo no ranking. Os dados mostram a realidade enfrentada por Professores, pais e Alunos, que acabam convivendo com pontos de drogas nas proximidades. Em algumas situações, não é preciso sequer sair das instituições de Ensino para encontrar Alunos usando entorpecentes. Há cinco anos, era comum os Professores recolherem drogas em mochilas de estudantes do Centro Educacional nº 7 de Ceilândia. “Em 2008, apreendemos mais de 20 tabletes de maconhas e duas trouxas de cocaína dentro das salas de aula. Nos últimos dois anos, não flagramos nenhuma droga”, avaliou o diretor do estabelecimento, Firmino Neto.
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Acompanhamento
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A redução das apreensões de drogas na Escola — situada na QNN 13, uma das regiões com maior incidência de criminalidade em Ceilândia — é resultado de um trabalho do corpo Docente do colégio. Desde 2009, o centro educacional elabora relatórios com dados dos 3 mil Alunos matriculados na unidade. A partir disso, os Professores passaram a conhecer não só o desenvolvimento Escolar dos estudantes, como também a vida deles fora do ambiente de Ensino. “Construímos paradigmas. Começamos a mapear o que se passava com os Alunos na rua e em casa para saber quem eles eram realmente. Começamos a acompanhá-los ainda mais de perto e fizemos questionamentos aos pais. Chegamos a assumir responsabilidades fora da Escola que nem deveriam ser nossas”, contou Firmino Neto.
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Segundo a diretora de imprensa do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), Rosilene Correa, a tendência dos Alunos que se envolvem com o mundo das drogas é abandonarem os estudos. “Isso contribui para a evasão Escolar, pois as drogas tiram o interesse dos jovens de estudar.” Ela acredita que somente políticas públicas voltadas para a juventude serão capazes de mudar o rumo dos estudantes envolvidos com entorpecentes. Para o coordenador de Educação em Direitos Humanos da Secretaria de Educação do DF, Mauro Gleisson Evangelista, a falta de preparo dos Professores para lidar com o enfrentamento das drogas é preocupante. “Eles não estão preparados e estão cientes dessa carência. Mas eles têm nos demandado essa formação, tanto que estão se inscrevendo em cursos voltados para isso”, disse Mauro.
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Do lado de fora dos muros dos estabelecimentos de Ensino do DF, a responsabilidade da movimentação e utilização de drogas é da Secretaria de Segurança local. O Batalhão Escolar da Polícia Militar afirma que a corporação vem intensificando o trabalho de repressão ao tráfico em todo o DF. “Temos 550 policiais que trabalham em viaturas, motocicletas e com a ajuda de cães farejadores. Quando nos é pedido, fazemos varreduras dentro das Escolas. Além disso, damos palestras sobre drogas. O efetivo é suficiente para o trabalho”, esclarece o subcomandante do batalhão, major Valtênio Antônio de Oliveira.
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Fonte: Correio Brasiliense (DF)
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"Tráfico próximo às escolas é mais comum do que se imagina", diz professor do DF
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Após saber que, no DF, mais da metade dos estabelecimentos (53,2%), a maior proporção do País, registram a ocorrência de venda e compra de drogas nas redondezas, o coordenador intermediário de Direitos Humanos e Diversidade na Regional de Ensino do Recanto das Emas (região administrativa do DF), o Professor Celso Leitão Freitas, diz que o tráfico próximo às Escolas é mais comum do que se imagina.
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— As ocorrências são diárias. Pensamos que é um problema só do Aluno, mas, quando se vai atrás, a família toda está envolvida com drogas e ele traz esse hábito de dentro de casa. Freitas é prova de que o tráfico está associado à violência, tanto entre pessoas, quanto a que chamou de estrutural: a falta de serviços básicos.
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— Aqui presenciamos a falta de moradia, de Educação, a falta de benefícios econômicos como um todo.
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Os programas para combater o uso de drogas são vários, tanto governamentais quanto iniciativas privadas, e é consenso que para mudar a realidade nas proximidades da Escola é preciso modificar a realidade da comunidade, por meio de assistência social e acesso a políticas públicas e a itens básicos como saúde, saneamento, alimentação, além de uma Educação de qualidade. Para combater o tráfico e ajudar os Alunos, ainda enquanto era Professor, Freitas resolveu tomar uma iniciativa ele mesmo: criou o projeto Estudar em Paz, para resgatar o interesse pelos estudos.
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— A comunidade perdeu o encanto pela Escola, precisamos resgatar isso. Ao mesmo tempo, as ruas estão cada vez mais encantadoras , cada vez mais estamos perdendo nossos Alunos para o trafico.
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O estudante Natanael Neves, de 18 anos, fez parte do grupo Estudar em Paz. Dos tempos de Escola, ele conta que não tinha a menor paciência, bastava “não ir com a cara” da pessoa para já começar a bater. E a violência estava lado a lado com o tráfico. Apesar de não ter feito o uso de drogas, ele viu colegas consumirem tanto nas ruas, quando dentro da Escola, em São Sebastião (região administrativa do DF).
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— O local tinha policiamento, mas os guardas ficam com medo. O pessoal sabe e [usar drogas] já é algo quase normal.
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A agressividade foi algo que herdou de casa. Ele diz que queria chamar a atenção dos pais. A vida pessoal acabava chegando às salas de aula:
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— Na Escola você só aperfeiçoa o que aprende em casa.
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 Hoje, Natanael se diz uma nova pessoa, foi aprovado para o curso de gestão pública pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e pretende voltar ao ambiente Escolar depois de formado para mudar a realidade. Ele diz que perdeu as contas dos amigos que deixaram as salas de aula por problemas com tráfico e violência.
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A pesquisa
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 A pesquisa se baseou nas respostas dos questionários socioeconômicos da Prova Brasil 2011, aplicada pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), divulgada em agosto do ano passado. A questão sobre o tráfico nas proximidades das Escolas foi respondida por 54,5 mil diretores das Escolas públicas. Deles, 18,9 mil apontaram a existência da atividade. A situação, de acordo com especialistas, é preocupante e está associada diretamente à violência e à precariedade que cercam muitos centros de Ensino do país, além de contribuir para que os Alunos deixem de estudar.
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O responsável pelo estudo, o coordenador de Projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins, diz que não dá para isolar Escola no contexto em que está inserida.
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— Ela faz parte de um todo maior, se há violência fora, poderá chegar também aos centros de Ensino. Basta observar que o Distrito Federal [53,2%] e São Paulo [47,1%], [regiões] com altos índices de violência, são [as áreas] com o maior percentual.
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Distrito Federal tem a maior incidência de tráfico de drogas próximo às escolas públicas
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 Pouco mais de um terço (35%) das Escolas públicas brasileiras tem tráfico de drogas nas proximidades. Separados os estados e o Distrito Federal, a proporção sobe. No DF, mais da metade dos estabelecimentos (53,2%), a maior proporção do País, registram a ocorrência de venda e compra de drogas nas redondezas. Nenhum estado está livre. A menor ocorrência é no Piauí, com 15,3% das Escolas. Os dados foram levantados pelo QEdu: Aprendizado em Foco, uma parceria entre a Meritt e a Fundação Lemann., organização sem fins lucrativos voltada para Educação. A pesquisa se baseou nas respostas dos questionários socioeconômicos da Prova Brasil 2011, aplicada pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), divulgada em agosto do ano passado. A questão sobre o tráfico nas proximidades das Escolas foi respondida por 54,5 mil diretores das Escolas públicas. Deles, 18,9 mil apontaram a existência da atividade. A situação, de acordo com especialistas, é preocupante e está associada diretamente à violência e à precariedade que cercam muitos centros de Ensino do país, além de contribuir para que os Alunos deixem de estudar.
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O responsável pelo estudo, o coordenador de Projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins, diz que não dá para isolar Escola no contexto em que está inserida.
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— Ela faz parte de um todo maior, se há violência fora, poderá chegar também aos centros de Ensino. Basta observar que o Distrito Federal [53,2%] e São Paulo [47,1%], [regiões] com altos índices de violência, são [as áreas] com o maior percentual.
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Evasão Escolar
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 Outro problema que advém da situação é a evasão Escolar. Para a diretora executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, a evasão deve ser uma das grandes preocupações dos governos.
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— Muitos jovens acabam deixando os estudos pela proximidade com as drogas. Isso gera um problema ainda maior que não pode ser ignorado.
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A porcentagem (de 35%) constatada pelo estudo, segundo ela, seria alta mesmo que fossem 10% ou menos. Para ela, a Escola deve ser um local de cuidado e aprendizado.
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Fonte: R& (on line)

Pesquisador afirma que estrutura das escolas adoece professores

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“O ambiente Escolar me dá fobia, taquicardia, ânsia de vômito. Até os enfeites das paredes me dão nervoso. E eu era a pessoa que mais gostava de enfeitar a Escola. Cheguei a um ponto que não conseguia ajudar nem a minha filha ou ficar sozinha com ela. Eu não conseguia me sentir responsável por nenhuma criança. E eu sempre tive muita paciência, mas me esgotei.”
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Sem infraestrutura: Em 72,5% das Escolas da rede pública não há biblioteca
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 Estrutura Escolar adoece Professores e leva a abandono da profissão
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O relato é da Professora Luciana Damasceno Gonçalves, de 39 anos. Pedagoga, especialista em psicopedagogia há 15 anos, Luciana é um exemplo entre milhares de Professores que, todos os dias e há anos, se afastam das salas de aula e desistem da profissão por terem adoecido em suas rotinas. Para o pesquisador Danilo Ferreira de Camargo, o adoecimento desses profissionais mostra o quanto o cotidiano de Professores e Alunos nos colégios é “insuportável”. “Eles revelam, mesmo que de forma oblíqua e trágica, o contraste entre as abstrações de nossas utopias pedagógicas e a prática muitas vezes intolerável do cotidiano Escolar”, afirma.
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O tema foi estudado pelo historiador por quatro anos, durante mestrado na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Na dissertação O abolicionismo Escolar: reflexões a partir do adoecimento e da deserção dos Professores , Camargo analisou mais de 60 trabalhos acadêmicos que tratavam do adoecimento de Professores.
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Camargo percebeu que a “epidemia” de doenças ocupacionais dos Docentes foi estudada sempre sob o ponto de vista médico. “Tentei mapear o problema do adoecimento e da deserção dos Professores não pela via da vitimização, mas pela forma como esses problemas estão ligados à forma naturalizada e invariável da forma Escolar na modernidade”, diz.
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Desistência: Salários baixos provocam fuga de Professores da carreira
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 Luciana começou a adoecer em 2007 e está há dois anos afastada. Espera não ser colocada de volta em um colégio. “Tenho um laudo dizendo que eu não conseguiria mais trabalhar em Escola. Eu não sei o que vão fazer comigo. Mas, como essa não é uma doença visível, sou discriminada”, conta. A Professora critica a falta de apoio para os Docentes nas Escolas. “Me sentia remando contra a maré. Eu gostava do que fazia, era boa profissional, mas não conseguia mudar o que estava errado. A Escola ficou ultrapassada, não atrai os Alunos. Eles só estão lá por obrigação e os pais delegam todas as responsabilidades de educar os filhos à Escola. Tudo isso me angustiava muito”, diz.
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Viver sem Escola: é possível?
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 Orientado pelo Professor Julio Roberto Groppa Aquino, com base nas análises de Michel Foucault sobre as instituições disciplinares e os jogos de poder e resistência, Camargo questiona a existência das Escolas como instituição inabalável. A discussão proposta por ele trata de um novo olhar sobre a Educação, um conceito chamado abolicionismo Escolar.
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“Criticamos quase tudo na Escola (Alunos, Professores, conteúdos, gestores, políticos) e, ao mesmo tempo, desejamos mais Escolas, mais Professores, mais Alunos, mais conteúdos e disciplinas. Nenhuma reforma modificou a rotina do cotidiano Escolar: todos os dias, uma legião de crianças é confinada por algumas (ou muitas) horas em salas de aula sob a supervisão de um Professor para que possam ocupar o tempo e aprender alguma coisa, pouco importa a variação moral dos conteúdos e das estratégias didático-metodológicas de Ensino”, pondera.
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Fora da sala de aula: Metade dos Professores não leem em tempo livre
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Ele ressalta que essa “não é mais uma agenda política para trazer salvação definitiva” aos problemas Escolares. É uma crítica às inúmeras tentativas de reformular a Escola, mantendo-a da mesma forma. “A minha questão é outra: será possível não mais tentar resolver os problemas da Escola, mas compreender a existência da Escola como um grave problema político?”, provoca. Na opinião do pesquisador, “as mazelas da Escola são rentáveis e parecem se proliferar na mesma medida em que proliferam diagnósticos e prognósticos para uma possível cura”.
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Problemas partilhados
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Suzimeri Almeida da Silva, 44 anos, se tornou Professora de Ciências e Biologia em 1990. Em 2011, no entanto, chegou ao seu limite. Hoje, conseguiu ser realocada em um laboratório de ciências. “Se eu for obrigada a voltar para uma sala de aula, não vou dar conta. Não tenho mais estrutura psiquiátrica para isso”, conta a carioca. Ela concorda que a estrutura Escolar adoece os profissionais. Além das doenças físicas – ela desenvolveu rinite alérgica por causa do giz e inúmeros calos nas cordas vocais –, Suzimeri diz que o ambiente provoca doenças psicológicas. Ela, que cuida de uma depressão, também reclama da falta de apoio das famílias e dos gestores aos Professores.
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“O Professor é culpado de tudo, não é valorizado. Muitas crianças chegam cheias de problemas emocionais, sociais. Você vê tudo errado, quer ajudar, mas não consegue. Eu pensava: eu não sou psicóloga, não sou assistente social. O que eu estou fazendo aqui?”, lamenta.
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Fonte: IG (on line)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Educação do escândalo


Mortes preveníveis e evitáveis têm responsáveis: os governos

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Por Fátrima Oliveira*
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O legado das mortes e das morbidades no incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (RS), no último 27 de janeiro, é que mortes preveníveis e evitáveis devem ser uma obsessão para o poder público, em todos as esferas de governo.
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Prevenir perda de vidas consiste em adotar medidas exteriores ao serviço de saúde para evitar doenças e mortes. O conceito de morte evitável se firmou, vem evoluindo e tem sido objeto de estudo de diferentes pesquisadores, desde a década de 1970, na Universidade de Harvard (EUA), com os trabalhos pioneiros de Rutstein, Berenberg et al, para quem "mortes evitáveis são aquelas que poderiam ter sido evitadas (em sua totalidade ou em parte) pela presença de serviços de saúde efetivos".
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Mortes preveníveis e mortes evitáveis são aquelas precoces (antes do tempo), que não deveriam acontecer se os governos cumprissem a parte que lhes toca. A regra tem sido a omissão e a esquiva em assumir responsabilidades, tanto as atribuídas pela Justiça quanto aquelas que o sentimento humanitário indica... Na catástrofe de Santa Maria, o digno de nota foi a postura ética da responsabilidade do governo da presidente Dilma em todos os sentidos.
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Não posso deixar de fazer um paralelo com o incêndio do Canecão Mineiro, em BH - 1.500 pessoas, das quais sete morreram e 197 ficaram feridas; pelo menos, o triplo foi atendido no João XXIII, Hospital Odilon Behrens e Hospital das Clínicas da UFMG. Eu estava de plantão naquela noite, 24.11.2001. Foi terrível. Não encontro palavras para descrever. Como médica, aprendi muito, naquela noite e na semana subsequente, sobre atenção à pneumonia química.
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O Canecão Mineiro era uma casa de shows, na região central de BH, de grande porte: comportava 1.500 pessoas, mas não possuía alvará de funcionamento! Não havia saídas de emergência, apenas uma "entrada" e uma "saída" com catracas! A Prefeitura de Belo Horizonte saiu praticamente limpa, e o governo de Minas Gerais sequer foi cogitado como culpado! O prefeito de Belo Horizonte era Célio de Castro, que sofrera AVC em 8 de novembro daquele ano; o governador de Minas era Itamar Franco; e o presidente do Brasil, FHC.
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Em 2004, "sete pessoas foram condenadas por homicídio culposo - em que não há intenção de matar - a quatro anos de prisão em regime aberto: o empresário da banda, dois músicos, dois promotores do show e o dono da casa de shows, além do irmão dele". Em 2008, as penas foram revertidas em prestação de serviço comunitário: "Dos sete condenados, somente um dos promotores da banda cumpre pena de dois anos e seis meses no Rio de Janeiro. As penas dos outros varia de um ano e seis meses a três anos e um mês de serviços comunitários".
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"Entre todos os feridos e familiares dos mortos na tragédia, somente uma sobrevivente conseguiu indenização na Justiça. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) condenou a Prefeitura de Belo Horizonte a indenizar a mulher em 300 salários mínimos. É a primeira a conseguir reparação judicial pelos danos sofridos". Não cabe recursos e a sentença está em fase de execução.
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Eis no que resultou como justiça a catástrofe do Canecão Mineiro, cujos atingidos estão por aí cuidando de seus dissabores, sequelas físicas e mentais, às suas custas: cada um por si! Depois de Santa Maria ou estabelecemos uma nova cultura do direito à segurança, do direito de ir e vir em segurança, ou a morte de tanta gente na flor da idade terá sido em vão e nos contentaremos em plantar uma sempre-viva para cada morte prevenível e evitável.
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Fonte: O Tempo (MG)