segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Editorial: Uma geração de crianças sem escola

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"Apesar do esforço de mais de três décadas que assegurou a matrícula de 97% dos meninos e meninas com idade entre 7 e 14 anos, o Brasil tem contingente de 3,7 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos longe de cadernos e livros", afirma jornal

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Fonte: Correio Braziliense (DF)
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Números são frios. Nem sempre conseguem transmitir a carga emotiva que carregam. A assertiva vale para dados divulgados pelo Unicef na semana passada. Segundo levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância realizado em 25 países (incluído o Brasil), 139 milhões de crianças com idade para cursar o ensino fundamental estavam fora da escola em 2009. A cifra, abstrata, não traduz a dramaticidade do fato.
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Concretizadas, as estatísticas mostram a carga de horror que escondem. Trata-se de sete Austrálias. Ou 3,5 Argentinas. Ou 1,5 Alemanha. É uma multidão de infantes condenados à ignorância, à pobreza, à perpetuação da miséria. São os excluídos da escola, que se mostra incapaz não só de lhes garantir o acesso e a aprendizagem, mas também de retê-los no sistema.
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O Brasil, embora tenha melhorado consideravelmente os indicadores, não está bem na foto. Apesar do esforço de mais de três décadas que assegurou a matrícula de 97% dos meninos e meninas com idade entre 7 e 14 anos, tem contingente de 3,7 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos longe de cadernos e livros. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2009, confirmados pelo Censo de 2010.
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Vem, pois, em boa hora, o relatório Todas as Crianças na Escola em 2015. Elaborado pelo Unicef em parceria com a Campanha pelo Direito à Educação, o estudo levanta as causas da exclusão, analisa políticas existentes e apresenta estratégias aptas a responder ao desafio. O ficar à margem do sistema não se deve a um fator, mas à combinação de vários.
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Entre eles, a necessidade de a criança trabalhar para ajudar a família, o despreparo do professor, a má qualidade do material didático, a inadequação dos currículos, a falta de atração da escola. Impõe-se, para superá-los, esforço conjunto de sociedade e governo nos três níveis de poder. Municípios, estados e União precisam se aliar — independentemente de partido ou coloração política — para pôr fim à vergonha que afasta o país do sonho sempre adiado de apagar o analfabetismo (total e funcional) do território nacional.
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Os 5.564 municípios brasileiros escolhem prefeitos em outubro. Alguns se candidatam à reeleição. Outros, ao primeiro mandato. É importante que a sociedade organizada participe ativamente do processo, examine a plataforma dos postulantes, promova debates sobre o assunto e, posteriormente, cobre resultados. Parafraseando Clemenceau, a educação é importante demais para ser deixada nas mãos dos governantes — sem a implacável fiscalização dos cidadãos.
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Fonte: Correio Braziliense (DF)

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