terça-feira, 1 de maio de 2012

Um ano depois, martírio dos estudantes do Vale do Rio Doce continua


Foto de Leonardo Morais
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Percorrer vários quilômetros a pé, sob sol e chuva, ou em veículos caindo aos pedaços é uma dura realidade enfrentada por estudantes dos ensinos fundamental e médio em Minas Gerais. Promessas de ampliação e modernização do transporte escolar, sobretudo nas zonas rurais, ficaram no papel. A Secretaria de Estado de Educação (SEE) anunciou, há exatamente um ano, um diagnóstico do serviço, para traçar metas de melhorias. Mas o estudo não ficou pronto, nem tem data para ser concluído, segundo informa a assessoria de imprensa da SEE.
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Na edição de segunda-feira (30), o Hoje em Dia mostrou o drama de cerca de 1 mil alunos na cidade de Paulistas, no Leste de Minas, que chegam a atravessar um rio com água pela cintura para fazer o trajeto de suas casas para a escola. Os ônibus escolares da prefeitura estão em situação precária, colocando em risco a segurança dos passageiros.
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O MEC também anunciou, no primeiro semestre de 2011, que os veículos do transporte escolar passariam por padronização neste ano, que valeriam tanto para ônibus e vans das prefeituras quanto particulares. Denatran, Inmetro e Ministério da Educação (MEC) estariam estudando as alterações. Mas a realidade mostra que tais melhorias não foram implementadas. Ninguém nesses órgãos foi encontrado, ontem, para falar sobre o assunto, em função do recesso do feriado do Dia do Trabalhador.
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Enquanto as promessas não são cumpridas, os estudantes sofrem para fazer valer um direito básico: acesso à educação. Especialistas afirmam que as dificuldades para se chegar à escola contribuem, decisivamente, para a defasagem no aprendizado e a evasão escolar. Há um atraso na comparação com os alunos que moram perto das escolas.
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O sociólogo e consultor em educação Rudá Ricci diz que a analogia é simples: “Jogador de futebol, quando viaja, precisa descansar antes da partida. Se é cansativo para um atleta, por que para uma criança não seria?”. Para ele, a solução mais prática seria a universalização da escola integral e o aumento do número de unidades de ensino, de forma a encurtar a distância percorrida por milhares de crianças e adolescentes. Mas a resposta esbarra em uma questão ainda mais grave, segundo ele. “Os gestores de educação, no Brasil, são pouco preocupados com a realidade da educação, dão mais importância aos números”, ressalta.
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Ricci lembra que o acesso ao transporte escolar de qualidade é um direito dos estudantes brasileiros, devidamente assegurado pela Justiça. A lei 10.880/2004 instituiu o Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (Pnate), que prevê assistência financeira, em caráter suplementar, aos estados e municípios. A portaria 1.153 do Detran-MG determina condições para o condutor, que deve ser qualificado para transportar crianças, e para o veículo, que precisa estar em boas condições, oferecendo, principalmente, segurança. “O que a gente pede à administração pública é que, em vez de pensar em políticas massificadas, pense na população que atendem”.
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O educador e ex-secretário de Educação de BH Miguel Arroyo sustenta o argumento de Ricci e acredita que a permanência dos estudantes nas imediações de casa seja fundamental para reforçar a identidade com a cultura local. “Para mim, o transporte escolar do interior é antipedagógico e até desumano. Quando as crianças são tiradas de seu lugar, sua cultura, sua terra, ocorre um processo de desenraizamento. É o mesmo que dizer que o local onde elas vivem não é digno para estudar, para morar. Estamos menosprezando essas pessoas”, pontua.
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Fonte: Hoje em Dia (MG)

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