quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Técnicas para se livrar da indisciplina

Por Jade Guerbi
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Sobre aparência e comportamento
  • Use roupas formais e adequadas; sua roupa diz muito sobre você, também marca sua atitude. Nada de decotes, tomara que caia e bermuda. Eu tenho como base sempre as advogadas ou as francesas. Minhas roupas são confortáveis e formais: sapatilha de couro sem salto, calça preta, blusa de tecido levinho, mais para larga e sem decotes exagerados. Esse tipo de roupa é formal, apresentável e confortável. Sobre as bijuterias, não exagere a ponto de parecer com a Viúva Porcina.
  • Mantenha as unhas curtas, para não correr o risco de machucar algum aluno, mesmo que sem querer. Se puder, prefira os tons clássicos de esmalte (vermelho, café, rosados ou clarinhos).
  • Cuide da apresentação do cabelo. Aprenda alguns penteados fáceis, clássicos e modernos. Eles dão ar de elegância. E se algum pai ou autoridade chegar não vai te encontrar suada e descabelada. Infelizmente, as pessoas nos julgam muito mais pela aparência do que pela competência. Uma trança embutida ou um coque são os meus preferidos.
  • Se você usa maquiagem, não exagere na sombra nem no batom. É preferível não usar sombra escura ou colorida nem batom vermelho, marrom ou cintilantes. Quanto mais natural melhor.
  • Cuide da higiene; cuidado com o mau odor, com roupa mal lavada, remela, caspa, mau hálito, orelha e nariz sujos etc. Não ignore uma mancha de café, tenha uma blusa reserva. Cuidado com roupas claras quando estiver menstruada; se tem suor excessivo não use camisas em que apareça a famosa pizza etc.
  • Cuide da sua postura ao se sentar e ao caminhar; a linguagem corporal é muito eficiente. Ombros “para dentro” significam que você está deprimida e é uma pessoa facilmente atingível. Em qualquer situação, olhe dentro dos olhos; isso significa firmeza e atitude. Uma pessoa que não olha nos olhos é interpretada como insegura.
  • Se você é homossexual (como eu), saiba que no seu ambiente de trabalho você precisa ter uma atitude diferenciada. Isso não significa que você não está levantando a sua bandeira ou sendo omissa; existem lugares e ocasiões específicas (inclusive na própria sala de aula, mas não precisa ser diariamente). Roupas ousadas e sugestivas dizem que você está “disponível”; essa não é uma boa mensagem quando o ambiente envolve crianças, pois mostra falta de profissionalismo. O mesmo vale para mãos e quadris “soltos”. Você não precisa andar como o Robocop para dizer que é lésbica, é desnecessário. Outro ponto fundamental e que eu vejo muito acontecer: evite programas com alunos (por exemplo, shows, boate, bar etc.). Eles podem te prejudicar, e muito!!!
  • Se você gosta de curtir a noite e de festas mais ousadas, faça isso longe do bairro em que trabalha; não é nada bom encontrar um pai de aluno com uma tanga de carnaval.
  • Faça o possível para não xingar ou depreciar qualquer situação. Tudo tem dois lados.
  • Mantenha uma atitude de respeito e profissionalismo com seus colegas de trabalho, mesmo que pessoalmente você tenha muitas diferenças. Os alunos percebem tons ríspidos. E como você pode ensiná-los a ser respeitosos uns com os outros, se você é desrespeitosa com seus colegas de trabalho?
  • Se você é religiosa e está em uma escola laica (sem uma religião definida), não deixe de dar a sua opinião sobre os assuntos. Mas não faça da sala dos professores o culto de domingo. Respeite a opinião alheia e o direito que todos têm de estar naquele espaço sem necessariamente ter que aceitar suas escolhas.
  • Saiba se posicionar nos debates e exigir as mudanças que você julga necessárias, mas tenha o cuidado de não ofender ninguém.
  • Seja gentil! Promova um lanche entre os professores. Presenteie, se possível, em dias especiais. Não esqueça os funcionários de apoio (cozinheiros, faxineiros, inspetores, porteiros – eles fazem parte da sua equipe e se sentem menosprezados quando não são lembrados ou são excluídos do grupo).
  • Tenha uma postura cordial e leal, se você viu algo de errado acontecer. Dê a sua opinião e defenda o lado certo. Tem muita gente que prefere ficar em cima do muro. Mas o dia de essas pessoas serem injustiçadas também chega.
  • Tenha uma atitude séria diante do seu trabalho; não “enrole” ou “encha linguiça”. É o seu nome!!! Leve a sério, planeje, busque caminhos diferentes, procure atividades com que você possa aliviar suas tensões diárias. Veja o que os grandes colégios fazem e faça do mesmo modo, não importa onde você esteja ou quanto ganhe; ser excelente em alguma coisa é treinar à exaustão e fazer coisas que as outras pessoas não fazem. Existe a possibilidade de ser excelente em todos os espaços, de todos os modos, sem recursos financeiros ou com recursos financeiros; não é uma questão apenas de empenho, mas também de “visão”. Honre o seu trabalho, o seu nome e a sua carreira.
  • Faça uma reunião com os pais e esclareça o seu modo de trabalho, o que você pensa da vida, quais são suas opiniões e o que você defende. Os motivos que fizeram você escolher essa carreira etc. Eu faço sempre um documento – que eu chamo de “manual do aluno” –, uma espécie de contrato com os deveres e direitos dos alunos e pais e peço que ao final eles assinem uma listagem, de que leram e estão de acordo. Eles levam o manual para casa. É uma maneira de dizer que ali estamos firmando uma parceria. Esclareço ponto a ponto, inclusive as penalidades. Faça uma reunião emocionante, toque no coração deles. Eu tenho um vídeo com algumas matérias sobre jovens que mataram familiares, mendigos etc. Quando se trata de uma turma violenta, eu sempre inicio a reunião com esse vídeo, para chocar mesmo. E chamo todos a uma reflexão... “Esses pais também deram tudo aos filhos, mas eles esqueceram de ensinar que na vida não é possível ter tudo”. No final, concluo que é necessário ensinar os filhos a agir de forma positiva diante da frustração... E que o melhor caminho não é criá-los como príncipes e princesas. É necessário educar para que se tornem adultos equilibrados, amorosos e generosos. Essa é uma etapa que exige uma coragem absurda e muita sensibilidade do professor, porque é aí que identificamos alguns pais envolvidos com o crime, e eles têm uma imagem um tanto quanto intimidadora. Se você tem pontos da sua história com semelhança à deles, não deixe de expor. Eu sou sempre muito sincera nesse momento, porque eu também tive uma origem muito humilde; eu sempre falo dos meus momentos de dificuldade e o que me fez continuar firme (meu avô sempre me dizia: “as dificuldades podem vir; eu mato no peito, sabe por quê? Meu nome é Antônio Guerra!!!” Ele sempre me disse que eu iria conseguir, porque o meu sobrenome era Guerra. Não queria dizer muita coisa e ao mesmo tempo significava tanto!!!).
  • Esta é a etapa mais difícil e também a mais importante: em turmas muito violentas, você dificilmente vai conseguir sucesso se não tiver os pais do seu lado. Mas se você tiver os pais do seu lado, saiba que 70% da batalha já estão vencidos. No final, termine com um lanche; se você sabe cozinhar, prepare algumas coisas. Isso demonstra carinho e atenção.
  • Cuide dos pequenos detalhes, como o padrão das folhas do caderno (opte por folhas em tamanho grande ou meia folha, e não mude ao longo do ano); procure encapar os cadernos e cobrar capricho dos alunos.
  • Nós temos a mania de exaltar o “erro”, mas não esqueça de parabenizar seu aluno. Eu não gosto de parabenizar publicamente, porque eu acho que isso incentiva a competição desmedida, mas tenho vários carimbos. Carimbo nos cadernos ou agenda quando eles tiveram uma postura de que eu tenha gostado com uma mensagem legal. Se for premiar os alunos, não dê prêmio apenas "ao melhor", mas também ao que "mais se desenvolveu", "ao que mais se esforçou" etc.
  • Seja uma pessoa pontual; chegue no horário, entregue as provas na data certa, distribua materiais na data adequada, estipule um cronograma de atividades semanal e tente cumpri-lo, coloque um “notificado” na agenda sobre possíveis imprevistos. Seja honesta; quando precisar faltar ou chegar mais tarde, diga a eles que você deixou uma atividade, explique o que será pedido na atividade, diga quem ficará responsável pela sala na sua ausência, converse com a turma e cobre respeito. Diga que, do mesmo modo, irá saber se as regras foram cumpridas e aplicar as penalidades necessárias.
Atitude em sala de aula
  • Independentemente de como tenha sido a sua atitude até hoje e o que tenha passado, esqueça! Finja que você está vendo aqueles alunos pela primeira vez (finja que tem amnésia, que é uma outra pessoa e que eles não te conhecem). Chegue sem preconceitos e sem esperanças. Se a sala estiver em desordem e tiver aluno gritando, ou coisas do tipo, chegue na porta da sala e dê um aviso (não grite, mas levante e engrosse o tom de voz; preste atenção para manter o tom de voz firme, fale de forma pausada e equilibrada – treine em casa, na frente do espelho) e diga: “Só vou entrar quando a sala estiver em ordem, com todos sentados e com o caderno de aula sobre as mesas” (repita o máximo de duas vezes). Não fale mais nada! Não tenha outra reação senão essa. Se algum aluno aprontar alguma, desde que não seja agressão física, ignore! Se for agressão física, separe e o coloque fora de sala. Ou, se você tem um inspetor bom na sua escola, chame para que ele resolva. Não importa quanto tempo você fique parada na porta (Mas previna-os que o tempo será contado e acrescido no fim). Cumpra a sua palavra!!! Mesmo que você ache que o que você falou não teve efeito, permaneça na porta e no final aplique os minutos a mais que você ficou em pé. É interessante deixar a coordenadora de sobreaviso de que a partir de hoje você vai estipular novas regras; se existe algum problema em você ficar na sala depois da hora, seria interessante avisar também aos pais naquela reunião, mas se isso não for possível nada pode te impedir de fazer o que é necessário. Eles vão te testar de todas as formas, vão atacar os pontos mais doloridos da sua vida; esteja pronta para fazer o que o amor à tua carreira exige. Não diminua o castigo, não dê nenhuma vantagem, não tenha pena; não existe desculpa, se for o banheiro, aquele que foi ao banheiro ficará os minutos do banheiro a mais; permaneça firme! Você, desde o início, deu a eles o poder de escolher; eles escolheram assim. Se você foi capaz de identificar aqueles que ficaram todo o tempo quietos, esses podem ser liberados do castigo. Mas, se a desordem era geral, diga a eles, seja sincera: “Eu sinto muito se estou cometendo alguma injustiça, mas a desordem estava tão grande que eu não consegui identificar quem estava quieto”. Algumas pessoas me acham muito “general”, mas a verdade é que tenho muito amor pelo que faço e muito amor aos meus alunos; sou muito rígida, mas meu coração dói quando eles estão tristes por coisas pessoais; eu me vejo neles. E, apesar de toda rigidez, nunca fui fria com eles; gosto de ver que estão felizes e que são amigos fiéis, gosto de ver que um apoia o outro e que são pessoas de caráter e talento.
  • Depois que a turma estiver em ordem, entre e diga os minutos contabilizados que ficarão depois do horário (escreva os minutos no quadro) e não dê atenção a desculpas do tipo “eu tenho rota escolar e não posso ficar”. Diga a eles que todos os dias a partir de hoje serão assim (permanência – qualquer pessoa exige de nós estabilidade para que ela possa confiar no que dizemos). Diga “eu só vou entrar quando a sala estiver em ordem, com silêncio e o material sobre a mesa”. Explique as razões dessa atitude...
  • Saiba que permitir a desordem é antes de tudo uma traição à sua profissão; professor é aquele que educa e prepara para a vida em sociedade; até hoje, todas as sociedades com desordem desmedida foram abolidas do mapa! Precisamos pensar que um professor que permite a desordem em sala de aula não consegue que os alunos aprendam e, consequentemente, está estimulando a desigualdade social e a pobreza. Você está colocando seu aluno em uma jaula; essa jaula é o próprio instinto animal dele.
  • Existe um caráter social e político muito oculto que estimula o fracasso das escolas públicas. Afinal, um povo numeroso com alta habilidade pensante pode formular estratégias muito eficientes para destituir maus governantes.
  • Se os seus alunos já são maduros para essa discussão, converse com eles sobre isso.
  • Existe muita coisa por trás do desrespeito à escola e ao professor. Existe muito por trás de sites que estimulam esse desrespeito. Está na hora de os alunos saberem que eles vivem em um mundo capitalista que quer faturar a troco da vida deles.
  • É legal começar com uma pergunta para quebrar o gelo: “O que vocês vem fazer todos os dias na escola?”. Se surgir uma piadinha do tipo “brincar”, diga de forma muito séria: “Opa, então acho que você entrou no lugar errado, o playground fica na outra rua” e finaliza aí. Se não surgir nada de produtivo, explique: “as pessoas vêm à escola para aprender a ler as coisas de que gosta, elas vêm para aprender a fazer contas, para não ser enganado, não ser roubado, etc. Quando existe uma bagunça muito grande, ninguém aprende nada”. Nesse momento não permita interrupções (eles já tiveram o momento deles de falar). Diga que, assim como na vida, na escola também temos regras e que nós iremos juntos estipular as regras. Eu sempre faço um painel com as seguintes colunas: regras / direitos / penalidades e digo para eles o seguinte: a cada regra (ou obrigação) vocês têm um direito. Já levo as regras mais ou menos estipuladas, do tipo silêncio na explicação – conversa nos 20 minutos finais da aula e assim por diante. Isso vai depender da idade da turma; mesmo os professores de disciplinas específicas podem fazer isso, só não vão poder afixar na parede como eu faço. Estipulo com eles as penalidades, de acordo com a gravidade. De hoje em diante, todas as vezes que eles errarem devemos fazer menção ao painel: “Fulano você desrespeitou a regra 4 do nosso painel de regras, você bateu no seu colega, que poderia ter se machucado; existem outras soluções para resolver a briga de vocês, você quebrou o nosso acordo e por isso vocês vão ficar no castigo estudando ortografia 15 minutos depois da aula durante esta semana, por exemplo”.
  • Outra medida interessante são os mapas de lugar, designando os lugares de cada um. Assim você separa aqueles que mais conversam e tal. Eu particularmente não gosto muito dessa tática; primeiro, porque aquele que é quieto e estudioso é forçado a ficar com o mais bagunceiro, e certamente irá sofrer por isso. Em segundo lugar, porque eu acho que eles precisam aprender a se respeitar como grupo. Enfim, já usei muito essa tática, ela é eficiente, dá resultado e acredito que seja uma boa saída para quem está iniciando; só tenha cuidado com uma coisa: se você designou que o lugar será marcado, não volte atrás; vistorie todos os dias e garanta que todos estão em seus lugares.
  • No primeiro segmento, é legal fazer uma tabela de ajudante do dia (participação – mostre à turma que todos são importantes); eu fiz um colete e eles têm uma cadeira especial ao lado da minha; é muito legal porque isso estimula que eles sejam generosos uns com os outros.
  • Tenho na minha sala também um cartaz de aniversariantes; como eu adoro cozinhar, faço um bolo por mês e a gente canta parabéns para todos os aniversariantes daquele mês; tiro foto e coloco no mural. Eles ficam radiantes!!! Professores e pais são pessoas muito importantes no processo de formação da personalidade infantil. Mostre que eles são importantes em sua vida e exalte as qualidades e talentos de cada um.
  • Um ponto muito importante é a rotina (qualquer pessoa precisa de estabilidade e planejamento e precisa ter as coisas estabelecidas caso precise expressar algum desejo de mudança; eu sempre digo que eles têm esse direito, desde que seja feito de forma respeitosa). Eu escrevo no quadro tudo que iremos fazer naquele dia, ponto a ponto. Isso dá uma segurança muito grande a eles, além de ser um exemplo de organização. No final, nunca deixo de colocar: “Só vai embora quem tiver terminado todo o dever”. Tudo o que você colocar na rotina... Cumpra!!!
  • Explique de maneira prática e simples o conteúdo, todos os exercícios; seja paciente, pergunte se alguém tem dúvida. Não agrida seu aluno com palavras, mesmo que ele esteja fazendo isso com você. Você é uma profissional, ele não.
  • Nunca chore diante de sua turma. Aprenda que existe lugar para chorar: no seu quarto, debaixo do edredon! Isso mostra insegurança, falta de profissionalismo e incapacidade de lidar com situações extremas. Existe uma técnica: quando você perceber que está numa situação que te afetou emocionalmente, pegue o celular, diga que lembrou de fazer uma ligação urgente e passe um exercício do livro ou leitura. Essa técnica é para que você se afaste da situação que te afetou; procure um lugar calmo (eu sempre escolho o banheiro), respire fundo, prenda a respiração do abdome e solte lentamente; repita esse processo cinco vezes; em seguida, coloque a ponta da sua língua no céu da boca e respire lentamente; repita também por cinco vezes. São técnicas de respiração que acalmam. Se a mágoa persistir, diga à diretora ou coordenadora que você está com sensação de desmaio, que já tentou se recuperar e não conseguiu e se ela pode te ajudar. Mas saiba de uma coisa: reagir às situações com choro significa que você é imatura emocionalmente, independente de sua idade, e significa que você precisa trabalhar esse aspecto da sua personalidade.
  • Se você não estipulou um horário de aulas, diga a eles que a sua forma de trabalho não é a convencional e que você usa a interdisciplinaridade. Explique a eles o que é isso. Eu sempre coloco o horário de aulas na agenda, com livros e cadernos que devem ser levados, além de materiais especiais como régua, tesoura etc. Importante: Não faça da agenda escolar um diário de reclamações; chame os pais e converse quando o caso for extremo.
  • Uma regra está ligada à outra, não adianta cumprir só algumas e achar que dará resultado. Todas as regras são organizações e formas para que seu aluno se sinta seguro e consiga prever seus atos. Nós somos animais (ainda que socializados); todas as vezes em que não estamos seguros em uma situação e não podemos saber o que irá acontecer, iremos atacar.
  • Você tem um compromisso com você mesma: ser uma boa professora. Não queira ser amiga, confidente ou a Britney Spears. Ser professora significa ser dura como a vida é! Estipular e cumprir regras como acontece na vida! Obter bons resultados, e é para isto que lutamos: formar seres saudáveis, equilibrados e capazes de resolver seus problemas de forma leal e firme. Se você não está conseguindo bons resultados, você não está cumprindo a sua missão. É hora de mudar... Pense nisso!

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