quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Educação, escola e paradoxos no campo da violência - Parte III

Lúcio Alves de Barros
Professor da FAE-UEMG, doutor em Ciências Humanas
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Débora Luiza Chagas de Freitas
Graduanda de pedagogia da FAE-UEMG
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Este é o relatório final de pesquisa, apresentado ao Centro de Pesquisa da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), ao Programa Institucional de apoio à pesquisa (PAPq/UEMG) e ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UEMG/Estado).
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A pesquisa analisa as relações sociais produzidas em uma escola estadual de Belo Horizonte. Tais relações tinham como latente a sociabilidade fundamentada nas relações de violência. Partimos da ideia de que a violência é um conceito polissêmico e recebe roupagens de acordo com os interesses dos agentes envolvidos bem como da localidade da instituição escolar e da posição ou papel social que o agente por vezes incorpora.
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Nesta terceira parte, ressaltamos alguns dados da pesquisa, que mostram que estudantes e professores estão encarcerados em relações paradoxais. No caso de alunos e alunas, tais relações, principalmente as consideradas violentas, não são claras e, por vezes, carregam as incongruências, os conflitos e os entendimentos tácitos e manifestos sobre o que os agentes entendem por violência. Distantes do senso comum, os atores não navegam – conforme acreditam alguns – num campo no qual a violência é aberta e perceptível. Sabemos que não se vê o que não se deseja. Por outro lado, tornou-se impossível fechar os olhos aos fatos que, aparentemente, tornaram-se normais e corriqueiros. Nesse sentido, pelo menos na representação coletiva dos estudantes da escola estadual em pesquisa, o mundo paradoxal da educação e da violência revela alunos e alunas à deriva, sem lugar, sem "sonhos" e sentidos. São crianças, adolescentes e jovens marginalizados, esquecidos pelas políticas públicas e distantes de bons projetos pedagógicos.
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REVISTA EDUCAÇÃO PÚBLICA

Edição nº 49 - 20/12/2011
Próxima edição: 03/01/2012

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Feliz Natal 2

MP investiga denúncia de mães contra escola

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PAULO SALDAÑA - O Estado de S.Paulo

O Ministério Público instaurou inquérito para apurar denúncias contra o Colégio da Polícia Militar Cruz Azul em Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo.

Queixas de falta de segurança no pátio da Escola, bullying e má conduta de uma professora foram levadas à Promotoria de Infância e Juventude por um grupo de seis mães de alunos. A direção do colégio nega as denúncias.

De acordo com essas mães, há casos recorrentes de agressão entre alunos e um deles chegou a levar uma faca na Escola há alguns meses - fato confirmado pela direção. Parte das queixas se concentra em uma professora, que teria se exaltado em várias oportunidades e, em algumas aulas, apagado a luz para "aterrorizar" as crianças.

"Meu filho pedia para deixar a luz acesa do quarto desde o começo do ano. Depois descobri que aprofessora o colocava de castigo no escuro", diz Elina Maria Cardoso Guedes Bernardes, de 30 anos, mãe de um menino de 6 anos que estuda no Cruz Azul.

Uma outra mãe, que prefere não se identificar, afirma que deixou de levar o filho na Escolano início de novembro por medo de que ele apanhe de um colega de sala. "Já falei com a diretora e ela disse que não podia fazer nada, então não vou arriscar."

Segundo o promotor da Infância e Juventude de Santo André Ricardo Florio, a direção do colégio tem até o fim deste mês para tomar duas providências em relação aos problemas: o afastamento da professora acusada de maus-tratos e atenção maior quanto ao trabalho de monitores e inspetores para evitar incidentes entre estudantes. "Caso não tenha interesse de acordo, posso ingressar com ação civil para afastar a diretora."

Disciplina. Mães reclamam da dura disciplina da Escola, que estaria colaborando com as hostilidades entre colegas. O colégio é particular, mas oferece desconto a filhos de policiais militares. Dos 615 alunos, 85% são de filhos de PMs. Ente as medidas, os alunos não podem usar piercing e brincos são proibidos para meninos. Corte de cabelo "exótico" também é vetado - nada de fios coloridos ou arrepiados com gel.

As crianças são obrigadas a cantar diariamente o hino da corporação enquanto as bandeiras da Cruz Azul, do Brasil e do Estado são hasteadas. "Os alunos são filhos de policias, mas não são PMs. Não sei por que eles têm de cantar o hino", diz a cabeleireira Deise dos Santos, de 44 anos, uma das autoras das denúncias.

A diretora da Escola, Adriana Correia, afirma que os pais já conhecem o regimento assim quando fazem a matrícula. Segundo ela, todos os casos de quem procurou a promotoria são de alunos que já apresentava problemas. "O Colégio está aberto a conversar com todos, mas para muitas mães é mais fácil acusar a Escola do que resolver um problema com os filhos."

Outros pais de alunos, reunidos pela direção da Escola, defendem a instituição e acusam o grupo de mães de má-fé. "Não é verdade o que elas dizem, a Escola é ótima e o que elas têm feito é uma injustiça", diz a confeiteira Adriana Silva Rocha, de 37 anos, que tem duas filhas na Escola.
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Feliz Natal 1

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Aprovado projeto que proíbe os pais de baterem nos filhos

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BRASÍLIA. A comissão especial criada para analisar a chamada Lei da Palmada aprovou ontem, em caráter conclusivo, a proibição do uso de castigos físicos em crianças e adolescentes. Se não houver recurso, o texto seguirá diretamente para o Senado. Um dos receios, no entanto, é que o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), contrário à proposta, recolha as 51 assinaturas necessárias para levar a Lei da Palmada à votação do plenário da Câmara. "Ele (Bolsonaro) é incontrolável, mas nós estamos atentos", observou Teresa Surita ((PMDB-RR), relatora do projeto.

O texto prevê que pais que maltratarem os filhos sejam encaminhados a um programa oficial de proteção à família e a cursos de orientação, tratamento psicológico ou psiquiátrico, além de receberem advertência. As medidas serão aplicadas pelo juiz da Vara da Infância. A criança que sofrer a agressão será encaminhada a tratamento especializado.

Punição. O texto não prevê multa para os pais, prisão nem perda da guarda dos filhos. Mas a proposta determina multa de três a 20 salários mínimos (de R$ 1.635 a R$ 10,9 mil) para médicos, professores e agentes públicos que tiverem conhecimento de castigos físicos a crianças e adolescentes e não denunciarem o caso. A denúncia pode ser feita ao conselho tutelar ou a outra autoridade competente, como delegado, promotor ou juiz.

Alterações. Anteontem, a votação do texto havia sido adiada após críticas serem levantadas pela bancada evangélica sobre termos do projeto. Os deputados evangélicos defenderam a substituição, no projeto, da expressão "castigo corporal" por "agressão física". O objetivo seria evitar a ideia de que a lei proibiria qualquer tipo de punição ou limites a meninos e meninas.

Teresa Surita, em novo substitutivo sobre a matéria, acatou a sugestão dos evangélicos, o que surpreendeu os movimentos sociais que apoiam o texto original. A relatora também substituiu no texto a palavra "dor", considerado um conceito "subjetivo" pelo grupo religioso. "Tiramos a expressão dor. É algo que um perito não tem como diagnosticar. Não há como mensurar a dor do castigo corporal. Uma lesão, sim", disse o deputado João Campos (PSDB-GO), presidente da Frente Parlamentar Evangélica da Câmara.

Repercussão. A presidente da Comissão Especial, Érika Kokay (PT-DF), defendeu a proposta. "O castigo corporal só muda o comportamento na frente do agressor. Não é um mecanismo eficiente de convencimento, porque não muda a conduta de quem é agredido. Quem é agredido aprende a resolver conflitos através da violência e a subjugar o mais fraco".

O projeto altera o artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e diz que o castigo físico é "ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso da força física que resulte em lesão à criança ou adolescente". Já o tratamento cruel ou degradante é definido como "conduta ou forma cruel de tratamento que humilhe, ameace gravemente ou ridicularize a criança ou o adolescente".

"O Brasil dá um importante passo para afirmação dos direitos da criança e do adolescente contra todos os tipos de violência", disse a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes, em nota divulgada à imprensa. "Ressaltamos que cerca de um terço das denúncias registradas pelo módulo Criança e Adolescente do Disque Direitos Humanos - Disque 100 corresponde a situações de violência física".

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Ética, Moral e mudanças hodiernas

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Educação em final de ano

Educação, escola e paradoxos no campo da violência - Parte II

"Educação, escola e paradoxos no campo da violência - parte II"
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Lúcio Alves de Barros - Professor da FAE-UEMG, doutor em Ciências Humanas
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Débora Luiza Chagas de Freitas - Graduanda de pedagogia da FAE-UEMG
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Introdução

Este é o relatório final de pesquisa apresentado ao Centro de Pesquisa da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), ao Programa Institucional de apoio à pesquisa (PAPq/UEMG) e ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UEMG/Estado).

A pesquisa analisa as relações sociais produzidas em uma escola estadual de Belo Horizonte. Tais relações tinham como latente a sociabilidade fundamentada nas relações de violência. Partimos da ideia de que a violência é um conceito polissêmico e recebe roupagens de acordo com os interesses dos agentes envolvidos, bem como da localidade da instituição escolar e da posição ou papel social que o agente, por vezes, incorpora.

Nesta segunda parte, ressaltamos os dados da pesquisa. A despeito das dificuldades, notadamente horários, condições das entrevistas e recursos para a confecção e aplicação do questionário, foi possível perceber que estudantes e professores estão encarcerados em relações paradoxais.

No caso dos alunos e alunas, tais relações, principalmente as consideradas violentas, não são calaras e, por vezes, carregam as incongruências, os conflitos e os entendimentos tácitos e manifestos sobre o que os agentes entendem por violência. Distante do senso comum, os atores não navegam – conforme acreditam alguns – num campo no qual a violência é aberta e perceptível. Sabemos que não se vê o que não se deseja. Por outro lado, tornou-se impossível fechar os olhos aos fatos que, aparentemente, tornaram-se normais e corriqueiros. Nesse sentido, pelo menos na representação coletiva dos estudantes da escola estadual em pesquisa, o mundo paradoxal da educação e da violência revelam alunos e alunas à deriva, sem lugar, sem "sonhos" e sentidos. São crianças, adolescentes e jovens marginalizados, esquecidos pelas políticas públicas e distantes de bons projetos pedagógicos.
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Acesse: Revista Educação Pública
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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

PESQUISA: VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

Educação, escola e paradoxos no campo da violência

Lúcio Alves de Barros - Professor da FAE-UEMG/BH, licenciado e bacharel em Ciências Sociais pela UFJF, mestre em Sociologia, doutor em Ciências Humanas: sociologia e política pela UFMG. Autor do livro, “Fordismo: origens e metamorfoses”. Piracicaba: Ed. UNIMEP, 2004; organizador da obra “Polícia em Movimento”. Belo Horizonte: Ed. ASPRA, 2006, co-autor do livro de poesias, “Das emoções frágeis e efêmeras”. Belo Horizonte: Ed. ASA, 2006 e organizador de “Mulher, política e sociedade”. Brumadinho, MG: Ed. ASA, 2009.
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Débora Luiza Chagas de Freitas - graduanda em pedagogia da FAE-UEMG

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Introdução

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Este é o relatório final da pesquisa, apresentado ao Centro de Pesquisa da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), ao Programa Institucional de Apoio à Pesquisa (PAPq/UEMG) e ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UEMG/Estado).
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A pesquisa analisa as relações sociais produzidas em uma escola estadual de Belo Horizonte. Tais relações tinham como latente a sociabilidade fundamentada nas relações de violência. Partimos da ideia de que a violência é um conceito polissêmico e recebe roupagens de acordo com os interesses dos agentes envolvidos, bem como da localidade da instituição escolar e da posição ou papel social que o agente, por vezes, incorpora.
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Para publicação em Educação Pública, dividimos o relatório em três partes. Nesta primeira, discutimos o polissêmico conceito de violência. Delineamos as violências discutidas no cenário acadêmico e que se manifestam, sem pouca conscientização, entre os professores e alunos. O debate é frutífero, e tanto a temática da educação como a da violência nos fornecem várias formas de leitura e entendimento do real.
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A pesquisa conta hoje com a bolsista Úrsula Mansur e Iara Ferreira
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A seguir:
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Educação, escola e paradoxos no campo da violência – Parte II – Percepção da violência
Educação, escola e paradoxos no campo da violência – Parte III – Das ameaças e armas
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Publicado em 06/12/2011
ISSN: 1984-6290
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Revista Educação Pública. Reflexão e interação de educadores
Edição n° 47 - 06/12/2011

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

UFMG avalia bullying com pais e alunos


A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vai criar uma comissão para avaliar casos de bullying no Centro Pedagógico da Escola de Educação Básica e Profissional, que funciona no câmpus da Pampulha, em Belo Horizonte. A informação foi divulgada ontem pela vice-reitora Rocksane Norton, que anunciou um seminário, dentro de duas semanas, para explicar os fatos e discutir o tema com os pais dos 630 alunos do colégio.

A vice-reitora se reuniu ontem com representantes de setores da universidade, incluindo dirigentes do Centro Pedagógico e da Escola de Educação Básica e Profissional, para preparar resposta ao Ministério Público Federal (MPF), que fez uma série de recomendações para coibir o bullying no colégio. Em setembro, a prática foi denunciada ao MPF pelo pai de um adolescente que teria sido vítima de agressões, enquanto teria havido omissão da direção. Segundo a diretora do Centro Pedagógico, Tânia Margarida Lima Costa, todas as recomendações já são cumpridas sistematicamente pela unidade de ensino, que atende público de 6 a 15 anos, em nove anos de Escolarização.

O Centro Pedagógico tem prazo de 10 dias, a partir de notificação recebida terça-feira, para entregar o documento ao MPF. As recomendações incluem a realização de reuniões, investigação interna, incentivo à mediação de conflitos, apoio às vítimas de bullying e recuperação psicológica dos agressores e de alunos que assistiram às agressões, incorporação do tema às disciplinas e avaliação dos casos.

“Fazemos tudo isso desde sempre”, disse Tânia Margarida, acompanhada da equipe de pedagogos, psicólogos, coordenadores de cursos e outros especialistas. Desde que começaram os problemas com o adolescente, o diretor de Assuntos Estudantis da universidade, Luiz Guilherme Knauer, se reuniu com os pais do jovem por oito vezes, informou a vice-reitora.

REUNIÕES -  A partir de maio, quando teria surgido um primeiro problema com o jovem, a direção do Centro Pedagógico começou a dar atenção diferenciada ao estudante, embora nenhum professor tivesse conhecimento da prática de bullying nesse caso específico.

“Na primeira reunião pedagógica, os professores foram informados e começaram a ficar atentos”, disse Tânia Margarida. Na sequência, o corpo docente fez um relatório sobre o desempenho do garoto e o documento foi encaminhado ao diretor de Assuntos Estudantis da universidade, Luiz Guilherme Knauer.

“Foram feitas reuniões com os familiares, mas o diálogo foi rompido. Temos um ótimo relacionamento com o conselho tutelar e dois projetos para maior proximidade com as famílias, que são o Dialogando com os pais e Interação”, disse a diretora do Centro Pedagógico, lembrando que o bullying é tratado como tema transversal na Escola, além de haver a disciplina Tópicos Especiais de Práticas Educativas, que aborda a questão.

No pedido de providências, a procuradora regional de Direitos Humanos, Silmara Goulart, destacou que “o fenômeno bullying se caracteriza como uma forma de violência que envolve crianças, jovens e educadores, cabendo à instituição de ensino prevenir, coibir e erradicar tais práticas, sob pena de responderem por sua omissão”.

Ainda de acordo com a instituição, além da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbem qualquer forma de negligência, violência, crueldade e opressão contra crianças e adolescentes, o Brasil também é signatário da Convenção das Nações Unidades sobre os Direitos da Criança, que obriga o país a adotar todas as medidas necessárias para assegurar que a disciplina Escolar seja ministrada de maneira compatível com a dignidade humana.

Fonte: Estado de Minas (MG)

Perfil do corrupto


Frei Beto (teólogo e escritor)

Manifestações públicas em várias cidades exigem o fim do voto secreto no Congresso; o direito de o CNJ investigar e punir juízes; a vigência da Ficha Limpa nas eleições de 2012; e o combate à corrupção na política.

Por que há tanta corrupção no Brasil? Temos leis, sistema judiciário, polícias e mídia atenta. Prevalece, entretanto, a impunidade – a mãe dos corruptos. Você conhece um notório corrupto brasileiro? Foi processado e está na cadeia?

O corrupto não se admite como tal. Esperto, age movido pela ambição de dinheiro. Não é propriamente um ladrão. Antes, trata-se de um requintado chantagista, desses de conversa frouxa, sorriso amável, salamaleques gentis. Anzol sem isca peixe não belisca.

O corrupto não se expõe; extorque. Considera a comissão um direito; a porcentagem, pagamento por serviços; o desvio, forma de apropriar-se do que lhe pertence; o caixa dois, investimento eleitoral. Bobos aqueles que fazem tráfico de influência sem tirar proveito.

Há vários tipos de corruptos. O corrupto oficial se vale da função pública para extrair vantagens a si, à família e aos amigos. Troca a placa do carro, embarca a mulher com passagem custeada pelo erário, usa cartão de crédito debitável no orçamento do Estado, faz gastos e obriga o contribuinte a pagar. Considera natural o superfaturamento, a ausência de licitação, a concorrência com cartas marcadas.

Sua lógica é corrupta: "Se não aproveito, outro sai no lucro em meu lugar". Seu único temor é ser apanhado em flagrante. Não se envergonha de se olhar no espelho, apenas teme ver o nome estampado nos jornais e a cara na TV.

O corrupto não tem escrúpulo em dar ou receber caixas de uísque no Natal, presentes caros de fornecedores ou patrocinar férias de juízes. Afrouxam-no com agrados e, assim, ele relaxa a burocracia que retém as verbas públicas.

Há o corrupto privado. Jamais menciona quantias, tão somente insinua. É o rei da metáfora. Nunca é direto. Fala em circunlóquios, seguro de que o interlocutor sabe ler nas entrelinhas.

O corrupto “franciscano” pratica o toma lá, dá cá. Seu lema: "quem não chora, não mama". Não ostenta riquezas, não viaja ao exterior, faz-se de pobretão para melhor encobrir a maracutaia. É o primeiro a indignar-se quando o assunto é a corrupção.

O corrupto exibido gasta o que não ganha, constrói mansões, enche o pasto de bois, convencido de que puxa-saquismo é amizade e sorriso cúmplice, cegueira.

O corrupto cúmplice assiste ao vídeo da deputada embolsando propina escusa e ainda finge não acreditar no que vê. E a absolve para, mais tarde, ser também absolvido.

O corrupto previdente fica de olho na Copa do Mundo, em 2014, e nas Olimpíadas do Rio, em 2016. Sabe que os jogos Pan-americanos no Rio, em 2007, orçados em R$ 800 milhões, consumiram R$ 4 bilhões.

O corrupto não sorri, agrada; não cumprimenta, estende a mão; não elogia, incensa; não possui valores, apenas saldo bancário. De tal modo se corrompe que nem mais percebe que é um corrupto. Julga-se um negocista bem-sucedido.

Melífluo, o corrupto é cheio de dedos, encosta-se nos honestos para se lhe aproveitar a sombra, trata os subalternos com uma dureza que o faz parecer o mais íntegro dos seres humanos.

Enquanto os corruptos brasileiros não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, ano que vem podemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas.

Fonte: http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=19737&cod_canal=53