terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Causas da erosão atual dos direitos humanos

Ao invés de avançarmos no respeito da dignidade humana e dos direitos das pessoas, dos povos e dos ecossistemas estamos regredindo a níveis de barbárie
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Leonardo Boff*
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Vivemos num mundo no qual os direitos humanos são violados, praticamente em todos os níveis, familiar, local, nacional e planetário. O Relatório Anual da Anistia Internacional de 2013 com referência a 2012 cobrindo 159 países faz exatamente esta dolorosa constatação.
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Ao invés de avançarmos no respeito da dignidade humana e dos direitos das pessoas, dos povos e dos ecossistemas estamos regredindo a níveis de barbárie. As violações não conhececem fronteiras e as formas desta agressão se sofisticam cada vez mais.
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A forma mais convarde é a ação dos “drones”, aviões não pilotados que a partir de alguma base do Texas, dirigidos por um jovem militar diante de uma telinha de televisão, como se estivesse jogando, consegue identificar um grupo de afegãos celebrando um casamento e dentro do qual, presumivelmente deverá haver algum guerrilheiro da Al Qaida. Basta esta suposição para com um pequeno clique lançar uma bomba que aniquila todo o grupo, com muitas mães e criançasinocentes.
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É a forma perversa da guerra preventiva, inaugurada por Bush e criminosamente levada avante pelo Presidente Obama que não cumpriu as promessas de campanha com referência aos direitos humanos, seja do fechamento de Guantânamo, seja da supressão do “Ato Patriótico”(antipatriótico) pelo qual qualquer pessoa dentro dos USA pode ser detida por suspeita de terrorismo, sem necessidade de avisar a família.
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Isso significa sequestro ilegal que nós naAmérica Latina conhecemos de sobejo. Verifica-se em termos econômicos e também de direitos humanos uma verdadeira latinoamericanização dos USA no estilo dos nossos piores momentos da época de chumbo das ditaduras militares. Hoje, consoante o Relatório da Anistia Internacional, o país que mais viola direitos de pessoas e de povos são os Estados Unidos.
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Com a maior indiferença, qual imperador romano absoluto, Obama nega-se a dar qualquer justificativa suficiente sobre espionagem mundial que seu Governo faz a pretexto da segurança nacional, cobrindo áreas que vão detrocas de e-mails amorosos entre dois apaixonados até dos negócios sigilosos e bilionários da Petrobrás, violando o direito à privacidade das pessoas e à soberania de todo um país. A segurança anula a validade dos direitos irrenunciáveis.
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O Continente que mais violações sofre, é a África. É o Continente esquecido e vandalizado. Terras são compradas (land grabbing) por grandes coroporações e pela China para nelasproduzirem alimentos para suas populações. É uma neocolonização mais perversa que a anterior. Os milhares e milhares de refugiados e imigrantes por razões de fome e de erosão de suas terras são os mais vulneráveis. Constituem uma sub-classe de pessoas, rejeitadas por quase todos os países, “numa globalização da insensibilidade” como a chamou o Papa Francisco. Dramática, diz o Relatório da Anistia Internacional, é a situação das mulheres. Constituem mais da metade da humanidade, muitísssimas delas sujeitas a violências de todo tipo e em várias partes da Africa e da Ásia ainda obrigadas à mutilação genital.
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A situação de nosso pais é preocupante dado o nível de violência que campeia em todas as partes. Diria, não há violência: estamos montados sobre estruturas de violência sistêmica que pesa sobre mais da metade da população afrodescendente, sobre os indígenas que lutam por preservar suas terras contra a voracidade impune do agronegócio, sobre os pobres em geral e sobre os LGBT, discriminados e até mortos.
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Porque nunca fizemos uma reforma agrária, nem política, nem tributária assistimos nossas cidades se cercarem de centenas e centenas de “comunidades pobres”(favelas) onde os direitos à saúde, educação, à infra-estrutura e à segurança são deficitariamente garantidos.
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O fundamento último do cultivo dos direitos humanos reside na dignidade de cada pessoa humana e no respeito que lhe é devido. Dignidade significa que ela é portadora de espírito e de liberdade que lhe permite moldar sua própria vida. O respeito é o reconhecimento de que cada ser humano possui um valor intrínseco, é um fim em si mesmo e jamais meio para qualquer outra coisa. Diante de cada ser humano, por anônimo que seja, todo poder encontra o seu limite, também o Estado.
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O fato é que vivemos num tipo de sociedade mundial que colocou a economia como seu eixo estruturador. A razão é só utilitarista e tudo, até a pessoa humana, como odenuncia o Papa Francisco é feita “um bem de consumo que uma vez usado pode ser atirado fora”. Numa sociedade assim não há lugar para direitos, apenas para interesses. Até o direito sagrado à comida e à bebida só é garantido para quem puder pagar. Caso contrário, estará ao pé da mesa, junto aos cães esperando alguma migalha que caia da mesa farta dos epulões.
 
Neste sistema econômico, político e comercial se assentam as causas principais, não exclusivas, que levam permanentemente à violação da dignidade humana. O sistema vigente não ama as pessoas, apenas sua capacidade de produzir e de consumir. De resto, são apenas resto, óleo gasto na produção.
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A tarefa além de humanitária e ética é principalmente política: como transformar este tipo de sociedade malvada numa sociedade onde os humanos possam se tratar humanamente e gozar de direitos básicos. Caso contrário a violência é a norma.
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*Escritor e professor
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domingo, 15 de dezembro de 2013

Por quem os sinos calam

Mark Joseph Ster - Slate*
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Ontem, em todas as igrejas de Connecticut os sinos deram 26 badaladas, a pedido do governador: uma para cada vítima da tragédia de Sandy Hook. No entanto, no massacre morreram 28 pessoas: 20 estudantes, 6 professoras, a mãe do autor dos disparos e o próprio. Por que os sinos não tocaram para todos?
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A questão angustiante e complexa de se prestar uma homenagem ao perpetrador de uma atrocidade juntamente com suas vítimas por muito tempo perturbou essas cerimônias fúnebres. As 15 cruzes erguidas para lembrar as vítimas de Columbine - inclusive 2 para os atiradores - foram rapidamente reduzidas a 13, e então a zero. Depois da tragédia de Virginia Tech, os estudantes empilharam 33 pedras como uma espécie de memorial, mas a pedra que representava o atirador mais tarde foi retirada. No sábado, os sinos não deixaram de tocar apenas por Adam Lanza, mas também por sua mãe, que morreu pelas mãos do filho e postumamente foi considerada em parte culpada pelo massacre.
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É fácil compreender o motivo pelo qual um assassino deve ser excluído. Depois de uma tragédia, o atirador torna-se o vilão. E os membros de sua família, cúmplices. As famílias das vítimas de Columbine processaram as famílias dos autores do massacre, afirmando que elas deveriam ter previsto o desenlace, e ganharam um acordo. Em Newtown, afinal, foi a mãe de Adam quem comprou as armas que ele usou. Mas ela não somente forneceu os instrumentos para o filho mentalmente perturbado como foi sua primeira vítima, morta com um tiro em sua cama. Seria desonesto e perigoso simplificar o luto privando-a de uma homenagem adequada.
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Qualquer que seja a culpa que as pessoas atribuam a Nancy Lanza, Adam Lanza foi quem fez os disparos: primeiramente contra a mãe, depois na escola, e então contra si mesmo. Seu ato, pela voz corrente, foi uma retaliação insana, maldade, covardia. Adam jamais mereceria viver e, portanto, evidentemente, mereceu morrer. Agora que está morto, afirmam, sua memória não deve ser homenageada, mas amaldiçoada.
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A ideia tem um apelo óbvio. Qualquer um que concorde com ela tem todo o direito de fazê-lo. Mas, por mais atraente que possa ser o retrato em branco e preto do vilão em relação às vítimas, ele subestima o valor de nossa humanidade. Embora seja doloroso reconhecê-lo, Adam e a mãe eram seres humanos, tanto quanto suas vítimas. A tragédia de Newtown - e do mundo - é exatamente esta: a humanidade daquelas lindas crianças e de suas devotadas professoras lhes foi tão cedo roubada. Mas não é útil para ninguém fingir que o jovem torturado, de 20 anos, do outro lado do fuzil - e também sua mãe, morta naquele mesmo dia - não era, num sentido fundamental, absolutamente humano.
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Segundo a argumentação típica, se Adam era humano, era um ser humano profundamente mau, um flagelo execrável que não merece indulgência. Mas tampouco isso é certo. Olhando para as imagens das 20 crianças, pensando nas indescritíveis atrocidades que ocorreram no interior daquele edifício, não vejo nisso um ato de maldade. Vejo apenas o caos, um horror psicótico desencadeado contra seres que menos tinham condições de se defender. É tentador chamá-lo mal - mas "mal" implica algum raciocínio por trás da ação, algum motivo, alguma compreensão da dor medonha infligida a inocentes.
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Não há o que compreender sobre o que aconteceu em Sandy Hook. Não há nenhum sentido, nenhuma lógica num massacre. As normas usuais de comportamento humano simplesmente não se aplicam. Não há razão para aqueles cinco minutos de brutalidade. Há apenas a escuridão total de uma mente que perdeu a razão. Vemos as fotografias, lemos as inscrições, estudamos os sinais de advertência e debatemos as respostas, mas não há compreensão do que aconteceu em Newtown um ano atrás. Foi um ato inumano cometido por um ser humano.
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Esse é o paradoxo das duas badaladas emudecidas, das duas cruzes excluídas, da pedra ausente. É o cerne da luta entre ira e clemência. Cabe a nós, após todo esse sofrimento sem sentido, afirmar nossa própria humanidade, rejeitar o fascínio horrendo do niilismo, levantar-nos acima do caos. Enquanto lamentamos as vidas destruídas sem nenhum sentido em Newtown, devemos ter em mente a humanidade comum que nos obriga a lamentar por aqueles que não conhecemos e jamais conheceremos. Em certo momento, Adam compartilhou dessa humanidade. O fato de que a tenha perdido é uma tragédia para todos nós.
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TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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Fonte: Estadão

sábado, 14 de dezembro de 2013

Humanos em que?

Por Lúcio Alves de Barros*
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A cada dia me convenço de que a humanidade está perdida. Os leitores podem até argumentar que estou sendo fatalista ou que a humanidade por natureza é composta por erros e acertos, “afinal somos humanos”. Pura balela: é justamente por sermos humanos e “racionais” que não tem lugar e nem sentido o que fazemos com o outro. Vamos há alguns fatos.
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Em primeiro lugar, destaco a falta de compaixão que percebo em inúmeras organizações e instituições que vivo. A começar pela família, lugar “sagrado” no qual raras vezes não perdemos a paciência ou que - até inconscientemente - tratamos mal as pessoas que mais amamos. Chega-se ao cúmulo do irmão, da irmã, do pai ou da mãe dizer “que na rua você não faz isso” e que “aqui você trata a gente diferente”. Talvez estes exemplos já sejam suficientes, mas ainda acrescento as fofocas, as festinhas de churrasco cheias de mal entendidos, as divisões de herança que causam o desencaixe das famílias – principalmente quando o patriarca ou matriarca morrem – e as competições entre filhos, sobrinhos, tios etc. A família é o espaço perfeito para sentirmos que o outro, apesar do amor, nos estranha e muitas vezes nos odeia.
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Em segundo lugar, destaco o ambiente de trabalho. Este lugar desprivilegiado de sentimentos nobres aos que se dizem cristãos. A começar pela ação de “ter que trabalhar”. Na realidade posso estar errado, mas penso que o ser humano nasceu para ser feliz e para viver no ócio. Longe do sonho, a verdade é que no trabalho exercitamos o que vem de pior entre nós. É um tal de medição de falo, comparação de poder e vaidade que chega a ser nojenta. E teimo a dizer que tais relações estão presentes em todas as organizações, inclusive nas igrejas, nas escolas, nas universidades e nas organizações governamentais assentadas na onda da fraternidade e da igualdade. E ai daqueles que não são “políticos” e resolvem bater de frente com os “donos do poder” sempre dependurados em ternos, automóveis do ano e na arrogância de serem mais especiais do que os outros. Nesta situação fica clara a falta de respeito, atenção e de capacidade de sofrer com o outro.
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Por último, é claro que o espaço da rua é de troca simbólica e emocional, mas também é de luta, conflito, brigas e destruição da diferença. Se nas organizações uma mulher grávida, um jovem doente e um velho sofrem, imagine na rua. É neste espaço que vamos ver o quanto somos invisíveis e insignificantes. É ali, num simples ponto de ônibus ou mesmo em uma fila de banco que atiramos todas as armas contra estas pessoas as quais estão vulneráveis ou momentaneamente vulneráveis. Como o ser humano é um “ser defeituoso” e que não deu certo a ponto de não usar o cérebro é esperado o sujeito não sair do lugar reservado ao idoso, ao moribundo ou à gestante. Nas filas é perceptível, inclusive, a reclamação daqueles que gozam da saúde ou que não estão em risco. Pior que isso, não é ao acaso que abandonamos os idosos em asilo, tratamos a mulher grávida com indiferença e denunciamos o menor infrator. Somos debochados e potentes e, a despeito dos direitos dos mais frágeis, somos capazes de encher os pulmões e gritar com todos como se deles fôssemos verdadeiros donos.
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A realidade é que os seres humanos desejam a superioridade, se agarram ao poder (por vezes um micro poder) e querem é disputar e ganhar o pão que - na maioria das vezes - já possui. Aos mais fracos na seleção social são direcionados os piores lugares e resevados os piores rótulos e oportunidades. Aos mais fortes e endinheirados são perceptíveis o culto ao corpo, a ostentação, a educação mais sofisticada, os bens e os direitos e privilégios deste Estado que se diz de direito. Não posso acreditar na humanidade que decidiu pela destruição do outro. A alteridade - com a modernidade recente - há tempos foi colocada em xeque, logo não me venham com essa ilusão de sociedade igualitária, fraterna e de compaixão, porque ela não existe. Trata-se de um conto de fadas e prefiro acreditar que em longo prazo a única certeza que temos é a de que estaremos todos mortos.
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* - Professor na UEMG

Jovem de 18 anos é identificado como autor de tiroteio em escola dos EUA

Denver (EUA) - O jovem Karl Halverson, de 18 anos, foi identificado como o autor do tiroteio ocorrido nesta sexta-feira na escola da cidade de Centennial (Colorado), nos Estados Unidos, e as autoridades informaram que apenas um estudante ficou ferido, e não dois, conforme foi divulgado anteriormente.
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Autor dos disparos, identificado como Karl Halverson, de 18 anos, se matou
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O xerife Grayson Robinson, do condado de Arapahoe, identificou Halverson como o autor do ataque na escola secundária Arapahoe de Centennial, ao sul de Denver. Halverson estava aparentemente à procura de um professor e, após ferir um estudante, se matou. Anteriormente, acreditava-se que outro estudante também tinha sido ferido por disparos, mas depois se descobriu que o sangue que ele tinha no corpo era da outra vítima, explicou Robinson à imprensa.
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O estudante que foi atingido está hospitalizado em situação crítica e, provavelmente, entrou em enfrentamento com Halverson. As autoridades acreditam que Halverson pretendia se vingar do professor que estava procurando e com quem, aparentemente, teve um confronto ou uma desavença.
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Também foram encontrados na escola dois coquetéis molotov, que foram supostamente deixados lá por Halverson. O incidente aconteceu a apenas 25 quilômetros do local do massacre de 2012 no cinema de Aurora, que deixou 14 mortos, e a 20 quilômetros da escola de Columbine, onde 15 pessoas morreram em outro massacre em 1999.
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Além disso, ocorreu um dia antes do primeiro aniversário do massacre na escola de Newtown (Connecticut) em dezembro do ano passado, quando 20 crianças e 7 adultos morreram, entre eles Adam Lanza, o responsável pela tragédia.
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Fonte: O Estadão

Secretaria promete investir mais em segurança de escolas

Para sanar o problema da violência nas escolas estaduais de Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) pretende continuar investindo em segurança e ampliar a atuação do Fórum de Promoção da Paz Escolar (Forpaz), um dos programas de combate à violência da pasta que tem como objetivo implementar no ambiente escolar a cultura da paz. Em 2014, o projeto será expandido para pelo menos outras quatro cidades de Minas. Somente em 2013, foram registrados 19 casos de agressões entre professores e alunos, e de acordo com a secretaria, houve punição em todos eles.
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Nos últimos dois anos, foram gastos R$ 14 milhões com a instalação de câmeras de segurança em prédios escolares e, em 2013, 93 viaturas foram cedidas para a Polícia Militar (PM) atuar diretamente com a patrulha escolar. Para o próximo ano, a SEE pretende ir além das ações preventivas e investir na questão social. De acordo com a secretária de Estado de Educação, Ana Lúcia Gazzola, ações com o intuito de provocar uma mudança no ambiente escolar serão priorizadas no ano que vem. “Essas são ações de prevenção. Precisamos tomar medidas para uma mudança cultural”, afirmou.
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A secretária revelou que ainda não tem o valor exato do orçamento que será destinado para o setor da segurança em 2014 porque a maioria dessas ações são feitas sob demanda, como no caso das câmeras e das viaturas da PM. Ela garantiu que gastará tudo o que for necessário. “Temos, no orçamento, uma margem grande para a área, mas isso vai depender das circunstâncias reais das escolas”, disse.
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Entre as medidas socioeducativas a serem implantadas, se destaca o Forpaz – rede de instituições e entidades que dão suporte para os diretores e professores no enfrentamento das condições geradoras de violência na escola –, que desde 2012 capacita educadores de todas as regiões de Minas. A expectativa para 2014 é de que o Forpaz aconteça nas cidades de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, Araçuaí e Diamantina, ambas no Vale do Jequitinhonha.
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Reajuste. Outra mudança importante para 2014 é o reajuste no salário dos professores, que terá um aumento de pelo menos 5% a partir do mês de janeiro.
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Além disso, a secretária Gazzola chamou a atenção para as posições do Estado em avaliações do governo federal e também para a adesão de 100% dos municípios mineiros no Programa de Intervenção Pedagógica (PIP), que é uma integração entre a rede estadual e municipal de ensino.
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Calendário terá mudanças para a Copa
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Além da segurança em escolas de todo o Estado, outro ponto importante destacado pela secretária de Estado de Educação, Ana Lúcia Gazzola, foi a alteração do calendário escolar em função da Copa do Mundo de 2014. De acordo com a pasta, todas as 3.682 escolas da rede estadual já foram notificadas sobre as mudanças no calendário letivo para o próximo ano. A intenção é que as férias do meio do ano sejam estendidas e, em compensação, o ano letivo comece mais cedo e termine mais tarde em 2014.
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As aulas devem começar no dia 3 de fevereiro e as férias irão de 12 de junho a 13 de julho. Já o ano letivo será encerrado no dia 19 de dezembro..
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Fonte: O Tempo (MG)

Ex-marido invade escola e atira em professora durante cantata de Natal

Cerca de 250 pessoas, a maioria sendo crianças de 6 a 11 anos, foram surpreendidas por uma tentativa de homicídio em uma escola estadual no momento de uma apresentação dos alunos durante uma confraternização de Natal, na tarde dessa quinta-feira (13), em Ladainha, no Vale do Jequitinhonha. O ex-marido de uma das professoras invadiu a instituição, atirou três vezes contra a cabeça dela e se matou, em seguida, na frente do público.
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"Foi uma confusão, as crianças ficaram muito assustadas, todo mundo saiu correndo", disse o sargento Ailton Pinheiro, do 19º Batalhão da Polícia Militar. Segundo ele, o casal estava separado há dois meses porque o homem, José Geraldo Rodrigues, de 25 anos, estaria abusando da babá da família, que tem apenas 14 anos, segundo o policial.
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Renata Gomes de Almeida, de 27 anos, tem um filho de 2 anos com Geraldo. Inconformado com o fim do relacionamento ele passou a ameaçar Renata constantemente. Na Polícia Militar, há dois boletins de ocorrência que a vítima fez por causa das ameaças do homem. O resultado de um deles foi a apreensão de uma espingarda na casa de Geraldo, que já tem passagens pela prisão por porte ilegal de armas.
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Na quarta-feira (11), uma ordem judicial foi expedida proibindo que Geraldo chegasse perto da vítima. Revoltado com a decisão, ele invadiu a Escola Estadual Nossa Senhora da Conceição por volta de 15h30. A diretora da instituição, que não será identificada, contou que viu a aproximação.
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"A gente não sabia dessa ordem judicial, ainda víamos ele como o marido dela, e pensamos que eles estavam passando por uma fase ruim, apenas. Ele chegou perto da Renata, que estava na porta da sala dela, perto do pátio onde acontecia a festa, e conversou com ela. Depois disso ele saiu, e voltou momentos depois, falou mais alguma com ela e atirou", disse.
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Segundo a diretora da escola, Renata havia passado em um concurso público para atuar na instituição e tomou posse em agosto deste ano. De acordo com a polícia, após a separação, Geraldo estava morando há 36 quilômetros do município e Renata continuou na cidade.
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Após o crime, Geraldo deu um tiro na própria cabeça. Ele e a mulher foram socorridos e levados para o Hospital Santa Rosália em Teófilo Otoni, onde Geraldo acabou morrendo na manhã desta sexta (13). Já Renata passou por uma cirurgia também na manhã desta sexta e não tem previsão de alta.
"Aparentemente, ela está bem. Já conversou com a família e lembra como tudo aconteceu", explicou o irmão da vítima, que pediu para não ter o nome divulgado. Era na casa dele que a professora estava hospedada desde o começo da semana. O homem, que presta serviço de motorista para a prefeitura da cidade, estava viajando quando o crime aconteceu.
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"Estava em Guanhães a trabalho quando uma outra professora ligou e contou o que tinha acontecido. Foi um susto. Não esperávamos uma reação dessa do Geraldo", disse. Segundo ele, a irmã nunca reclamou do ex-marido. "Eles tinham uma relação normal. Não éramos de frequentar a casa um do outro, mas ela nunca disse que tinha sido ameaçada durante o casamento", explicou o motorista.
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No entanto, Geraldo parou de conversar com o cunhado após saber que ele recusou ajudar na reconciliação do casal. O motorista confirmou que o atirador abusava da babá, mas achava que era uma coisa normal. O caso, segundo ele, chegou ao conhecimento do Conselho Tutelar do município, mas o suspeito não foi preso.
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"A Renata sabe que o ex-marido morreu e não demonstrou nenhuma reação. Agora, ela quer se recuperar e seguir a vida com o filho, sem mais problemas", finalizou o irmão.
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Atualizada às 18h16.
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Fonte: O Tempo (MG)

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O fascínio de Summerhill, uma escola democrática e instigante

Por Fátima Oliveira
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PUBLICADO EM 26/11/13 - 03h00
Criar filhos em uma sociedade cada vez mais individualista e consumista é um desafio de fritar neurônios. Penso que o antídoto está nas escolas humanistas, solidárias, que educam para a liberdade e a felicidade. Sei que sou o que sou, e gosto do que sou, graças a uma escola pautada por uma visão humanista, o Colégio Colinense.
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Sou uma professora normalista que se formou em medicina. Amei estudar filosofia e conhecer os grandes pensadores da educação. Já escrevi sobre uma educadora admirável: “Maria Montessori: médica italiana fascinada pela educação” (O TEMPO, 6.11.2012). Minha neta Clarinha, de quase 4 anos, vai para uma escola montessoriana, a Upaon-Açu, em São Luís (MA), que ela amou ao primeiro olhar; e quando perguntei se gostou da escola nova, ela tascou: “Hum hum... Eu não estudei lá ainda não, vovó! Fui só passear”. E se encantou com a biblioteca...
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Reverencio o educador escocês Alexander Sutherland Neill (A. S. Neill, 1883-1973), o lendário criador de Summerhill, desde que li “Liberdade sem Medo (Summerhill)”. A origem da pedagogia libertária e antiautoritária de Summerhill é a International School, em Hellerau, Dresden, Alemanha, em 1921, que migrou para o topo de uma montanha na Áustria; em 1923, foi para uma casa chamada Summerhill, em Lyme Regis, Inglaterra; e em 1927 se instalou, definitivamente, numa chácara, em Leiston, condado de Suffolk, a 160 km de Londres.
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O que é Summerhill? É uma escola democrática pioneira, para crianças a partir de 5 anos e jovens até 18 anos (ensino fundamental e médio), em regime de internato, que se autorregula – as decisões são tomadas em assembleias, nas quais os votos de professores, alunos e funcionários possuem peso igual – e nenhum adulto possui mais direitos que uma criança; assistir a aulas não é obrigatório, embora ofereça a grade curricular oficial. Para Neill, o objetivo da escola é fornecer equilíbrio emocional, a principal via para a felicidade. A dentista Nadia Hartmann, ex-aluna de Summerhill, ficou anos sem ir à aula, até que resolveu ser dentista e “decidiu se focar e estudar para as provas”. Seus dois filhos estudam lá. Ela é a prova do que Neill pensava: “Constranger uma criança a estudar alguma coisa tem a mesma força de um governo que obriga a adotar uma religião”.
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A inspiração filosófica de Summerhill foi a compreensão de Neill de que “A humanidade está doente e essa doença decorre do tratamento repressivo que as crianças recebem numa sociedade patriarcal. Inclusive nas questões ligadas à repressão sexual, em especial quando associadas a normas religiosas malcompreendidas”.
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Summerhill é dirigida pela filha de Neill, que nasceu, estudou e vive lá: Zoë Readhead, instrutora de equitação. A média do número de alunos é entre 80 e 90, de vários países. Em 92 anos, nenhum caso de gravidez adolescente nem de drogadização. Zoë declarou que Summerhill ignora os diagnósticos de Transtornos de Déficit de Atenção com Hiperatividade, pois “Nós não categorizamos os alunos”.
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Indagada “O que será de seus alunos quando eles deixarem Summerhill?”, disse Zoë: “Nossos formandos são muito bons em concretizar a imaginação. Eles fazem acontecer! Temos empresários de sucesso, escritores, cientistas, médicos e muitos formandos se decidem por profissões criativas” – gente que guarda Summerhill como a experiência mais marcante de suas vidas, concretizando o sonho de Neill: “Preferiria que Summerhill produzisse um varredor de rua feliz do que um primeiro-ministro neurótico”.
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* É médica e escritora.
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Fonte: O Tempo (MG)

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Combater droga em escolas é desafio

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A presença das drogas no espaço das escolas é uma realidade crescente. Levantamento feito pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) a respeito do uso de entorpecentes entre estudantes dos ensinos fundamental e médio nas capitais brasileiras mostra que cerca de 60% dos alunos de escolas públicas e mais de 65% das privadas já fizeram uso de substâncias tóxicas. A pesquisa revela também que cerca de metade dos estudantes faz uso recreativo ou ocasional. Em Juiz de Fora, a situação não é diferente. A Tribuna esteve nas proximidades de duas escolas, uma pública e outra privada, ambas na região central, e ouviu estudantes e vizinhos que confirmam: as drogas - desde o álcool até a cocaína - fazem parte da rotina das instituições de ensino e tomam também as imediações das escolas.
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"Infelizmente droga dentro da escola é o que mais tem. O pessoal usa geralmente no banheiro, em sala vazia, onde der para usar, usam", relatou um adolescente, 16 anos, estudante de uma escola estadual do Centro de Juiz de Fora. "Tem gente fumando cigarro, bebendo no banheiro, e ninguém fala nada", conta outra estudante, 15. "É fácil entrar com droga, pois ninguém olha mochila, nada, até arma entra no colégio, já é rotina", 15. Um funcionário da própria instituição confirma: "Tem sim, muita coisa entrando, mas não podemos revistar. O que achamos geralmente são vestígios. Quando pegamos algum aluno, levamos para a direção. Mas fora da escola, a situação já fugiu ao controle. Às vezes, ficam na calçada ou vão para a pracinha próxima. Só sentimos o cheiro. À tarde ainda é pior, pois são os estudantes mais velhos. Mas não tem distinção, é menino, menina usando", relata um auxiliar de serviços gerais, 50.
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Além dos abusos de alunos, há escolas que são alvos de vândalos e usuários de drogas nos fins de semana. Isso foi o que ocorreu em uma unidade pública no Bairro Cerâmica, Zona Norte, que foi invadida, danificada e usada por dependentes de droga. Docentes que voltaram nesta segunda-feira (18) ao trabalho depois do feriadão encontraram uma latinha para o consumo de crack, indicando que os invasores utilizaram as dependências do colégio para o vício, além de vários cômodos revirados, porta arrombada e janelas quebradas. Para especialistas, uma das alternativas para frear a disseminação de drogas no ambiente escolar é a prevenção. Neste sentido, Juiz de Fora foi escolhida para ser referência nacional em capacitação de educadores. A previsão é de que dez mil profissionais passem pelo curso que será oferecido pelo Centro de Educação a Distância (Cead) da UFJF, com início em janeiro de 2014.
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Nas proximidades - Nos arredores das escolas, as cenas de estudantes uniformizados fazendo uso de entorpecentes incomodam. "Um dia tinha um adolescente fumando maconha, com um menino que parecia ser irmão mais novo do lado. A gente fica muito assustada", comentou uma manicure, 38 anos. Uma aposentada, 60, moradora da Rua Fernando Lobo, também relatou cenas semelhantes. "Costumam sentar nas escadas, usando droga debaixo da nossa janela. É muito desconfortável assistir a isso."
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Em outubro, três adolescentes de 17 anos e um jovem de 20 foram apreendidos na Rua Fernando Lobo com maconha. O grupo foi flagrado pela Polícia Militar comercializando drogas para estudantes uniformizados, no Parque Halfeld, mas fugiu para a via. Estudantes de instituições particulares da região também são vistos usando droga à luz do dia pelos vizinhos. "Formam grupinhos e sobem e descem a rua fumando maconha tranquilamente", relatou um contador, 54, que trabalha na Rua Oswaldo Cruz.
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Orientação - Especialistas e polícias defendem que a orientação seja feita não só na família, mas na escola. "Um dia desses, um amigo levou maconha, a professora viu e não falou nada", contou uma adolescente, 15. Outro colega, 14, completou: "Os professores hoje não estão dando conta nem do ensino, quanto mais cuidar de aluno." Uma outra estudante, entretanto, diz que há orientação de alguns educadores. "Alguns falam sempre com a gente para ter cuidado, mas outros não", 14.
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Telmo Ronzani, coordenador do Centro de Referência em Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool e Outras Drogas (Crepeia) da UFJF, diz que a educação é estratégica para a prevenção. "Só vamos conseguir mudar os indicadores com trabalhos preventivos mais efetivos, e as escolas são locais fundamentais", defende Ronzani, que está coordenando o curso de Prevenção de uso de drogas para educadores de escolas públicas, que será realizado pela primeira vez em Juiz de Fora. Em sua oitava edição, o curso é resultado de parceria entre a Universidade de Brasília (UnB), a Senad e o Ministério da Educação (MEC). Todas as outras edições da capacitação foram realizadas pela UnB.
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Professores não são os únicos responsáveis
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Danos à saúde dos alunos, dificuldade de relacionamento e aumento de violência, baixos índices de rendimento e evasão escolar. Esses são alguns dos problemas associados ao uso de drogas entre estudantes. Para a diretora da Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Juiz de Fora, Belkis Cavalheiro Furtado, a droga é hoje um dos grandes desafios. "Não é o principal, mas principalmente nas escolas do sexto ao nono ano do ensino fundamental, a questão é mais delicada pela idade dos alunos. Já do primeiro ao quinto ano, a dificuldade está na forma de abordagem. É difícil articular com uma criança de 6, 7 anos sobre droga. É preciso preparo." A diretora destacou que, neste semestre, as 53 escolas estaduais da cidade estão desenvolvendo trabalhos relacionados à prevenção do uso de drogas. "Dentro do Fórum Permanente de Promoção da Paz Escolar, no primeiro semestre, trabalhamos o bulling e, agora, estamos tratando do crack e outras drogas, desenvolvendo atividades, palestras, teatros e outros estudos em parceria com Polícia Militar e Conselho Tutelar. O objetivo é a sensibilização e a união de esforços para reduzir o uso."
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Já a Secretaria de Educação do município informa que desenvolve, em conjunto com a Guarda Municipal, o programa "Guardas no apoio e prevenção nas escolas" (Gape), que aborda, de forma educativa, o tema dos entorpecentes e suas consequências para o organismo, interferência na família e sua relação com a violência em 30 instituições. Ambas as secretarias ressaltam a parceria com a Polícia Militar no Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) e Jovens construindo a cidadania (JCC), que tem o objetivo de prevenir o uso de tóxicos e combater a violência entre os adolescentes. O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe/Sudeste) foi procurado, mas não enviou respostas.
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Para o coordenador do Centro de Referência em Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool e Outras Drogas (Crepeia) da UFJF, Telmo Ronzani, que também coordena o curso de prevenção que será ministrado pelo Cead, a temática da drogadição na educação continuada de educadores justifica-se, uma vez que pesquisas recentes revelam que tem crescido o consumo de drogas entre crianças e adolescentes, sendo cada vez mais precoce a idade da primeira experimentação entre estudantes. Entretanto, o especialista faz um alerta: "Só a capacitação isolada gera frustração. A educação continuada, a qualificação é importante, mas paralelamente são necessárias ações governamentais para que a prevenção surta efeito." Ronzani ainda lembra que os professores não podem ser eleitos como os únicos responsáveis por solucionar o problema."Não podemos eleger um ator social somente. Os educadores têm suas limitações. É preciso parceria, envolver setores, como família e restante da comunidade."
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O curso que será ministrado pelo Cead da UFJF está previsto para ter início em janeiro. A expectativa é de capacitação de dez mil profissionais de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
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Escola é alvo de vandalismo
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A Escola Estadual Maria Elba Braga, no Bairro Cerâmica, Zona Norte, foi invadida e alvo de vandalismo. Apesar de terem quebrado vidraças, fechaduras e pichado as instalações, nada foi roubado. Mas os invasores teriam usado droga dentro da instituição já que no local foi encontrada uma latinha com indícios do uso de crack. A ação causou transtornos a professores e parte dos 480 alunos da instituição, já que várias salas de aula precisaram ser isoladas até a chegada da perícia da Polícia Civil. Em algumas delas, fechaduras foram danificadas e carteiras pichadas. Em uma das paredes, os vândalos ainda escreveram palavrões e siglas de facções criminosas. Em alguns casos, os vidros foram quebrados a pedradas. Trabalhos infantis afixados na área externa foram arrancados, e um armário, revirado.
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De acordo com o boletim de ocorrência da Polícia Militar, no andar térreo, foram arrombadas as fechaduras de duas salas de aula, além dos danos causados na janela da cozinha, supostamente quebrada para abertura de um freezer. A vidraça do cômodo onde ficam computadores também foi estilhaçada. Já no piso superior, os criminosos entraram em três salas, quebraram vidros e retiraram duas lâmpadas do corredor. Conforme a PM, os locais arrombados não possuíam alarme, mas a escola conta com o dispositivo em outras partes. Nenhum suspeito foi identificado. O caso foi encaminhado para investigação na Polícia Civil. A assessoria da Secretaria de Estado da Educação disse que foi informada da invasão, mas não confirma o uso de drogas.
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A diretora da Superintendência Regional de Ensino (SRE), Belkis Cavalheiro Furtado, diz que os muros não impedem as invasões, mas afirma que episódios como este têm sido registrados apenas em algumas regiões da cidade.
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Fonte: Tribuna de Minas (MG)

domingo, 10 de novembro de 2013

Autofagia e trabalho docente no campo da educação

Por Lúcio Alves de Barros*
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A massificação, a proletarização, o assalariamento predatório, a diminuição da autoridade e o avanço das relações de mercado no campo da educação têm produzido conturbadas relações sociais entre os professores. Apavorados, desanimados, magoados, cansados e colocados em xeque, a categoria tem compartilhado o sofrimento, as doenças, o desemprego, a ansiedade e o medo. Mas não é para menos: nos últimos anos, uma espécie de “segure-se quem puder” invadiu de vez as escolas, as faculdades e as universidades. Em terra de leão, é claro que são poucas as ovelhas que sairão impunes de relações perversas que colocam em questão a subjetividade do ser que trabalha – por natureza – com a interação. Explico do que se trata.
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Em primeiro lugar, já são notórias as relações de falsidade, deslealdade, maldade e crueldade em meio aos docentes. É certo que na maioria das relações de trabalho tais fenômenos também se fazem presentes, mas no caso dos professores eles vêm tomando efeitos dramáticos, principalmente porque a categoria há anos vem sendo desmotivada pelas más condições de trabalho, pelo aumento da carga laboral e pela perda da autoridade em sala de aula e fora dela. Vulnerável, a categoria se rende ao sadismo/masoquismo próprios da cultura da violência e da exclusão. O caminho é claro: o “segure-se quem puder” não é para todos, e logo são excluídos os “mais sensíveis” – que vão caindo em meio às batalhas emocionais com os “mais fortes”.
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Em segundo, é preciso apontar para a “seleção social” produzida no mercado laboral dos docentes. A lógica do mercado educacional nos últimos tempos tem se baseado no número de publicações, artigos, textos, livros, orientações e apresentações em congressos, seminários e outros eventos. Nessa esfera, o corporativismo ganha vida, pequenos e grandes núcleos se formam, se reproduzem, se protegem e se distribuem em “pesquisas” recheadas de bolsas e investimentos públicos. Tais pesquisas, em geral, se transformam em artigos escritos por muitas mãos, as quais não deixam de labutar no intuito de conchavos para o credenciamento em órgãos governamentais. E, diga-se de passagem, não se procura mais qualquer revista: o operariado do saber quer um “B1”, um “B2” e, se possível, para tirar onda no ar, um “A”. O curioso é que a luta acaba sendo por um artigo lido pelos próprios pares e citado pelos próprios companheiros e que raramente chega a um público maior e talvez interessado. Na verdade, tudo é produzido para a reprodução do “homo academicus”, de Bourdieu, que goza ao ver o nome estampado na internet ou no último evento de cartaz colado na parede. E tudo funciona para que o famoso Curriculum Lattes se transforme em capital simbólico, que, na maioria das instituições, aparece como garantia de credenciamento como “instituição de respeito”. Aos docentes que não conseguem se enquadrar restam a dura realidade da fofoca e dos apelidos maldosos que rondam as salas e os cargos menos significantes de direção.
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Acrescentam-se às condições colocadas o esvaziamento dos sindicatos e das associações especialmente no quesito mobilização coletiva. É bem verdade que em todo o país assistimos ao desenrolar de algumas greves, principalmente em relação à questão salarial e ao piso dificilmente legitimado pelas autoridades que gerenciam muitos estados da Federação. Todavia, os trabalhadores da educação não parecem animados, tampouco disponíveis para participar de ações coletivas. O “segure-se quem puder” e a seleção social no interior da categoria garantiu lugar privilegiado para aqueles que conseguiram entrar e fazer parte da onda de privilégios, bolsas e grupos que podem possuir mais ou menos condições de conseguir determinados direitos nos sindicatos da categoria. Na realidade, os trabalhadores da educação sofrem com a desvalorização e o reduzido valor-trabalho, a ponto de o individualismo fazer parte da vida pública e da vida privada, próprias da natureza das sociedades do mercado e do espetáculo.
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Oprimidos e calados pelo tempo, é preocupante a autofagia docente. Obviamente, na lida diária os mais fracos e vulneráveis à temperatura institucional dos ambientes escolares vão se queimando aos poucos. Os mais fortes viram celebridades, chegando mesmo a alimentar a mídia e as notícias da organização. As relações tornam-se mais complexas e tensas quando os docentes não estão mais entre iguais ou não compartilham o mesmo corpo. Adoentado, o corpo docente vai se alimentando de sua própria carne. Rapidamente a autofagia ganha espaço e alguns ficam no caminho: aposentados são mal vistos, especialistas são denegridos, mestres precisam estudar e o doutor deve publicar para elevar o nome da instituição. É a destruição perfeita das pessoas por meio do “conhecimento”, da informação, dos títulos e da famigerada objetividade. O processo autofágico é violento e os órgãos não têm a ciência dele, até o momento em que começam a ser devorados pelos próprios pares.
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* Professor da Faculdade de Educação da UEMG/BH
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Publicado em 1º de outubro de 2013

Como milhares de alunos, professores enfrentam dura rotina entre a casa e a escola

Uma hora e 15 minutos é o tempo que a professora Darlene Aparecida Bispo de Moura Pimenta, de 50 anos, gasta para chegar a uma das escolas em que leciona em Ribeirão das Neves, na Grande BH. Com sacrifício, mas muita dedicação, ela enfrenta 88 quilômetros de viagem de ida e volta diariamente, entre o Bairro Tupi, Norte da capital, onde mora, e as duas instituições.
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No domingo passado, o Estado de Minas mostrou as dificuldades e os riscos enfrentados por estudantes na zona rural e nas estradas para chegar à escola. E hoje conta como professores, a maioria mulheres, enfrentam drama às vezes maior, que implica duas jornadas. São lições de sacrifício e esperança por um futuro melhor para educadores e alunos.
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“Acordo às 4h25 para preparar o café da manhã do meu filho, tomo banho e me arrumo. Tenho de sair de casa no máximo às 5h15 para não perder o ônibus. O próximo só passa às 5h35 mais lotado ainda”, conta a professora. Na madrugada fria e chuvosa, ela anda dois quarteirões por ruas desertas, pega o primeiro ônibus às 5h20 e desembarca às 5h45 na esquina das ruas Guaicurus e Rio Janeiro, no Centro. Percorre mais dois quarteirões a pé e toma outro ônibus, mais vazio do que o anterior, às 5h50, na Avenida Oiapoque. Às 6h10, o coletivo chega à BR-040 com o dia já claro."
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As viagens diárias costumam ser tranquilas quando não ocorrem acidente ou manifestação fechando a BR-040. Ela consegue chegar ao Bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, às 6h27. Desembarca na rodovia, atravessa uma passarela, anda mais um pouco e chega às 6h30 à Escola Estadual João de Almeida, onde prepara o material didático durante uma hora e vai para a sala de aula às 7h30.
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A segunda jornada de trabalho de Darlene começa às 11h45, quando ela embarca no ônibus na 040 e vai para a Escola Estadual Henrique Sapori, no Bairro Veneza. Chega às 12h10 e sai às 17h35. “Desço do ônibus em BH por volta das 18h30, no Bairro Coração Eucarístico, e pego outro ônibus para o meu bairro, onde chego às 19h40”, conta.
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Darlene e milhares de outras professoras mineiras se desdobram em até três empregos para garantir renda melhor. Além do estresse da profissão, elas sofrem com o desgaste dos deslocamentos. Professora há 21 anos na escola do Veneza, ela diz que já se acostumou com a viagem. O ônibus para o Centro de BH sempre chega lotado. Dificilmente, ela consegue um lugar para sentar, mas na sexta-feira teve sorte. O motorista, entretanto, passou apressado pelo quebra-molas e o ônibus jogou os passageiros para cima, despertando quem estava no cochilo. A professora diz que já passou por situações mais difíceis. Quando se separou do marido, em 1995, a filha Dandara tinha 7 anos e o filho Marco, 5. “Uma moça ia do Bairro Veneza tomar conta deles lá em casa. Quando ela faltava, eu deixava uma criança tomando conta da outra. Muitas vezes, a mais velha telefonava dizendo que o irmão estava passando mal e eu não podia fazer nada. Eu ficava na escola, mas com a cabeça em casa, preocupada. Só chegava às 7 da noite”, lembra. Quando chega à 040, Darlene pede proteção a Deus, mais ainda quando chove. Ela diz ter visto diversos acidentes graves da janela dos ônibus. Uma vez, o próprio coletivo em que estava bateu num carro e começou a pegar fogo. “Tivemos que descer às pressas e pegar outro ônibus”, contou. A professora também reclama da falta de tempo para a família. “Em casa, sou a primeira a sair e a última a chegar”, diz, orgulhosa de Dandara, hoje com 25, que na noite anterior se formou em gestão pública e já trabalha na UFMG. “O caçula tem 22, estuda para concurso público e é sócio do primo numa empresa de tele-entrega de sanduíche”, comenta.
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Hipertensa, Darlene mostra a lista de medicamentos que toma: “Na escola, todo mundo usa remédio controlado”. Caprichosa, ela mostra seus cadernos com planos de aula, um para cada escola, trabalho que normalmente faz à noite, quando chega em casa, e também nas folgas de fim de semana.
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Três horas no trânsito
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Em BH, a rotina das professoras é similar à de outras cidades, segundo a diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal (Sind-Rede/BH), Andréa Carla Ferreira, de 42. Ela é professora de história no Bairro Dom Silvério, na Região Nordeste, e de geografia em uma escola estadual de Vespasiano, na Grande BH. Como os educadores da rede de ensino estadual, ela enfrenta dura jornada no dia a dia. São mais de três horas diárias no trânsito, quando não há engarrafamento na MG-010 e na Avenida Cristiano Machado. “Tenho medo de acidentes na estrada, principalmente quando chove e a pista fica escorregadia”, disse.
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Andréa sai às 6h15 do Bairro Cachoeirinha, na Região Nordeste, e vai de ônibus para o Dom Silvério. Depois das aulas, pega carona até a Cristiano Machado, onde embarca em um ônibus para Vespasiano. “Gasto duas horas só para ir e voltar de Vespasiano. Para o professor, não é vantagem usar o carro, pois ocorre o desgaste do veículo, manutenção e combustível. É muito caro”, disse. A professora também reclama dos gastos com o transporte. “Em BH, recebo o cartão BHBus. Mas, para Vespasiano, arco com as despesas.”
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Durante a semana, Andréa fica por conta do trabalho e retorna tarde para casa. “Dependendo do dia, ainda trabalho à noite em Vespasiano, mas normalmente saio às 18h.
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Proposta de reajuste está em tramitação.
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A Secretaria de Estado de Educação (SEE) informou que em 25 de outubro apresentou projeto de lei à Assembleia Legislativa com proposta de reajuste salarial de 5% para os servidores da educação. A progressão na carreira, que estava prevista para janeiro de 2016, será antecipada em dois anos, com 2,5%. O remanejamento de professores é definido no edital dos concursos e o candidato já escolhe previamente a cidade para onde quer ir. A transferência é regida por lei específica, segundo a secretaria, que define prazo para solicitação de remanejamento, disponibilidade de vaga na escola visada e outros critérios.
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Entre a família e a sala de aula

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Professora da Faculdade de Educação da UFMG e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Inês Teixeira diz que os educadores enfrentam muito mais dificuldades na zona rural. “Ou o professor mora perto da escola, fica lá de segunda a sexta-feira, longe da família, muitas vezes em condições muito precárias, ou ele sai de casa todos os dias para ir à escola de várias formas, como kombi, motocicleta e bicicleta”, diz.
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Em sua pesquisa sobre a rotina de professores, Maria Inês afirma ter encontrado profissionais que iam trabalhar a cavalo. “Em época de chuva tem barro. Em época de sol, poeira”, afirma a professora., que também é coordenadora do Grupo de Pesquisa sobre Condição e Informação Docente (Prodoc), que reúne pesquisadores da educação superior, profissionais de várias instituições universitárias e redes de educação básica.
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Há duas situações que levam o educador a se sacrificar tanto, segundo Inês. Uma é a busca por renda maior, o que leva a pessoa a seguir de uma escola para outra. “No ensino rural ele dobra. Fica ali de manhã e de tarde. No caso das escolas das cidades, eles saem de uma escola para outra, mas pelo menos têm transporte público. Já encontrei professor que comia marmita no ônibus quando ia de uma escola para outra”, conta.
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A grande maioria dos professores é de mulheres, muitas com tripla jornada de trabalho, disse a pesquisadora. “Elas chegam cansadas em casa e têm que preparar marmita para o dia seguinte. Algumas podem almoçar na escola ou comer a merenda dos meninos”, disse. Quando têm filhos, as professoras arrumam alguém para tomar conta deles e levá-los à escola, segundo Inês.
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A pesquisadora também lembra o trabalho extraclasse que a profissional leva para casa. “Por tudo isso, o índice de adoecimento dos professores é um dos mais altos entre as categorias profissionais”, informou. O professor convive com outros desgastes em sala de aula. Segundo Inês Teixeira, os alunos têm muitas dificuldades e chegam à escola com problemas familiares e sociais, o que aumenta a exigência sobre o trabalho docente. “É uma profissão com alto índice de envolvimento humano e emocional. Inclusive, o corpo do professor fica completamente exposto. Ele fica com 45 meninos aqui, mais 35 acolá, e vai pulando de turma em turma e isso aumenta o estresse. Uma hora, está com uma turma com um perfil e depois está com outra com perfil totalmente diferente”, disse.
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“O professor vira um aconselhador do pai do aluno, um assistente social, e tudo vai cair na mão dele. Sala de aula é como um espelho da sociedade. O menino não está atento porque às vezes é um problema na família. Inclusive, os alunos já chegam à escola com muita experiência de violência que aprenderam no mundo lá fora”, conclui Inês Teixeira. No primeiro semestre, segundo ela, foram 125 mil atendimentos periciais e 934 licenças médicas de professores por motivo de saúde, muitos agravados pelo estresse.
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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

PM impede que professores em greve sigam até o Palácio Guanabara

Jornal do Brasil
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Centenas de profissionais da educação das redes públicas municipal e estadual do Rio de Janeiro foram impedidos de seguir em direção ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual, na tarde desta quinta-feira. Uma barreira de policiais militares impediu que os professores ultrapassassem a Rua Pinheiro Machado, nas Laranjeiras.
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A via está totalmente interditada pelos PMs, na altura da sede do Fluminense.
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Os policiais usam escudos e capacetes e formam uma verdadeira "muralha", impedindo o avanço dos profissionais. Os professores tentam negociar com os PMs o acesso até o Palácio Guanabara. A Rua das Laranjeiras, uma das principais do bairro, também foi interditada pela prefeitura
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Até o momento, a manifestação é pacífica. Os participantes cantam, mostram cartazes com suas reivindicações e agitam bandeiras. Pela manhã, os professores se concentraram no Largo do Machado, de onde seguiram em passeata rumo ao Palácio Guanabara. Os manifestantes também devem seguir depois para o Palácio da Cidade, em Botafogo.
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Os professores municipais decidiram, em assembleia realizada na quarta-feira (9), pela manutenção da greve, que já dura mais de dois meses. Cerca de cinco mil profissionais se reuniram no Clube Municipal, na Tijuca, Zona Norte. A categoria seguiu para uma passeata até a sede da Prefeitura do Rio, na Cidade Nova, que ocorreu sem incidentes e terminou por volta das 17h. Na altura da Central do Brasil eles fizeram o enterro simbólico da educação.
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Os professores rejeitam o plano de cargos e salários aprovado no dia 1º de outubro e que equipara a remuneração dos professores com a mesma formação, além de não oferecer benefícios para os profissionais que têm cursos de especialização. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, anunciou nesta terça (8) que vai manter a decisão de cortar o ponto do professor que continuar em greve, de forma retroativa desde o dia 3 de setembro.
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Para o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio (Sepe) a reunião realizada nesta terça (8) pelo prefeito Eduardo Paes com os conselhos de professores, pais de alunos e a secretária de Educação, Cláudia Costin, representou mais "uma tentativa de desmoralizar as reivindicações da classe e os professores não estavam esperando nada desse encontro". A coordenadora do Sepe, Marta Moraes, afirmou que o sindicato não foi convidado para a reunião e desde que o plano de carreira foi aprovado, os professores tentaram diálogo com a prefeitura, sem sucesso. Segundo o Sepe, cerca de 60% da categoria aderiram à greve. Paes declarou durante a reunião com os conselhos que está buscando novos canais para negociar o fim da paralisação e desistiu de dialogar com o Sepe.
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Negativa da Justiça
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O Tribunal de Justiça do Rio negou a ação movida pelos professores contra a liminar que determinava o retorno imediato da categoria às atividades. O Sepe pode pagar multa de R$ 200 mil por dia, se desobedecer a determinação judicial. Segundo a coordenação do Sepe, será realizada ainda uma audiência de conciliação entre prefeitura e sindicato para definir essa questão e o sindicato entrará com novo recurso. A data da audiência ainda não foi divulgada.
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Protesto no Centro
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Na tarde de segunda-feira (7), professores colocaram cerca de 50 mil pessoas no Centro do Rio, em uma manifestação pacífica por melhorias salariais e melhores condições de trabalho. No fim da passeata, integrantes do grupo black bloc se infiltraram e o protesto acabou em depredações.
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Aprovação polêmica
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A aprovação do plano de cargos e salários dos professores aconteceu na tumultuada tarde do dia 1º de outubro. Do lado de fora da Câmara de Vereadores, professores protestavam contra o plano, enquanto que, do lado de dentro, vereadores aliados do prefeito o colocavam em votação. Policiais militares entraram em ação para coibir a manifestação, e houve confronto, com professores denunciando ação truculenta e violenta dos PMs.
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Fonte: Jornal do Brasil

Polícia e educação


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Escolas de BH se isentam de festas com menores e álcool

Escolas de BH se isentam de festas com menores e álcoolSob ameaça de serem responsabilizados por consumo de bebidas em formaturas e festas de estudantes, mesmo que ocorram fora do ambiente escolar, diretores são orientados por sindicato a comunicar famílias de que não têm participação na organização dos eventos.
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Diante da nova portaria da Vara Cível da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, que responsabiliza judicialmente e impõe multa a pais, síndicos e diretores de escola por eventos em que houver consumo de bebida alcoólica entre menores, o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) vai orientar seus filiados na capital a enviar circular aos pais informando que o colégio não faz parte da organização de determinado evento, quando planejado pelos próprios alunos. A portaria que gerou reação entre representantes do ensino privado também desperta polêmica ao endurecer a fiscalização e garantir acesso de fiscais até em festas particulares, como as de formatura, de 15 anos ou comemorações em clubes, sítios, casas especializadas e condomínios residenciais da capital.
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No que diz respeito às escolas, a portaria especifica: “Nos casos de festas e eventos promovidos por comissões de formatura de alunos dos ensinos fundamental e médio, os pais ou responsáveis legais e a direção da escola também serão responsáveis pela vigilância, respondendo conjuntamente no caso de venda, fornecimento ou consumo de bebida alcoólica por crianças ou adolescentes”. Para o presidente do sindicato, Emiro Barbini, o juiz Marcos Flávio Lucas Padula acerta quando determina a punição de diretores se houver venda ou consumo de álcool em atividades atreladas às escolas. Se não for esse o caso, avalia Barbini, não cabe a responsabilização aos educadores. São os pais que devem estar atentos.
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“Na maioria das vezes, essas festas ou excursões para Porto Seguro (BA), que é o que está na moda entre os formandos, são organizadas por eles mesmos. A escola não tem responsabilidade nenhuma”, afirma o presidente do sindicato. “Muitas mães até procuram as instituições, preocupadas com o que pode acontecer nesses eventos, e explicamos isso. Agora, vamos reforçar essa orientação por escrito, sempre que a direção souber de algum evento fora, avisando aos pais que a escola não está envolvida”, acrescenta.
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Em maio do ano passado, uma empresa de cerimonial foi autuada por realizar festa na Torre Alta Vila, em Nova Lima, na qual três alunos de um conhecido colégio particular da Região Leste foram flagrados consumindo bebida alcoólica. O evento para arrecadar o dinheiro da formatura reunia 120 menores, mas não tinha alvará e funcionava no esquema open bar, com bebida liberada. Este ano, até 31 de agosto, o comissariado da Vara da Infância e da Juventude flagrou em fiscalizações 956 menores embriagados - média de quatro por dia.
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Com a nova portaria, os pais serão chamados ao local da festa para a “entrega” dos filhos e devem assinar um termo de compromisso. Depois - em um procedimento que também pode ocorrer com diretores de escolas e síndicos - uma audiência é marcada para negociação do parcelamento da multa, que varia de três a 20 salários mínimos. Em caso de reincidência, colégios e condomínios ainda estão sujeitos a punição em valor dobrado.
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Socorro a menor agora deve ser comunicado
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Ontem, o prefeito Marcio Lacerda sancionou projeto de lei do vereador Leonardo Mattos (PV), que obriga hospitais, centros de saúde, ambulatórios e clínicas a informar ao conselho tutelar de sua região sempre que houver atendimento a casos suspeitos ou confirmados de uso de álcool e drogas envolvendo menores. O texto lembra que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê punição ao médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental que deixar de comunicar às autoridades situações de maus-tratos contra criança ou adolescente.
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Para o vereador, a ideia da lei é permitir que o conselho possa ter informações para atuar e propor medidas. “Sei do esforço que os pais fazem e eles estão impotentes. Menino de 14 anos anda enfrentando os pais e eles não têm recursos. Não falo aqui da culpabilidade, mas de um instrumento para que os conselhos sejam proativos e tomem providências.” Até 30 de setembro, 10 dos 51 pacientes que foram atendidos por uso e abuso de álcool ou drogas no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII tinham até 19 anos. Em 2012, dos 50 pacientes atendidos por esse motivo, sete tinham essa faixa etária.
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Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Márcia Alves conta que não há dados nesse sentido, porque apenas duas unidades de saúde fazem as notificações. Segundo ela, o uso de drogas entre crianças e adolescentes só é enfrentado quando a Justiça aplica uma medida protetiva. Para Márcia, os números sobre atendimentos médicos a menores com sinais de embriaguez são importantes para trazer o problema à tona. A partir daí, acredita, será possível abrir procedimentos para investigar a responsabilidade do pai ou de quem vende, serve ou fornece bebidas alcoólicas a menores.
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“Isso é uma coisa velada, com toda uma rede de aceitação. Não se considera uma violação de direitos, porque a sociedade acha comum o adolescente beber”, salienta. “Essas notificações vão nos permitir abrir processos de violação e investigar se os pais são responsáveis, por exemplo. Mas a discussão é: por que eles permitem? Eles devem estar conscientes de que têm responsabilidades sobre seus filhos”, alerta a representantes do conselho.
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Fonte: Estado de Minas

Estado e educação


Não basta ganhar mal, tem que apanhar também

Professores da rede municipal decidem pela continuidade da greve
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Jornal do Brasil (Opinião)
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Os professores do Rio de Janeiro, que lutam por melhores salários, enfrentam agora a truculência da Polícia Militar, que no sábado -acionada pelo governador Sérgio Cabral, a pedido do prefeito Eduardo Paes –retirou a força os representantes da categoria da Câmara de Vereadores. Uma categoria da maior importância para o desenvolvimento de qualquer município, estado, nação, recebe no Rio entre R$ 1.200 e R$ 3.500 mensais, um dos piores salários pagos a um profissional com esse nível de capacitação para exercício da profissão. A prefeitura acena com um reajuste de míseros 8%, enquanto a categoria pede 19%.
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Não bastam os salários aviltados, é preciso bater, humilhar e impor um plano de cargos e salários que deverá piorar ainda mais a vida dos professores. Esquece o prefeito que aumentar a carga horária para 40 horas semanais vai transformar o professor em mero aplicador de provas e exercícios já prontos e que, provavelmente, deverão ser elaborados por alguma empresa privada “especialista nesse tipo de serviço”, cobrando o inimaginável para ser pago pelo contribuinte carioca, enquanto a educação da população vai piorando cada vez mais.
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Uma solução excelente do ponto de vista da secretária deEducação, Cláudia Costin, ex-funcionária de construtora e sem a menor capacidade para estar à frente da secretaria. Sua proposta de cargos e salários foi recusada por ser considerada pior do que a situação atual dos professores. O que já é péssimo ficaria pior. Parece piada, mas é a pura realidade. Uma luta que deveria ser de todos, mas infelizmente não vem contando com muito apoio.
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Fonte: Jornal do Brasil (opinião) / Foto: JB

Para (ou contra) o Dia das Crianças

por Contardo Calligaris*
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Na semana retrasada, em Buenos Aires, uma criança de seis anos foi autorizada a mudar de nome e de gênero no registro de identidade argentino. Ela tinha nascido menino, Manuel, e declarava ser menina e princesa desde os 18 meses. A criança passa a se chamar agora Luana, nome que ela já tinha escolhido dois anos atrás.
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Ela se vestirá de menina, brincará com as meninas e, na escola, frequentará o banheiro feminino. Esse detalhe não é irônico: pouco tempo atrás, nos EUA, uma criança transgênero da mesma idade de Luana, Coy Mathis, teve que recorrer à Justiça para obter o direito de frequentar o banheiro feminino de sua escola.
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Simpatizo com os juízes norte-americanos e argentinos, porque sua decisão não foi fácil. Simpatizo ainda mais com os pais de Luana, de Coy e de todas as crianças pequenas que hoje são reconhecidas como transgênero.
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Imagino o drama dos pais. Eles podem 1) proibir e coagir para tentar estancar a identificação com o outro sexo, 2) permitir e deixar a coisa se desenvolver sem vaiar e sem aplaudir ou, ainda, 3) tomar as dores de suas crianças e defender o direito de elas mudarem de gênero. Qual é a escolha certa?
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Concordando ou não com a escolha dos pais de Luana e Coy, para apreciar sua coragem, basta se lembrar de que poucas décadas atrás ainda se prendia a mão esquerda atrás das costas das crianças canhotas na hora de elas aprenderem a escrever. Qual será o próximo passo desses pais? Em tese, tentarão contrariar a puberdade administrando à filha o hormônio feminino que ela não produz. Mesmo assim, o corpo de Luana e Coy se tornará mais masculino do que elas esperam, e chegará a hora de recorrer à cirurgia estética e, por exemplo, implantar seios e depilar o corpo inteiro a laser. Quando?
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Um recente artigo de Margaret Talbot, numa "New Yorker" deste ano (http://migre.me/giGK1), conta a história de Skylar, criança transgênero de menina para menino, que começou a testosterona e removeu os seios aos 16 anos. Talbot também mostra que, sobretudo nos EUA, cresce fortemente o número de crianças pequenas que pedem para mudar de gênero.
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Ora, a diferença de gênero é muito menos binária do que estamos acostumados a pensar, e acredito mesmo que haja espaço para um terceiro e um quarto gênero. Mas acho sintomática a diminuição progressiva da idade das crianças consideradas transgênero. Sintomática de quê?
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Para autorizar uma mudança de sexo, psicólogos e psiquiatras recorrem a critérios sobre os quais é inevitável que se discuta até não poder mais. Mas, de qualquer forma, sejam quais forem os critérios, alguém acha que possamos aplicá-los em crianças de seis anos?
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O que significa que um menino, aos dois anos, declare que ele é menina ou princesa? Mesmo que ele não desista nunca dessa ideia, ainda assim ele tem vários destinos possíveis. Talvez, no futuro, ele acorde a cada dia num corpo que lhe repugna, e sua vida só se resolva se ele se transformar concretamente em mulher. Mas uma outra possibilidade (de novo, entre várias) é que, no futuro e durante a vida inteira, ele esconda sua feminilidade e faça dela uma grande fantasia erótica.
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A segunda via não é a repressão da primeira: é outra aventura, totalmente. Quem decidirá, diante de uma criança de seis anos, se ela é candidata à primeira ou a segunda via? Ou a outra via ainda?
É preciso idealizar loucamente a infância para incentivar ou satisfazer o desejo de mudar de gênero manifestado por uma criança de seis anos.
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Pouco tempo atrás, a uma criança que dissesse suas vontades, só se respondia "cresça e depois a gente conversa". De repente, hoje, parece que o próprio fato de uma criança falar seja garantia da qualidade ("verídica") do desejo que ela expressa (talvez por isso, aliás, não saibamos mais o que fazer quando as crianças dizem que preferem dormir tarde, estudar outro dia etc.). Será que nos esquecemos de que uma criança inventa, finge, mente, que nem gente grande, se não mais?
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Sábado é Dia da Criança. Ótimo --que seja um dia em que as crianças possam fazer uma ou outra besteira que lhes der na telha e em que os adultos gastem um dinheiro em presentinhos.
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Mas péssimo se o Dia das Crianças for a celebração canônica da infância, que é um ídolo moderno especialmente perigoso. Perigoso? Sim. Espero que não seja o caso de Luana e de Coy, mas as primeiras vítimas de nossa idealização da infância são sempre as próprias crianças.
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*é psicanalista, doutor em psicologia clínica e escritor. Ensinou Estudos Culturais na New School de NY e foi professor de antropologia médica na Universidade da Califórnia em Berkeley. Reflete sobre cultura, modernidade e as aventuras do espírito contemporâneo (patológicas e ordinárias). Escreve às quintas na versão impressa de "Ilustrada".
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Fonte: Folha de São Paulo

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Política




'Tropa de prof' faz sucesso em passeata dos professores

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Esta fantasia aí da foto está fazendo o maior sucesso na passeata dos professores, que está acontecendo agora no Centro do Rio. A tropa de choque virou "tropa de prof". Incrível essa capacidade que os nossos queridos professores têm de transformar um limão numa limonada.
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* Ancelmo Gois - in: O Globo - é jornlista

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Manifestantes picham e tentam invadir Câmara Municipal do Rio
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Grupos de manifestantes, ligados ao Black Bloc e com rostos cobertos, que participavam de passeata no Centro do Rio de Janeiro picharam as paredes do lado de fora da Câmara Municipal do Rio, jogaram artefatos semelhantes aos usados nas festas juninas e tentaram atear fogo ao prédio. A manifestação, em defesa da educação, começou de forma pacífica, por volta das 18h, na Igreja da Candelária até a Cinelândia. A maior parte dos manifestantes é formada por grupos de professores municipais, estaduais, estudantes e sindicalistas, que não se envolveram nos atos de pichação e vandalismo.
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A manifestação havia seguido rumo à Avenida Rio Branco, mas já acabou. Um grupo de pessoas, no entanto, permanece no Centro ateando fogo pelas ruas. Cerca de 200 pessoas cercaram a Câmara de Vereadores, atiraram pedrões, fogos e rojões contra as janelas e portões. Os manifestantes tentaram invadir a Câmara e um dos portões de acesso estaria cedendo devido aos explosivos atirados. Durante os protestos, uma banca de jornal foi destruída. O clima ficou tenso ao redor da Câmara, com lançamento de bombas de efeito moral e balas de borracha, por parte da polícia.
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A manifestação, intitulada Um Milhão pela Educação, ocupa toda a área em frente à Câmara e à Biblioteca Nacional. Poucos policiais acompanham o protesto e evitaram se aproximar dos manifestantes na maior parte do tempo. Alguns manifestantes jogaram coquetel molotov nas janelas do prédio, que estão protegidas com chapas de madeira. Outros invadiram agências bancárias na Cinelândia e quebraram as vidraças. As pichações fazem referência ao governador do Rio, Sérgio Cabral, e frases como "Mais livro e menos bomba". Algumas pessoas subiram na fachada do prédio com um cartaz pedindo a libertação da ativista do Greenpeace Ana Paula Maciel, indiciada por pirataria pela Rússia após protesto.
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Uma lei proíbe o uso de máscaras ou cobrir os rostos em protestos no Rio.
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A estudante de pedagogia e direito Gabriela Guedes, participante do protesto, disse que apoia a causa e defende o reajuste dos salários dos docentes. "Sem os professores, nós não temos nenhum tipo de profissional. É muito importante que as pessoas se conscientizem, a população, e os universitários estão também aqui na luta para apoiar essa causa, que é muito digna". Para ela, as manifestações dos últimos meses renderam bons frutos e são uma boa forma de reivindicar direitos, apesar da violência.
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Fonte: Jornal do Brasil com Agência Brasil