segunda-feira, 30 de julho de 2012

Coração ferido: a irracionalidade da razão

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Por Leonardo Boff*
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Não estamos longe da verdade se entendermos a tragédia atual da humanidade como o fracasso de um tipo de razão predominante nos últimos quinhentos anos. Com o arsenal de recursos de que dispõe, não consegue dar conta das contradições, criadas por ela mesma.
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Já analisamos nestas páginas como se operou, a partir de então, a ruptura entre a razão objetiva (a lógica das coisas) e a razão subjetiva(os interesses do eu). Esta se sobrepôs àquela a ponto de se instaurar como a exclusiva força de organização histórico-social.
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Esta razão subjetiva se entendeu como vontade de poder e poder como dominação sobre pessoas e coisas. A centralidade agora é ocupada pelo poder do "eu", exclusivo portador de razão e de projeto. Ele gestará o que lhe é conatural: o individualismo como reafirmação suprema do "eu". Este ganhará corpo no capitalismo cujo motor é a acumulação privada e individual sem qualquer outra consideração social ou ecológica. Foi uma decisão cultural altamente arriscada a de confiar exclusivamente à razão subjetiva a estruturação de toda a realidade. Isso implicou numa verdadeira ditadura da razão que recalcou ou destruiu outras formas de exercício da razão como a razão sensível, simbólica e ética, fundamentais para a vida social.
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O ideal que o "eu" irá perseguir irrefreavelmente será um progresso ilimitado no pressuposto inquestionável de que os recursos da Terra são também ilimitados. O infinito do progresso e o infinito dos recursos constituirão o a priori ontológico e o parti pris fundador desta refundação do mundo.
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Mas eis que depois de quinhentos anos, nos damos conta de que ambos os infinitos são ilusórios. A Terra é pequena e finita. O progresso tocou nos limites da Terra. Não há como ultrapassá-los. Agora começou o tempo do mundo finito. Não respeitar esta finitude, implica tolher a capacidade de reprodução da vida na Terra e com isso pôr em risco a sobrevivência da espécie.
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Cumpriu-se o tempo histórico do capitalismo. Levá-lo avante custará tanto que acabará por destruir a sociabilidade e o futuro. A persistir nesse intento, se evidenciará o caráter destrutivo da irracionalidade da razão.
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O mais grave é que o capitalismo/individualismo introduziu duas lógicas que se conflitam: a dos interesses privados dos “eus” e das empresas e a dos interesses coletivos do “nós” e da sociedade. O capitalismo é, por natureza, antidemocrático. Não é nada cooperativo e é só competitivo.
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Teremos alguma saída? Com apenas reformas e regulações, mantendo o sistema, como querem os neokeynesianos à la Stiglitz, Krugman e outros entre nós, não. Temos que mudar se quisermos nos salvar.
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Para tal, antes de mais nada, importa construir um novo acordo entre a razão objetiva a a subjetiva. Isso implica ampliar a razão e assim libertá-la do jugo de ser instrumento do poder-dominação. Ela pode ser razão emancipatória. Para o novo acordo, urge resgatar a razão sensível e cordial para se compor com a razão instrumental.
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Aquela se ancora do cérebro límbico, surgido há mais de duzentos milhões de anos, quando, com os mamíferos, irrompeu o afeto, a paixão, o cuidado, o amor e o mundo dos valores. Ela nos permite fazer uma leitura emocional e valorativa dos dados científicos da razão instrumental. Esta emergiu no cérebro neocortex há apenas 5-7 milhões de anos. A razão sensível nos desperta o reencantamento e o cuidado pela vida e pela mãe-Terra.
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Em seguida, se impõe uma nova centralidade: não mais o interesse privado mas o interesse comum, o respeito aos bens comuns da Humanidade e da Terra destinados a todos. Depois a economia precisa voltar a ser aquilo que é de sua natureza: garantir as condições da vida física, cultural e espiritual de todas as pessoas.
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Em continuidade, a política deverá se construir sobre uma democracia sem fim, cotidiana e inclusiva de todos seres humanos para que sejam sujeitos da história e não meros assistentes ou beneficiários.
Por fim, um novo mundo não terá rosto humano se não se reger por valores ético-espirituais compartidos, na base da contribuição das muitas culturas, junto com a tradição judaico-cristã.
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Todos esses passos possuem muito de utópico. Mas sem a utopia afundaríamos no pântano dos interesses privados e corporativos. Felizmente, por todas as partes repontam ensaios, antecipadores do novo, como a economia solidária, a sustentabilidade e o cuidado vividos como paradigmas de perpetuação e reprodução de tudo o que existe e vive. Não renunciamos ao ancestral anseio da comensalidade: todos comendo e bebendo juntos como irmãos e irmãs na Grande Casa Comum.
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Leonardo Boff é teólogo e filósofo e autor de Virtudes para um outro mundo possível, 3 vol.Vozes 2009.

Revista Nova Escola

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Nas bancas a partir de 30 de julho, a nova edição da Revista NOVA ESCOLA que traz reportagem de capa sobre o ensino da GRAMÁTICA e as melhores estratégias para aprimorar a compreensão e a produção de textos.
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Como destaque, entretanto, veja a reportagem que denuncia que "apenas um em cada quatro brasileiros está plenamente alfabetizado" em "Dez anos, não saímos do lugar".
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Brasil ainda tem 1 milhão sem escola

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São apenas cinco letras, mas rabiscá-las é um tremendo desafio. Com um caderno sobre as pernas, Mário, de 11 anos, quase desenha seu nome, a única palavra que sabe escrever, manuseando o lápis sem intimidade. O nome é fictício, a história, real. A deslumbrante paisagem que se vê da casa do menino, que só entrou para a escola há cerca de um mês, revela um problema que ainda persiste mesmo nos estados mais ricos. O franzino Mário vive seu drama particular no Morro do Vidigal, em São Conrado, debruçado sobre os bairros de maior renda do Rio.
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Os números do Censo do IBGE mostram que, apesar de o problema ser mais grave nas regiões Norte e Nordeste, nenhum estado conseguiu até hoje incluir todas as crianças de 6 a 14 anos na escola. Esta população de não estudantes representa 3% do total da faixa etária. Pode parecer um percentual pequeno, mas é grave quando se considera que é quase um milhão de crianças que ainda não têm garantido um de seus direitos mais básicos, previsto pela Constituição de 1988: estudar. Se a esse grupo forem incorporados as crianças de 4 e 5 anos e os jovens de 15 a 17 (que passam a fazer parte da faixa etária de escolaridade obrigatória a partir de 2016), o número aumenta para 3,8 milhões, ou 8% do total.
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Tabulações feitas pelo GLOBO nos microdados do Censo mostram que o problema é maior entre os mais pobres e crianças com algum tipo de deficiência. Os números também revelam que a maioria (62%) das crianças que não estudam dos 6 aos 14 chegou um dia a frequentar a escola, mas abandonou os estudos. O problema é ainda mais grave se consideradas as faixas etárias de 4 e 5 anos e de 15 a 17, que desde 2009 passaram a ser também obrigatórias, mas com prazo para adequação dos sistemas até 2016.
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As razões mais citadas por especialistas para isso são falta de interesse, repetência, gravidez precoce e necessidade de trabalhar. Mas há situações difíceis de entender. Como a de Mário (nome fictício). No Morro do Vidigal, há uma creche municipal e uma escola, a poucos metros da casa dele. Tímido, ele é um menino saudável, apto a aprender e que não esconde de ninguém que queria muito, muito estudar.
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— Agora eu estou feliz — sorri e mais não diz o menino, que não conhece sequer o “i”, uma das vogais de seu nome (o verdadeiro também tem a letra). Ele revela apenas o que pretende fazer com os conhecimentos que começa a adquirir com seu primeiro professor. — Quero ler jornal e gibi.
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Ex-representante da Unesco no Brasil e doutor em Educação pela Universidade de Stanford, o assessor internacional para a área de educação, Jorge Werthein, diz que o primeiro passo, nada fácil, é identificar essas crianças e adolescentes.
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— O Brasil é um país de contrastes. Há estados importantes com uma grande periferia urbana e muitas desigualdades econômicas. Há estados com uma área rural significativa que sofrem com a falta de escolas. Num país continental, é uma tarefa árdua chegar a essas crianças e adolescentes por estado, por capital, por região metropolitana. Mas é preciso achá-los e depois convencê-los a ingressar ou a voltar para a escola — diz.
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— Depois, nós temos que repensar a escola para que ela seja um espaço não apenas prazeroso, mas em que os alunos sintam que estão aprendendo. Uma escola ruim em qualquer lugar do mundo expulsa os alunos, com repetências e abandono. Deixa para eles a mensagem de que não são capazes, o que marca de forma brutal meninos e meninas — completa Werthein.
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— Houve uma evolução inegável nos últimos dez anos. Mas ainda há muita criança fora da escola, situação agravada pelas desigualdades. Entre 4 e 5 anos, há 83% estudando no Sudeste, o que ainda é ruim, mas pior é haver só 69% dentro de sala de aula no Norte — afirma Andrea Bergamaschi, do movimento Todos pela Educação. — Para reverter este quadro, precisamos de políticas públicas cirúrgicas, específicas para cada situação.
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Na Zona Sul, 508 jovens voltaram a estudar
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De um lado a escola, do outro, a vida. Juntar as duas coisas numa rotina de conhecimento e prazer é a única saída, segundo especialistas, para manter adolescentes em sala de aula. O Conselho Tutelar da Zona Sul do Rio calcula que, desde 2008, já tirou do exílio escolar 508 adolescentes, disputando-os com o tráfico e com as dificuldades financeiras, que levam os menores mais cedo ao mercado de trabalho. Ana Maria (nome fictício), de 17 anos, é uma das jovens assistidas pelo programa Emplacando Vidas, do Detran. Aos 15 anos, ela abandonou os bancos escolares. Recentemente, voltou, e cursa o terceiro ano do ensino médio.
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— Nunca fumei um cigarro de maconha. Mas vivia um momento ruim. Eu tinha perdido o meu pai cedo, e corríamos até o risco de perder nossa casa. Não aguentava mais a escola, só queria zoar. Eu mentia muito. Saía de casa com uniforme e, na rua, trocava de roupa. Comecei a faltar às aulas. Quando a minha mãe descobriu, eu já tinha abandonado a escola — conta a jovem, que logo explica por que as coisas começaram a mudar, depois de dois anos. — Vi que, do jeito que estava, não chegaria a lugar nenhum.
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Moradora do Morro Azul, no Flamengo, Ana Maria, graças ao trabalho, ajuda a mãe nas despesas com a casa. Ela batalhou sozinha por uma bolsa de estudos num curso de inglês, e conseguiu. Agora, quer fazer vestibular para Economia.
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O conselheiro tutelar Edmilson Ventura observa que o trabalho é uma forma de atrair jovens com mais de 16 anos.
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— Não somos um balcão de empregos, mas, na faixa etária permitida por lei, o trabalho pode ser um atrativo. Muitos jovens que chegam aqui ou quase entraram no tráfico ou são órfãos dele. E a primeira consequência é se afastar da escola — diz, acrescentando que a contrapartida ao trabalho é estudar.
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O projeto Escolas do Amanhã, da Secretaria municipal de Educação, é uma das políticas públicas municipais que tentam combater o problema da evasão. Desde 2009, 152 escolas oferecem educação integral em áreas conflagradas na cidade. A secretária, Cláudia Costin, diz que o verdadeiro desafio é a universalização da qualidade:
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—Sempre que se oferece qualidade, a resposta é boa.
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A evasão escolar caiu na rede municipal de 2,6%, em 2008, para 2,3%, em 2011. E, nas Escolas do Amanhã, de 5,1% para 3,2%, no mesmo período.
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Fonte: O Globo

terça-feira, 24 de julho de 2012

Sociedade da fuga. O mal dos tempos.

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Por Célia Corrêa * 
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Não há um dia sequer que não ouço uma triste notícia sobre violência. Casos e casos se multiplicam, reinventam e inovam a arte do descalabro. Famílias se tornam surpresas e sofridas quando se veem diante de fenômenos impensados ao longo de uma vida. Elas tentam compreender onde ocorreram os desvios do cotidiano e se esbarram nas inúmeras buscas de causas, até o esgotamento das forças e o consolo do perdão. Tudo tão perto de todos e, ao mesmo tempo, invisível.
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Acontece que, o copo não transborda no primeiro toque. Ele vai se enchendo aos poucos e silenciosamente. É como o caminhar das formigas, quase invisível e de pouco a pouco, mas sempre na mesma direção, até que um dia o formigueiro se transborda.
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Todos querem viver o socialmente correto, mas para muitos o social não é uma realidade palpável. Existe um medo interior, uma insegurança não aparente, uma fraqueza disfarçada, um desconforto inexplicável, mesmo diante de todas as riquezas que possam estar em volta.
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Somente o coração sente o repuxo, mas não consegue controlar a onda, que repetidas vezes se fantasia de alegria e outras de choro. O apelo para não transparência leva à fuga. Fuga de tudo e de todos. Fuga da realidade. Fuga da verdade! Fuga da coragem! Fuga da fraqueza!Fuga do amor! Fuga de si mesmo!
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E, para onde leva a fuga? Muitas fezes para o considerado, inicialmente, caminho mais fácil que parte de copos, cheiros, picadas e cachimbos até o autoextermínio ou extermínio daqueles que representam o social não alcançado.
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Aos poucos, a fuga não é somente daquela vítima do seu próprio interior. A fuga é de todos ao redor. A não aceitação das pequenas evidências leva ao silêncio e distância, pois tudo se torna inexplicável. Mais fugas, agora de dentro e de fora, passam a promover um turbilhão de perguntas sem respostas.
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Todos fogem. A família foge cansada de tanto tentar entender os fatos. Os amigos fogem das diferenças aparentes. Emprego e trabalho desaparecem. Tudo é fuga. E o Estado? Onde ele se posiciona? Como guardião da sociedade, o Estado representa a forma máxima de organização humana; responsável pelo controle social. E aí? Como ele se coloca diante de tantos fatos que representam fuga e morte da sociedade?
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O Estado tem sido ineficiente e omisso. Daí, a ineficácia de suas medidas no campo da saúde e da educação. É, na verdade, o grande cúmplice dos suicídios e assassinatos e da desgraça de muitas famílias. Com as "burras" cheias dos impostos coletados e do descontrole da corrupção, ainda não cumpre a sua missão precípua diante da família e da nação. Gasta seu tempo no jogo do poder e no controle das urnas, enquanto jovens se perdem nas ruas e morrem nas sarjetas como animais ferozes. As famílias sangram de dor, de medo, de pés e mãos atados. 2
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Famílias, o núcleo principal de uma nação, perdem a suas identidades e suas forças. Desabrocha-se uma nação sem esperanças, mas consolada com a possibilidade da troca por bens de consumo. Consomem-se carros, roupas, móveis e utensílios domésticos enquanto a terra nua e crua consome corpos de jovens que fugiram desesperançados. Fuga da responsabilidade do Estado que se perdeu na construção de boas políticas públicas.
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Políticas cegas e surdas impedem àqueles que conseguem perceber os dramas e tentam ajudar e salvar vidas. O Estado cria restrições. À título de exemplo, ao sugar impostos, dificulta a doação de valores para o tratamento da saúde de dependentes químicos. Não há tratamento suficiente para atender aos acometidos pelas doenças da "fuga", como também não há incentivos para aqueles que queiram participar e ajudar. Para tornar o exemplo mais claro, tente patrocinar o tratamento de saúde de um dependente químico e peça o recibo em seu nome. Impossível! O recibo somente poderá ser emitido em nome do paciente (que não trabalha e não tem renda). Assim, a dificuldade estabelecida pelo Estado impede um benefício e mascara uma realidade.
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* Célia Maria Corrêa Pereira – celia.correa@terra.com.br / Professora. Administradora. Mestre em Engenharia de Produção

domingo, 22 de julho de 2012

Criança - a alma do negócio

Criança - a alma do negócio (Brasil, 2008) é um documentário que reflete sobre os efeitos e consequências que a publicidade direcionada às crianças vem provocando. Direção: Estela Renner.





sábado, 21 de julho de 2012

Pelo menos 70% dos casos de racismo acontecem nas escolas


Por Joana Soarez
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Casos de preconceito racial como o que aconteceu com a pequena D., de 4 anos, que foi ofendida pela avó de um garoto branco por ser negra, em uma escola particular de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, é mais comum no ambiente escolar do que se possa imaginar. Levantamento da Organização Não Governamental (ONG) SOS Racismo, de Belo Horizonte, apontou que 70% das denúncias que chegaram ao conhecimento da entidade aconteceram em escolas públicas ou privadas.
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A ONG, no entanto, reconhece que por trás das 112 notificações recebidas ao longo de seus 12 anos de existência, existem muitos casos que nem chegam a ser apurados por falta de denúncias das vítimas e também pela dificuldade que muitas pessoas têm de provar que foram alvo de preconceito. Pelo menos 30% dos casos de discriminação racial ocorrem nos ambientes de trabalho, aponta a SOS Racismo. Outro dado que preocupa é o baixíssimo índice de punição dos agressores. Em apenas 20% dos casos, os responsáveis receberam algum tipo de condenação. "O mais difícil é provar o racismo e encontrar alguém que aceite testemunhar porque as pessoas se sentem pressionadas ou intimidadas", explicou José Antônio Carlos Pimenta, presidente da ONG.
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Nas unidades policiais do Estado, segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), até junho deste ano, foram registrados 129 casos de preconceito por raça ou cor. O número de ocorrências já é maior que igual período do ano passado, quando 118 pessoas registraram queixas de racismo. A Coordenadoria Estadual de Políticas Pró-Igualdade Racial (Cepir) não tem levantamento específico sobre casos de racismo em escolas do Estado.
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No caso mais recente, ocorrido no último dia 10, a menina teria sido chamada de "preta horrorosa", na frente dos colegas, pela avó de um aluno. A agressora não teria concordado com o fato de o neto ter formado par com uma garota negra na festa junina da escola. A denúncia foi feita pela professora Denise Cristina Aragão, 34, que pediu demissão do emprego por não concordar com a postura da direção do colégio, que teria se omitido em relação ao episódio. Os pais da menina registraram ocorrência. O delegado Juarez Gomes informou que todos os envolvidos foram intimados e irão começar a prestar depoimento a partir de segunda-feira. O inquérito deve ser concluído no fim da semana que vem. Ontem, a mãe de D., Fátima Adriana de Souza, 41, passou mal e foi levada a um hospital. "Ela ainda está muito abalada com tudo isso e ansiosa para que se faça justiça com a nossa filha", disse o pai da menina, Aílton César de Souza, 38. A SOS Racismo atende vítimas de qualquer tipo de discriminação e presta assistências jurídica e psicológica às vítimas através de um convênio com a PUC Minas.
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Lei
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Igualdade racial é conteúdo escolar
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De acordo com a Lei 10.639/03, o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira deve ser incluído no currículo escolar na educação básica. Porém, segundo o coordenador estadual de Políticas Pró-Igualdade Racial (Cepir), Clever Machado, o conteúdo ainda é pouco aplicado. Para ele, a valorização da diversidade deve ser trabalhada na escola desde a infância. Machado confirmou serem comuns os casos de racismo no ambiente escolar. "Estamos capacitando os professores da rede pública de ensino para abordar o tema. Não temos conhecimento das unidades privadas, mas precisamos que elas se envolvam nessa temática". O coordenador afirmou que será marcada uma reunião com as secretarias municipais e estadual de Educação para avaliar o episódio e discutir uma forma de exigir a aplicação do conteúdo no projeto pedagógico de colégios particulares. A Secretaria Municipal de Educação (SMED) criou em 2004 o Núcleo de Relações Étnico-Raciais e de Gênero que atua na formação de professores. (JS)
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Fonte: O Tempo (MG)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Juventude Negra

Jovens negras têm menos acesso a escola e a trabalho, mostra relatório da OIT

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Uma em cada quatro jovens negras brasileiras entre 15 e 24 anos não estuda ou não trabalha – o que corresponde a 25,3% dessa faixa da população. Os dados são da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgados hoje (19) no relatório Perfil do Trabalho Decente no Brasil: um Olhar sobre as Unidades da Federação. Entre a população jovem em geral, o percentual das pessoas que não trabalha ou não estuda chega a 18,4%, o que corresponde a 6,2 milhões de pessoas. Entre as mulheres jovens, a taxa é 23,1%. Esse fato é identificado com mais intensidade nas áreas urbanas, em que 19,7% dos jovens estão nessa situação, contra 7,9% nas áreas rurais.
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“Quando a jovem diz que não trabalha, quer dizer que não trabalha remuneradamente. Ou ela é mãe e não tem apoio das redes de proteção social; ou concilia família e trabalho; ou cuida de irmãos melhores para a mãe trabalhar”, destacou o coordenador do estudo da OIT, José Ribeiro.
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A taxa de mulheres negras negras que não trabalham ou não estudam é superior às das mulheres jovens em geral (23,1%), dos homens jovens (13,9%) e dos homens negros (18,8%).
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“O afastamento das jovens da escola e do mercado de trabalho, em um percentual bastante superior ao dos homens, é fortemente condicionado pela magnitude da dedicação delas aos afazeres domésticos e às responsabilidades relacionadas à maternidade, sobretudo quando a gestação ocorre durante a adolescência”, ressalta o relatório.
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Os estados em que há mais desemprego entre as jovens negras são Pernambuco (36,7%), o Rio Grande do Norte (36,0%), Alagoas (34,9%), o Pará (33,7%) e Roraima (33,2%).
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“As cifras de redução da pobreza e de desigualdade no Brasil, nos últimos anos, são avanços importantes e internacionalmente reconhecidos pela OIT. A pobreza e a desigualdade continuaram diminuindo no Brasil apesar da crise. O Brasil nesse sentido se destaca no cenário internacional. [Mas] a questão do jovem é claramente um desafio”, disse a diretora da OIT no Brasil, Laís Abramo.

 Fonte: Agência Brasil / Todos pela Educação

"Não devia ter escrito o bilhete", diz professora que sugeriu "varadas"

Fonte: G1
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A professora de português de Sumaré (SP) que em junho deste ano enviou um bilhete aos pais de um aluno sugerindo o uso de "cintadas" e "varadas" como forma de educar o filho disse que não devia ter escrito a carta. A educadora Lilian Nazari contou ao G1 que também quer voltar a dar aulas na Escola Municipal José de Anchieta, de onde foi afastada da função. Ela defende o uso de "varadas" quando outras alternativas, como conversa e castigos, falham.
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Segundo a professora, o pai do aluno, o comerciante André Luis Ferreira Lima, agiu contra a lei ao divulgar o bilhete enviado por ela. “Isso é violação de correspondência”, afirma. Lilian alega que os pais tentaram transmitir a ela uma responsabilidade na educação do garoto que não lhe pertencia. “Eles não souberam resolver os problemas de comportamento do filho e passaram para mim, eu voltei para as mãos deles e o que fizeram? Jogaram para todo o Brasil”, conta.
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Problemas com o aluno
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A professora explica que escreveu o bilhete em um momento de aborrecimento com o aluno. “Ele colocou um papel escrito ‘sou gay, chute-me’ nas costas de um colega, eu me enfureci, fiquei muito transtornada, foi uma discriminação”, explica. Após a repercussão, ela se arrepende do envio do bilhete. “Eu concordo com os psicólogos, não adianta bater em um garoto aos 12 anos, tinha que ter feito antes, isso se resolve de pequeno. Eu não devia ter escrito o bilhete”, explica. De acordo com Nazari, o aluno já havia causado alguns problemas em sala de aula. “Ele se envolveu em brigas, escondia o caderno dos colegas, quebrava a caneta deles. Mandei muitos outros bilhetes para os pais e nunca tive resposta deles”, disse.
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Educação
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Nazari não tem filhos, mas recebeu algumas "varadas" da mãe quando criança e aprova a atitude. “Era com uma vara fininha e ela dava três batidas nas minhas pernas, na hora ardia, mas dali a pouco os vergões passavam e eu deixei de aprontar”. Ela recorda que apanhou até os sete anos de idade e depois não foi mais necessário.
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Mudança na rotina
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 Após a divulgação do bilhete no dia 25 de junho a educadora afirma que não deixou de lecionar, ao contrário do que informou a Secretaria da Educação de Sumaré em junho, mas foi transferida para outro colégio. Além da mudança do local de trabalho, ela também passou a receber o apoio de alunos e ex-alunos. “Eles me abraçam na rua, falam que eu agi certo, agora por onde eu passo noto que as pessoas ficam comentando”, conta. Cinco advogados entraram em contato com Nazari oferecendo os serviços caso quisesse entrar com ações judiciais contra o colégio, o secretario da educação de Sumaré e os pais do aluno. “Não quero entrar na Justiça, não pretendo me indispor com ninguém, quero paz”, diz.
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O G1 entrou em contato com a Secretaria de Educação mas até o fechamento desta reportagem não obteve resposta.

Professora acusa escola de omissão em crime de racismo

Por Joana Soars
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Uma criança que sempre teve convicção de que é igual a todos os colegas de sala, de repente, é surpreendida por alguém que fala que ela é diferente dos outros por causa da cor da pele. A pequena D., de apenas 4 anos, agora questiona a mãe se ser negra é "feio". Isso porque a avó de um colega de escola teria reclamado, na frente da menina e de outras crianças da turma, que não gostou de o neto dela ter se apresentado na festa junina junto com uma "preta horrorosa".

O fato, que teria ocorrido no último dia 10, em uma escola particular de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, veio à tona a partir da denúncia de uma professora. A profissional pediu desligamento do colégio e acusa a escola de se omitir em relação à atitude racista. "Como educadora, não poderia aceitar essa situação e me senti obrigada a contar para a mãe da minha aluna e sair da escola", contou a professora Denise Cristina Aragão, 34. A diretora da unidade de ensino foi procurada por dois dias. Ela negou o fato, mas se recusou a dar entrevista.

Os pais da criança alvo do preconceito registraram a ocorrência e decidiram retirar a menina do colégio. "Não posso admitir que insultem minha filha de uma forma tão agressiva. Já sofri muito preconceito por ser negra, mas jamais imaginei que fariam isso com uma criança indefesa", disse a mãe de D., Fátima Adriana Souza, 41, que foi comunicada do ocorrido pela professora. Fátima avisou que irá acionar a autora do preconceito na Justiça. Ela não procurou a escola. Fátima Souza disse que foi orientada por um advogado a não ir ao colégio.

O fato. A garota foi escolhida pela professora para ser a noiva na quadrilha da escola, no último dia 7. O colega, cuja a avó teria feito a declaração racista, formou par com ela na festa.

Segundo a professora Denise Cristina, dois dias após a festa junina, a avó do menino foi ao colégio para reclamar da escolha do par. A professora contou que as crianças estavam assistindo a um filme em uma das salas, quando a senhora chegou gritando: "Você não devia ter colocado aquela negra horrorosa para dançar com meu neto. Tenho certeza de que ninguém quis dançar com ela. Minha vontade era acabar com a festa na hora", teria dito a mulher, segundo a versão da professora.

Ainda de acordo com Denise Aragão, várias crianças presenciaram a discussão e perceberam que a mulher estava se referindo a D. Uma outra funcionária da escola confirmou a história, mas ela preferiu não se identificar por medo de retaliações.


Trauma - Garota fará tratamento psicológico em agosto
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A menina passará por tratamento psicológico em agosto. A mãe dela, Fátima Souza, procurou a ONG SOS Racismo, que vai ajudar a família com assistências jurídica e psicológica. Fátima conta que, logo após o episódio, D. teve crises de vômito e passou a não dormir direito. Segundo a mãe, a menina tem chorado com frequência.
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"A criança não consegue racionalizar a situação, mas apresenta sintomas físicos como o vômito", explicou a terapeuta infantil Simone Lacerda.
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Para evitar o trauma, disse a especialista, qualquer criança nessa situação precisa de apoio familiar para entender que ser negra não é algo que a diferencia dos outros. "D. recebeu de forma violenta o olhar de um adulto preconceituoso".  Segundo a psicóloga, a escola teria um papel fundamental para desfazer a situação. "Seria a hora de educar e esclarecer as crianças sobre o preconceito e deixar claro que houve uma atitude errada". (JS)
.Delegacia - Inquérito. A ocorrência foi registrada na 4ª Delegacia de Contagem. Será aberto um inquérito para apurar as circunstâncias do fato e as partes serão chamadas a depor no próximo dia 8 de agosto.
Minientrevista. "Minha filha tem que ter orgulho da cor dela"
Fátima Souza - mãe da criança ofendida
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Como a senhora soube do que aconteceu?

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A direção da escola não me falou nada. No dia seguinte ao ocorrido, levei minha filha para a aula normalmente e ela vomitou muito na escola. Só depois a professora me procurou e contou que tinha pedido demissão porque a minha filha tinha sido insultada e a escola não tomou nenhuma atitude.
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Como a sua filha reagiu a tudo isso?
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Ela entendeu tudo. Chegou em casa muito inquieta e não conseguia dormir. Quando perguntei se tinha acontecido algo, ela me falou que não queria falar sobre a avó do coleguinha que a xingou. Agora, ela não gosta quando a chamo de ‘nega preta’ porque ela acha que é feio. D. não quer nem pensar em voltar para a escola.
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O que a senhora pretende fazer?
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Fui à polícia e vou entrar com ação na Justiça. Não posso deixar que façam isso com minha filha, que é uma criança linda e feliz. Ela foi exposta diante das outras crianças e só ela é negra. É um absurdo a escola, que tem o papel de educar, se omitir. Minha filha tem que ter orgulho da cor dela. (JS)
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Fonte: O Tempo (MG)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

2012 | Crianças e Adolescentes do Brasil

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O estudo analisa os últimos 30 anos de violência homicida no país e verifica profunda mudança nos padrões históricos. Aponta as principais características da evolução dos homicídios em todo o país: nas 27 Unidades Federadas, 27 Capitais, 33 Regiões Metropolitanas e nos 200 municípios com elevados níveis de violência. Em planilhas anexas nesta página, constam os dados da violência dos 5565 municípios brasileiros.
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Contato

FLACSO: Cristiane Ribeiro
cristianeribeiro@flacso.org.br
+55 (21) 8424-1573
Julio Jacobo Waiselfiz
mapadaviolencia2@gmail.com
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terça-feira, 17 de julho de 2012

Governo, greve e professores.

Escola fecha turma e deixa crianças sem ter onde estudar


 
Por Natália Oliveira
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Nove alunos do primeiro ano de uma escola estadual de Belo Horizonte correm o risco de perder o ano, já que a turma em que estão matriculados será extinta por ter menos de 25 alunos. A direção da Escola Estadual Desembargador Mário Mattos, no bairro Padre Eustáquio, na região Noroeste da capital, convocou os pais para uma reunião na última sexta-feira e orientou a todos a procurarem outra escola para as crianças, de 6 e 7 anos. Inconformados, eles recorreram à Secretaria de Estado de Educação, que promete entrar hoje no caso. Durante a reunião, os pais receberam uma lista com três sugestões de colégios. As escolas estudais sugeridas pelos funcionários são a Padre Eustáquio, a Pedro Dutra e a Francisco das Chagas Souza de Albuquerque. As duas primeiras ficam no bairro Padre Eustáquio, e a terceira, no bairro Gameleira, na região Oeste da capital. Embora tenha indicado as instituições, a escola não garantiu a vaga dos alunos. Os pais reclamam de que as turmas já estão cheias e que elas ficam longe da atual escola.
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"Não posso levar meu neto para uma escola longe da minha casa e não posso pagar ensino particular. Se a turma fechar, ele vai ficar sem estudar", disse o aposentado Carlos Mota, 78. "Eles nos pediram para buscar o histórico dos nossos filhos e procurar outras três escolas para matricular as crianças, mas não estamos conseguindo vagas", contou a enfermeira Patrícia Vaz, 40.
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Reunião. Com o anúncio da necessidade de desligamento das crianças, os pais se reuniram e foram ontem ao colégio conversar com a diretora, identificada apenas como Rita. Eles foram também até a Superintendência Regional de Ensino Metropolitana B, responsável pela escola.
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Depois da manifestação, a assessoria da Secretaria de Estado de Educação informou que a decisão da direção de fechar a turma sem garantir vaga para as crianças foi equivocada. A assessoria disse ainda que irá impor a adoção de turmas multisseriadas, com a união das crianças do primeiro ano com as do segundo ou do terceiro ano. Nenhum representante da escola quis se manifestar. À espera de uma solução por parte do governo, os pais prometem agir. "Vamos conversar com pais que têm os filhos em outras escolas e tentar trazê-los para a Mário Mattos. Não queremos tirar nossos filhos de uma escola que é boa nem juntá-los aos mais velhos", disse a administradora Damaris Aquino, 40.
Saída - .Especialistas condenam uso de aulas unificadas
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A proposta do Estado para evitar a saída dos estudantes da Escola Estadual Desembargador Mário Gonçalves Mattos é a criação de turmas multisseriadas. Os meninos do primeiro ano, no início do processo de alfabetização, poderão então dividir o mesmo espaço e o mesmo professor com crianças do segundo e do terceiro ano, ambos em estágios avançados. A possibilidade é vista com maus olhos por especialistas.
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"Os alunos do primeiro ano estão iniciando o processo de aprendizagem. Quando são misturados com crianças de séries mais avançadas, uma parte desse processo se perde", disse o professor de pedagogia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Antônio Carlos Gama.
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A coordenadora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE-MG), Beatriz Cerqueira, concorda. "Os estudantes já viram conteúdos diferentes e fica muito difícil para os professores conciliarem essas informações", afirmou. (NO)

Fonte: O Tempo (MG)

Cidadania?

Greve dos professores das instituições federais completa dois meses

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Nesta terça-feira (17) a greve de professores das instituições federais de ensino superior completa dois meses, com mais dificuldades entre o governo e docentes. Foi apresentada uma proposta de reajuste salarial pelos ministérios do Planejamento e da Educação, mas o Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), diz que ela não atende às demandas da categoria e pede sua rejeição. A paralisação acontece em 58 das 59 federais. A UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) é a única que não e entrou no protesto. A próxima reunião com o governo está marcada para o próximo dia 23. A intenção do Andes é “ampliar a paralisação”, recomendando a radicalização das ações da greve.
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Fonte: O Tempo (MG)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Eleições 2012: a Educação no centro da disputa

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Desde que o Brasil voltou a eleger seus governantes pelo voto direto, a educação sempre figurou entre as prioridades de todos os candidatos a qualquer cargo executivo. Passados a campanha e o dia da votação, porém, a extensa lista de soluções genéricas acaba, invariavelmente, engavetada. E as dificuldades em sala de aula, continuam as mesmas. As eleições deste ano na cidade de São Paulo têm uma chance rara de mudar essa história. Pela primeira vez, o tema está realmente no centro do debate político. Entre os candidatos à prefeitura paulistana estão três homens da educação: o ex-ministro Fernando Haddad (PT), o ex-secretário estadual Gabriel Chalita (PMDB) e o ex-secretário municipal Alexandre Schneider (PSD), que concorre como candidato a vice de José Serra (PSDB). O site de VEJA analisou o que cada um deles fez – e deixou de fazer – quando esteve à frente da gestão educacional em cada uma das três esferas de poder. Confira em detalhes na arte ao fim do texto.
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Acesse aqui para ver os infográficos
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Com tamanha concentração de especialistas em educação no mesmo pleito, não é de admirar que o primeiro embate direto entre os candidatos desta eleição tenha se dado justamente em torno de um dos mais graves problemas da capital: a falta de creches. Haddad e Schneider travam uma guerra de versões a respeito de um pedido feito pelo então secretário municipal ao ministro para inclusão da cidade em um programa federal de construção de creches. O petista diz não ter recebido a solicitação, mas Schneider assegura tê-la enviado. De certeza, há em São Paulo uma fila de 123.000 crianças esperando por uma vaga. A gestão de Schneider, sem apoio do governo federal, avançou, mas não cumpriu a promessa de zerar o déficit de vagas. Além de afetar a rotina das mães que precisam trabalhar, a dificuldade de acesso ao Ensino Infantil tira das crianças um direito fundamental, garantido por lei. Até os 6 anos de idade, a criança desenvolve habilidades como a coordenação motora, que a ajudará mais adiante a desenhar as letras na etapa de alfabetização. “A educação é cumulativa”, explica Priscila Cruz, diretora-executiva do movimento Todos pela Educação. “Os governos não percebem a importância estratégica do Ensino Infantil para a educação. O resultado é que vamos perdendo as crianças ao longo da trajetória escolar. Sem base, elas ficam cada vez mais excluídas do aprendizado.”
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Matheus Muniz da Cruz, de 5 anos, é o retrato desta realidade. Ele está na fila da rede municipal de ensino desde 1 ano de idade. Desesperada, a mãe dele, a empregada doméstica Maria da Conceição Muniz, de 26 anos, recorreu até ao Conselho Tutelar, mas só conseguiu vaga em uma unidade muito distante de Cidade Ademar, periferia da zona sul da cidade, onde mora. “Não tenho quem fique com ele em casa. Sou obrigada a pagar escola particular. São 140 reais por mês e isso pesa no orçamento”, diz Maria da Conceição.
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Com acurado senso de oportunidade, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB), assinaram na última quarta-feira um convênio para ampliação do programa Creche Escola na capital paulista. O ato foi anunciado no último dia permitido pela lei eleitoral para transferência de recursos dos estados aos municípios para execução de obras. O governo do estado destinou 40 milhões de reais para a construção de vinte centros de educação infantil, criando 4.000 novas vagas. Em novembro de 2011 um convênio havia destinado o mesmo valor para a implantação de 22 centros, que beneficiaram outras 4.000 crianças. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, dezesseis dessas unidades estão com obras em andamento.
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Uma das promessas da campanha de Gilberto Kassab em 2008, transformada depois em meta de governo, era zerar o déficit de vagas em creches. A cinco meses do fim de seu mandato, a proposta está longe de ser cumprida. Em entrevista ao site de VEJA, a secretária municipal de Educação, Célia Regina Falótico diz que não tem como garantir a solução do problema até o fim do ano. Kassab também já não parece contar em ver a meta cumprida em seu mandato. “Temos a humildade de entender que falta muito para ser feito. Espero que as nossas ações nesses oito anos sirvam de incentivo para que as administrações futuras possam manter o ritmo”, afirmou o prefeito.
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Mas a falta de creches não será o único desafio na área da educação a ser enfrentado pelo próximo prefeito. O site de VEJA ouviu especialistas que apontaram os maiores gargalos da rede municipal de ensino.
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Papel do prefeito - A Constituição determina que os municípios atuem no Ensino Fundamental e na Educação Infantil. Os estados cuidam do Ensino Fundamental e Médio e o governo federal, do Ensino Superior. O que falta no Brasil é uma ação integrada entre os poderes – como prova o bate-boca entre o ex-ministro Haddad e o ex-secretário Alexandre Schneider. “Há uma dificuldade de articulação entre estado e município para atendimento aos estudantes”, afirma o pedagogo Ocimar Munhoz Alavarse, doutor em Educação e professor da Universidade de São Paulo (USP).
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Em São Paulo, o estado transferiu para os municípios 1,5 milhão de alunos da rede estadual durante a gestão de Gabriel Chalita. Hoje, a prefeitura da capital é responsável por 44% dos alunos do Ensino Fundamental I (até a 5ª série) e 37% dos estudantes do Fundamental II (até 9ª série). “A criança não é estadual ou municipal. Ela é brasileira e paulistana”, lembra Priscila Cruz, do Todos pela Educação. A rede municipal de ensino de São Paulo é o maior sistema do Brasil, com 931.463 alunos, 2.015 escolas de Educação Infantil e 545 escolas de Ensino Fundamental.
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Victoria Carvalho Vitor, de 14 anos, é uma dessas paulistanas. Aluna da 7ª série, ela estuda no Centro de Educação Unificado (CEU) do Parque Anhanguera, no extremo norte da cidade de São Paulo, a mais de 30 quilômetros do centro da cidade. O CEU foi um modelo criado pela ex-prefeita Marta Suplicy (PT) e ampliado por Serra e Kassab. A ideia é oferecer dentro da escola opções de esporte, lazer e cultura para as crianças. O projeto, no entanto, esbarra em aspectos práticos, como o horário das aulas do contra turno e a falta de transporte escolar.
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“Tem aula de violão, piscina, ballet e teatro, mas eu não aproveito nada disso porque a minha casa é longe e o tio da perua escolar não pode me levar e buscar fora do horário normal das aulas. Minha mãe teria de pagar a mais para ele”, conta Victoria. Ela e a irmã, de 9 anos, estão cadastradas na fila de espera do transporte escolar gratuito fornecido pela prefeitura, mas até hoje não foram contempladas. “Minha mãe tem medo de a gente ficar andando por essas ruas sozinhas.”
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Célia Regina Falótico: 'A rede pública tem limitações'
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Em entrevista ao site de VEJA, secretária municipal de Educação de São Paulo admite que número de crianças sem creche é alto, e não garante solução. Em abril passado, seis anos após assumir o comando da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, Alexandre Schneider deixou a pasta para, meses depois, tornar-se candidato a vice-prefeito na chapa do tucano José Serra. Até então secretária-adjunta, a professora Célia Regina Falótico assumiu a pasta com o desafio de acabar com a falta de vagas em creches na cidade de São Paulo – uma das promessas da campanha do prefeito Gilberto Kassab e um dos gargalos da educação na maior cidade do país. Em entrevista ao site de VEJA, ela admite, porém, que a cinco meses do fim da atual gestão, a missão de tirar 123.000 crianças da fila de espera por uma vaga ficará para o próximo governo. “Precisamos zerar a demanda em relação às creches e universalizar o atendimento. Acredito que a próxima gestão terá todas as condições para dar continuidade a esse processo”. Hoje, 1.174 creches atendem 206.400 crianças de 0 a 3 anos em toda a capital paulista. Em 2005, eram 59.000 crianças matriculadas em unidades. Apesar da expansão da rede municipal, ainda faltam aproximadamente 713 unidades educacionais para zerar o déficit. Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida pela secretária ao site de VEJA:
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Quais os principais desafios que o próximo prefeito terá em relação à educação em São Paulo?
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Ainda temos muitos desafios pela frente. A questão das vagas na creche é uma das principais. Precisamos zerar a demanda e universalizar o atendimento. Acredito que a próxima gestão terá todas as condições para dar continuidade a esse processo e, quem sabe, chegar a um atendimento universalizado. Esse é um grande desafio, mas não é o único. Temos também de melhorar a formação e requalificação de professores, que é uma questão extremamente importante porque as mudanças que ocorrem em todos os segmentos da sociedade são muito rápidas e nós precisamos correr atrás disso. A formação dos professores sempre estará na nossa pauta de prioridades.
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Como zerar o número de crianças que ainda estão fora das creches?
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Hoje temos cerca de 123.000 crianças com até 3 anos que buscam vagas em creches na cidade, segundo nosso último levantamento, de 31 de março. Estamos construindo novos prédios, alugando outros - onde eles existem -, e formalizando convênios com instituições que possuem prédios próprios ou que se dispõe a alugar locais, desde que adequados às nossas necessidades. Estamos trabalhando de todas as maneiras para zerar ou pelo menos reduzir este número, que é muito alto.
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Como está a questão do turno da fome na rede municipal?
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Isso está diretamente relacionado à conciliação da jornada de trabalho dos professores, especialmente os de educação infantil, com a jornada das escolas. Há um tempo, as EMEIS [Escolas Municipais de Educação Infantil] funcionavam em três turnos diários de quatro horas, com o turno da fome. Isso foi erradicado. Temos hoje todas as escolas de educação infantil funcionando em turnos de seis horas diárias. Precisamos adequar a jornada dos professores para otimizar o trabalho, porque hoje precisamos de três professores para cobrir uma jornada de doze horas para duas turmas. O mais adequado é estender a jornada do docente e fazer com que um professor só cubra um turno inteiro.
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Muitas mães reclamam do turno de seis horas, porque elas têm uma jornada maior de trabalho, o que as impede de buscar ou levar os filhos para a escola. Temos um turno de dez horas para crianças de 0 a 3 anos e 11 meses. Assim, a mãe tem todo o conforto possível. Para a educação infantil, que são as crianças de 4 e 5 anos, a jornada que era de quatro horas passou a ser de seis. Neste momento, para garantir a universalização do atendimento que nós nos propusemos a fazer e efetivamente conseguiremos até o final de 2012, não há como estender a jornada além de seis horas. E além disso, uma criança dessa idade, com seis horas de escola, está bem atendida. A família tem que buscar algumas alternativas, porque quando a criança seguir para o ensino fundamental, a jornada será de cinco horas. Na cidade de São Paulo, a jornada de todas as modalidades de ensino já foi estendida. O nosso objetivo é atender cada vez melhor as famílias, mas temos mais de um milhão de alunos e a rede física tem limitações. Para chegar ao ensino integral, ainda serão necessários alguns passos.
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As escolas têm estrutura para o turno integral?
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No ensino fundamental, em todas as escolas em que existe espaço disponível, oferecemos um programa no contraturno para crianças em situação de vulnerabilidade ou que precisam de recuperação. Eles têm a oportunidade de ficar até 7 horas na escola, duas além da jornada regular. Mas muitas crianças não conseguem participar dessas atividades por morarem longe das escolas. Nas nossas escolas, oferecemos lanches e almoço, portanto se a criança estiver matriculada em uma programação cujos horários sejam compatíveis, ela pode permanecer na escola, não há necessidade de voltar para casa. Ela vai ter gente disponível para oferecer as aulas de ballet, judô, natação, várias atividades que efetivamente existem nos CEUS, além do ensino regular. Às vezes o que acontece, no entanto, é que os horários não são exatamente encaixados. Nesses casos, o que se orienta é que se as atividades extracurriculares começam às 16h e a criança só teve aula até às 13h, ela pode ir para casa para descansar, trocar de roupa. Se ela mora muito longe ou se a família não pode trazer, muitas vezes a criança acaba não participando das atividades. Mas não é habitual. O normal é que a escola consiga encaixar os horários para atender o maior número de crianças nesse contraturno. Isso tem acontecido muito.
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Fonte: Veja.com

Editorial: Recursos para a Educação

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Depois de uma longa discussão a Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade o Plano Nacional de Educação (PNE) para os próximos 10 anos. O principal destaque é a meta de gastos com Educação, de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), a ser atingida ao final do PNE, sendo 7% em cinco anos. Isso significa dobrar os atuais gastos públicos com Educação, que se situam em 5%, e constitui-se num importante reforço para aqueles que acham que a Educação é o principal gargalo para o desenvolvimento econômico.
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No entanto, algumas dificuldades podem aparecer na sua execução. A primeira é que os investimentos públicos referem-se aos gastos das três esferas, municipal, estadual e federal. Nada é dito acerca da responsabilidade de cada uma delas, o que preocupa especialmente no caso dos municípios e estados que já têm a obrigação constitucional de gastar pelo menos 25% de sua receita tributária liquida no setor. Um sintoma das dificuldades financeiras desses dois níveis de governo é que muitos já declararam não ter como pagar o piso nacional de salários para os Professores de sua rede. A segunda refere-se ao fato de que até hoje nada foi dito acerca de a quais que setores serão transferidos os recursos para a Educação. Preocupa também a vinculação de gastos a um item como o PIB. O que acontecerá num futuro em que os gastos com Educação já não forem tão prioritários como agora, mas os gastos absolutos continuarem a crescer? Afinal, precisaríamos de um plano nacional de saúde, de saneamento e assim por diante.
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O PNE estabelece 20 metas educacionais que o país deverá atingir no prazo de 10 anos, tais como Educação pública, Creches, salário de Professores, erradicação do Analfabetismo, oferta de Ensino em tempo integral e outras. O problema é que essas metas foram estabelecidas de uma forma frouxa, assim como os meios para atingi-las. Não se definiu também o custo de cada uma dessas metas e suas respectivas proporções no total acrescido. Devem-se também estimar os gastos com pessoal(aumento de salários e novas contratações) e investimento, já que o primeiro tende-se a incorporar de forma definitiva aos orçamentos da Educação. Assim, será necessária uma nova discussão, na qual o papel de cada meta será detalhado e orçado e definida a participação de estados e municípios. Afinal, estamos falando de um crescimento dos gastos de R$ 207 bilhões (5% do PIB de R$ 4,1 trilhões), o que é um enorme volume de recursos. Para ter uma noção do que representa esse valor, o orçamento do Ministério da Educação (MEC) é de R$ 85 bilhões.
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Deve-se reconhecer que o Brasil tem feito um grande esforço para aumentar seus gastos públicos com Educação, tendo passado de 3,8% do PIB em 2000 para 5,3% em 2008, de acordo com a OCDE. A mesma agência nos informa que três países – Islândia, Coreia do Sul e Israel –, que são os líderes de gastos públicos com Educação, não atingem 8% do PIB. Isto nos leva a pensar se não estamos indo longe demais em vista de outras áreas carentes que poderiam também se beneficiar. Infelizmente, o PNE não tem um bom diagnóstico de nossos grandes problemas na área educacional, quais sejam, a má qualidade do Ensino fundamental, as dificuldades do Ensino médio no que se refere à evasão e qualidade, e a baixa taxa de Escolarização do Ensino superior. O melhor entendimento dessas questões levaria a uma alocação mais eficiente.
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Fonte: Estado de Minas (MG)

Escolas terão mais 300 câmeras

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Alunos, pais e Professores da rede pública de Ensino de Porto Alegre terão uma garantia a mais de segurança até o final do ano. Este é o prazo, conforme anúncio da prefeitura, para incrementar o monitoramento das 96 Escolas municipais com 300 câmeras. Ao todo, serão 830 pontos vigiados 24 horas por dia.
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A instalação de câmeras nos estabelecimentos de Ensino faz parte de um plano da prefeitura de ampliar o videomonitoramento em toda a cidade. A ideia é ter, até a Copa do Mundo de 2014, uma central que receba imagens de todos os equipamentos existentes na Capital, seja de Escolas, do trânsito ou das ruas.
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– O prefeito José Fortunati já solicitou projeto. O objetivo é criar uma central de inteligência na cidade – afirma o diretor-presidente da Procempa, André Imar Kulczynski.
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A estratégia inclui a instalação de uma cerca virtual num dos mais frequentados parques da Capital, que também terão ampliadas suas redes de monitoramento por câmeras de TV. Segundo a secretária municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana, Sônia d’Ávila, até novembro haverá mais 25 unidades, num investimento de R$ 800 mil.
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O acompanhamento das ocorrências nos parques Farroupilha e Marinha do Brasil, que exigem ações da Guarda Municipal e Brigada Militar, além de outros serviços públicos, fará parte, até o final deste ano, do Centro Integrado de Comando (Ceic) anunciado pela prefeitura no fim de junho. Com essa ampliação, estará concluído o cercamento eletrônico dos dois parques, afirma a secretária Sônia d’Ávila. Conforme informações do gerente de Operações da Procempa, Lafaiete Everardi dos Santos, o projeto de ampliação das redes nos parques Marinha e Farroupilha prevê a colocação de mais 25 pontos. Hoje, há 12 câmeras na Redenção e no Marinha (seis em cada parque) e, até o fim do ano, serão 37 pontos nos dois parques.
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A rede de monitoramento da cidade já conta com outras 61 câmeras, instaladas, da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que monitoram o trânsito na cidade.
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– Porto Alegre estará à frente de outras capitais, acompanhando o Rio de Janeiro e cidades da Europa – diz o comandante da Guarda Municipal, Eliandro Oliveira de Almeida.
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Inspiração no Central Park de Nova York
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A opinião do integrante do Conselho de Usuários do Parque Farroupilha, Roberto Jakubaszko, é favorável ao monitoramento nos parques e nas Escolas, mas ele espera a presença do policiamento ostensivo.
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– O policiamento é a energia que todo sistema de segurança precisa – diz ele, que cita o exemplo do Central Park de Nova York, onde, segundo ele, “quando alguém joga um papel no chão, já vem o guarda para dar uma advertência ou multar”.
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Fonte: Zero Hora (RS)

sábado, 14 de julho de 2012

10%: pouco e muito

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por Cristovam Buarque*
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O Brasil, sexta economia do mundo, tem renda anual de R$ 4,3 trilhões. De acordo com o Banco Central, o valor das dívidas corresponde a 43,3% da renda das famílias no ano. O governo abre mão de aproximadamente R$ 116 bilhões, quase 3% do PIB, sob a forma de incentivos fiscais todo ano. Desse montante no ano passado, R$ 20 bilhões só na indústria automobilística.
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Somente os Poderes Legislativo e Judiciário necessitam de quase R$ 30 bilhões por ano. Estima-se que os investimentos da Copa, Olimpíadas, Trem Bala e Belo Monte vão exigir R$ 167 bilhões, ao longo de alguns anos. O gasto com o INSS é da ordem de 7,2% do PIB e os serviços da dívida pública consomem 5,1% do PIB.
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Há recursos para gastar 10% do PIB com educação (4,9% além dos atuais 5,12%), bastaria mudar as prioridades. A questão central é se há prioridade maior para a educação, em comparação com os demais setores. Mas o menosprezo brasileiro com a educação é cultural. Por alguma razão na formação do espírito nacional, não consideramos educação como indicador de riqueza de uma pessoa, nem do conjunto dos brasileiros. Ser culto não é visto como um indicador de status social. Os educadores e os filósofos são poucos valorizados.
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Mesmo quem paga a escola privada do filho, em geral não busca a educação em si, investe no salário adicional que ele terá no futuro graças ao estudo. Politicamente, no Brasil, tudo que é para a maioria pobre fica abandonado, depois que os relativamente ricos resolvem seus problemas. E os filhos dos ricos podem pagar a escola privada, recebendo do governo cerca de R$ 4 bilhões de dedução do Imposto de Renda por ano.
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É assim com a saúde, o transporte, a segurança e também com a educação, que caracterizam a nossa maneira de ser. O desprezo para com a educação é também uma questão de imprevidência e de preferência pelo imediatismo.
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Educação é uma poupança fundamental para o futuro do país e de cada família, mas que não permite a satisfação do consumo no presente. Orgulha-nos termos a 6ª maior renda nacional do mundo, e não nos envergonha sermos o 88º país em educação; nem percebemos a ameaça que esta classificação provoca para o futuro.
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É possível encontrar recursos para investir até 10% do PIB na educação, se eliminarmos privilégios e desperdícios e mudarmos as atuais prioridades, pois o percentual traria mudanças radicais na sociedade e na economia brasileiras, inclusive no aumento do valor e na qualidade do PIB, derrubando os muros do atraso e da desigualdade.
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Ainda se não quisermos mudar as prioridades, poderemos pensar em outros instrumentos fiscais ou mesmo em empréstimo provisório para investir em educação.
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O problema, portanto, não é a falta de recursos, mas o risco de termos excesso de recursos para a educação. Se investirmos 10% no atual Sistema de Educação, correremos o risco de desperdiçar dinheiro.
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Se todo este recurso for aplicado nas atuais unidades de ensino, o sistema não seria capaz de absorvê-lo com eficiência. Serão comprados equipamentos que ficarão engavetados e haverá aumento dos salários sem a correspondente elevação na qualificação e na dedicação dos professores.
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O problema principal não é onde conseguir os 4,9% do PIB que faltam para chegar aos 10% previstos na meta 20 do segundo PNE – Plano Nacional de Educação. O problema central é como aplicar estes recursos, depois de identificar as fontes.
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Uma maneira eficiente de investir na educação seria implantar um Novo Sistema de Educação, com paulatina federalização da educação de base; criação de uma carreira nacional do professor, com salário de R$ 9 mil por mês para os docentes desta nova carreira, que ficariam sujeitos à avaliação que poderá ocasionar demissão; e adoção da educação em horário integral, em escolas confortáveis, bonitas e bem equipadas. A implantação deste Novo Sistema, ao longo de 20 anos, requererá, no final, 6,4% do PIB.
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O segundo PNE aprovado pela Câmara de Deputados é um conjunto de intenções sem projetos, propostas e operacionalidade. A prova é que, ao invés de estimar seu custo, definiu-se arbitrariamente 10% do PIB para a educação, por coincidência o mesmo percentual que a PEC 169/1993 destinou para a saúde.
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O valor proposto pelo PNE II é pouco diante da riqueza da economia brasileira, mas é muito se for para aplicar no atual sistema, sem definições, sem mudanças e sem clareza.
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Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF
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Charge: Educação no Brasil

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Fonte: http://www.amargosanoticias.com/entretenimento/charge-educacao-no-brasil.html

Faculdade, o melhor negócio

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PAULO GHIRALDELLI JR.
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As universidades federais vão mal. O seu aparato físico está deteriorado. Salas de aulas, laboratórios, bibliotecas e até mesmo internet estão na lista de coisas que as universidades federais não possuem em condições nem mesmo razoáveis.
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Em um artigo anterior aqui na Folha, perguntei se não estamos caminhando para um lugar que ninguém deseja individualmente, mas no qual vamos acabar aportando se a presidente Dilma, pessoalmente, não criar um novo rumo: as universidades federais irão cumprir a função de "alfabetização hipertardia", transformando-se em "colegiões" substitutos do ensino médio público atual, abandonado pelo governo.
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Volto a dizer isso, pois o que eu temia ganhou mais força: em meio à greve dos professores de todas as universidades federais, e tendo o ministro Mantega afirmado que os funcionários públicos irão "quebrar o Estado" (!), o Senado aprovou no dia 27 de junho um enorme repasse de verbas para cerca de 500 instituições particulares de ensino, uma parte delas de duvidosa qualidade. Ora, por que elas foram premiadas? Simples: elas não pagaram seus impostos e, então, o Senado achou por bem incentivar a sonegação.
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Eis a lógica ilógica: "Não pagou? Ah, sem problema, ofereça aí umas bolsas (sem fiscalização) para o famoso ProUni, e liberamos aqui os R$ 15 bilhões para vocês". O ProUni nunca foi boa coisa. Pode-se gostar dele por ingenuidade. Mas, em termos de política educacional, trata-se de um tiro pela culatra. O MEC não o fiscaliza corretamente. Mesmo que fizesse isso, não teria o que comemorar.
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Colocando na ponta do lápis os gastos e os ganhos, veríamos que ele não é vantajoso para a população ou para o governo. Ele só é bom para o empresário incompetente ou desonesto. Aliás, a própria política do governo Lula para o ensino superior prova isso. Por um lado, ela teve o ProUni. Por outro, o Reuni, um programa de expansão das vagas no ensino superior público. Bastaria o governo não ficar perdoando quem não paga imposto e, arrecadando corretamente, usar o dinheiro para levar adiante o Reuni de uma maneira mais responsável. Não estaríamos vivendo tão medrosos a respeito do futuro da universidade pública brasileira, como ocorre agora.
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Por qualquer matemática sadia, o ProUni anula os benefícios do Reuni. Se a presidente Dilma seguir o caminho apontado pelo Senado --pela brecha do ProUni--, teremos em política educacional um Brasil de ponta cabeça.
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Qual dono de faculdade irá, daqui para frente, pagar impostos, se ele sabe que, deixando a dívida crescer, pode dobrar facilmente o Legislativo e, então, pressionar o Executivo para continuar irresponsável?
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O ProUni se tornou, como não poderia deixar de ser, uma forma de avisar a todos que o melhor negócio, no Brasil, talvez não seja montar uma igreja, como comumente se diz, mas abrir uma faculdade.
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A diferença é que a igreja, para dar certo, tem de dar certo, e a faculdade, para dar certo, tem de dar errado. Dando errado, o ProUni a salva e dá condições ao empresário de araque para ampliar o negócio.
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PAULO GHIRALDELLI JR., 54, é filósofo, professor da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e autor de "As Lições de Paulo Freire" (Manole)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Carlos

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Em homenagem a Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
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E agora, Senhor Carlos Drummond de Andrade?
Pa-ra-ty acabou,
o pessoal foi embora
os escritores pegaram o caminho da roça
os falsos escritores também
os leitores foram lá fingir
os falsos leitores também
Você que tem nome:
O maior poeta de Minas Gerais e do Brasil
um bom homem,
que amava e protestava com e sem palavras?
E agora, Drummond?
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Está no céu
com os seus
cheio de amor
sem dor,
pernas cruzadas,
não precisa de nós aqui
tampouco destes palhaços da burguesia
és a eternidade
Está com tudo.
E agora, Drummond?
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Durma com essa:
aqui ainda roubam sem dó
os políticos são os mesmos
os delinquentes ficaram mais jovens
a cocaína virou crack
a polícia é milícia
a Constituição é um mito
tem muita gente dormindo pelas ruas
passando muita fome
sem a chave de casa
também não existem tantas portas
os rios estão secando
o mar não está para peixe
e as mineradoras já acabaram com a sua e com as outras Itabiras
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E agora, Drummond?
Se o senhor voltasse,
gritasse?
Gemesse como mandou
tocasse em algo
cantasse
fizesse mais poesia
lançasse mais livros
utilizasse sua biblioteca
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Mas o senhor morreu.
Virou estátua
está sozinho na praia
só no dia
também no escuro.
sem sala
lugar para encostar.
Sentado apenas...
Até roubarem seus óculos
Fique quieto por aí.
certamente está muito bem acompanhado
Não se preocupe para onde ir.
Numa boa, senhor Drummond:
nós jamais lhe merecemos.
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Lúcio Alves de Barros

A constituição como mito e verdade

Em tempos de eleições: Todo cuidado é pouco

quarta-feira, 4 de julho de 2012

E o salário óh!

Escola deverá ter lista com as pessoas autorizadas a entrar

BRASÍLIA. O Senado aprovou ontem projeto que obriga as escolas de ensino básico a registrar o nome das pessoas autorizadas a ingressar no estabelecimento de ensino além dos pais ou responsáveis legais dos alunos. O texto, aprovado pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte, visa a aumentar a segurança nas escolas públicas do país.
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O projeto modifica o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para transformar em obrigatoriedade a identificação das pessoas. Ele foi apresentado ao Senado, no ano passado, depois do massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro - que resultou na morte de 12 crianças por um ex-aluno da escola. Relator do projeto, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse que a mudança dará maior segurança às escolas para evitar que, "no ambiente escolar, sejam perpetrados crimes que possam colocar em risco a integridade de alunos e profissionais da educação".
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"Para a direção da escola, o fato de saber quem pode ter acesso às suas dependências também implicará ganhos pedagógicos, com a aproximação entre a escola e a família do educando". O projeto foi aprovado em caráter terminativo e segue para votação na Câmara se não houver recurso para ser votado no plenário do Senado.
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Detector  - De metais. Previstos pela Lei nº 10.204/2011, deveriam ser instalados na rede municipal de BH no início deste ano. Mas a Secretaria Municipal de Educação informou que a instalação ocorreria ao longo do semestre.
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Projeto
Creches terão de abrir nas férias escolares
. Brasília. A Comissão de Educação do Senado aprovou outro projeto em caráter terminativo que obriga as escolas de educação infantil a oferecer atividades pedagógicas aos alunos no período de férias escolares. Os pais ficam obrigados a informar, no ato da matrícula, se vão optar pela frequência da criança durante as férias. As atividades serão oferecidas se os alunos que optarem pela frequência nas férias forem mais que 50% do total dos matriculados na escola. O objetivo é atingir, principalmente, crianças matriculadas em creches.
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Pelo texto, as atividades pedagógicas devem ser realizadas no mesmo horário dos dias letivos, sem prejuízo aos direitos trabalhistas dos professores e servidores do colégio – que têm que receber a mais. "Muitas vezes, as férias dos pais ou responsáveis em seus trabalhos e empregos não coincidem com as férias escolares", disse o senador José Agripino Maia (DEM-RN), relator do projeto.
Proposta estende ProUni a estudantes de cooperativas -
Brasília. A Comissão de Educação do Senado aprovou ontem projeto que estende aos estudantes que tenham cursado o ensino médio em cooperativas educacionais as bolsas de estudo do Programa Universidade para Todos (ProUni).

Ao justificar o projeto, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse que as escolas mantidas por cooperativas não têm finalidade lucrativa – por isso as mensalidades são normalmente pagas por meio da prestação de serviços dos pais.

"Muitas (dessas escolas) foram criadas para oferecer ensino onde a oferta pública, sem tocar na questão da qualidade, era insuficiente até mesmo em termos de vagas", disse o senador, que relatou a matéria na comissão. Como o projeto foi aprovado em caráter terminativo pela comissão, segue para votação na Câmara se não houver recurso para ser votado no plenário.
Fonte: O Tempo (MG)