domingo, 31 de outubro de 2010

NOTÍCIAS...

Comunidade do orkut incentivava a agressão

"Rodeio de gordas" dos jogos da Unesp era 'ensinado' e estimulado na internet

por José Maria Tomazela e Cláudio Dias, Especial "O Estado de S. Paulo" - 28 out. 2010

Uma comunidade do site de relacionamentos Orkut chamada Rodeio da Gorda reúne 21 integrantes desde 27 de janeiro de 2006. O grupo se dedica a agarrar e montar em cima de garotas obesas em festas universitárias. Na página, retirada da internet após a divulgação do caso, os estudantes explicam a “brincadeira que virou mania no Interunesp de Araraquara 2010".

O líder da comunidade, identificado como Tiago Kodic, ensina: “Quando você estiver numa balada/festa/baile com seus amigos e já tiver tomado algumas/várias, ache a mina mais gorda da balada, daí um de vocês chega nela por trás e coloca os braços em volta dela. Então sussurre no ouvido dela ‘você é a coisa mais gorda que eu já vi’ e vê quanto tempo você consegue segurara!”.

Nas regras, os agressores estabelecem que “todo peão deve permanecer oito segundos segurando a gorda”. O tempo é reduzido para cinco segundos se ele “segurar com uma mão só”. Um parágrafo fala sobre o corpo da vítima, que deve ser “bem grande”, e destaca a premiação a ser dada à “gorda bandida” – possível referência a um touro difícil de ser montado –, um sanduíche gigante. As “gordas bandidas”, explica a comunidade, são mais valiosas. “Quanto maior o número de coices despejados, mais pontos.” O internauta Daniel comenta: “Da primeira montaria eu me lembro como se fosse ontem, como eu era inexperiente e ela era uma bandida, eu fiquei apenas três segundos.” Outro, identificado como Goyano, anuncia o “World Chicks Championship Rodeo” para 2011. “Contamos com a presença de todos os bravos toureiros.”

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

ESCOLAS DA VIOLÊNCIA

29 out. 2010 (opinião)

Segundo sindicato, este ano são 60 as denúncias de agressões a docentes no ambiente escolar

O lamentável episódio ocorrido na Escola de educação Básica Celso Ramos, localizada no Bairro Prainha, em Florianópolis, quando um aluno de 15 anos agrediu a diretora do estabelecimento, oferece várias leituras e se insere no amplo painel da violência que hoje contamina todo o tecido social e avança com velocidade de tsunami. A agressão à diretora paralisou as atividades didáticas na Escola.

Ao contrário do que afirmou o gerente regional da educação da Grande Florianópolis, não se trata de um caso isolado. Tais ocorrências repetem-se com frequência e não apenas nos centros urbanos maiores. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em educação de Santa Catarina (Sinte), este ano já sobem a 60 as denúncias de agressões a docentes no ambiente Escolar, 15 das quais neste mês de outubro.

Não é pouco...Trata-se de um problema pontual e delicado, eis que envolve menores, tanto como agentes quanto como vítimas de agressões, e se enquista no sistema educacional, que deve funcionar como um instrumento de resgate e formação da cidadania. Há que tratá-lo, portanto, com cuidado e atenção a todas as suas circunstâncias, causas e consequências, envolvendo especialistas num contexto multidisciplinar. Sem nunca esquecer que ele se engasta no panorama contemporâneo geral da escalada da violência no país e no Estado.

Há que atentar para a relevância dos contextos sociais e familiares dos jovens agressores, que costumam estar nas origem dos fatores que desencadeiam comportamentos violentos. Entre esses fatores, avultam a desagregação familiar, dificuldade de comunicação com as figuras parentais – a maioria vive em famílias monoparentais ou reconstruídas –, o consumo precoce de álcool e outras drogas e a dificuldade em estabelecer relacionamentos produtivos, na Escola ou fora dela. De fato, estamos diante de um problema delicado e complexo, mas há que enfrentá-lo antes que fuja a qualquer controle.

Fonte: Diário Catarinense (SC)


Lembrando...

Aluno atira pedra em diretora, e aulas são suspensas em escola estadual de SC

MARINA MESQUITA, 26 out. 2010 - Folha.com

As aulas em um colégio estadual de Florianópolis (SC) foram suspensas depois de um aluno ter atirado uma pedra na diretora da unidade. Segundo o governo do Estado, o estudante, de 15 anos, havia sido repreendido pela diretora por estar fora de sala durante o horário das aulas. A agressão ocorreu dentro da escola, na última sexta-feira. O sindicato diz que a professora ficou ferida no incidente, mas a secretaria da Educação nega. O colégio Celso Ramos, no centro da cidade, tem 400 alunos matriculados.

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina diz que a escola sofre uma "onda de violência". Em 2010, houve 15 casos de violência registrados na unidade, afirma. "Foram chutes, queimaduras com cigarro, choques elétricos e pedradas", diz Anna Júlia Rodrigues, secretária-geral da entidade.

O gerente regional da Secretaria de Educação da Grande Florianópolis, Ari Cesar da Silva, discorda e afirma que esse foi o caso mais grave. Os outros casos, diz, foram apenas discussões entre o alunos e professores. Uma reunião vai decidir a retomada das aulas. A punição ao aluno ainda não foi definida.

NOTÍCIAS...

Comissão terá 60 dias para apurar responsabilidades pelo "Rodeio das Gordas"

ELIANE TRINDADE, DE SÃO PAULO - 29 out. 2010

A Comissão instaurada ontem pela Unesp terá 60 dias para apurar responsabilidades pelo "Rodeio das Gordas". Cerca de 50 alunos participaram da agressão. Na portaria que dá início formal ao processo disciplinar são citados nominalmente os estudantes Roberto Paulo de Freitas Negrini e Daniel Prado de Souza. Negrini é apontado como um dos promotores do "rodeio". Ele disse que tudo foi uma "brincadeira".

Procurado, Souza afirmou que "meus pais me orientaram a não falar com a imprensa". Segundo ele, "quando for procurado pela comissão, me manifestarei". O "rodeio" ocorreu em tenda no estacionamento do Centro Esportivo Araraquara. "O rodeio consistia em pegar as garotas mais gordas que circulavam nas festas e agarrá-las como fazem os peões nas arenas", relata Mayara Curcio, 20, aluna do quarto ano de psicologia, que participa do grupo de 60 estudantes que se mobilizaram contra o bullying.

O processo disciplinar estará a cargo de uma comissão formada por dois professores e um funcionário, assessorados por um advogado. O presidente da comissão é o professor Cláudio Edward dos Reis, do Departamento de Psicologia Experimental. A primeira reunião da comissão deverá ocorrer logo depois do feriado de Finados.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/822248-comissao-tera-60-dias-para-apurar-responsabilidades-pelo-rodeio-das-gordas.shtml

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A CLASSE MÉDIA E A ESCOLA PÚBLICA

por Fernando Martins - 27 out. 2010

Faz parte da natureza do ser humano cuidar do que é seu e deixar de lado aquilo que não lhe pertence. Pais dão atenção a seus filhos. Empresários, a seus negócios. Cada um de nós, a nossos problemas pessoais. Em princípio, não há nenhum mal nesse comportamento. Mas ele ajuda a entender um pouco por que a Educação pública brasileira há tanto tempo enfrenta uma crise de qualidade.

Existe uma tese de que a Escola pública deixou de ser boa a partir da década de 70, quando a classe média a abandonou para matricular seus filhos em colégios particulares. Como a Educação governamental não era mais “sua”, essas famílias – instruídas e com noção do que é um bom ensino – deixaram de cobrar qualidade do Estado.

Sobrou nos grupos Escolares uma maioria de alunos das classes mais populares. Eram filhos de pais que, em geral, não chegaram a ter uma instrução formal adequada – para quem os critérios da boa Educação eram menos exigentes. A consequência foi a falta de cobrança popular sobre o Estado. E, em uma segunda etapa, a perda da qualidade educacional de um modo disseminado, restando apenas algumas “ilhas” de excelência no setor público.

Obviamente, essa não é a única causa dos problemas educacionais do país. Talvez nem seja a principal. Tampouco é razoável culpar a classe média e imaginar que ela simplesmente tenha decidido, do nada, deixar a Escola pública. Provavelmente havia razões concretas para isso: a Educação ofertada pelo Estado, que até a década de 60 era referência, já estaria ficando ruim. Mas, de qualquer modo, o êxodo dos estudantes de famílias remediadas teria acelerado o processo.

Por isso, não deixa de ser animadora a informação de que há um refluxo dessa tendência. “Pioneiros” da classe média – por questões financeiras ou para dar aos filhos um contato maior com a realidade social, não isolando-os nos colégios particulares – estão voltando àEscola pública, conforme noticiou a Gazeta do Povo do último domingo, em reportagem de Tatiana Duarte. Ainda que a procura seja pelos colégios municipais ou estaduais que mantiveram um padrão mínimo de qualidade, esse movimento tem o potencial de resgatar a cobrança de pais sobre o Estado pela boa Educação. Os pioneiros da antiga classe média podem ainda se somar aos pais da nova classe média – pessoas que deixaram a pobreza pela força do trabalho e que hoje têm uma noção muito mais clara da importância do estudo do que havia 30, 40 anos atrás.

Agora é esperar para ver no que tudo isso vai dar. Daí pode sair um caminho para outras áreas em que o Estado não cumpre seu papel a contento, como a saúde. Talvez o caminho seja cada um assumir a responsabilidade de cuidar do que é público, assim como cuidamos de nós mesmos. Afinal, o que é do Estado também é nosso.

Fonte: Gazeta do Povo (PR)

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Escola no Barreiro proíbe reprovação dos estudantes

CAROLINA COUTINHO E RAFAEL ROCHA

Revolta. Professores dizem que exigência de relatório é manobra para evitar a reprovação

Docentes da Escola Estadual Professora Maria Belmira Trindade, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, foram proibidos de reprovar os alunos que não alcançarem o mínimo de 60 pontos por disciplina até o final deste ano letivo. A denúncia partiu dos próprios professores, que afirmam ter recebido a ordem do diretor da instituição, durante reunião no último sábado. O diretor Neviton Abreu, por sua vez, disse ter apenas transmitido ao corpo docente uma determinação dada Secretaria de Estado de Educação (SEE).

Professor de história e sociologia da escola, Bruno Dutra está indignado. "Com uma ordem desse tipo, perde-se todo o sentido realizar um bom trabalho. A escola virou, agora, um espaço de contenção de pessoas. O propósito formativo, educacional acabou. Qual a intenção de fazer provas, corrigí-las, preparar aulas e projetos, se nada disso terá valor? Estamos indo na escola somente pra vigiar meninos?", questionou. Segundo ele, a única alternativa aplicar a reprovação seria por meio de um relatório descritivo do desempenho do aluno, contendo todos os documentos, trabalhos e provas realizados pelo estudante. Porém, o documento, na visão dos docentes, é muito difícil de ser elaborado e ainda pode ser invalidado pelos superiores.

"A diretoria diz que os relatórios não estão bons, que têm que explicar detalhadamente o que o professor fez para ajudar o aluno a melhorar, especificar e apresentar as atividades realizadas durante o ano todo (provas e trabalhos) que justifiquem a reprovação, além de mandar tudo isso documentado para a secretaria. No entanto, a maior parte dos alunos está em situação grave de desempenho. Muitos simplesmente não fazem as atividades, não frequentam as aulas. Assim, não temos como documentar", explicou.

A professora de biologia Amanda Lage confirma a ordem. Ela se diz abismada com a situação. "Temos alunos no ensino médio sem saber ler e escrever direito. Alguns professores conseguem fazer o relatório e, mesmo assim, não conseguem reprovar. Já houve casos de sumiço de relatórios e a aprovação do aluno em questão".

Sindicalistas

Estratégia. A presidente do Sindicato Único dos Trabalhadores do Ensino (Sind-UTE), Beatriz Cerqueira, disse que essa é uma estratégia do governo de maquiar os índices da educação no Estado.

MEDIDA...

Secretaria diz que regra foi definida por colégio

A Secretaria de Estado de Educação (SEE), por meio da assessoria de imprensa, negou ter dado a ordem de proibir a reprovação na Escola Estadual Professora Maria Belmira Trindade. Ainda conforme a SEE, a exigência do relatório foi uma medida escolhida pela direção da escola. Neste caso, o documento, mais do que as notas, é determinante para aprovar ou não os alunos. Ainda conforme a assessoria, a SEE afirmou que devem ser ofertadas aos alunos todas as condições de aprendizado e recuperação. Aos estudantes que apresentam baixo desempenho ou não demonstram condições mínimas de aprendizado, a escola deve ofertar diferentes estratégias para ampliar as oportunidades de aprendizagem.

O diretor Neviton Abreu se defendeu. "Estamos cumprindo uma determinação da secretaria. Há, sim, a reprovação, mas com o relatório de cada aluno, provando que ele não teve a desenvoltura para ser aprovado". (CCo)

Publicado no Jornal OTEMPO - 27 out. 2010

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Estudantes fazem ato contra "Rodeio das Gordas" promovido por alunos da Unesp

Desenho do rodeio com a frase "Desculpas não resolvem" em prédio da Unesp em Assis; alunos fazem ato Foto: Daniel Bergamasco/Folhapress

ELIANE TRINDADE, DE SÃO PAULO - 28 out. 2010

Um grupo de alunos do campus de Assis da Unesp (Universidade Estadual Paulista) realiza hoje nova manifestação para cobrar da direção da instituição medidas contra os estudantes envolvidos no "Rodeio das Gordas". É o mesmo grupo que denunciou as agressões a colegas obesas nos jogos universitários InterUnesp 2010.

"Além de sindicância para apurar os fatos, vamos exigir punição aos culpados", afirma Késia Rocha, presidente do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Sexualidade, ONG que disponibilizou assessoria jurídica gratuita às vítimas. A simulação de rodeio ocorreu durante as festas do evento em Araraquara, entre 9 e 12 de outubro. A manifestação está marcada para as 14h. Para o mesmo horário também está prevista uma reunião da congregação universitária da instituição. De acordo com a assessoria de imprensa da Unesp, no encontro a direção vai informar as providências que estão sendo tomadas no caso.

PUNIÇÃO

Amanhã deve ser publicada a portaria que instaura o processo disciplinar contra os alunos envolvidos. A "brincadeira", como classificou Roberto Negrini - um dos que organizaram a simulação de rodeio - consistia em se aproximar da garota, de preferência obesa, como em uma paquera, dizer "Você é a menina mais gorda que eu já vi", agarrá-la e tentar ficar sobre elas o máximo de tempo possível.

Segundo Negrini, não havia agressão e as meninas podiam se soltar se quisessem. O vídeo em que os organizadores do "rodeio" pedem desculpas e se dizem surpresos com a repercussão do caso vai ser analisado pela comissão disciplinar. As punições previstas vão desde advertência à suspensão e expulsão.

A promotora de Araraquara, Noemi Corrêa, também instaurou ontem procedimento para apurar os fatos e a responsabilidade dos organizadores do InterUnesp no episódio. "Fiquei chocada ao ver como os estudantes não demonstram respeito para com o próximo", afirma. O delegado seccional de Araraquara, Fernando Luiz Giaretta, também afirmou que vai instaurar inquérito para apurar o caso, revelado ontem pela

A OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) também emitiu nota de repúdio à agressão.

Promotoria abre procedimento para apurar "rodeio de gordas" no interior de SP

DE SÃO PAULO - 27 out. 2010

Promotora Noemi Correa, de Araraquara, instaurou procedimento para apurar uma "competição" organizada por um grupo de alunos da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e que foi batizada de "Rodeio das Gordas". O objetivo era agarrar as colegas, de preferências as obesas, e tentar simular um rodeio - ficando o maior tempo possível sobre a presa. Reportagem publicada nesta quarta-feira pela Folha mostra que a agressão ocorreu no InterUnesp 2010, jogos universitários realizados em Araraquara, de 09 a 12 de outubro.

"Fiquei assustada com a falta de respeito desses estudantes com o próximo", afirmou a promotora. Em nota, o presidente da seccional São Paulo da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Luiz Flávio Borges D'Urso, também criticou o "rodeio". "Essa agressão não pode ser tratada como um episódio inconsequente. Faz um simulacro do gado na arena de rodeio. Negou-se às alunas seu direito mais precioso: a dignidade da pessoa humana, que é um valor ético do qual não podemos abrir mão, especialmente dentro de uma instituição de ensino, à qual caberia observar esse valor".

AGRESSÃO

Roberto Negrini, estudante do campus de Assis, um dos organizadores do "rodeio das gordas" e criador da comunidade do Orkut sobre o tema, diz que a prática era "só uma brincadeira". Segundo ele, mais de 50 rapazes de diversos campi participavam. Conta que, primeiro, o jovem se aproximava da menina, jogando conversa fora --"onde você estuda?", entre outras perguntas típicas de paquera.

Em seguida, começava a agressão. "O rodeio consistia em pegar as garotas mais gordas que circulavam nas festas e agarrá-las como fazem os peões nas arenas", relata Mayara Curcio, 20, aluna do quarto ano de psicologia, que participa do grupo de 60 estudantes que se mobilizaram contra o bullying.

Fonte: Folha de São Paulo

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Violência na escola pode custar US$ 943 milhões ao ano no Brasil, diz relatório
26 out. 2010

Um estudo internacional estima que o custo da violência nas escolas no Brasil pode chegar a US$ 943 milhões por ano. A pesquisa foi feita pela organização britânica de defesa das crianças Plan International e o Instituto Overseas Development (ODI, na sigla em inglês). Segundo o relatório publicado, o custo da violência nas escolas, apenas levando em conta os benefícios sociais aplicados anteriormente, pode chegar a US$ 60 bilhões se computados todos os 13 países pesquisados.

No cálculo foi considerada a perda de ganhos de uma pessoa que deixa de comparecer à aula ou desiste da escola por causa da violência e mediu também as perdas do investimento público em educação devido às faltas dos alunos nas escolas. De acordo com o relatório, os Estados Unidos, por exemplo, pagam um alto preço pela violência entre jovens, dentro e fora da escola. A Plan International estima que o custo total de todas as formas de violência juvenil entre os americanos chega a US$ 158 bilhões.

E para o Brasil, o caso não parece ser diferente, segundo o levantamento.

"Muitas escolas no Brasil se transformaram em lugares perigosos para crianças, com violência brutal e até homicídio, além de abuso sexual, roubos e danos à propriedade", alerta o documento.

"84% dos estudantes que participaram da pesquisa feita em seis capitais brasileiras acharam suas escolas violentas e 70% disseram que foram vítimas de abusos."

"Isto reflete os altos níveis de violência na sociedade brasileira. A estimativa é de que a violência entre jovens tenha um custo de US$ 19 bilhões por ano, sendo que destes US$ 943 milhões podem ser ligados a violência na escola", informou o relatório.

Poucos dados

Segundo o documento da Plan International, a violência nas escolas é um problema que afeta igualmente países desenvolvidos e em desenvolvimento. No entanto, a organização reconhece que é "impossível calcular a verdadeira extensão (do problema), pois as crianças geralmente têm muita vergonha ou muito medo de falar a qualquer um sobre isso". O relatório descreve uma "relação próxima" entre o bullying nas escolas e a violência entre jovens. De acordo com o estudo, entre 20% e 65% das crianças no mundo todo afirmam que sofreram bullying, mas esta proporção pode ser maior, pois a organização afirma que a violência na escola é pouco denunciada.

Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de um quinto dos estudantes do equivalente ao ensino médio afirmaram que foram vítimas de abuso várias vezes, de acordo com dados coletados pelo Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês).
A prevalência do bullying nas escolas americanas é tão alta que o CDC trata o problema como uma questão de saúde pública.

"Como resultado, você não vai à escola, você está perdendo a oportunidade de aprender", afirma Julie Hertzog, diretora do Centro Nacional Americano para Prevenção do Bullying, dirigido pela organização de defesa das crianças Pacer. Para o diretor-executivo do grupo de defesa americano CeaseFire, Gary Slutkin, o bullying não está diretamente ligado à violência entre jovens.

"Bullying não é a mesma coisa que violência letal mas pode se agravar progressivamente, e a sociedade americana está gradualmente tomando a decisão de que (o bullying) não é mais aceito como algo normal", disse Slutkin, cuja organização trata a violência entre jovens com o uso de um modelo de saúde pública.

Outros países

O relatório da Plan International diz ainda que em 88 países, incluindo a França e alguns Estados americanos, os professores tem permissão legal para punir fisicamente os alunos.E cita casos como o do Egito, no qual 80% dos meninos e 67% das meninas já sofreram punição corporal. O documento menciona ainda a situação na Etiópia, onde a punição corporal é proibida, mas as leis de proteção à criança não são aplicadas e as punições continuam sendo aplicadas. Um estudo naquele país mostra que 80% das crianças foram obrigadas a ajoelhar, receberam pancadas na cabeça, tapas ou pancadas com uma vara.

Outro problema levantado é a violência sexual. Um estudo realizado por estudantes em Serra Leoa mostrou que 59% das meninas tinham sofrido abuso sexual.

No Equador 37% das adolescentes que foram vítimas de violência sexual apontaram professores como os responsáveis. Na África do Sul, professores foram considerados culpados de um terço dos estupros de crianças. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Fonte: BBC Brasil

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Professora suspeita de abusar de alunas é presa no Rio

Mulher teria cometido o crime com duas menores, ambas de 13 anos



Bruna Fantti, especial para o iG | 27/10/2010

Uma professora de matemática da rede municipal do Rio de Janeiro foi presa na madrugada desta quarta-feira (27) acusada de manter relações sexuais com duas adolescentes, ambas de 13 anos, que eram suas alunas. Policiais civis da 33ª DP (Realengo) prenderam Cristiane Barreira, de 33 anos, quando ela chegava à casa da mãe no bairro de Realengo, zona oeste da capital fluminense.

De acordo com o delegado Ângelo Lage, as investigações tiveram início quando a mãe de uma das adolescentes registrou queixa de desaparecimento da filha, que não era encontrada desde a última segunda-feira.

A mãe da jovem também afirmou que era a segunda vez que a adolescente não aparecia em casa por mais de 48h. A primeira vez ocorreu em agosto deste ano. Na época, a menina reapareceu e a mãe ficou desconfiada da professora, pois a adolescente recebia ligações telefônicas dela.

A mãe chegou a fazer uma queixa para o diretor da escola onde a jovem estudava e ele transferiu a educadora de unidade, a pedido da secretaria municipal de Educação. No entanto o caso não foi relatado à polícia na ocasião.

Após o relato da mãe, os policiais civis foram, então, até a casa da professora e souberam pelo marido da acusada que ela estava desaparecida, também, desde segunda-feira.

Foto: Agência O Globo

Professora presa no Rio chega à delegacia para prestar depoimento


Investigação

Vários agentes ficaram em prontidão, desde as 17h de ontem, em locais onde as duas poderiam estar juntas. Cristiane foi presa na casa da própria mãe, às 4h da madrugada desta quarta-feira, e confessou que estava com a jovem em um motel.

Segundo o delegado, a professora deu detalhes de sua relação com a aluna e admitiu que a acariciava nas partes íntimas. Em seu depoimento, ela acrescentou que vinha se relacionando com a adolescente desde maio e que costumava manter relações sexuais com a menor no horário escolar, para evitar que os parentes suspeitassem.

No interrogatório, a mulher disse que está apaixonada pela adolescente e que deseja ter uma relação aberta e séria com a jovem. A professora também confessou que em uma ocasião também levou ao motel uma colega da jovem da mesma idade, 13 anos. Essa adolescente ainda não foi identificada.

Apesar de estar em período da lei eleitoral - que permite prisões a cinco dias das eleições somente em casos de flagrante -, o delegado afirmou que a prisão se enquadra nesta tipificação já que "o código penal diz que flagrante também é a prisão que ocorre em perseguição, mesmo após horas do crime ter sido cometido". A professora irá responder pelos crimes de estupro de vulnerável e corrupção de menores e, se for condenada, poderá cumprir uma pena de até 30 anos de prisão.

Exoneração

Procurada pelo iG, a Secretaria Municipal de Educação informou que a 8ª Coordenadoria Regional de Educação, assim que tomou ciência do caso, em 9 de setembro deste ano, instaurou uma sindicância para apurar os fatos e determinou o afastamento da professora da escola.

Em nota, a secretaria disse que "considera inaceitável este tipo de conduta e acompanha atentamente as investigações da polícia. Até a conclusão da sindicância, que pode determinar, inclusive, a exoneração da professora, ela será mantida afastada de suas funções".

*com informações da agência EFE.

Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

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Alunos universitários agridem colegas da Unesp em "rodeio de gordas"

ELIANE TRINDADE, SÃO PAULO e DANIEL BERGAMASCO - EDITOR-ADJUNTO DE COTIDIANO

Um grupo de alunos da Universidade Estadual Paulista, uma das mais importantes do país, organizou uma "competição", batizada de "Rodeio das Gordas", cujo objetivo era agarrar suas colegas, de preferências as obesas, e tentar simular um rodeio --ficando o maior tempo possível sobre a presa.

A agressão ocorreu no InterUnesp 2010, jogos universitários realizados em Araraquara, de 10 a 13 de outubro. Anunciado como o maior do país, o evento esportivo e cultural, que reuniu 15 mil universitários de 23 campi da Unesp, virou palco de agressão para alunas obesas. Roberto Negrini, estudante do campus de Assis, um dos organizadores do "rodeio das gordas" e criador da comunidade do Orkut sobre o tema, diz que a prática era "só uma brincadeira".

Segundo ele, mais de 50 rapazes de diversos campi participavam. Conta que, primeiro, o jovem se aproximava da menina, jogando conversa fora --"onde você estuda?", entre outras perguntas típicas de paquera. Em seguida, começava a agressão. "O rodeio consistia em pegar as garotas mais gordas que circulavam nas festas e agarrá-las como fazem os peões nas arenas", relata Mayara Curcio, 20, aluna do quarto ano de psicologia, que participa do grupo de 60 estudantes que se mobilizaram contra o bullying.

No Orkut, os participantes estipulavam regras para futuras competições, entre elas cronometrar as performances dos "peões" e premiar quem ficasse mais tempo em cima das garotas com um abadá e uma caneca. Há relatos de gritos de incentivo: "Pula, gorda bandida".

Com a repercussão, a página do site de relacionamento foi excluída. Cópias dos posts espalharam-se pelo campus em Assis. Em murais aparecem frases como "Unesp = Uniban", referência ao caso a Geisy Arruda, que foi xingada por usar um vestido curto.

As vítimas não querem falar. "Uma das meninas está tão abalada que não teve condições de voltar à faculdade. Teme ficar conhecida como 'a gorda do rodeio'", afirma a advogada Fernanda Nigro, que acompanhou, na última terça-feira, uma manifestação de repúdio.

O grupo foi recebido pelo vice-diretor da Faculdade de Ciências e Letras, do Campus de Assis, Ivan Esperança. "Vamos ouvir os envolvidos e estudar as medidas disciplinares, mas não queremos estabelecer um processo inquisitório", disse ele à Folha.


27 out. 2010

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Adolescente fica com rosto cortado após briga com colega de escola no DF

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, 27 out. 2010

Uma adolescente ficou com o rosto todo cortado depois de uma briga com uma colega de escola em Sobradinho 2, no Distrito Federal. A briga aconteceu na tarde desta segunda-feira (25), em frente à escola pública onde as duas estudam. De acordo com a Polícia Civil, as duas garotas --ambas de 14 anos-- brigaram por um motivo fútil e no meio da briga uma delas pegou uma lâmina de apontador para a atacar a outra.

Os cortes, a princípio, foram leves. Porém, um laudo do IML deve dizer se as lesões são equivalentes ou graves em relação aos machucados sofridos pela adolescente que fez os cortes, já que se trata de uma agressão mútua. Caso os cortes sejam considerados graves em comparação aos sofridos por ela, a adolescente pode ser encaminhada para um Caje (Centro de Atendimento Juvenil Especializado), de acordo com o delegado adjunto da Delegacia da Criança e do Adolescente, Iury Pereira Fernandes.

Caso as lesões sofridas pelas duas sejam consideradas equivalentes, ambas devem sofrer penas como prestação de serviços à comunidade, ou advertências. A família da adolescente que fez os cortes pode ainda pagar por procedimentos plásticos, segundo o delegado. A briga de escola é a ocorrência mais comum na Delegacia da Criança e do Adolescente local, de acordo com o delegado. "o que fez essa história se tornar um caso de polícia, foram os cortes", diz o delegado.

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Aluno da USP é vítima de homofobia em festa promovida pela ECA

por Mônica Bergamo - 26 out. 2010

A agressão a um aluno da USP que é homossexual numa festa promovida pela ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP) virou assunto de polícia. A informação é da coluna Mônica Bergamo publicada na edição desta terça-feira da Folha. De acordo com o texto, Henrique Peres Andrade, 21, estudante de biologia, foi à balada, na sexta-feira, num casarão, com o namorado e oito amigos do IB (Instituto de Biociências). Ele diz que os dois "descansavam abraçados" quando três rapazes xingaram, atiraram copos de bebida e desferiram chutes e socos no casal. A segurança, de acordo com Henrique, demorou a agir.

"Estou chocado, foi uma situação horrível!", escreveu Henrique a um professor, buscando orientação. Ele hoje registrará ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. O centro acadêmico do IB fez circular moção de apoio na universidade.

A Defensoria Pública foi acionada. "Só quero mostrar que estamos em um país onde a homofobia existe e está mais próxima do que imaginamos", diz Henrique. Os agressores ainda não foram identificados.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

TROPA "DA" ELITE 2 - o retorno

Lúcio Alves de Barros*

O filme "Tropa de Elite 2 - O inimigo agora é outro", clara continuidade do primeiro, é um chute daqueles no estômago da elite política e policial do Rio de Janeiro e do Brasil. Na verdade, ele não vai muito longe do que já sugeria o primeiro. Do traficante, que expulsou no final da década de 60 a boa gente dos morros cariocas, a ponto de optar pela vida da maresia garantida pela polícia, o segundo longa metragem de José Padilha, atinge em cheio o coração do estado de direito, chegando às barbas do legislativo e do executivo sedentos de votos e, por consequência, poder.

O longametragem traz novamente como protagonista o famigerado, teimoso e curado da síndrome de pânico, capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura, agora em sua versão de "coronel Nascimento". Dez anos mais velho e maduro ele aparece logo no início dessa jornada passando mal bocados devido a uma rebelião na penitenciária de segurança máxima Bangu 1. Como punição, ao contrário do seu pupilo "Matias" (André Ramiro) - expulso do Bope -ele "cai para cima" e recebe uma promoção passando - na realidade - a ser uma espécie de comandante geral do BOPE. Neste lugar ele monta uma verdadeira célula de guerra contra o tráfico e carrega a difícil função de reorganizar e canalizar recursos para o Batalhão de Operações Especiais. Aos poucos o cinéfilo mais atento vai percebendo que o Batalhão de outrora perde a centralidade da tela e, já como Subsecretário de Inteligência de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, o coronel Nascimento descobre que atirou no próprio pé. Ao armar até os dentes o BOPE, com o caveirão aparecendo como figura privilegiada da "metáfora da guerra" junto com um helicóptero a abater bípedes humanos, Nascimento custa a perceber que abriu caminho ou "limpou a área" para uma nova roupagem do crime, tão ou mais violenta que a dos traficantes, a polícia corrupta travestida de milícia que rouba o espaço público e privatiza as favelas, hodiernamente, chamadas de zonas quentes de criminalidade ou periferia pobre.

Os policiais corruptos pulam de um lado ao outro na máquina governamental. Na tela, tanto o executivo como o legislativo se rendem ao "canto da sereia" da mídia e ao chamado populismo barato dos senhores do pedaço. Digo dos novos personagens milicianos que tomam a cena cobrando aluguéis, auxílios e apoio eleitoral àqueles que podem de uma forma ou de outra, manter as coisas tal como elas deveriam aparecer.

Longe do tráfico e com os tentáculos no lugar as milícias desenvolvem um sofisticado aparato de segurança privada movida a dinheiro e violência, de quebra, auxiliam sem maiores constrangimentos os políticos da ocasião os quais não deixam na lente de Padilha de ostentarem fortuna, luxo, mulheres e a boa vida.

A metralhadora do cineasta não é seletiva. Ela vai se descarregando para tudo quanto é lado. A morte do amigo leva Nascimento a buscar a verdade. Nas escutas que leva a efeito como chefe de inteligência descobre que além da responsabilidade da morte de Mathias, a milícia providenciou com requintes de crueldade a morte de dois jornalistas que, para um bom observador, representam o calar dos mecanismos midiáticos nacionais em torno de fenômenos tão ostensivos.

O "herói" Nascimento, acostumado a matar aos montes os bobos do tráfico, aos poucos vai se rendendo ao grande poder que está em sua frente. Após deter a morte do deputado (interpretado por Irandhir Santos) que passou a denunciar as milícias e seus comparsas e também de ver cair nesse meio o próprio filho Rafael (o estreante Pedro Van Held), Nascimento, em uma emboscada não aparece desacompanhado e se livra por pouco da morte. Fato este que lhe enche de coragem para denunciar a "banda podre" da polícia e da política corrupta no Rio de Janeiro. Suas palavras são duras e acertadas no peito do deputado miliciano sem lugar e corajosamente joga a esperança de um final feliz na segurança pública no microondas recheado de corpos desde o primeiro filme. Na CPI, encontramos um coronel cansado, mas assertivo, corajoso e cheio de vigor ao denunciar que a maioria dos políticos presentes naquele plenário deveria estar atrás das grades. E vai mais longe ao afirmar que a polícia do Rio de Janeiro deveria acabar revelando que o problema da criminalidade, da violência e do tráfico de drogas é muito mais complexo do que se pensava anteriormente. É óbvio que estamos no campo da ficção, mas não creio que diante de tantas notícias e acontecimentos no mundo real estamos distantes da realidade. E a realidade sugerida por Padilha é que a violência, a criminalidade e a corrupção na polícia, agora em franca associação com as autoridades, é mais do que uma pauta que se desenvolve sem muitas adequações. Talvez ela receba - como dito - outros personagens, tão ou mais fortes que os comandantes de outrora. Em tela, o poder se materializa em um governador conivente, em deputados ambiciosos, policiais assustadores e gerentes de polícia desqualificados, promíscuos e sem escrúpulos.

José Padilha talvez mereça todos os cumprimentos devido a sua coragem e talento. Neste, ao invés de culpar o que hoje chamamos de classe média pelo desastre das drogas e pelo financiamento do tráfico, ele acordou ou foi avisado pelos autores do livro que a questão da segurança pública é "campo minado" e cheio de surpresas nos quais os policias (especialmente os de baixa patente) nada mais são do que a ponta frágil e mortal do iceberg da corrupção no Estado quando ela se mistura com a segurança pública. Padilha sobe em ombros de gigantes (digo dos autores do livro "Elite da Tropa 2", Ed. Nova Fronteira - Luiz Eduardo Soares, Cláudio Ferraz e Rodrigo Pimentel) e observa um "brasil" desconhecido por muitos, notadamente, aquele no qual os políticos e as autoridades usufruem descaradamente e sem nenhuma vergonha ou inteligência de diversas situações no intuito de ganhar dinheiro e poder, mesmo que para isso o "crime desorganizado" precise se tornar organizado sem a mínima necessidade de esconder do público/vítima a corrupção, a crueldade, a violência e a matança.

* Professor de sociologia e antropologia na UEMG.
+ de seus textos na tag #LúcioBARROS.

EDUCAÇÃO COMO FATOR DE CONSTRUÇÃO DO HOMEM

Salomão Ferreira de Souza*

O tema do artigo em apreço tem como objetivo fazer compreender melhor a que veio a educação no processo de construção das sociedades, mais do que propriamente o que ela significa. Aqui não importa tanto o objeto, mas as direções que toma o homem quando dele se arma e com ele se apresenta ao mundo.

Segundo Verner Jaeger (2001), “Todo povo que atinge um certo grau de desenvolvimento sente-se naturalmente inclinado à prática da educação”. Como desafio vamos pensar o inverso: todo povo, ao se educar, consegue um certo grau de desenvolvimento. Tomando essa questão pelo avesso, pretendo mostrar que a educação antecede o humano e que esse só se faz por meio dela. A educação é, assim, uma construção de humanidade inventada por esse animal bípede, que, desprovido de recursos materiais para o enfrentamento do mundo, se armou das idéias e fabricou as mais diversas próteses. Em Jaeger (2001), lemos que “A educação é uma função tão natural da comunidade humana, que, pela sua própria evidência, leva muito tempo a atingir aqueles que a recebem e a praticam, sendo, por isso, relativamente tardia na tradição literária”. Novamente Jaeger nos leva a pensar que, antes de perceber e traduzir, pela literatura, os conceitos e idéias, a educação já aconteceu. Ela precede a literatura que a expressa.

Para iluminar melhor essa idéia, vamos considerar um recorte histórico que compreende, primeiramente os séculos XVII e início do XVIII, depois um período que vai da segunda metade do século XVIII ao final do século XIX quando se processa as grandes transformações científicas e, finalmente, o século XX até o momento atual, quando o mito das ciências é deposto pelas questões epistemológicas que surgem pelas crises de humanidade do referido século.

No primeiro período situado acima os demógrafos europeus apontavam grande taxa de mortalidade infantil decorrente do descaso que as famílias faziam de seus filhos pequenos. Somente a partir da segunda metade do século XVIII, a sorte das crianças começou a melhorar criando, então, um ambiente onde os pequeninos passaram a ter maior chance de sobreviver. Isto não foi conseguido por meio de campanhas de saneamento, mas por uma educação sistematizada que tinha por objetivo conscientizar as mulheres da importância de seus filhos como riqueza para o estado. O estado exige que as mães cuidem bem de sua prole porque só assim ele poderia produzir as riquezas que, pela mesma via da melhoria das condições do estado, levariam esses benefícios àquelas mães. De acordo com Bantinter (1985, p. 128), “(...) a Academia de Holanda ofereceu um prêmio a quem descrevesse o melhor método para conservar crianças (...)” e conclui: “Foi um compatriota de Rousseau que o ganhou.".

Foi necessário fazer as citações acima para que possamos entender aquela sociedade nos dois momentos históricos: enquanto seus filhos podiam morrer sem fazer muita falta ao sistema de produção, num primeiro momento e quando essa mesma sociedade percebe que precisam das crianças (não como pessoas mas como números - produtores e consumidores - na visão fisiocrática) ou como humanidade (na visão de Montesquieu e Rouseau), para que o estado ou o homem aconteça em sua plenitude. Já no final do século XVIII algumas mães se sentem valorizadas ao apresentar os retornos que a sociedade cobrava. Em consequência da valorização dos filhos como produtos importantes para o capital e o Estado ou simplesmente como homens, as mães se sentem realizadas e começam a mudar seus papéis no lar. É por essa via torta que as mulheres começam a conquistar espaços na sociedade moderna e é também por ela que, já de forma mais direta, a criança se torna o centro das atenções do estado e dos homens adultos. Isso torna visível na Europa do final do século XVIII e início do século XIX.

Considerando que as mudanças surgidas naquela época só foram possíveis pelos “... gritos de alarme de Montesquieu, Rousseau e dos fisiocratas...” (Bantinter, 1985, p. 127), devemos lembrar que por traz das boas intenções com as crianças existiam as necessidades do estado e do sistema de acumulação. Em oposição aos fisiocratas, Montesquieu e Rousseau propunham mudanças não em número de indivíduos, mas na qualidade deles. Por isso Rousseau é, indiscutivelmente, o grande precursor da Escola Nova que surgiu cem anos depois.

Reparem que a criança, que era desprezível e estava entregue à sua própria sorte, passa, por vias daquele movimento, a ser o centro das atenções do estado e dos adultos; suas mães, já com a nobre tarefa de cuidar dos filhos ganham, por conseguinte, uma certa importância.

Penso que a educação é a grande responsável por estes movimentos quando tira do homem adulto o centro das preocupações, o transporta para os pequeninos e, como afirmado anteriormente, por vias tortuosas, à suas mães, em sacrifício do quase ócio improdutivo e de sua condição de empregada da casa, canalizando suas energias para o cuidado com a prole. Esse ócio das boas mães, agora produtivo, possibilita melhor educar os filhos, não sem um melhor preparo destas. É importante observar que o espaço conquistado no lar e na escola daquele período acaba por ser objeto das preocupações dos educadores e do estado até os dias atuais. Isso se dá com as crianças e com as mulheres, embora em ambos os casos existam outros fatos a serem considerados, como, no caso das mulheres, os movimentos dos anos 60 do século XX, mas esse é outro movimento que não cabe ao presente estudo.

A educação é um movimento que passa pelas mais diversas sociedades, nos mais diversos períodos históricos, com um fim previsível ou não. Talvez se os homens da segunda metade do século XVIII soubessem das conquistas futuras de seus filhos e de suas esposas, não teriam desprendido tão grande esforço para as mudanças da época. Felizmente a nossa vida é curta e a sociedade é um organismo em movimento: não podemos testemunhar todos os resultados da educação que aplicamos hoje. Só podemos percebê-los em nossa imaginação. Os desdobramentos da educação de uma sociedade, num determinado tempo histórico, só podem ser objetos de especulação de seus idealizadores. Como na tradução da palavra latina textum (texto, tecido), o educador é apenas um fio que, entrelaçado a outros tantos, tece uma rede chamada humanidade.

Para concluir e como uma provocação ao leitor, vou reproduzir uma fala de Guimarães Rosa (2001): “Vida é noção que a gente completa, seguida assim, mas só por meio de uma idéia falsa. Cada dia é um dia.”.

Referências:


BADINTER, Elisabeth. Um Amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

JAEGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2001.

ROSA, Guimarães. Grandes Sertões Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.



* - Salomão Ferreira de Souza - é escritor e graduando em pedagogia na FAE (Faculdade de Educação) - BH - UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

EDUCAÇÃO, CASO DE POLÍTICA OU DE POLÍCIA?

Frei Betto*

O IBGE divulgou, a 17 de setembro, a Síntese de Indicadores Sociais 2010. O IBGE é um órgão do governo federal. Portanto, não está a serviço da oposição nem dos detratores do governo Lula. Felizmente, é sério e isento. Os dados concernentes à Educação no Brasil são estarrecedores. Em 2009, 14,8% dos jovens de 15 a 17 anos se encontravam fora da escola. E 32,8% daqueles que tinham entre 18 e 24 anos deixaram os estudos sem completar o ensino médio. (Haja mão de obra desqualificada e candidatos ao narcotráfico...).

Comparado aos demais países do Mercosul, o Brasil tinha a maior taxa de abandono do nível médio — 10% dos alunos. Na Argentina, 7%; no Uruguai, 6,8%; no Chile, 2,9%; no Paraguai, 2,3%; e na Venezuela, 1%. Por que nossos jovens abandonam a Escola? Os principais fatores são a falta de recursos para pagar os estudos e o reduzido número de escolas públicas; o desinteresse; a constante repetência, provocada por pedagogias ultrapassadas, desmotivação e frequente ausência de professores; a dificuldade de transporte e a necessidade de ingressar precocemente no mercado de trabalho.

Para se ter um aluno empenhado em fazer um bom ensino médio é preciso que a motivação seja despertada na pré-escola e no ensino fundamental. Ora, como alcançar esse objetivo se nossas crianças ficam, em geral, apenas quatro horas por dia na Escola? A média latino-americana é de seis horas! Apesar disso, houve avanços nos últimos 10 anos, quando quase dobrou o número de jovens de 18 a 24 anos que concluíram o ensino médio ou ingressaram na universidade. Se em 1999 apenas 29,6% dos alunos terminaram o ensino médio, em 2009 o índice subiu para 55,9%. Em 1999, 21,7% tinham 11 anos de estudos (tempo suficiente para completar o ensino médio). Em 2009, 40,7% frequentaram a Escola durante 11 anos. Em 1999, 7,9% ingressaram na universidade; em 2009, 15,2%.

Em 2009, 30,8% dos jovens entre 18 e 24 anos concluíram algum curso de qualificação profissional. Em 2004, apenas 17,2%. Esse avanço se deve ao empenho do governo em multiplicar o número de escolas técnicas, bem como o Sistema S (Senai, Senac etc.), e as bolsas de estudos concedidas via ProUni. Por trás dos dados positivos se escondem desigualdades gritantes. Em 2009, 81% dos jovens de 15 a 17 anos entre os 20% mais pobres estavam na escola. Entre os 20% mais ricos, o índice subia para 93,9%. Graças ao sistema de cotas e ao ProUni, dobrou o número de universitários com mais de 25 anos que se declaram negros: 2,3% em 1999 e 4,7% em 2009. Já o índice dos que se declaram brancos é quatro vezes maior: 15%.

O Brasil conta com 3,6 milhões de crianças com menos de quatro anos de idade e é ínfimo o número de creches para elas. O que significa que estão sujeitas a graves desvios pedagógicos por longo tempo de exposição à TV, permanente convivência com adultos ou idosos, muitas vezes entregues a vizinhos enquanto os pais cumprem o horário de trabalho. A Constituição assegura, no Capítulo II — Dos Direitos Sociais, “assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até seis anos de idade em creches e pré-escolas”. Quantas empresas cumprem?

Segundo o IBGE, até 14 anos de idade há, no Brasil, uma população de pouco mais de 54 milhões de pessoas. Dessas, 5 milhões, ou 10,9% do total, vivem em situação de risco, em moradias sem água tratada, rede de esgoto e coleta de lixo. O Nordeste concentra a maior parte dessas crianças: 19,2%. E o Maranhão e o Piauí lideram essa estatística. A pesquisa apontou ainda que quase 39,4% dos alunos do ensino fundamental frequentam escolas sem rede de esgoto e 10% delas não contam nem com água potável.

Falta muito a fazer. Enquanto a Educação brasileira não alcançar o nível mínimo de qualidade, continuaremos a ser uma nação desigual, injusta, subdesenvolvida e dependente. Também, pudera; embora a Constituição exija que sejam aplicados 8% do PIB na Educação, o investimento do governo na área não chega a 5%. E o orçamento do Ministério da Cultura para 2011 é inferior a 1%. Não é de estranhar o nepotismo na Casa Civil e os Tiriricas na corrida eleitoral. Além de Educação, falta ao Brasil vergonha na cara. Desse jeito, o descaso da política para com a Educação acaba virando caso de polícia, tamanho o crescimento da violência urbana.

* Escritor, é autor de "Alfabetto - autobiografia escolar" (Ática), entre outros livros.

Fonte: Correio Braziliense (DF).

NOTÍCIAS...

Aluno pego com crack em escola

Joarle Magalhães e Guilherme Arêas, repórteres- Tribuna de Minas

Na semana em que o Tribunal de Justiça percorre instituições públicas de ensino de Juiz de Fora para divulgar o projeto “Justiça na escola”, com o objetivo de discutir temas, como violência, drogas, evasão escolar, cidadania e bullying, um fato preocupante é registrado pela Polícia Militar na cidade. Na tarde de ontem, um adolescente de 13 anos foi flagrado pelos colegas com quatro pedras de crack, em uma escola municipal da Cidade Alta. O material foi encontrado após a diretora da entidade receber denúncias dos próprios estudantes de que um aluno do sétimo ano estaria com a droga na mochila. Na hora do recreio, o adolescente foi chamado à sala da direção, onde mostrou as pedras e confessou a posse do entorpecente.

Ao constatar o fato, a diretora informou a situação aos pais do aluno e fez contato com a Secretaria de Educação, que acionou a polícia. Duas viaturas foram encaminhadas ao local. A polícia se dirigiu, depois, ao endereço do aluno, onde encontrou a mãe dele, de 37 anos. Ela, o garoto e a diretora da instituição foram encaminhados à 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, em Santa Terezinha, para prestar esclarecimentos. Em depoimento, a diretora informou ter achado a droga após realizar uma “busca na presença de funcionários”. Ela relatou que já teve “problemas” com o adolescente, mas que ele “não era violento e era respeitador”. Segundo a diretora, o estudante informou que venderia cada pedra de crack por R$ 10, mas não chegou a comercializar o entorpecente.

A versão foi confirmada pelo garoto, durante seus esclarecimentos ao delegado. Ele alegou que venderia a droga a pedido do irmão, também menor de idade, mas a comercialização não aconteceria dentro da escola, mas no bairro onde moram, na Cidade Alta. O estudante negou ser usuário, mas garantiu já ter vendido drogas anteriormente. Após ser ouvido, foi entregue aos responsáveis e liberado. De acordo com a Secretaria de Educação, uma reunião com o adolescente e seus pais será realizada na próxima terça-feira, com o objetivo de discutir maneiras de resolver a questão. O estudante poderá ser encaminhado para atividades extracurriculares e programas da Secretaria de Assistência Social ou até mesmo para um tratamento junto à Secretaria de Saúde, caso seja detectado vício em crack.

Apesar da gravidade do caso, o delegado de plantão, Marcelo Faria, acredita que situação semelhante já tenha ocorrido em outras instituições da cidade sem que os responsáveis pelo estabelecimento tenham acionado a polícia. “Muitas vezes, eles tentam resolver o problema internamente.” Coordenador de um programa social que discute a relação dos jovens com substâncias entorpecentes, o professor Valdir de Carvalho afirma que a falta de autoridade nas instituições educacionais e a negligência do Poder Público em realizar políticas de combate ao tráfico podem ser considerados fatores responsáveis pela presença do crack entre os estudantes. O especialista diz que o próprio contexto social em que o aluno está envolvido contribui para a situação de risco. “Para o adolescente, isso está se tornando mais uma brincadeira que uma coisa séria. Ele vê o tráfico sem malícia, como uma forma alternativa de sustento. Sei de casos em que a própria família empurra o filho para o tráfico.”

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O BULLYING NOSSO DE CADA DIA

por Lúcio Alves de Barros

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) acaba de lançar (dia 20) uma cartilha (capa em destaque) para a prevenção do bullying nas escolas. O trabalho é informativo e tem por objetivo, pelo menos na teoria, aproximar os juízes das escolas. Também visa alertar os pais e aos alunos para o fenômeno. Apesar das relações de conflito e violência nas escolas não terem nada de novo a iniciativa tem os seus méritos. A maioria dos alunos e alunas sequer sabe da existência do bullying e, quando tentam explicá-lo a coisa sai mais feia que uma prova de matemática.

A cartilha, em sua primeira edição, tem 14 páginas e, naquela de perguntas e respostas, foi escrita pela psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva. O texto é bastante didático e de fácil compreensão. É possível acessá-lo pela internet (www.cnj.jus.br) e, dificilmente não será um atrativo para as vítimas e para os agressores. Creio que dois cuidados merecem ser tomados:

(1) O famigerado bullying é uma relação entre pares, geralmente alunos/alunas, mas alunos/alunos também o configuram por meio de humilhações e relações de força desiguais. É recomendável não confundir a paixão de um estudante que apelida a colega para chamar atenção com uma violência pura e simples com o objetivo de destruição. Tudo tem suas peculiaridades, conteúdos, sentidos e limites.

(2) O judiciário deve se manter por aí no campo das instituições de ensino as quais tem os seus próprios regulamentos e normas. Não que deve ele se ausentar. Chamo atenção para o risco da "judicialização" das relações nas escolas, que podem resultar em uma avalanche de processos por bullying e, nesse meio, o crescimento forte de um mercado de "danos morais" levados a efeito por um mercado repleto de advogados em busca de notoriedade e ganhos monetários. É imprescindível a manutenção da autoridade do professor nesse processo, sob pena de estarmos construindo escolas do medo e da ansiedade.

Portanto, cumpre às instituições de ensino fazer valer suas normas e regras e que as crianças, adolescentes e jovens não sejam vítimas do próprio processo de aprendizado que, por natureza, é permeado por relações de desconforto, conflito e insegurança. Tomados os devidos cuidados a cartilha é mais do que louvável e a iniciativa mais do que oportuna.

NOTÍCIAS...

Cartilha de combate ao bullying

O Conselho Nacional de Justiça lançou nesta quarta-feira (20) uma cartilha para ajudar pais e educadores a prevenir o problema do bullying nas suas comunidades e escolas

São Paulo

O Conselho Nacional de Justiça lançou nesta quarta-feira (20) uma cartilha para ajudar pais e educadores a prevenir o problema do bullying nas suas comunidades e escolas. O material está disponível gratuitamente na internet. A cartilha contém 15 tópicos que tratam desde a definição do bullying e suas manifestações, até como os pais e educadores podem lidar com os casos. Um dos temas ajuda a identificar se a criança está sofrendo o assédio a partir de seu comportamento em casa e na escola.

A publicação é de autoria da médica psiquiatra Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, que também escreveu o livro “Bullying: Mentes Perigosas nas Escolas” sobre o mesmo tema. O lançamento foi feito durante o seminário Projeto Justiça na Escola, que acontece esta semana na Escola de Magistratura Federal (ESMAF), em Brasília.

Fonte: UOL Educação


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Lançada cartilha sobre bullying

Mariana Laboissière, 21 out. 2010

A violência física e psicológica contra pessoas incapazes de se defender, fenômeno popularmente conhecido como bullying, está na mira da Justiça. Uma cartilha informativa lançada ontem, na capital, com o selo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), visa orientar pais e educadores no combate ao problema, que se tornou uma verdadeira patologia no ambiente Escolar. O livreto de 14 páginas é de autoria da psiquiatra e escritora Ana Beatriz Barbosa Silva, que assina também o livro Bullying: mentes perigosas nas Escolas. A primeira edição é parte integrante do projeto Justiça nas Escolas e compõe uma série de ações cujo objetivo é aproximar o Judiciário e instituições de ensino do país na prevenção de problemas que afetam crianças e adolescentes.O texto é apresentado em forma de perguntas e respostas. Além da descrição do fenômeno e de suas diversas formas de manifestação, são elencadas as consequências e os meios de evitá-lo. Cerca de 46 mil exemplares da cartilha já estão sendo impressos para distribuição massiva em Escolas, fóruns, tribunais de Justiça e outros locais de grande movimentação de pessoas. Ela também se encontra disponível em ambiente eletrônico, no site do CNJ (www.cnj.jus.br).

“Estamos na Semana da Justiça nas Escolas, que é voltada a todos os atores do sistema de justiça e de Educação, no sentido de trazer questões não só relacionadas ao bullying como ao combate às drogas, evasão Escolar, afim de debatê-las e informar a sociedade”, explicou o juiz auxiliar da Presidência do CNJ, Daniel Issler, na ocasião do lançamento da cartilha. “Um tema de importante discussão é a Justiça Restaurativa, que é uma das alternativas para tratar desses conflitos. Esse processo é diferente de uma solução meramente punitiva, restritiva do Estado”, completa.

Posicionamento

Issler acredita que a visão da sociedade esteja mudando com relação ao problema. “O bullying não pode ser tolerado. Eu entendo que a situação de um aluno ser ridicularizado por outro não é nova — sempre aconteceu, sempre vivenciamos ou tivemos conhecimento. Acontece que esse tipo de comportamento não está mais sendo aceito pelas pessoas. O nome propriamente dito veio para qualificar, identificar esse tipo de conduta e nos permite falar sobre ela, além de criar maneiras de lidar com essa questão, que é grave”, afirmou. “As consequências são muito fortes, entre elas, depressão e suicídio. Tem também a questão do prejuízo no rendimento Escolar e problemas de violência.”

O lançamento da cartilha ocorreu durante o seminário de lançamento do projeto Justiça na Escola. Na ocasião, foram realizadas palestras sobre diversos temas relacionados ao bullying. A escritora Ana Beatriz destacou o fato de o fenômeno não ser exclusivo ao ambiente Escolar. Segundo ela, trata-se de uma questão de saúde pública.

“Quando estamos falando no assunto, estamos defendendo uma sociedade menos violenta, porque esse é um tipo de violência. Mas, de certa forma, estamos restringindo-a ao território Escolar. De todo modo, o bullying tem algumas características: a agressão é repetitiva, intencional — ou seja, não é pra brincar, é pra maltratar. A vítima tem que estar, sempre, em uma posição desproporcional de força: normalmente é pessoa tímida, reservada. É importante observar ainda a relação com a evasão Escolar. Apesar de não haver uma estatística fixa, estudiosos vêm analisando os casos concretos que apontam para uma série de estados pscicosomáticos ligado à estada ou à ida para a Escola”, completou.

Há diferentes tipos de agressões que caracterizam o bullying. Elas podem ser verbais, físicas, psicológicas e morais, sexuais e virtuais ou ciyerbullying (realizadas por meio de ferramentas tecnológicas: celular, filmadoras, internet). “No caso da violência física, parte mais de pessoas do sexo masculino. Das meninas, tem origem nas intrigas e nas fofocas. Meninos homossexuais, desde muito cedo, sofrem assédio e até violência sexual nas Escolas. É muito mais comum do que a gente imagina”, atenta Ana Beatriz.

Candangos lideram

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2009, colocou o Distrito Federal no topo do ranking nacional em incidência de bullying entre alunos do 9º ano do ensino fundamental (antiga 8ª série). Na ocasião, foram entrevistados estudantes das redes pública e particular de 6.780 instituições de ensino das 27 capitais da Federação. Do apanhado de candangos questionados, 37,6% assumiram sofrer ridicularizações dentro da Escola.

Segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, a pesquisa não se aprofundou nas causas do transtorno. Ela salientou ainda que a diferença entre a segunda e terceira cidades colocadas (Belo Horizonte e Curitiba) não foi tão grande. Mesmo assim, a estudiosa acredita que Brasília tenha características que acabam influenciando a alta incidência. “Temos que entender que o bullying é um fenômeno de violência e lembrar que ele também é uma disputa de poder. É óbvio que todos os parâmetros de uma cidade e sociedade — e Brasília acaba representando o poder federal — podem ter relação com o fato”, opina. “Tudo que acontece aqui, seja em relação à impunidade, a quebra de regras ou a acidentes graves que atingem outras pessoas e ninguém é punido, pode estar relacionado ao fato de essas pessoas estarem perto do poder e acabarem sentindo que estão também amparadas pelas benesses do poder”, conclui.

TENTANDO ACORDOS

Programa de Justiça Restaurativa significa qualquer programa que use processos restaurativos e objetive atingir resultados restaurativos. Processos restaurativos são quaisquer processos em que vítima e ofensor, bem como demais outros indivíduos ou membros da comunidade que foram afetados pelo conflito em questão, participam ativamente na resolução das questões oriundas desse conflito, geralmente com a ajuda de um facilitador.

IDENTIFICAÇÃO

A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar teve por objetivo conhecer e dimensionar os diversos fatores de risco e de proteção à saúde desse grupo, utilizando como referência para seleção da amostra o cadastro das Escolas públicas e privadas listadas no Censo Escolar 2007, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, do Ministério da Educação — Inep/MEC.

Fonte: Correio Braziliense (DF)


E Mais...

Jovens podem ser punidos por prática de bullying em escolas

Prática bastante comum em Escolas e outros locais que reúne grupos de crianças e jovens, o bullying pode levar sérias complicações aos seus praticantes, mesmo sendo eles menores de idade

Robert Pedrosa, 21 out. 2010

Prática bastante comum em Escolas e outros locais que reúne grupos de crianças e jovens, o bullying pode levar sérias complicações aos seus praticantes, mesmo sendo eles menores de idade. A afirmação é da juíza Maria Luiza, titular da 1ª Vara da Infância e da Juventude de Teresina, que está participando do projeto “Semana do Juiz na Escola”, juntamente com o juiz da 2ª Vara da Infância e da Juventude, Antônio Lopes.O evento, idealizado pelo Conselho Nacional de Justiça, consiste em palestras educativas que estão sendo realizadas ao longo dessa semana em colégios da rede estadual e municipal a partir do 5º ano do ensino fundamental. Os autores das palestras são os próprios juízes, que podem tratar de casos como esses quando o assunto bater à porta do judiciário. O CNJ lançou uma cartilha para orientar professores, pais e estudantes sobre o bullying.

Maria Luiza alerta que o bullying (que é a prática de ofender, zoar, ironizar o colega de classe ou do colégio) acontece em praticamente todas as Escolas do Piauí e geralmente traz conseqüências danosas às vítimas. “O primeiro resultado é o baixo rendimento do aluno na sala de aula. O estudante também começa a faltar ao colégio, para evitar contato com os colegas que praticam o bullying contra ele”, afirma a magistrada.

As maiores vítimas do ato são crianças tímidas, retraídas, garotos com jeitos afeminados, meninas com jeito masculinizado, pessoas de religião diferente da maioria e as que se vestem diferente dos demais. “A gente explica que qualquer criança ou adolescente que for vítima disso deve comunicar imediatamente os pais e a direção da Escola para barrar que o bullying continue. Caso não resolva, aí a saída é procurar o Conselho Tutelar, a Delegacia do Menor ou ainda o Juizado da Infância e Adolescência”, orienta Maria Luiza.

Os jovens que praticam o bullying podem responder pelo ato, além de sua família, que sofrerá multas que variam de 2 a 20 salários mínimos. “Também terá medidas corretivas, tais como outros menores que praticam atos infracionais”, comenta a juíza. O Projeto “Semana do Juiz na Escola” teve seu início nos estabelecimentos estaduais; Unidade Escolar Dina Soares, Unidade Escolar Gabriel Ferreira, Unidade Escolar Anísio Teixeira, Unidade Escolar João Emílio Falcão Costa e na Unidade Escolar Edgar Tito pelo Juiz Antonio Lopes da 2ª Vara.

Fonte: Jornal O Dia (PI)


E ainda...

Estudantes desenvolvem projeto antibullying e reduzem casos em escola estadual do RS - Um projeto de conscientização desenvolvido por duas estudantes de ensino médio conseguiu reduzir os casos de bullying entre alunos da 5ª série do ensino fundamental

Desirèe Luíse, Novo Hamburgo (RS)

Um projeto de conscientização desenvolvido por duas estudantes de ensino médio da Escola Estadual Melvin Jones, de Caxias do Sul (RS), conseguiu reduzir os casos de bullying entre alunos da 5ª série do ensino fundamental. Segundo as jovens Edilene Antonelo Claudino e Maruska Guarda da Silva, que cursam o 2º ano no colégio, 40% dos casos de violência física e psicológica diminuíram após palestras ministradas por elas para 74 alunos de três turmas.

Os resultados do "Novo amanhã: projeto antibullying em turmas de 5ª série" podem ser vistos em estande da 25ª Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), que acontece em Novo Hamburgo (RS), até sexta-feira (22/10). "Explicamos aos alunos o que era e como acontece para que não continue esse ciclo vicioso que é a prática do bullying. Escolhemos crianças da 5ª série para aplicar o projeto, porque elas estão na transição da infância para a adolescência, período em que ficam mais sujeitas às práticas violentas. Por exemplo, a voz dos meninos muda e as meninas engordam, virando motivo de brincadeiras agressivas", pontua Edilene.

Com a ajuda de teatro de bonecos, as meninas fizeram com que os alunos reconhecessem as ações de bullying – atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa - ou grupo de pessoas - incapaz de se defender. Elas constataram que muitos não sabiam do que se tratava por meio de uma pesquisa feita antes e depois das explicações. Para a pergunta "você já sofreu bullying?", 26% responderam que sim, enquanto quase 72% disseram que não, antes de ouvirem a palestra das jovens. Após a apresentação, 55% revelaram já terem sofrido bullying e 43% responderam negativamente.

Além das palestras para os alunos, as estudantes realizaram encontros com os pais e professores da escola. "Achamos importante trabalhar com eles para fazer um trabalho integral de conscientização", ressalta Edilene. "Mostramos os depoimentos que coletamos entre as crianças, que relataram, de forma anônima depois das palestras, as ações de bullying sofridas", completa. "Ficam me chamando de gago e se juntaram em três para me chutarem" foi um dos relatos obtidos. As palavras de outro garoto também demonstram a gravidade da situação: "Acho que já sofri. Meninas me chamam de nomes feios e se juntavam contra mim por meus defeitos. Sempre querem me bater, até que procurei meus pais e a escola e elas pararam um pouco. Mas, hoje ainda me chamam de apelidos que eu não gosto".

Segundo Edilene, mostrar aos pais os depoimentos dos filhos teve como objetivo alertá-los sobre o problema. "Não é coisa que vemos apenas na televisão, mas que acontece em nosso ambiente todo o dia", afirma.

Desinteresse dos pais

De acordo com as alunas, foi difícil trabalhar com os pais, pois inicialmente o nível de comparecimento na palestra foi baixo. Dos 74 alunos, compareceram apenas dois pais. Então, as alunas convidaram aqueles que cursam a Escola de Jovens e Adultos (EJA) para conseguirem disseminar as informações e dados obtidos com o projeto para um grupo maior.

"Depois da apresentação houve uma interação e os pais também contaram casos de agressão que sofreram quando mais novos. Já passamos por situações de bullying e não queremos que outros sofram com isso. Tivemos o apoio de nossas famílias, mas sabemos que muitas crianças não têm", diz Edilene. O assunto é considerado complexo pelas jovens pesquisadoras, já que grande parte das pessoas não sabe do que se trata e não se interessa. "Algumas até afirmam saber, mas têm a ideia de que o bullying é apenas agressão física. Não podem esquecer da violência psicológica", alerta.

Fonte: Portal Aprendiz - http://todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia

PESQUISA [Notícias]

Estudo mostra que, após repetência, aluno deixa a escola

Clarissa Carvalhaes, repórter - 21 out. 2010 (Jornal Hoje em Dia)

Estudo desenvolvido por pesquisadores de três universidades mineiras comprovou que a repetência, além de afetar a autoestima e o aprendizado dos alunos reprovados, acaba resultando no abandono da escola. Dados mais recentes do Ministério da Educação (MEC), de 2008, mostram que Minas Gerais tem 2,92% de abandono no Ensino Fundamental; e 10,68% na taxa de reprovação. Na pesquisa não constam índices do Ensino Médio.

Se por um lado a repetência pode ser vista como vilã, a promoção automática não está livre dos problemas. "Se o objetivo da escola é ensinar, aprender e formar cidadãos, a promoção automática equivale a tratar da febre e ignorar a doença", afirma o presidente do Instituto Alfa e Beto, o psicólogo e doutor em educação João Batista Araujo e Oliveira. Os pesquisadores Tufi Machado (UFJF), Vânia da Silva (UFMG) e Juliana Ruas (Faculdade de Itaúna), analisaram o desempenho de mais de 40 mil estudantes das escolas das redes estadual e municipal de Minas, que participaram do Programa de Avaliação do Ciclo Inicial de Alfabetização (Proalfa) entre os anos de 2008 e 2009.

O projeto mede o desempenho de alunos do 3º ano do Ensino Fundamental e avalia, anualmente, os conhecimentos de leitura e escrita dos estudantes. Entre os que apresentaram baixo desempenho em 2008, os não repetentes mostraram evolução maior do que os repetentes na prova aplicada em 2009. "Ao que tudo indica, a reprovação tem efeito mais negativo nas crianças do que positivo", ressalta Juliana. O presidente do Alfa e Beto diz que não cabe às escolas e aos professores o direito de reprovar alunos em massa impunemente. "O contrário disso, porém, não é aprovar em massa, automaticamente. É preciso ensinar e o primeiro passo é alfabetizar", diz.

Metodologias são ineficazes

Para ele, a primeira e principal causa da repetência nas séries iniciais se deve ao fato de que as crianças não vêm sendo alfabetizadas. "Isso decorre das nefastas políticas e práticas de alfabetização que continuam sendo promovidas pelo MEC, por vários governos estaduais e municipais. As 19 cartilhas aprovadas pelo MEC em 2009, por exemplo, continuam a usar metodologias de alfabetização comprovadamente ineficazes", diz. O professor Thiago Braga faz coro ao colega: "Os estudantes de hoje são completamente diferentes dos que passaram pelos bancos das escolas há 50 anos. No fim das contas, quem sai prejudicado é o aluno e o professor. O primeiro porque dificilmente aprenderá algo com a metodologia que é aplicada desde a década de 30. Já o professor acaba exaurido e totalmente desestimulado". O MEC não se pronunciou sobre a questão até o fechamento desta edição.

Quem viveu na pele a reprovação escolar conhece bem o desprazer de ter que repetir o ano. O estudante Dimitri Bassalo, hoje com 18 anos, viu, aos 15, os colegas de classe seguirem para o 2º ano do Ensino Médio, "enquanto eu fiquei para trás". Na época, as únicas matérias que Dimitri não foi reprovado foram as de Biologia e Inglês. "A nota mínima para aprovação era de 60 pontos, eu fiquei com menos de 40", recorda. O estudante conta que depois que foi reprovado decidiu estudar como nunca. "Perdi um ano da minha vida. Hoje poderia estar fazendo faculdade, mas a gente aprende com os erros, não é?" Desde então, as notas de Dimitri são sempre acima de 85 pontos. O empenho do estudante depois da reprovação foi tão grande que, hoje, ele é bolsista de um dos colégios particulares mais renomados de BH.

João Oliveira destaca que Dimitri não deixa de ser uma exceção. "Num sistema responsável de ensino, que efetivamente ensina e cuida dos alunos, a reprovação poderia ocorrer ocasionalmente, desde que por uma razão sólida e fundamentada. Mas deve ser algo raro na vida das escolas e dos alunos. Mas, num sistema em que sequer garante que as crianças sejam alfabetizadas no 1º ano do Ensino Fundamental, a reprovação não passa de uma covardia irresponsável". Mas, se a reprovação não é a melhor saída para incentivar os estudantes, a promoção automática seria uma boa saída para elevar os índices de ensino e alfabetização dos estudantes. "Porém, apenas seria. Enquanto não houver um projeto específico, os traumas e a desmotivação continuarão aumentando".

O psicólogo lembra que a escola pode mudar a trajetória de vida das populações, "mas essa é ainda uma realidade para poucos países". Qual o segredo? Segundo ele, nenhum. "Basta copiar o que fazem as boas escolas: programas de ensino claros, professores bem formados antes de entrar para o magistério, gestão escolar eficiente e uso de pedagogias adequadas". "Em vez de realizar audiências públicas, o Conselho Nacional de Educação contribuiria muito mais se estudasse e recomendasse as evidências científicas sobre o que funciona em educação. Também deveria refletir sobre o fato de que todos os países do mundo, com sistemas alfabéticos de escrita, adotam métodos de alfabetização radicalmente opostos aos do Brasil".

Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/minas/estudo-mostra-que-apos-repetencia-aluno-deixa-a-escola-1.190154