segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Opinião: Escola, família e responsabilidades

* Maira Sofia Warpechowski Lamaison

Sem extirpar das costas do professor o seu quinhão de responsabilidade, analisemos a situa-ção atual da Educação brasileira, que, diante de diversos resultados de testagens (em geral, com resultados negativos e preocupantes), aponta para as causas que podem estar muito além do ambiente Escolar, onde a aprendizagem formal deve acontecer. Com certeza, a culpa também é do professor (deixando claro: culpa não é dolo!), pois não tem oportunidades de se atualizar ou não aplica as metodologias defendidas nos cursos de formação, está desmotivado, perdeu seu papel e espaço como autoridade, sem falar nos salários vergonhosos.

E ainda existem mesmo aqueles (raríssimos) casos de professores infrequentes e negligentes que, além de faltarem levianamente ao trabalho, não preparam aula, tornam-se reféns dos livros didáticos, pois tudo lhes é considerado esforço em demasia.

Mas existe uma dúvida em relação à suposta culpa exclusiva do professor, pois ela é sugerida ao longo dos últimos anos devido ao fracasso Escolar – estranhamente em uma época em que a sociedade vive a desestruturação dos valores familiares e o assistencialismo material a pais relapsos – e, por isso, ficou sobre os ombros do docente o dever de sanar ausências paternas ocorridas desde o período pré-escolar, sendo que isto significa não apenas cinco anos anteriores à alfabetização, mas as outras 20 horas diárias em que a criança está fora da Escola, com (ou sem) sua família, bem como fins de semana, férias e feriados.

Isto significa que quatro horas-aula diárias, durante 200 dias por ano (isto se oaluno não faltar) devem ser suficientes para cobrir lacunas de oportunidades que alguns indivíduos não tiveram em seus lares, socializá-los como cidadãos em potencial, que são, e ainda prepará-los para serem testados em uma avaliação formal e escrita quanto a sua leitura, compreensão de texto e raciocínio lógico-matemático!

Será que a sociedade e as autoridades competentes ainda não perceberam? Permanecem batendo na mesma tecla, criticando e responsabilizando os professores que têm diante de si um tempo e recurso mínimos para um trabalho máximo?

Será que não percebem que os familiares que convivem e conhecem a criança desde que nasceu têm a obrigação de educá-la para o convívio na Escola e na sociedade? Têm a obrigação de dar-lhe atenção, cuidados, estímulos, afeto, além do exemplo da leitura e escrita (ainda que rasa) e da matemática? Como um professor em parcas quatro horas poderá competir com seis (ou mais) anos de experiência negativa na vida familiar da criança?

Afinal, se as horas extraclasse das crianças não influenciassem em sua aprendizagem, todos os alunos deprofessores pesquisadores, criativos, objetivos e compromissados com o processo de ensino-aprendizagem obteriam sucesso. Mas infelizmente, para alguns educandos (eeducadores também!), somente o esforço e a dedicação do docente não têm sido suficientes para que aprendam tanto quanto necessitam e merecem aprender.

Dentre muitos casos presenciados ao longo dos anos de magistério público estadual, poderia destacar vários exemplos curiosos que comprovam que o compromisso da família é o primeiro e essencial passo a ser dado antes de a criança entrar na idade Escolar.

Teria vários relatos para comprovar que a Escola por si não é suficiente para alfabetizar quem quer que seja, afinal, o indivíduo é um ser cognitivo, social, cultural, emocional, físico e afetivo, e estas partes não se separam em gavetas, como muitos podem pensar.

Elas interagem entre si e influenciam o desempenho umas das outras; e, por isso, toda sociedade (família,Escola, governos) deve se responsabilizar para garantir que o frágil ser em formação tenha o equilíbrio necessário para que a aprendizagem aconteça naturalmente e com sucesso.

* Pedagoga e educadora das séries iniciais

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