terça-feira, 4 de outubro de 2011

Professores sob ameaça constante



Minas Gerais convive com uma realidade preocupante na Educação. A cada três dias há uma denúncia de violência na rede particular e pública de ensino.

De fevereiro a agosto deste ano, foram 109 reclamações (43 relativas a Escolas privadas e 40 relacionadas a públicas, além de 26 reincidências, a partir de pessoas que ligaram para reiterar um problema), feitas por meio do disque-denúncia criado no início de 2011.

A maioria é de ameaças e intimidação. O levantamento, do Sindicato dos professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG), foi divulgado ontem. Com o slogan “Tem algo de errado na Escola. É hora de corrigir”, foi lançada também a campanha pela paz nas instituições de ensino, que será veiculada na mídia retratando formas de agressão enfrentadas pelos docentes no ambiente Escolar.

No período analisado, o serviço registrou 24 ocorrências de ameaça e intimidação, nove de agressão verbal, duas de agressão física, 17 de assédio moral (violência psicológica) e uma de tráfico de drogas, entre outras. Apenas uma Escola tomou providências, ao afastar oaluno da sala de aula por determinado período, com o objetivo de proteger o professor. Para o presidente do Sinpro, Gilson Reis, os dados reforçam a situação de violência mostrada em pesquisa da entidade feita em 2009.

Naquele ano, o levantamento “Rede particular de ensino: vida de professor e violência na Escola”, feito em parceria com a PUC Minas, mostrou que 39% dos profissionais entrevistados relataram ter visto situações de intimidação e 35%, de ameaça.

Em todo o estado, há 4,5 mil Escolas particulares e 70 milprofessores. A região metropolitana responde por 50% desse total. “É extremamente preocupante o que vem ocorrendo. Estamos lançando uma cultura de paz e não estamos tendo sucesso”, afirmou Gilson Reis.

Do total de denúncias, 80% são de casos que ocorreram em Belo Horizonte. Reis acredita que o número de casos identificados é bem menor que a realidade.

“Há uma tendência de silenciamento, pois os professores são pressionados pelas instituições. Na rede privada, vivemos a cultura da mercantilização, na qual o lucro é mais importante. Na pública, há a aproximação com o setor mais popular nas áreas periféricas”, disse. O Sinpro cobra do poder público e, principalmente, do Conselho Estadual de Educação(CEE), ações mais efetivas no combate à violência em sala de aula.

“Há 10 meses, enviamos correspondência ao conselho, que não se manifestou uma única vez. Propusemos a criação de uma câmara especial e de uma ouvidoria. É lamentável, pois mostra que não têm interesse no assunto e que estão se omitindo”, disse.

A diretora da superuntendência-executiva do CEE, Cátia Maísa Santos, informou que desconhece o recebimento de qualquer manifestação. Segundo ela o conselho é um órgão normativo e se manifesta por pareceres ou resoluções e, por isso, qualquer iniciativa deve ocorrer via secretaria de Educação.

ALTERNATIVAS

 Parcerias com outros órgãos estão em andamento: as secretaria de Estado e Municipal de Educação estão recebendo denúncias de professores de suas respectivas redes; o Ministério Público do Trabalho está criando uma ouvidoria para receber as reclamações; e até a Assembleia Legislativa se abriu para os debates.

De hoje a partir das 9h até quinta-feira, a Casa recebe o “Fórum Técnico Segurança nas Escolas”, na busca de soluções para o problema. O assunto é abordado também no site www.paznasescolas.org.br, criado pela campanha de mesmo nome. Os relatos de quem enfrentou o medo enquanto ensinava impressionam. professora de biologia da rede municipal de Contagem, na região metropolitana, J.A, de 46 anos, abandonou a Escola depois de meses de perseguição. Um aluno do 9º ano do ensino fundamental, insatisfeito com as cobranças da professora, a ameaçou diante da sala de aula lotada.

“Ele chegou o dedo na minha cara e disse para eu ficar esperta, pois eu não sabia com quem estava lidando. Meu carro foi rabiscado e meu marido passou a me buscar todas as noites, pois tive medo do que poderia me acontecer”, relatou. A pressão foi tão grande que ela deixou de trabalhar em Contagem e passou a se dedicar apenas às aulas em BH.

Professor de uma Escola particular na capital, R.G, de 38, é categórico: “Cansei de ouvir de alunos a velha pergunta: ‘Você sabe com quem está falando?’ ou ‘Você sabe quem é meu pai?’. Chamar a atenção de estudante em sala de aula significa, nos temos atuais, desagradar a ‘clientela’. O pior, depois de um aluno quase cuspir em você, é ter de ouvir da coordenação ou da diretoria para não reclamar, pois eles são bons pagadores”.

ENQUANTO ISSO...
...INDENIZAÇÃO NEGADA A FILHOS DE VÍTIMA

A família do professor Kássio Vinícius Castro Gomes, morto a facadas em dezembro do ano passado no Instituto Metodista Izabela Hendrix, enfrenta a segunda derrota na Justiça. Depois de o assassino, o universitário Amilton Loyola Caires, de 24 anos, ter sido considerado inimputável pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais em decorrência do laudo de sanidade mental que apontou esquizofrenia, a Justiça indeferiu, em primeira instância, o pedido para que a instituição de ensino pague indenização e pensão aos dois filhos do casal.

“Vamos recorrer, pois me entristece saber que o Kássio morreu no exercício da profissão, no ambiente de trabalho, e que a Justiça não reconhece isso”. Simone e Maria dos Anjos Castro, mãe do professor, foram homenageadas ontem no Sindicato do professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG).

DEPOIMENTOS

“Ele chegou o dedo na minha cara e disse para eu ficar esperta, pois eu não sabia com quem estava lidando. Meu carro foi rabiscado e meu marido passou a me buscar todas as noites, pois tive medo do que poderia me acontecer” (J.A, DE 46 ANOS, professora).

“Chamar a atenção de estudante em sala de aula significa desagradar a ‘clientela’. O pior, depois de um aluno quase cuspir em você, é ter de ouvir da coordenação ou da diretoria para não reclamar, pois eles são bons pagadores” (R.G., DE 38 ANOS, professor)

Fonte: Estado de Minas (MG)

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