terça-feira, 10 de abril de 2012

Garotos provocam destruição em escola

Por Mariana Nicodemus e Sandra Zanella
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Salas foram reviradas, e armários, jogados ao chão
Salas foram reviradas, e armários, jogados ao chão
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Dois adolescentes de 12 e 14 anos são suspeitos de depredarem a Escola Municipal Ipiranga, no bairro homônimo, Zona Sul. A dupla foi surpreendida pela Polícia Militar no colégio, na última quinta-feira, início do feriado prolongado da Semana Santa. Depois de vizinhos denunciarem que duas pessoas estariam danificando várias portas no local, os policiais pularam o muro da instituição, que estava em recesso, e flagraram a dupla promovendo quebradeiras. Conforme o boletim de ocorrência, foram arrombadas seis salas e destruídos vários materiais escolares, como livros e papéis. Armários de ferro foram jogados no chão, e filtros de água, quebrados. Extintores de incêndio teriam sido usados para forçar a entrada nos cômodos, e um buraco foi aberto em uma das portas de madeira. Devido aos atos de vandalismo, a instituição de educação infantil suspendeu as atividades ontem e hoje, deixando 400 alunos, com idades entre 3 e 8 anos, sem aulas.
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Os garotos são moradores do mesmo bairro e foram entregues aos responsáveis, sendo o caso encaminhado à Vara da Infância e Juventude. Na manhã de ontem, a Tribuna esteve na escola, que fica na Rua Afonso Gomes, e constatou o cenário de destruição. "Está tudo nesse estado crítico desde quinta-feira. Teve muita polícia e até helicóptero. Parece até que passou um terremoto e sacudiu tudo aqui. Minha neta viu a sala em que estuda e ficou desconsolada", disse a avó de uma estudante, Lourdes dos Reis, 47 anos. "Dá até vontade de chorar. Como a mãe que não tem condições vai repor o material do filho? A maioria dos pais compra tudo com muita dificuldade", completou.
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Segundo a diretora da unidade, Fabiana Gonçalves, foi a terceira vez que o estabelecimento foi invadido este ano. "Na primeira, furtaram várias coisas, como computador e projetor. A segunda vez também foi na semana passada, quando vandalizaram uma sala de aula. Dois dias depois, aconteceu de novo. O alarme foi acionado, mas destruíram os sensores. A PM foi chamada e conseguiu deter os dois garotos." De acordo com ela, não há suspeita de envolvimento de outras pessoas. "Parece que os meninos tinham a intenção de furtar alguns objetos, que já estavam separados em um sacola, do lado de fora da grade. Mas foi tudo recuperado." Ainda conforme a diretora, 400 crianças, da creche ao segundo ano do ensino fundamental, estudam em dois turnos. "Foi preciso suspender as aulas para podermos reorganizar a escola", lamentou. Chocada com a situação, a presidente da Sociedade Pró-Melhoramentos do Ipiranga, Cíntia Cássia Moreira, falou que toda a região precisa de mais policiamento, já que existem três instituições públicas próximas. "Os colégios estão sofrendo com a falta de segurança. A Prefeitura devia providenciar um vigia, principalmente nos finais de semana e feriados, quando acontecem os arrombamentos." Para ela, outra preocupação é com os materiais dos estudantes, que foram destruídos. "Pedimos que tudo seja reposto e consertado, já que vários armários e portas foram danificados."
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De acordo com o assessor de comunicação do 27° Batalhão da PM, tenente Flávio Campos, a policia já atua junto aos colégios do bairro durante a semana, por meio do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), mas ações de extensão do policiamento nos finais de semana e feriados já estão sendo estudadas. "Marcaremos uma reunião com a direção da escola invadida para levantarmos as providências que podem ser tomadas pela PM e orientar a direção quanto às medidas de segurança a serem adotadas pela unidade a fim de evitar situações desse tipo."
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Falha na relação da sociedade com seus jovens
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Para o professor da UFJF Wedencley Alves, que pesquisa as relações entre juventude e violência no Grupo Epos, do Instituto de Medicina Social da Uerj, a utilização de ações extremas, como delitos e crimes, como forma de expressão por adolescentes demonstra falha na relação da sociedade com seus jovens. "Ninguém depreda porque nasce com essa vontade, mas porque não encontra outras alternativas legítimas para se expressar. A sociedade não está sabendo escutar a sua juventude. Esses eventos são consequência disso, e, não, causa. O jovem, de maneira geral, não reconhece mais a escola como lugar de autoridade, poder e saber, e não é a primeira vez que o colégio vira espaço de revolta e depredação." O pesquisador afirma, ainda, que percebe uma progressão do problema. "Juiz de Fora, uma cidade pacífica em relação aos grandes centros, está assistindo a um aumento dramático da violência dentro da escola. Algo está fracassando, e isso é um problema que transcende os limites da cidade e até do país."
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O psicólogo e professor da UFJF Lélio Lourenço ressalta que atos de depredação e que denotam prejuízo ao outro sem a obtenção de qualquer vantagem aparente para o transgressor têm se tornado cada vez mais presentes em Juiz de Fora. "O jovem que tem esse tipo de conduta pode estar sob a influência de diversos fatores, tanto individuais como sociais, como a necessidade de ganhar status entre os colegas e subir na hierarquia social, por exemplo, ou o desapego à instituição", pondera. "Fatos como esse são preocupantes porque podem representar o começo de rivalidades, o que está virando moda entre os adolescentes de classe média e baixa na cidade, e dar início a comportamentos mais perigosos.".
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Fonte: Tribuna de |Minas (MG)

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