sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Polêmica envolvendo questões do Enem chega a Minas Gerais


Por Júlia Correia

Mais uma polêmica envolvendo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) veio à tona nesta sexta-feira (28) – e, desta vez, a protagonista é uma instituição mineira. Considerada uma das escolas mais conceituadas do Brasil, o Colégio e Pré-vestibular Bernoulli, de Belo Horizonte, aplicou em um simulado, em setembro, um exercício muito semelhante a uma questão do Enem. Tanto o Bernoulli, quanto o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do Ministério da Educação (MEC), negam o vazamento.

O teste do Bernoulli traz uma questão com o desenho de medidores de energia elétrica idêntico ao de um exercício da prova nacional. Mas a linha de raciocínio exigida para a solução é diferente. Em nota, o colégio garantiu que tudo não passou de uma coincidência e negou pertencer à equipe que fornece itens ao Inep. O Bernoulli afirma que a questão que aplicou é muito mais complexa que a elaborada pelo MEC. Alega também que seus alunos tiveram que interpretar o enunciado e, depois, usar conhecimentos de Física para calcular o tempo que um chuveiro poderia ficar ligado usando a energia expressa pela diferença de leituras do relógio.

“O item do Enem teve aplicação meramente matemática, de leitura numérica; já o item do Bernoulli figurou na prova de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, cobrando do aluno a leitura do relógio e a resolução de um problema proposto”, diz a nota do colégio.

O MEC informou que especialistas analisaram as duas questões e constataram que houve somente uma coincidência. De acordo com a assessoria do ministério, não será aberta uma investigação porque as provas seriam apenas semelhantes. Para a professora Maria Auxiliadora Monteiro, de pós-graduação em Educação da PUC Minas, o Enem traz questões muito bem elaboradas. “O teste tem a capacidade de avaliar os alunos. Mas precisamos reconhecer que virou um megaexame, o que o fez fugir do controle dos organizadores”, explica.

Maria Auxiliadora acredita que a falha será resolvida em 2012, com a aplicação de duas versões da prova. “O Enem será dado duas vezes no ano. Logo, o número de alunos vai cair pela metade em cada aplicação, o que facilitará o controle sobre o processo”. Diante das confusões, o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) protocolou ontem no Ministério Público Federal um pedido de cancelamento do Enem. Também requer, por meio de liminar, que o resultado do teste não seja liberado.

O presidente do Sinep-MG, Emiro Barbini, entende que o MEC só deve divulgar as notas após decidir se vai validar a prova. “Se o resultado sair e depois for cancelado, nossos alunos, que sonham entrar para uma faculdade, ficarão frustrados”, justifica.

Fonte: Hoje em Dia (MG)

Enemmmmmmmmm de novo!

Inep tem 72 horas para explicar à justiça o vazamento das questões do Enem para escola no CE



A Justiça Federal no Ceará deu prazo de 72 horas ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) para que se manifeste sobre o pedido do Ministério Público Federal no estado de anulação total ou parcial das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) aplicadas no último fim de semana.

O MPF-CE propôs na quinta-feira (27) uma ação civil pública pedindo que o Enem fosse cancelado ou que as questões que vazaram na fase de pré-teste do exame por meio de apostila distribuído pelo Colégio Christus, de Fortaleza, fossem anuladas. O juiz federal Luiz Praxedes Viera da Silva só se manifestará após o prazo estipulado, que termina na manhã de segunda-feira (31). O pedido de anulação foi feito após a notícia de que estudantes do colégio cearense receberam uma apostila, semanas antes da prova do Enem, com 14 questões idênticas às do exame nacional. Os itens fizeram parte de um pré-teste do Enem, do qual alunos do Christus participaram em outubro de 2010. De acordo com o procurador, como os alunos tiveram acesso antecipado às questões, o exame deveria ser anulado porque houve violação do princípio da isonomia. O pré-teste é feito pelo Inep para avaliar se as questões em análise são válidas e qual é o grau de dificuldade de cada uma. Os cadernos de questões do pré-teste deveriam ter sido devolvidos após a aplicação e incinerados pelo Inep. A Polícia Federal investiga se houve fraude na aplicação do pré-teste. O Ministério da Educação decidiu cancelar as provas do Enem dos alunos do Christus. Eles terão uma nova chance de fazer o exame no fim de novembro.

Fonte: O tempo (MG)

Indignar-se: redescobrindo a via para a identidade humana

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Por Maria Clara Bingemer
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Em todas as partes do mundo cresce na sociedade um movimento: o dos indignados. Saindo às ruas, ao espaço público, em protesto contra injustiças que decidiram não mais tolerar, os indignados protestam com palavras, gestos, atitudes. Pretendem com isto chamar a atenção da sociedade e, sobretudo de seus dirigentes.
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O que move esses grupos que enchem as ruas? O que move essas pessoas que não são bandidos, nem arruaceiros, mas sim cidadãos corretos, que trabalham e pagam seus impostos? Qual o motor de sua cólera, de sua indignação?
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Indignação quer dizer cólera ou desprezo experimentado diante de uma indignidade, ou injustiça, afronta. É repulsa e revolta diante daquilo que fere valores básicos, direitos e princípios que regem a vida dos seres humanos.Ela pode ser meramente uma defesa de interesses privados, domésticos e individuais. Diante de coisas que dizem respeito exclusivamente à própria pessoa, à família ou ao círculo dos mais próximos. Ou ainda o círculo mais largo da empresa, do partido político, ou até da agremiação esportiva. Tudo aquilo que freia, desvia, prejudica os interesses do grupo ou do clã suscita indignação que pode derivar em ações legais, judiciais, etc. Atingir os interesses do grupo suscita imediatamente a reação corporativa e indignada de seus membros.
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Sem querer minimizar ou mesmo demonizar este tipo de indignação, é necessário constatar, no entanto, que ela toma a defesa de interesses particulares não universalizáveis. E pode inclusive tomar o aspecto de autodefesa de privilégios, como a defesa a qualquer preço ou custo de um estilo de vida confortável, protestando por isto contra propostas mais sociais; que beneficiem um leque mais amplo de pessoas e grupos. Assim também a indignação contra certas medidas de maior transparência pelo fato de que podem pôr a nu ou denunciar atitudes escusas de determinadas pessoas ou grupos a quem não interessa que a verdade venha à tona. O protesto gerado por este tipo de indignação não visa então prioritariamente o estabelecimento de valores ou do bem comum.
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A indignação que hoje vemos ganhar as ruas parece fundar-se, no entanto, sobre razões não tanto formais, e certamente mais radicais do que aquelas cometidas contra as regras da equidade a nível pessoal ou intra-grupal. Trata-se de uma indignação propriamente ética, que se levanta em nome da proteção ou da defesa do ser mesmo das pessoas, de sua integridade física e moral.
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Complexa e densa, essa indignação pode inclusive ir de encontro ao direito positivo e conduzir, em conseqüência, à resistência cidadã. Este tipo de indignação se refere, então, a valores reconhecidos como fundamentais e não negociáveis, como por exemplo, aqueles expressos na Declaração dos Direitos Humanos que, ainda que longe de ser perfeitos, representam uma conquista inalienável da humanidade sobre razões universais ou ao menos universalizáveis.
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A indignação ética apresenta características que ultrapassam as fronteiras dos interesses próprios e pessoais e corporativistas. E mais: não se fundam no negativo nem na exclusão de inimigos ou de quem quer que seja. Estes, ao contrário, são incluídos nos benefícios dos valores que os atos de indignação ética pretendem promover. E mesmo os tiranos comprovadamente sanguinários, quando vencidos no bojo de atos que se iniciaram com uma atitude de indignação ética têm direito a um julgamento e a um procedimento judiciário com tudo que isso implica.
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Parece-me que o que assistimos hoje em várias partes do mundo se encaixa neste segundo caso de indignação. Desde os protestos dos estudantes no Chile exigindo mais verbas para educação; passando pelos espanhóis que enfrentam 20% de desemprego, num processo de deterioração social que pode espalhar-se qual doença contagiosa por todo o continente europeu e por todo o mundo; até Nova York, onde o movimento “Occupy Wall Street”denuncia publicamente um sistema financeiro que sugou os recursos de muitas nações e gerações e agora dá sinais de exaustão.
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No Brasil, o movimento contra a corrupção ainda mostra números tímidos de adesões, se comparado com o que ocorre em outras latitudes. Entretanto, o mero fato de que exista e haja começado já é uma esperança. Perder a capacidade de indignar-se é o pior que pode acontecer a uma pessoa, pois a desumaniza e debilita naquilo que tem de mais nobre e mais fundamental: sua liberdade. Indignar-se pode ser o novo caminho que a humanidade vai encontrando para gritar bem alto sua dignidade de seres humanos, feitos para a vida em plenitude.
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Maria Clara Bingemer - escritora e teóloga


  

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Manifesto Nacional "Por que aplicar 10% do PIB na educação pública?

Carta de Lançamento da Campanha Nacional

Por que aplicar já 10% do PIB nacional


na Educação Pública?

A educação é um direito fundamental de todas as pessoas. Possibilita maior protagonismo no campo da cultura, da arte, da ciência e da tecnologia, fomenta a imaginação criadora e, por isso, amplia a consciência social comprometida com as transformações sociais em prol de uma sociedade justa e igualitária. Por isso, a luta dos trabalhadores na constituinte buscou assegurá-la como “direito de todos e dever do Estado”.
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No entanto, o Estado brasileiro, por expressar os interesses dos ‘donos do poder’, não cumpre sua obrigação Constitucional. O Brasil ostenta nesse início de século XXI, se comparado com outros países, incluindo vizinhos de América Latina, uma situação educacional inaceitável: mais de 14 milhões de analfabetos totais e 29,5 milhões de analfabetos funcionais (PNAD/2009/IBGE) – cerca de um quarto da população – alijada de escolarização mínima. Esses analfabetos são basicamente provenientes de famílias de trabalhadores do campo e da cidade, notadamente negros e demais segmentos hiperexplorados da sociedade. As escolas públicas – da educação básica e superior – estão sucateadas, os trabalhadores da educação sofrem inaceitável arrocho salarial e a assistência estudantil é localizada e pífia.
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Há mais de dez anos os setores organizados ligados à educação formularam o Plano Nacional de Educação – Proposta da Sociedade Brasileira (II Congresso Nacional de Educação, II Coned, Belo Horizonte/MG, 1997). Neste Plano, professores, entidades acadêmicas, sindicatos, movimentos sociais, estudantes elaboraram um cuidadoso diagnóstico da situação da educação brasileira, indicando metas concretas para a real universalização do direito de todos à educação, mas, para isso, seria necessário um mínimo de investimento público da ordem de 10% do PIB nacional. Naquele momento o Congresso Nacional aprovou 7% e, mesmo assim, este percentual foi vetado pelo governo de então, veto mantido pelo governo Lula da Silva. Hoje o Brasil aplica menos de 5% do PIB nacional em Educação. Desde então já se passaram 14 anos e a proposta de Plano Nacional de Educação em debate no Congresso Nacional define a meta de atingir 7% do PIB na Educação em … 2020!!!
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O argumento do Ministro da Educação, em recente audiência na Câmara dos Deputados, foi o de que não há recursos para avançar mais do que isso. Essa resposta não pode ser aceita. Investir desde já 10% do PIB na educação implicaria em um aumento dos gastos do governo na área em torno de 140 bilhões de reais. O Tribunal de Contas da União acaba de informar que só no ano de 2010 o governo repassou aos grupos empresariais 144 bilhões de reais na forma de isenções e incentivos fiscais. Mais de 40 bilhões estão prometidos para as obras da Copa e Olimpíadas. O Orçamento da União de 2011 prevê 950 bilhões de reais para pagamento de juros e amortização das dívidas externa e interna (apenas entre 1º de janeiro e 17 de junho deste ano já foram gastos pelo governo 364 bilhões de reais para este fim). O problema não é falta de verbas públicas. É preciso rever as prioridades dos gastos estatais em prol dos direitos sociais universais.
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Por esta razão estamos propondo a todas as organizações dos trabalhadores, a todos os setores sociais organizados, a todos(as) os(as) interessados(as) em fazer avançar a educação no Brasil, a que somemos força na realização de uma ampla campanha nacional em defesa da aplicação imediata de 10% do PIB nacional na educação pública. Assim poderíamos levar este debate a cada local de trabalho, a cada escola, a cada cidade e comunidade deste país, debater o tema com a população. Nossa proposta é, inclusive, promover um plebiscito popular (poderia ser em novembro deste ano), para que a população possa se posicionar. E dessa forma aumentar a pressão sobre as autoridades a quem cabe decidir sobre esta questão.
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Convidamos as entidades e os setores interessados que discutam e definam posição sobre esta proposta. A idéia é que façamos uma reunião de entidades em Brasília (dia 21 de julho, na sede do Andes/SN). A agenda da reunião está aberta à participação de todos para que possamos construir juntos um grande movimento em prol da aplicação de 10% do PIB na educação pública, consensuando os eixos e a metodologia de construção da Campanha.
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ASSINAM ESSE MANIFESTO: ABEPSS, ANDES-SN, ANEL, CFESS, COLETIVO VAMOS À LUTA, CSP-CONLUTAS, CSP-CONLUTAS/DF, CSP-CONLUTAS/SP, DCE-UFRJ, DCE-UnB, DCE-UFF, DCE UFRGS, ENECOS, ENESSO, EXNEL, FENED, MST, MTL, MTST/DF, MUST, MOV. MULHERES EM LUTA, OPOSIÇÃO ALTERNATIVA, CSP-CONLUTAS/RN, PRODAMOINHO, SEPE/RJ, SINASEFE, SINDSPREV, SINDREDE/BH, UNIDOS PRÁ LUTAR.
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Fonte: http://educacaoemlutamg.blogspot.com/2011/10/manifesto-nacional-por-que-aplicar-10.html

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A impaciência com as coisas da vida


Arthur Schopenhauer (1788-1860) - filósofo alemão


Em homenagem a Arthur Schopenhauer (1788- 1860)

“Sempre que me misturo aos homens, fico menos humano” (Thomas de Kempis)

Por: Lúcio Alves de Barros*


Já estou ficando velho, pois rabugento já sou. Nasci com mais de 60 e não tenho mais o mínimo de paciência para certas coisas que com o tempo tornaram-se normais e naturais, Sobre algumas é bom falar, pois assim ainda vou ficando mais enjoado e surdo e paro de ouvir essas sandices. Neste espaço vou destacar somente três.

A primeira diz respeito a essa coisa de cota para negros nas instituições de ensino. Já perdi a paciência nestes debates porque é óbvio da necessidade dessas cotas para os negros. Pelo amor de Deus, acho que nem desenhando o povo entende que esse país é resultado da pura, nua (literalmente) cruel escravidão. Por consequência, da violência e da crueldade. Não vou nem me referir aos índios, mas cá entre nós... só de pensar nessa história é difícil não lembrar da literatura que não cansou de revelar como os portugueses, espanhóis e ingleses superlotavam os porões dos seus navios com negros africanos. E estes, longe de suas terras eram vendidos como animais. O Brasil, esse país para poucos e de difícil entendimento, só se deu ao trabalho de libertá-los em 13 de maio de 1888 e isso porque a coisa ficou feia e o negro ficou caro. Logo, são anos e mais anos de escravidão que nem vou contar porque cansei e estou sem paciência. Se isso não for uma boa justificativa para as cotas dos filhos, dos filhos e dos filhos que resistiram por aqui, pelo amor de Deus. E nem vou comentar a "teoria do branqueamento" que passou por aqui. Ela não merece maiores detalhes.

Outra coisa que merece destaque é esse culto exacerbado ao corpo. A ideologia da corpolatria conseguiu pelos meios de comunicação disseminar que temos que ser magros porque ser obeso é doença. Sabemos da obesidade mórbida e patologias associadas a ela. Mas convenhamos, qual o problema em ter uns quilinhos a mais aqui e ali. Ademais, tem gente caindo na anorexia e na busca frenética de mais e mais endorfina. Portanto, cansei de ver a Revista Veja com aqueles corpos belos e maravilhosos cheios de retoques de programas de computador chamando atenção para a fulana que não tem nenhuma gordurinha. E já estou de saco cheio (não mais o esvazio) de ver a capa da revista Playboy que nunca envelhece. Estou ficando velho mesmo, as coisas vão caindo e o mesmo não acontece com as capas que mostram as mesmas posições, caras, pernas, ancas e bocas ginecológicas. Nada é passível de finitude nesse mundo ilusório da mídia. Esse conto de vigário já cansou. É chato e causa mal-estar ver as pessoas caindo de boca na indústria cultural e gastando o pouco que economizaram em revistas recheadas de mentiras e enganações. A alienação é boa quando a crença nas manifestações não tem limites. Acredito que os bípedes humanos acreditam em tudo por duas razões: (1) possuem um medo exagerado da morte e (2) porque são idiotas. Do contrário, aceitariam a finitude do próprio corpo e não deixariam de reclamar no Procon os seus direitos porque, definitivamente, aqueles corpos não existem.

Por último, não é possível aceitar certas elucubrações. Agora vejo na TV que solidão é doença. Não é possível, ficar triste já era doença enganosa, engordar já comentei, ficar só - até por opção - ou é sintoma ou é caso de internação. Se o sujeito não suporta ficar na própria companhia é outra história, mas dar um tiro na solidão não faz o mínimo de sentido. E me poupem desses discursos de psicólogos e psiquiatras que compram essas ideias de indústrias farmacêuticas e se entopem de dinheiro ao ponto de legitimarem essas coisas como verdades absolutas em troca de entrevistas, livros e revistinhas de autoajuda. Seres humanos são socializáveis até na solidão. E se acabarem com essa possibilidade o que fazer dos poetas, dos músicos, dos filósofos, artistas e escritores? E tem mais, agora é um tal de psicopatia para lá, sociopatia para cá que me pergunto qual o problema em encarar o sujeito como um criminoso que merece a privação da liberdade e pronto. Se ele não for doente, nas mãos de um advogado ele ficará, mas conheci gente entre as grades que achou foi bom ter feito isso e aquilo, visto que os benefícios foram muito maiores que os custos. Então creio que basta dessa conversinha ridícula de senso comum que procura benefícios privados em tudo.

O ser humano, chamado carinhosamente de bípede humano por Schopenhauer, já é um problema em potencial. O outro já é o estranho e ele habita em mim. O mínimo que podemos fazer é não produzir mais sofrimento ao outro, nos esforçar para levar algumas coisas mais a sério e um bom começo é buscando informação, deixando de vomitar assuntos, problemas, recalques e sintomas. Se o outro é o problema, nada como falar para ele, estudar, pesquisar, conhecer e perceber que longe da tolerância e do conhecimento não existe salvação.

** professor e Doutor em Ciências Humanas pela UFMG.

sábado, 22 de outubro de 2011

Briga de alunos envolve pais e vai parar na delegacia



Da Redação

Em um ataque de fúria, o pai de uma aluna de 10 anos teria pegado um pedaço de madeira e ferido seis crianças que estudam em um colégio público de Juiz de Fora, na região da Zona da Mata. Antes, ele teria sido agredido por populares durante uma confusão generalizada.

As agressões aconteceram anteontem, por volta das 17h, após a filha do aposentado Lúcio Afonso Sagantini, 53, ter apanhado de uma colega de classe por causa de uma disputa por tinta guache. Segundo a capitã Kátia Moraes do 2º batalhão, a menina chegou em casa dizendo que tinha levado vários chutes de uma colega de 11 anos. "Ela disse que a garota roubou seu pote de tinta para colorir e que estava sendo ameaçada na escola", contou a capitã Kátia. Revoltado, o aposentado, que mora em frente ao colégio, no bairro Bonfim, foi até à instituição de ensino tirar satisfações com a menina suspeita das agressões.

Ainda de acordo com a PM, vários pais e moradores que estavam na porta do colégio disseram que o homem foi agressivo e ameaçou bater na estudante. Indignados, populares foram à casa do suspeito, onde funciona um lava-jato, e apedrejaram um carro que estava estacionado na porta. Uma das pedras chegou a acertar o braço do homem. Em seguida, Sagantini teria revidado e agredido com um pedaço de madeira seis estudantes, com idades entre 9 e 15 anos, e outras testemunhas que foram ao local para protestar. Após a confusão, oito crianças foram encaminhadas para o Hospital de Pronto-Socorro de Juiz de Fora, mas não tiveram nenhum ferimento grave e foram liberadas em seguida.

Delegacia. Outras 25 testemunhas envolvidas na confusão foram conduzidas à delegacia. Sagantini prestou depoimento à polícia e negou que tenha agredido as crianças, sendo liberado em seguida. Ainda de acordo com informações da Polícia Civil, o suspeito deverá responder por crime de lesão corporal.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Desenvolvimento infantil

* Naercio Menezes Filho*

Como sabemos, o Brasil ainda apresenta índices de pobreza e desigualdade muito elevados, incompatíveis com a sua renda per capita. Isso é ruim para a nossa sociedade e, além disso, tem consequências importantes para a violência e criminalidade. Mas, por que será que grande parte dos adultos nas famílias mais pobres tem tantas dificuldades para encontrar um trabalho fixo com remuneração adequada?

Nos últimos anos, a sociedade brasileira entendeu que a raiz de muitos desses problemas está no fato de que os alunos aprendem muito pouco nas escolas públicas brasileiras. Nesse sentido, novas políticas educacionais têm sido implementadas nas redes municipais e estaduais para tentar melhorar a qualidade do ensino nas nossas escolas.

A novidade é que novas pesquisas científicas têm mostrado que essas deficiências de aprendizado podem estar relacionadas com problemas sérios no desenvolvimento infantil dessas crianças que foram se acumulando ao longo do tempo. Segundo o Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard, experiências de risco e situações de estresse prolongado no início da vida das crianças podem afetar o seu desenvolvimento futuro ao alterar a sua estrutura genética, provocando mudanças físicas e químicas no cérebro que irão perdurar para o resto da vida.

Essas experiências de risco estão relacionadas com problemas nutricionais, mas também com problemas no convívio familiar e falta de estímulos adequados nos primeiros anos de vida.

Interação entre genes e meio ambiente
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 Pesquisas mostram que as deficiências de aprendizado podem estar relacionadas com problemas na infância.  Agora podemos entender melhor por que algumas medidas na área educacional tem tido tão pouco efeito no aprendizado das crianças.

Introdução de computadores na sala de aula, aumento dos salários e da escolaridade dos professores, redução do tamanho da classe, todas essas políticas tem tido resultados muito decepcionantes até agora. Via de regra, elas não conseguem aumentar a qualidade do ensino ou, em alguns casos, beneficiam somente os alunos com pais mais educados ou os que estudam em escolas privadas.

Na verdade, o que a ciência está sugerindo é que a dificuldade de melhorar o aprendizado das crianças mais pobres pode estar relacionada com problemas no seu desenvolvimento anterior, que podem ter alterado o seu nível de concentração e sua capacidade de reagir em face de situações adversas. Logo, uma parte significativa dos nossos problemas educacionais e, portanto, da pobreza, desigualdade e criminalidade poderiam ser evitados caso as políticas para o desenvolvimento infantil fossem mais eficazes. Se desenvolvermos uma série de políticas públicas eficientes para as nossas crianças, poderemos melhorar substancialmente a sua situação no prazo de uma geração. Quais os caminhos a serem seguidos?

O primeiro problema, que precisa ser enfrentado com urgência, é o de saneamento básico. Uma parcela substancial dos brasileiros ainda vive em casas sem saneamento adequado. Isso faz com que a incidência de doenças seja alta nessas famílias, o que prejudica o desenvolvimento e o aprendizado das crianças, chegando até a mortalidade infantil, que ainda é muito elevada no Brasil.

Além de programas como o "Luz para todos" e "Minha casa minha vida", o governo federal deveria lançar urgentemente um programa de água e esgoto para todos. Isso diminuiria muitos os problemas de saúde nos primeiros anos de vida. Além disso, é importante fornecer informações para que as famílias possam detectar precocemente problemas de desenvolvimento infantil e procurar ajuda em caso de necessidade. Um dos programas mais bem sucedidos para aumentar os cuidados com a saúde é o Programa Saúde da Família.

Pesquisas mostram que a taxa de mortalidade infantil diminuiu bastante nos municípios em que o programa foi implementado, assim como a incidência de doenças entre as crianças. Entretanto, dados das pesquisas domiciliares do IBGE mostram que a cobertura desse programa entre as famílias mais pobres ainda é de apenas 60%. Assim, há necessidade de ampliar a cobertura desse programa, assim como ocorre com o programa Bolsa Família, que atinge uma proporção maior de famílias pobres.

Além disso, a parte operacional e de capacitação do programa tem que ser bastante melhorada para aumentar o impacto das visitas dos médicos e dos agentes comunitários em termos de diagnóstico e tratamento de problemas de desenvolvimento infantil.

Finalmente, a questão da creche e da pré-escola é fundamental. Saúde e Educação estão intimamente relacionadas. Sabemos que os alunos que frequentam a pré-escola aprendem mais no ensino fundamental do que os que entram na escola somente no primeiro ano.

Entretanto, esse impacto é maior para os alunos que tem mães mais escolarizadas e para os que estudam em escolas privadas. Com relação ao impacto da creche, as evidências disponíveis ainda são bastante preliminares. Precisamos de pesquisas que nos mostrem que tipo de creche e pré-escola aumentam mais o aprendizado futuro, especialmente entre as crianças mais pobres.

A questão é fundamental, os problemas são muitos e o tempo é curto se quisermos melhorar significativamente a vida da próxima geração de brasileiros. Mãos à obra.

* Naercio Menezes Filho, professor titular - Cátedra IFB e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, é professor associado da FEA-USP e escreve mensalmente às sextas-feiras. email: naercioamf@insper.edu.br

Fonte: Valor Econômico - SP

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Racistas atacam escola

Pichação com suástica fala em futuro das ''crianças brancas''

SÃO PAULO.

Uma escola municipal na periferia de São Paulo, que iniciou este ano trabalho de conscientização dos alunos sobre diversidade racial, teve o muro pichado com frase racista e símbolos nazistas. O caso está sob investigação da Polícia Civil. A suspeita é que a ação se ligue às medidas afirmativas feitas pela escola. A pichação foi no fim de semana. Em preto e vermelho, foi escrito "Vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas!", com uma suástica.

Em outro trecho, dois símbolos ligados ao neonazismo: os números 14 (alusão a slogans do escritor americano David Lane, fundador de um grupo neonazista) e 88 (usado por alguns grupos como a saudação "Heil Hitler"; a letra "h" é a 8ª do alfabeto).

Após perícia, o muro foi repintado pela direção da escola. A denúncia chegou ao 40º DP anteontem pela diretora Cibele Racy. A unidade atende cerca de 400 crianças de 4 a 6 anos e fica no bairro do Limão, Zona Norte da capital. A polícia ainda não tem suspeitos, mas, para o delegado Antonio de Padua de Souza, o crime está relacionado às atividades com os alunos de combate ao racismo.

- Presumimos que alguém deve estar descontente com a direção da escola pelo programa de conscientização da igualdade racial e reagiu - afirmou Souza.

A polícia já procurou informalmente professores e funcionários para colher informações. O caso também foi comunicado à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância de São Paulo. Em nota, a prefeitura lamentou o ocorrido e disse que a escola é um exemplo a ser seguido por outras da rede. A Secretaria Municipal de Educação informou que as ações realizadas pela escola foi discutida com pais, professores e alunos antes de serem aplicadas.

Ainda segundo a prefeitura, a temática da diversidade racial também está presente nas atividades lúdicas. Neste ano, a festa junina teve inspiração afro. No lugar da tradicional quadrilha, as crianças fizeram apresentações de capoeira.  Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional é crime, com pena de reclusão de um a três anos e multa.

Fonte: (O Globo - RJ)

Aluno de universidade de classe média está sem freio, diz docente


Tela : “O grito” (1893) de Edvard Munch

DO LEITOR ARI MACEDO - NA fOLHA DE SÃO PAULO

DE OSASCO (SP)

Estou indignado com os jovens estudantes brasileiros. Sou professor de uma universidade privada, que atende universitários de classes C, D e E, há nove anos e vejo, que a cada semestre, uma legião deles está menos preocupada com o conhecimento.

O que importa mesmo é o diploma. Não sou tão velho assim, tenho 36 anos, mas nunca desrespeitei um professor --seja na universidade, seja no próprio colégio.Por mais que prepare as aulas com dedicação, permanentemente preciso chamar a atenção dos alunos.

Certo dia, lecionando em uma sala com microfone, um grupinho fala mais alto do que eu. Imagine. Conversas paralelas em tom alto, intervenções grosseiras, atendimento de celular em sala, são recorrentes no ensino superior. Vejo que a indignação não é só minha, mas de vários colegas da mesma universidade e de outras.

Quando o professor pede que o aluno saía da sala por indisciplina, são recorrentes dizeres como "eu pago e você dá aula" ou "sai você". E se o professor sair da sala, é bem provável que os alunos recorram à ouvidoria da universidade.

Na segunda-feira, uma aluna me chamou de "cavalo" só porque chamei a sua atenção durante a aplicação da prova, pois ela tentava "colar".

Outro aluno da mesma sala me disse, ainda durante a prova: "Se você reprovar mais de 70% da classe, o problema não é mais dos alunos, é do professor".

A juventude brasileira está sem freios. Não sabem mais a distinção do certo ou errado. Isso me desanima.

Escolhi lecionar porque acreditava que poderia transmitir o conhecimento. Digo, agora com mais certeza, de que nós professores somos uma classe em extinção e sem mérito nenhum.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Homem é assassinado dentro de campus de universidade pública no Rio

Vítima foi morta nas dependências da Universidade Federal Rural (UFRRJ)

Um homem foi assassinado com pelo menos três tiros na tarde desta quarta-feira (19) dentro do campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica, na Baixada Fluminense. Segundo a assessoria de comunicação da instituição, a vítima, que estava em uma motocicleta, levou dois tiros que foram disparados por uma dupla de homens encapuzados, que também estavam em uma moto. Após ela ter caído no chão, os assassinos fizeram mais um disparo e fugiram. De acordo com a UFRRJ, o homem morto não era estudante nem trabalhava na universidade. Ele seria morador do bairro do Coqueiral.
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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Brasil real

Muro de escola municipal é pichado com frase racista



FOTO DE EPITÁCIO PESSOA/AGÊNCIA ESTADO/AE

Agência Estado - 18/10/2011 - 11:11

O muro da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Guia Lopes, no Limão, zona norte de São Paulo, foi pichado durante o fim de semana com a frase "vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas", acompanhada da suástica nazista. Para a diretora do colégio, Cibele Racy, foi uma reação às ações afirmativas pela igualdade racial desenvolvidas desde o início do ano entre os alunos.

A Emei tem 430 alunos, com faixa etária entre 4 e 6 anos, divididos em classes da educação infantil 1 e 2 (pré-escola). Durante este ano, as questões raciais têm sido discutidas com as crianças, como parte do projeto pedagógico. A festa junina, por exemplo, teve motivos afro-brasileiros. "Foi um sucesso total. Trouxemos comidas e aspectos culturais da África. Tenho vários depoimentos de pais mostrando toda a aceitação", diz Cibele.Segundo a diretora, apesar de bem recebido, o projeto pode ter despertado reações negativas por parte de alguém que sabe do trabalho desenvolvido pelo colégio. "Essa pichação teve um endereço certo. Não foi algo aleatório. Mexemos em uma ferida muito profunda e eu estava até preparada para alguma reação, mas não dessa maneira".

A diretora da Emei afirma que, em sete anos na unidade, nunca havia visto uma pichação nos muros da escola. Ela diz ter ficado surpresa com a manifestação racista. "A escola foi aberta domingo para a eleição do conselho tutelar. Quando fui embora, por volta das 19 horas, passei pelo muro lateral e vi o que estava escrito. Fiquei espantada. Pela manhã, já chamei os professores para discutir o que seria feito".

Cibele pretende registrar um boletim de ocorrência na delegacia do bairro nesta terça-feira (18), mas não só isso. No próximo dia 10, haverá uma reunião pedagógica no período noturno. Os pais de alunos serão convidados para um bate-papo com integrantes de movimentos pela diversidade racial. Além disso, os alunos serão convidados a remover do muro a frase e o símbolo de intolerância, mas de uma forma divertida.

"Vamos dizer que sujaram a escola e que precisamos dar um jeito naquilo. As crianças estarão livres para pintar o que desejarem. É uma forma de eliminar completamente essa marca lamentável. O que merece publicidade é o que tem sido feito de positivo aqui na escola".

Todos os anos, em novembro, o colégio faz passeata temática em via pública. A diretora diz que, no próximo mês, a igualdade racial será o tema da manifestação. Professora de Psicologia da Educação da Universidade de São Paulo (USP), Silvia Colello acredita que o projeto escolar surtiu efeito. Daí a reação. "Foi tão eficiente que as vozes contrárias não conseguiram se calar". A professora da USP elogia a solução proposta pelo colégio. "A diretora está dizendo que vai responder de forma pacífica, lutando pela igualdade. Vamos cobrir as marcas da violência com a nossa mensagem, com desenhos, com o que temos a dizer". Segundo Silvia Colello, na faixa etária dos alunos da Guia Lopes ainda não há manifestação de racismo. "A criança pequena que é branca brinca com a negra sem problemas. A discriminação é algo socialmente adquirido, que surge depois. Na adolescência, por exemplo, a intolerância já está arraigada".

Depois do registro do boletim de ocorrência, a Polícia Civil deve instaurar inquérito para investigar o caso e apurar responsabilidades. Em São Paulo, manifestações racistas são apuradas pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

sábado, 15 de outubro de 2011

Este dia 15 deve ser dedicado à resistência heróica dos educadores de Minas Gerais


Por Valter Machado da Fonseca*

Caros (as) leitores (as)! Gostaria de usar esta data de 15 de outubro de 2011 para fazer, juntamente com vocês, uma pequena reflexão e, ao mesmo tempo, prestar uma singela homenagem aos professores de Minas Gerais, categoria à qual pertenço. 

Há cerca de um mês atrás, presenciamos o final do movimento grevista dos professores de Minas Gerais. Foram mais de 100 dias de greve, mais de três meses de resistência heroica dos trabalhadores da educação. O movimento de resistência dos professores serve perfeitamente para que possamos fazer importantes reflexões acerca da profissão docente no Brasil.

Mas, a luta dos professores de Minas deve ser analisada não apenas pelo contexto econômico, mas, sobretudo, pelo lugar que ocupa esta importante categoria da classe trabalhadora no Brasil e no mundo. No contexto das lutas dos trabalhadores da América Latina, as lutas dos educadores de Minas Gerais sempre assumiram lugar de centralidade, de destaque dentro do conjunto das lutas sociais do continente. É preciso chamar à atenção para a relevância, o lugar e o papel dos professores na sociedade em todos os tempos, mas, em especial nos tempos modernos.

Neste dia 15 de outubro, data dedicada ao dia dos professores, é fundamental questionarmos: qual o lugar ocupado pelos professores na sociedade? Qual o papel dos professores na vida de todo o povo, seja no Brasil, seja no restante do mundo? Qual a importância dos professores para todos nós? Diante dessas indagações, é notório que os professores participam da vida de todos nós. Toda a sociedade passa, necessariamente, parte da sua vida, pelas mãos dos educadores. Então, aqui cabe a pergunta: por que, algumas categorias de profissionais e o setor empresarial atingem remunerações exorbitantes, enquanto os professores ganham salários aviltantes, se todos precisam dos educadores para se qualificar?

A educação como base para a vida!

Dentre os profissionais da educação, a parcela mais sacrificada e menos reconhecida são os professores da Educação Básica. A própria palavra “básica” quer dizer “onde tudo começa”, “condições essenciais” para o início e sustentação da vida humana. Então, por que os governantes [que também passaram pelas mãos dos professores] não dão nenhuma importância para essa categoria profissional? Por que o governo do Estado de Minas Gerais recebe os mestres de seus próprios filhos e netos com violência e cassetetes? Por que os governantes precisam mentir descaradamente para tentar descaracterizar um movimento justo e legítimo da categoria dos trabalhadores da educação?

A educação e as promessas eternas!

Ano que vem, novamente será ano de eleições. E, eu aposto com quem quiser que, mais uma vez, a Educação será o principal tema a ser proclamado nos palanques eleitorais. Nesses palanques, onde ocorre um verdadeiro desfile de promessas descabidas e mentirosas, a educação vira assunto, no qual todos se dizem especialistas e, portanto, com direito a dar os mais diversos palpites e as mais diversificadas opiniões. Todos viram “educadores” em tempos de eleições, inclusive aqueles que utilizam a polícia e os “cassetetes democráticos” contra os professores em luta.

Neste sentido, gostaria de findar este breve artigo, prestando minha singela homenagem ao movimento grevista, legítimo, deflagrado pelos professores, não somente de Minas Gerais, mas em todos os recantos desse imenso e magnífico país. O movimento [a greve dos cem dias] dos professores de Minas Gerais, apesar de não ser sequer mencionada pelos opressores, com toda a certeza entrará para os anais das lutas heroicas deflagradas pela classe trabalhadora brasileira. Luta que jamais sairá das mentes e dos corações de todo o povo marginalizado e oprimido deste nosso imenso país." 

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* Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia – PPGED/FACED/UFU. machado04fonseca@gmail.com

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dia da criança II



A educação infantil na era da internet, uma reflexão

Por Wagner Bezerra, especial para o JB

Se eu fosse criança, talvez pudesse prestar mais atenção sobre a frase dita por Steve Jobs, em 12 de junho de 2005, aos formandos da Universidade de Stanford nos EUA: “Stay Hungry. Stay Foolish”. Perceberia que a fome a que o gênio dos dispositivos tecnológicos se referiu é a de conhecimento, e quando disse “stay foolish”, talvez sugerisse aos jovens “nunca deixem de sonhar, acreditem nas suas ideias mais loucas”.

Se eu fosse criança, num mundo com tantas máquinas maravilhosas a desafiar minha curiosidade e inteligência, perguntaria: para que tudo isso serve? O que sou capaz de fazer com tantasinovações? O que posso transformar com tudo isso que me convida a mudar, evoluir?

Se eu fosse criança, talvez dissesse aos adultos que eles deveriam agir com mais maturidade em relação a todos estes novos brinquedos tecnológicos que não cansam de brotar de tantas mentes geniais, como John Baird, Steve Jobs, Mark Zuckerberg, e tantos outros revolucionários criativos que, com suas parafernálias midiáticas, encantam, seduzem, hipnotizam e, muitas vezes, transformam a todos num bando de seguidores de vaga-lumes eletrocibernéticos.

Se eu fosse criança poderia confessar aos meus pais que internet vicia. TV vicia. Jogos eletrônicos viciam também. Que eu sou completamente mídiaviciado. Que embora não tenha sido muito justo ter me deixado com as babás eletrônicas, eu não culpo ninguém por isso. Talvez eu contasse a eles que TV e internet são capazes de oferecer muito mais do que notícias e diversão. Porque toda criança é capaz de entender à sua maneira o que vem da TV ou da web e atribuir significado a tudo. E quando uma criança dá novo significado ao que consome pela mídia, imediatamente, em tempo real, transforma esses conteúdos em educação.

Se eu fosse criança, não esconderia de ninguém que o conteúdo que recebemos da mídia ajuda a constituir o que seremos no futuro. Então, eu daria um jeito de contar a todo mundo que, em muitos países, como na Áustria e no Reino Unido, por exemplo, muitos professores já descobriram que é importante mídia-alfabetizar na escola, para que todas as crianças e adolescentes possam aprender a compreender criticamente a mídia. Se lá, as crianças aprendem a selecionar o que vem da TV e da internet, pode ser que aqui também funcione. Eu contaria que, para essas pessoas, liberdade de expressão é um princípio sagrado, liberdade de imprensa é um direito fundamental, mas, o que é oferecido pela mídia às crianças também é responsabilidade do Estado, que deve assegurar a maior de todas as liberdades: a liberdade de escolha.

Se eu fosse criança pensaria em contar ao meu melhor amigo que às vezes eu também me sinto mídia. Tipo mídia-menino com alma digital e segunda vida na web.

Se eu fosse criança diria ao meu professor que eu não quero trocar o livro pelo tablet. Quero os dois. Explicaria que eu quero aprender mais sobre ciberespaço, inteligência coletiva e tudo que me faz gostar tanto de assistir TV, acessar o Second Life, jogar no Facebook, falar no MSN e mandar mensagens pelo celular, tudo ao mesmo tempo, triturado e junto.

Se eu fosse criança, tentaria convencer os adultos que não basta a tecnologia da informação mudar o mundo. É preciso decidir o que fazer com ela. Me esforçaria para fazê-los aceitar que, daqui pra frente, vou estar cada vez mais ligado, antenado, conectado, ciberespacializado. E que eles precisam decidir que tipo de educação vai ser midiatizada para todos nós.

Agora, como não sou mais criança, faço da mídiaeducação uma profissão de fé, para que pais, professores e gestores da educação incluam permanentemente a alfabetização para os meios no cardápio literário do público infanto-juvenil; para que se ampliem os benefícios oriundos do conteúdo positivo da TV e internet; para que o lixo midiático seja reciclado pelos próprios midiacidadãos; para que a tecnologia da informação e os novos recursos digitais estejam, cada vez mais, em comunhão com a formação de cidadãos críticos e esclarecidos. Crianças, sejam famintos, mas, jamais sejam tolos.

Wagner Bezerra é Publicitário, midiaeducador, diretor de programas educativos para TV. Autor do "O Segredo da Caverna - A Fábula da TV e da Internet”; Cortez Editora, 2011 - wagnerbezerra@cienciaearte.com

Fonte: Jornal do Brasil

Dia da criança

Educação e trabalho infantil

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sobre o controle social e ético da liberdade de expressão

Por Fátima Oliveira (colunista de O Tempo (MG))

Das duas, uma, ou nenhuma: sou insana e quem pensa diferente é saudável; ou sou uma "sana" ilhada - cercada de insanos por todos os lados. Como as duas premissas são impossibilidades, decidi filosofar sobre o furdunço polissêmico em que tentam colocar a liberdade de expressão... Ora, liberdade de expressão não comporta polissemias (do grego poli = muitos e sema = significados)!
A presidente Dilma Rousseff, em discurso nos 90 anos da "Folha", disse: "A multiplicidade de pontos de vista, a abordagem investigativa e sem preconceitos dos grandes temas de interesse nacional constituem requisitos indispensáveis para o pleno usufruto da democracia, mesmo quando são irritantes, mesmo quando nos afetam, mesmo quando nos atingem. E o amadurecimento da consciência cívica da nossa sociedade faz com que nós tenhamos a obrigação de conviver de forma civilizada com as diferenças de opinião, de crença e de propostas" (FSP, 21.2.2011).
A liberdade de expressão é um direito de cidadania. Há limites democráticos, pois democracia não é anarquia, até para falar, sem que seja, a priori, censura, tal como o senso comum crê: um gesto ditatorial. Em tudo que prejudique direitos humanos de um setor social - caso de publicidade e novelas machistas - cabem limites, isto é, civilidade; e também marketing social.
Quem diz o que pensa, o que quer e quando quer, precisa saber que, numa sociedade democrática e plural, é essencial ter em conta as diferentes moralidades, adotando a prática de deferência à alteridade (colocar-se no lugar do "outro") ao falar, pois cada pessoa - falo o conceito de pessoa, e não o de seres humanos, pois há seres humanos e pessoas... - é totalmente responsável por seus atos e palavras, inclusive a escrita. Eis os limites.
À ampla liberdade de expressão corresponde absoluta responsabilização pelas opiniões emitidas. Todavia, muita gente, equivocadamente, só entende a liberdade de expressão em sua face direito de dizer - falar e agir como bem lhe aprouver, fazendo de conta que a responsabilidade por palavras e atos significa sempre censura descabida.
A censura não se apresenta abstratamente, pois na real é ela e suas circunstâncias. Pelo nosso passado de uma ditadura militar, a tendência de quem ama a liberdade, aparentemente, é a mesma dos que a odeiam: achar que o conceito de censura é sempre aquele que a ditadura militar nos impôs. É uma distorção conceitual.
Os amantes da liberdade, porque foi a censura da ditadura quem usurpou suas vozes e até vidas, e os que a odeiam, muitos coparticipantes dos tempos de arbítrio, porque querem esculhambar, acusar e julgar sem provas pessoas e governos; fazer linchamento moral público, só na base de acusações; e não querem ser chamados à responsabilidade, jamais!
Não é um imbróglio. Tem nome: safadeza conservadora autoritária. E tem sido praticada pelas viúvas e os viúvos da ditadura militar de 1964 e seus sequazes, sempre a postos para confundir pessoas incautas. Quem defende as liberdades democráticas nunca fala a mesma língua de quem um dia sufocou-as, até quando usa as mesmas palavras.
É preciso um razoável repertório de malícia, perder a crença nas pedras de sal, para não ser embromado e apreender que o respeito à alteridade é condição indispensável ao fortalecimento da democracia, que não pode prescindir do controle social e ético da liberdade de expressão ao elaborar um novo contrato social que assegure as liberdades democráticas.
Fonte: O Tempo (MG)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Descontrolada com respostas de alunos e segurando faca, professora questiona adolescentes em escola de Contagem


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Duvido muito que a notícia abaixo tenha retratado a realidade, mas não tenho dúvida que não deixa de ser uma reação oriunda da indignação coletiva de uma categoria que lutou mais de 100 dias por dignidade e respeito. Uma categoria que foi mais do que humilhada, foi violentada repetidas vezes em seus mais elementares direitos. O episódio não deve ser visto como um acontecimento criminalizável e esporádico. No Blog em apreço estamos colocando várias notícias sobre a violência e episódios inacreditáveis que estão acontecendo em salas de aula. A educação no Brasil é um caos e nesse campo, corpos e mais corpos vão ficando pelo caminho. E é óbvio que a "ressaca da greve" - um movimento legítimo - está começando a fazer efeitos. Que a professora seja poupada de todo sofrimento e que os alunos repensem o que andam falando em sala de aula, um espaço de interação e de liberdade de pensamento. Professores e alunos não são inimigos, mas ambos são vítimas do descaso que perpassa há anos a política de educação no Brasil. 

Lúcio Alves de Barros

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Descontrolada com respostas de alunos e segurando faca...
Por Tábata Martins

Uma professora de 25 anos teve uma crise nervosa no momento em que dava aula de filosofia para alunos do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Mário Elias de Carvalho. A instituição de ensino é localizada no bairro Jardim Riacho, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. De acordo com Fernanda Araújo de Carvalho Figueiredo, vice-diretora da escola, o descontrole emocional ocorreu durante o turno matutino das aulas dessa quinta-feira (6).

Segundo a vice-diretora, por volta das 8 da manhã, ela foi informada pela supervisora da instituição que a professora estava descontrolada dentro de sala e com uma faca em um das mãos. Na sala, Fernanda Araújo retirou o objeto da mãos da educadora e a levou para a coordenação. “No momento em que eu perguntei para ela sobre o que tinha acontecido, ela começou a rir muito, quando percebi que tinha alguma coisa de errado. Em seguida, acionei a polícia, que registrou um boletim de ocorrência e levou a professora até ao Hospital Espírita André Luiz, em Belo Horizonte”, disse a vice-diretora.

Conforme Fernanda Araújo, o descontrole da professora foi decorrente de respostas dos alunos, que têm entre 15 e 17 anos. “Durante a aula, a educadora perguntou para os alunos o que eles queriam ser daqui a 5 anos, mas eles responderam que queriam ser marginais e tirar sangue de pessoas. Com a resposta, ela foi até a cantina, pegou a faca e voltou para a sala, quando a apontou para os adolescente e os questionou sobre as respostas dadas por eles”, conta Fernanda.

Essa não foi a primeira vez que a educadora apresentou problemas emocionais. Segundo a vice-diretora, há cerca de cinco meses, a professora tirou licença médica decorrente de tratamento relacionado a problemas psiquiátricos. Além disso, Fernanda Araújo descobriu que a educadora estava passando por um novo procedimento médico, mas que estava o escondendo dos colegas de trabalho. “Aparentemente, ela estava normal. Ela deve ter escondido que estava doente porque é designada, e, quando esse tipo de profissional tira licença médica, eles caem no INSS e recebem salário mínimo”, explica a vice-diretora. A professora dá aula na Escola Estadual Mário Elias de Carvalho desde 2006 e, nesta sexta-feira (7), permanece internada na unidade de saúde, que fica no bairro Betânia, na região Oeste da capital mineira.

Fonte: O Tempo (MG)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A cada três dias, professor sofre algum tipo de violência nas escolas de MG, segundo sindicato




Por Rayder Bragon

Especial para o UOL Educação  - Em Belo Horizonte
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Levantamento divulgado pelo Sinpro (Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais) revela que a cada três dias um caso de violência é registrado contra docentes em escolas públicas ou privadas do Estado. De acordo com Gilson Reis, presidente da entidade, os dados foram captados entre fevereiro, quando um serviço de disque-denúncia foi criado, e setembro desde ano. Ainda conforme o dirigente, as denúncias mais comuns são as que versam sobre intimidações sofridas nas unidades de ensino, seguidas por agressão verbal e física.
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O serviço foi implantando depois da morte do professor universitário Kassio Vinicius Castro Gomes, 39, ocorrida em dezembro do ano passado no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, situado na capital mineira. Na ocasião, a vítima foi esfaqueada em um dos corredores da instituição pelo estudante Amilton Loyola Caires, 23, que alegara sofrer "perseguição" do educador.

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Em julho deste ano, a Justiça determinou que ele deveria ser internado em estabelecimento psiquiátrico adequado ou hospital após ter sido comprovada, por laudo médico, quadro de esquizofrenia. O magistrado autor da sentença havia decidido que o estudante era inimputável, ou seja, não poderia ser responsabilizado pelo crime.
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“O número de denúncias vindas de escolas particulares é muito próximo dos números das escolas públicas. Isso dá margem a uma reflexão: muitas pessoas imaginavam que a violência está somente nas escolas públicas”, explicou. Segundo ele, das 83 ocorrências recebidas pelo disque-denúncia, 43 vieram de trabalhadores do setor público e 40 de docentes de escolas privadas.

De acordo com Reis, o sindicato recebe a denúncia e busca entendimento com a instituição de ensino. No entanto, o dirigente revela frustração pelo resultado.

“Das 40 denúncias que tivemos envolvendo as escolas privadas, apenas em um caso observamos o afastamento do aluno da disciplina do professor que fez a denúncia”, frisou.

Reis acusa o que denominou de “relação mercantil” entre as escolas particulares e os estudantes como entrave às punições que poderiam ser efetivadas. “Normalmente a escola não toma uma posição contra o seu “cliente”, que é o aluno, ou os pais dele”, revelou. Outro fator apontado pelo dirigente como inibidor de denúncias de violência contra professores é o fato de, nas escolas particulares, o educador temer a perda do emprego, caso exponha o problema. No tocante às denúncias feitas pelos professores de escolas públicas, o dirigente afirmou que os casos são levados ao conhecimento da Secretaria Estadual de Educação.

“Devemos lembrar que, o caso do professor Kassio, que terminou de forma trágica, iniciou-se com intimidações por parte do agressor”, relembrou. Presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), Emiro Barbini rebateu as acusações de Reis e as classificou de “levianas”. Conforme ele, os casos recebidos pelo disque-denúncia nunca foram repassados à entidade.

“Eles criaram o disque-denúncia, mas nunca nos passaram nem protocolaram nada. Não temos nada que comprove algum caso, no qual a gente possa auxiliar e intervir. Nós não temos o poder de fiscalização, mas temos o poder de estar junto às escolas, exigindo atitudes contra qualquer tipo de violência”, disse. De acordo com Barbini, os diretores são orientados a registrar casos de agressões, ou ameaças contra professores. “Ele não pode se omitir. Tem de constar no seu regimento interno a punição disciplinar relativa a casos de violência”, descreveu.
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A Secretaria de Educação de Minas Gerais informou que as 47 superintendências regionais de ensino do Estado registram todas as situações de conflito e dispõem de equipes técnicas que auxiliam a direção da escola no encaminhamento dos casos na verificação da medida disciplinar a ser adotada.
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Em relação à segurança nas escolas, o governo estadual ainda revelou, por meio de nota, que mantêm ações voltadas para a ‘inclusão social e a integração entre a comunidade e o ambiente escolar”, com a participação da Polícia Militar mineira. Para tanto, o informe citou programas como “Projeto Escola Viva, Comunidade Ativa”, “Programa Educacional de Resistência à Violência e às Drogas”, além do “Jovens Construindo a Cidadania”.
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Fonte: UOL

Minas cria disque-denúncia para professores vítimas de violência
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Criado em fevereiro pelo Sinpro-MG (sindicato dos professores da rede particular), o 0800 recebeu, até setembro, 83 ligações
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Fonte: Folha.com
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Um disque-denúncia criado em Minas Gerais para receber queixas de professores que foram vítimas de violência recebe, em média, uma denúncia a cada três dias. Criado em fevereiro pelo Sinpro-MG (sindicato dos professores da rede particular), o 0800 recebeu, até setembro, 83 ligações. Segundo o sindicato, o serviço é o único do tipo no país. Ainda de acordo com a entidade, 43 ligações partiram de professores da rede pública, e 40, da rede privada.

O presidente do Sinpro-MG, Gilson Reis, estima que o número de casos de violência seja ainda maior. Para ele, docentes da rede privada têm medo de denunciar abusos porque podem ser demitidos. Nos estabelecimentos particulares, ameaça, intimidação, agressão verbal e assédio moral são as queixas mais comuns. Houve também dois relatos de violência física, e um professor denunciou a existência de tráfico de drogas na escola.

O sindicato não detalhou os dados sobre denúncias nas escolas públicas. Para Reis, é importante que os professores denunciem agressões nos primeiros estágios para que elas não se tornem mais graves.

"No ano passado, um aluno matou um professor universitário em Belo Horizonte. Ele iniciou com a intimidação, depois houve a agressão verbal e chegou ao limite, o que poderia ter sido evitado", diz.

Na maioria dos casos, o autor da violência foi um aluno. As denúncias podem vir de professores do ensino básico e universitário. As queixas de docentes da rede privada são acompanhadas com o professor, levadas à direção da escola ou comunicadas à polícia.

O sindicato informou, porém, que apenas uma universidade tomou atitudes em relação a uma denúncia. Na rede pública, os casos são comunicados à Secretaria Estadual de Educação ou à Secretaria de Direitos da Cidadania do município.

Em Minas, as denúncias podem ser feitas pelo telefone 0800-7703035.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Professores sob ameaça constante



Minas Gerais convive com uma realidade preocupante na Educação. A cada três dias há uma denúncia de violência na rede particular e pública de ensino.

De fevereiro a agosto deste ano, foram 109 reclamações (43 relativas a Escolas privadas e 40 relacionadas a públicas, além de 26 reincidências, a partir de pessoas que ligaram para reiterar um problema), feitas por meio do disque-denúncia criado no início de 2011.

A maioria é de ameaças e intimidação. O levantamento, do Sindicato dos professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG), foi divulgado ontem. Com o slogan “Tem algo de errado na Escola. É hora de corrigir”, foi lançada também a campanha pela paz nas instituições de ensino, que será veiculada na mídia retratando formas de agressão enfrentadas pelos docentes no ambiente Escolar.

No período analisado, o serviço registrou 24 ocorrências de ameaça e intimidação, nove de agressão verbal, duas de agressão física, 17 de assédio moral (violência psicológica) e uma de tráfico de drogas, entre outras. Apenas uma Escola tomou providências, ao afastar oaluno da sala de aula por determinado período, com o objetivo de proteger o professor. Para o presidente do Sinpro, Gilson Reis, os dados reforçam a situação de violência mostrada em pesquisa da entidade feita em 2009.

Naquele ano, o levantamento “Rede particular de ensino: vida de professor e violência na Escola”, feito em parceria com a PUC Minas, mostrou que 39% dos profissionais entrevistados relataram ter visto situações de intimidação e 35%, de ameaça.

Em todo o estado, há 4,5 mil Escolas particulares e 70 milprofessores. A região metropolitana responde por 50% desse total. “É extremamente preocupante o que vem ocorrendo. Estamos lançando uma cultura de paz e não estamos tendo sucesso”, afirmou Gilson Reis.

Do total de denúncias, 80% são de casos que ocorreram em Belo Horizonte. Reis acredita que o número de casos identificados é bem menor que a realidade.

“Há uma tendência de silenciamento, pois os professores são pressionados pelas instituições. Na rede privada, vivemos a cultura da mercantilização, na qual o lucro é mais importante. Na pública, há a aproximação com o setor mais popular nas áreas periféricas”, disse. O Sinpro cobra do poder público e, principalmente, do Conselho Estadual de Educação(CEE), ações mais efetivas no combate à violência em sala de aula.

“Há 10 meses, enviamos correspondência ao conselho, que não se manifestou uma única vez. Propusemos a criação de uma câmara especial e de uma ouvidoria. É lamentável, pois mostra que não têm interesse no assunto e que estão se omitindo”, disse.

A diretora da superuntendência-executiva do CEE, Cátia Maísa Santos, informou que desconhece o recebimento de qualquer manifestação. Segundo ela o conselho é um órgão normativo e se manifesta por pareceres ou resoluções e, por isso, qualquer iniciativa deve ocorrer via secretaria de Educação.

ALTERNATIVAS

 Parcerias com outros órgãos estão em andamento: as secretaria de Estado e Municipal de Educação estão recebendo denúncias de professores de suas respectivas redes; o Ministério Público do Trabalho está criando uma ouvidoria para receber as reclamações; e até a Assembleia Legislativa se abriu para os debates.

De hoje a partir das 9h até quinta-feira, a Casa recebe o “Fórum Técnico Segurança nas Escolas”, na busca de soluções para o problema. O assunto é abordado também no site www.paznasescolas.org.br, criado pela campanha de mesmo nome. Os relatos de quem enfrentou o medo enquanto ensinava impressionam. professora de biologia da rede municipal de Contagem, na região metropolitana, J.A, de 46 anos, abandonou a Escola depois de meses de perseguição. Um aluno do 9º ano do ensino fundamental, insatisfeito com as cobranças da professora, a ameaçou diante da sala de aula lotada.

“Ele chegou o dedo na minha cara e disse para eu ficar esperta, pois eu não sabia com quem estava lidando. Meu carro foi rabiscado e meu marido passou a me buscar todas as noites, pois tive medo do que poderia me acontecer”, relatou. A pressão foi tão grande que ela deixou de trabalhar em Contagem e passou a se dedicar apenas às aulas em BH.

Professor de uma Escola particular na capital, R.G, de 38, é categórico: “Cansei de ouvir de alunos a velha pergunta: ‘Você sabe com quem está falando?’ ou ‘Você sabe quem é meu pai?’. Chamar a atenção de estudante em sala de aula significa, nos temos atuais, desagradar a ‘clientela’. O pior, depois de um aluno quase cuspir em você, é ter de ouvir da coordenação ou da diretoria para não reclamar, pois eles são bons pagadores”.

ENQUANTO ISSO...
...INDENIZAÇÃO NEGADA A FILHOS DE VÍTIMA

A família do professor Kássio Vinícius Castro Gomes, morto a facadas em dezembro do ano passado no Instituto Metodista Izabela Hendrix, enfrenta a segunda derrota na Justiça. Depois de o assassino, o universitário Amilton Loyola Caires, de 24 anos, ter sido considerado inimputável pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais em decorrência do laudo de sanidade mental que apontou esquizofrenia, a Justiça indeferiu, em primeira instância, o pedido para que a instituição de ensino pague indenização e pensão aos dois filhos do casal.

“Vamos recorrer, pois me entristece saber que o Kássio morreu no exercício da profissão, no ambiente de trabalho, e que a Justiça não reconhece isso”. Simone e Maria dos Anjos Castro, mãe do professor, foram homenageadas ontem no Sindicato do professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG).

DEPOIMENTOS

“Ele chegou o dedo na minha cara e disse para eu ficar esperta, pois eu não sabia com quem estava lidando. Meu carro foi rabiscado e meu marido passou a me buscar todas as noites, pois tive medo do que poderia me acontecer” (J.A, DE 46 ANOS, professora).

“Chamar a atenção de estudante em sala de aula significa desagradar a ‘clientela’. O pior, depois de um aluno quase cuspir em você, é ter de ouvir da coordenação ou da diretoria para não reclamar, pois eles são bons pagadores” (R.G., DE 38 ANOS, professor)

Fonte: Estado de Minas (MG)

Violência, não

O avanço da violência nas escolas públicas e particulares de Minas registrado pelas estatísticas e sentido na carne por professores e alunos mobiliza Ministério Público, Judiciário, Legislativo, sindicatos e educadores em busca de soluções para a paz. O número de ocorrências cresceu 140% (82 para 190) nas escolas no primeiro semestre deste ano comparado a igual período de 2010, segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social.

Em pouco mais de um mês, um menino de 11 anos foi flagrado com revólver na instituição onde estuda e um adolescente tentou matar a tiros um auxiliar de serviços em BH. E outro estudante agrediu uma diretora em Contagem. Há menos de um ano, um professor foi assassinado por um estudante na capital. Enquanto o Ministério Público discute com prefeituras das cidades polo de Minas a assinatura de termos de ajustamento de conduta (TAC) para combater o bullying, outro grave problema nas escolas, o Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar de Minas Gerais (Saae-MG) e o Sindicato dos Professores do Estado de Minas (Sinpro) se juntam ao Ministério Público e à Justiça para mapear a violência nos colégios dessas cidades polo.

“Nós e o Sinpro procuramos o Ministério Público e o juiz Antônio Gomes de Vasconcelos depois da morte do professor de Educação física. O próximo passo agora será a abertura de audiências públicas nessas cidades para discutir soluções e medidas para inibir a violência nas escolas, seja contra alunos, professores e funcionários”, informa o presidente do Saae, Carlúcio Borges Araújo.

Ele considera que a violência se manifesta de formas diferentes nas escolas. “Na pública, a violência física é mais presente. Na particular há violência psicológica aplicada pelo alto poder aquisitivo e as ameaças à carreira dos funcionários. Isso os (trabalhadores da Educação) deixa tensos, mas, como não há registro do desgaste, temem até o afastamento pelo INSS”, diz.

Já o Sinpro lançará campanha na segunda-feira mostrando situações vivenciadas pelos docentes. Para tentar solucionar essa difícil equação de combate à violência, a Assembleia Legislativa sediará o Fórum Técnico de Segurança nas Escolas, que, depois de enumerar propostas no interior, vem discutir a questão na capital. Para o professor da Faculdade de Educação da UFMG Walter Marques, a violência na escola é reflexo da própria sociedade. Ele afirma que o modelo “salvacionista” da Educação está falido e que a escola sozinha não conseguirá resolver estes problemas.

“Os conflitos sociais vão eclodir na escola, que há muito tempo está isolada da sociedade e da família. O professor hoje é pai, psicólogo, assistente social, enfermeiro. A escola assumiu uma função que não é dela e precisa voltar a compartilhar as responsabilidades”, afirma o professor.

“A pesquisadora da violência Helena Abramo, diz que a violência ocorre quando não se consegue conversar. O que falta na escola é diálogo. Quanto mais as escolas subirem seus muros, quanto mais as famílias se isolarem em condomínios, cercas elétricas e carros blindados, mais violência vai existir. É um trabalho de comprometimento e integração”, completa.

Professora da PUC Minas, Sandra Tosta ressalta outros aspectos para um índice de violência que chega a 26%, de acordo com pesquisa que ela mesma desenvolveu em escolas particulares entre 2009 e 2010: o perfil dos alunos e a falta de valorização dos professores. Segundo ela, a Educação precisa de políticas públicas sérias. “Não podemos pensar que o problema é só da escola. Os profissionais são profundamente desvalorizados e desqualificados e, com isso, perdem toda a sua eficácia como educador. Outra questão é o perfil do aluno que chega às escolas sem limites, com postura da própria família.

A Educação começa em casa, mas as famílias entregaram esse dever à escola. Assim, o professor vive situação de fragilidade e as causas de seu adoecimento são violência, estresse e relações tensas com a gestão escolar por causa das ameaças de desemprego”. O Sinpro também ouviu 2.500 educadores em todo o estado em 2009 para avaliar o problema. O estudo indica que 41% dos entrevistados já sofreram agressão. A maior parte (27%) foi vítima de ameaças, assédio moral ou violência psicológica e cerca de 5%dos professores denunciaram ter sofrido violência física. Mas o professor não é o único alvo.

Entre os estudantes, o bullying é o que mais preocupa. De acordo com dados do IBGE, três em cada 10 estudantes brasileiros, matriculados no último ano do ensino fundamental, relatam ter sido vítimas dessa humilhação. E Minas Gerais foi reprovado, pois BH é a segunda capital com o maior índice (35,3%) desses atos de violência, atrás apenas de Brasília, com 35,6%.

Depoimentos

M. C. G. B., de 46 anos, Professora

“Com 20 anos de profissão, posso dizer que hoje não existe mais professor que não tenha sofrido violência. Mas, nos colégios particulares, os professores se calam, com medo de perderem seus empregos. Para os gestores, o aluno é um cliente que deve ser agradado.

Por enquanto, ainda estamos na agressão verbal, mas não demora muito para a gente apanhar. Os alunos não têm mais respeito, acham que podem falar como quiser, porque não há valorização do profissional da Educação. Ontem mesmo, na escola onde dou aulas, vi um estudante xingar o professor, que não pôde fazer nada”

J. A., M., de 13 anos, Aluno do 8º ano

“Eu odiava que me chamassem de ‘gordo’. Isso virou um rótulo, uma marca, que já me fez ser excluído de times de futebol e de grupos de Educação física. Como a camiseta do uniforme ficava apertada, me acostumei a vestir sempre um moletom, mesmo em dias de calor.

As brincadeiras me chateavam tanto que me cansei de inventar desculpas para faltar à aula. Já disse que estava com dor de barriga, no ouvido, na garganta. Até mudei de escola, emagreci 20 dos 86,8 quilos, mas aqueles malhados que pensam que são o máximo ainda me chamam de ‘gordo’. Reclamei com a diretora, mas a zoeira não para”.

Fonte: Estado de Minas (MG)