quinta-feira, 30 de setembro de 2010

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Estudantes da UFRJ reclamam dos constantes arrastões no campus do Fundão

O Globo, com informações do Bom Dia Rio - 30 set. 2010

RIO - Estudantes do campus do Fundão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) reclamam dos constantes arrastões nas próximidades da instituição. No último sábado (25), ladrões fizeram mais um ataque na região.

- A gente percebeu que tinha vários carros dando ré e parando. E a gente quando olhou, um pouco mais à frente tinha um grupo de pessoas abrindo a porta dos carros e jogando o pessoal para fora - disse um jovem sem se identificar.

Segundo os depoimentos, a ação dos criminosos, na maioria dos casos, acontece na principal avenida do campus, onde a maior parte dos motoristas passa para sair da universidade. A prefeitura da cidade universitária afirma que houve um assalto e um carro foi roubado no sábado à noite. A prefeitura também informou que acionou o batalhão da PM na Ilha do Governador e a delegacia da área.

Segundo o comandante do 17º BPM, o policiamento do Fundão foi reforçado. Ainda de acordo com a PM, o Fundão conta com patrulhamento de viaturas 24 horas, policiamento transportado em ônibus urbanos, Polícia Montada e apoio do Batalhão de Polícia Rodoviária no principal acesso ao campus.

Fonte: http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2010/09/30/estudantes-da-ufrj-reclamam-dos-constantes-arrastoes-no-campus-do-fundao-922665081.asp

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Professor de Geografia tem acesso de fúria em escola estadual de Caraguatatuba, SP

Publicada em 30 set. 2010 - Bom Dia S.Paulo, Gazeta Online TV Gazeta

SÃO PAULO - Um professor de Geografia sofreu um acesso de fúria na Escola Estadual Ismael Iglesias, em Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo. Os gritos podiam ser ouvidos de fora da escola e um aluno gravou com o celular.

"Eu estou de saco cheio desta escola. Eu estou de saco cheio de vocês. Eu estou de saco cheio com a senhora, de tudo o que a senhora me aprontou. Eu estou doente! Cambada de... Sai, sai, sai da minha frente!", disse o professor, que teria ainda quebrado uma porta e empurrado uma professora.

Uma aluna de 14 anos e a mãe dela registraram boletim de ocorrência na polícia. A garota diz que o professor ameaçou os alunos de morte. A mãe da menina diz que esta é a segunda vez que os alunos têm problemas com o professor, que já teria sido afastado uma vez. O professor foi afastado e vai responder por danos ao patrimônio público. A Secretaria de Educação do Estado informou que uma comissão vai avaliar o caso e o professor passará por avaliação psiquiátrica.

No Espírito Santo, alunos do curso de comunicação da UFes denunciam ataque de fúria de um professor. Eles o acusam de virar uma mesa e jogar um computador nos alunos . Os estudantes ficaram com medo, saíram da sala de aula e só voltaram depois que o professor saiu.

Segundo os alunos, um círculo foi feito na sala para um debate. O professor teria se irritado com a opinião de um dos alunos e tentou jogar um computador no rapaz. Só que o equipamento atingiu uma colega, que estava perto do estudante. Antes de sair da sala, o professor ainda virou a própria mesa. O caso foi parar na ouvidoria da Universidade. O ouvidor disse que o professor tem até a próxima sexta-feira para se explicar. Ele já ouviu os alunos e disse que, se a versão deles for verdadeira, o professor realmente se excedeu e terá que fazer um pedido de desculpas. A intenção da Universidade é de que haja uma conciliação, mas se nada for resolvido será aberta uma sindicância.

O professor Victor Gentilli confirmou que jogou o computador no chão, mas disse que não tinha a intenção de atingir ninguém. Ele vai pedir desculpas aos alunos. O computador que foi arremessado é do laboratório da universidade.

Fonte: http://oglobo.globo.com/cidades/mat/2010/09/30/professor-de-geografia-tem-acesso-de-furia-em-escola-estadual-de-caraguatatuba-sp-922664530.asp

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Corpo de garoto baleado em escola será enterrado nesta quinta em SP

De São Paulo - 30 set. 2010

O corpo do garoto que morreu após ser ferido dentro da escola onde estudava, em Embu (Grande São Paulo), será enterrado nesta quinta-feira, no Cemitério São Paulo (zona oeste). O enterro está previsto para a tarde de hoje. De acordo com o Cemitério São Paulo, é provável que o velório também aconteça lá. O corpo de Miguel Cestari Ricci dos Santos, 9, já havia deixado o IML (Instituo Médico Legal) às 11h de hoje.

O garoto foi ferido nesta quarta (29). Miguel foi atendido no Hospital Family, em Taboão da Serra. Ele passou por uma cirurgia por volta das 12h, mas sofreu uma parada cardiorrespiratória e sua morte foi constatada às 13h, após tentativas de ressuscitação.

Segundo Marcos David Ferreira, diretor clínico do hospital, um tiro atingiu o menino pelo lado esquerdo, atravessou a cavidade abdominal e se alojou perto das costas. De acordo com informações da delegacia da cidade, a Polícia Militar havia sido acionada para atender a uma ocorrência de explosão, mas, depois, foi constatado que o menino havia sido baleado.

Em nota divulgada pela assessoria de imprensa, a escola afirma que está colaborando com as autoridades. 'Esperamos que os fatos sejam elucidados o mais rápido possível.'

'Neste momento de dor e de grande perda, a equipe de professores e funcionários de nossa escola está procurando dar toda atenção e apoio à família da vítima --um menino de 9 anos-- do terrível acidente ocorrido perto das 12h desta quarta-feira', diz a nota.

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Alunos usam torpedos e e-mails para tentar entender morte de menino em escola de SP

Por LAURA CAPRIGLIONE - DE SÃO PAULO

Torpedos, e-mails e telefones celulares foram as formas encontradas pelos alunos da Escola Adventista de Embu, na Grande São Paulo, para tentar entender o que aconteceu com o estudante Miguel Cestari Ricci dos Santos, 9, ferido de morte dentro do colégio. O crime aconteceu ontem. O garoto chegou a ser socorrido e passou por uma cirurgia, mas sofreu uma parada cardiorrespiratória e sua morte foi constatada às 13h, após tentativas de ressuscitação. Com 1,39 metro de altura, cabelo preto cortado em "formato de tigela", considerado inteligentíssimo e ótimo aluno, além de bom caráter, Miguel tinha muitos amigos na escola.

Na saída conturbada das aulas de ontem de manhã, depois de Miguel, gravemente ferido, ser levado para o hospital Family, na vizinha cidade de Taboão da Serra, os alunos trocavam informações desencontradas. Muitos meninos e meninas choravam, contando o que tinham visto, tentando entender. Buscavam informações.

SANGUE NO CHÃO

Duas garotas da classe de Miguel diziam tê-lo visto com um grave ferimento na barriga, jogado no chão da escola, "olhos brancos, muito pálido, tremendo muito". "Tinha muito sangue no chão", afirmaram. Os cinco estudantes do colégio com quem a Folha conversou ontem à tarde (um dos quais se apresentou como "o melhor amigo do Miguel") diziam que o colega tinha sido vítima de uma brincadeira "estúpida, de mau gosto".

Segundo eles, um aluno teria arremessado contra Miguel uma "biribinha americana" (espécie de bomba que produz um estrondo forte enquanto libera um odor nauseabundo). Seria apenas para assustá-lo. Nenhum dos alunos disse saber quem teria arremessado a tal "biribinha americana", mas admitiram que havia um "amigo" de Miguel que "estava brigado com ele". Não citaram nomes.

ACIDENTE

Com o susto, Miguel teria se desequilibrado e caído contra uma parede de vidro, que se rompeu. Ele bateu a cabeça, ferindo-a. O vidro também teria causado o ferimento na barriga. Para os meninos e meninas, o mais provável é que a morte de Miguel tenha sido um "trágico acidente". Eles chegaram a discutir a hipótese de que uma bala perdida tivesse atingido o amigo, mas descartaram-na em prol da tese da "biribinha" seguida de morte.

Todos recusavam-se a acreditar que algum aluno da escola tivesse premeditado o crime e levado uma arma para assassinar o colega. Amigos de Miguel, usuários do mesmo transporte escolar, dizem que ele era um menino sério com as coisas da escola, mas brincalhão com os companheiros. O motorista do transporte disse que Miguel era um garoto tranquilo, que "nunca deu trabalho".

Hoje e amanhã, os alunos da Escola Adventista de Embu continuarão a conversar por e-mail, torpedo e celular sobre suas "investigações". O colégio suspendeu as aulas, que só devem ser retomadas na segunda-feira.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/

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Criança de 8 anos é baleada dentro de escola e morre

Tiro teria sido disparado acidentalmente por colega que levou a arma para o Colégio Adventista, em Embu das Artes

Portal R7, com Agência Record - 29 set. 2010

Uma criança de oito anos morreu, por volta das 13h30 desta quarta-feira (29), após ser baleada dentro da escola em que estudava. O caso aconteceu no Colégio Adventista, em Embu das Artes, na Grande São Paulo. A vítima foi atendida por policiais militares, que a levaram ao Hospital Family. No entanto, ela não resistiu aos ferimentos e morreu a caminho do local. O diretor do hospital afirmou que um colega do colégio do garoto levou a arma para a escola e a disparou acidentalmente.

Em contato com a administração do colégio, às 14h45, a mantenedora disse à Agência Record que apenas o pastor Carlos Enoque poderia falar sobre o assunto. Por telefone, ele confirmou à reportagem que houve um acidente envolvendo uma das crianças do local, mas ainda não sabe dizer as circunstâncias da morte. O tio da criança, Miguel Sestário dos Santos, afirmou que os familiares da vítima estão no hospital. Ele não soube dizer se os disparos foram dados por um colega do garoto. A ocorrência será registrada no Distrito Policial Central de Embu das Artes.

Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/noticias/brasil/crianca-de-8-anos-e-baleada-dentro-de-escola-e-morre-1.17932

terça-feira, 28 de setembro de 2010

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Estudantes homossexuais são vítimas de homofobia no alojamento da UFRJ, no campus do Fundão

Charge em: http://ceticismo.net/tag/homofobia/

Lauro Neto - 28 set. 2010

RIO - Há 20 dias o estudante de Serviço Social Flavio Silva anda acuado no alojamento da UFRJ onde mora, no campus do Fundão. Flavio conta que, no dia 9 de setembro, ele e outros militantes foram vítimas de um ato homofóbico, quando afixavam cartazes e panfletos nos corredores sobre um evento justamente contra opressões. Segundo ele, um universitário vizinho se incomodou com a foto de um beijo entre dois homens no cartaz, arrancou os panfletos e os queimou sob os gritos de "Eu já sou obrigado a conviver com um viado morando em frente, e ainda colam coisas de viado na minha porta!". Uma amiga de Flavio que pediu para não ser identificada, com medo de retaliações, registrou a ocorrência como injúria na Delegacia da Mulher. O caso chegou ao conhecimento do Conselho de Ensino de Graduação (CEG) da UFRJ, mas, mesmo assim, Flavio continua a ser ameaçado:

- Ele diz para eu tomar cuidado, pois os oito caras mais fortes do alojamento estão do lado dele. Me sinto ameaçado, pois ele pode me encontrar e me agredir. No corredor, não tem segurança. Chego a ficar sem forças. Fui atingido na minha moral. E não foi um fato isolado. Isso podia acontecer com qualquer pessoa - lamenta o estudante.

E já aconteceu algo parecido com o estudante de Letras Delano de Souza. Segundo ele, em abril, o aluno de Matemática Thiago José da Silva Barbosa de Paula tentou arrombar a porta do seu quarto e entrou aos berros de "Viado filho da puta, eu vou te matar!", devido a um problema em seu ar-condicionado. Delano prestou queixa na 37ª DP (Ilha do Governador), os dois foram chamados para uma audiência de conciliação, mas não houve entendimento. Em agosto, o acusado aceitou pagar R$ 300 ao Instituto Nacional do Câncer como transação penal estipulada pelo MP para arquivar o processo, mas só pagou metade. No dia 14 de setembro, a Justiça expediu intimação pedindo que ele comprovasse o pagamento da outra metade. A Megazine entrou em contato com Thiago, mas ele não quis se pronunciar sobre o caso.

- De início, ele me tratava bem, mas, quando ficou sabendo que eu era gay, falou que não era obrigado a ter amizade com viado. Desde esse dia, passou a me perseguir. Uma vez, me deu um tapa, mas os seguranças impediram a briga - conta Delano. - Não aceitei a conciliação por medo de ele fazer alguma coisa pelas minhas costas. Mesmo com o processo, ele continua me perseguindo, me intimidando e acuando. Não quero ganhar dinheiro dele. Só quero distância.

Mesmo procurando evitar a proximidade quase inevitável do quarto ao lado, recentemente Delano foi vítima de outro ato questionável, desta vez de autoria desconhecida: no corredor de seu andar arrancaram a decoração do cenário que havia montado para filmar um programa voltado para o público gay no YouTube.

- Foram aqueles trogloditas que chegaram bêbados e arrancaram - ele suspeita.

Representante discente no CEG, a estudante de Serviço Social Deise Pimenta acredita que não se trata de fatos isolados. Responsável por levar a moção de repúdio à homofobia escrita pelo amigo Flavio a uma reunião do conselho, ela conta que já ouviu outras histórias de violência no alojamento.

- Já me contaram que um menino gay bateu por engano na porta de outro, que lhe quebrou o braço. Não queremos que volte à época da segregação no alojamento - diz Deise.

Ela se refere ao tempo em que a ala masculina era dividida em Caverna do Dragão, onde ficavam os homofóbicos, e Castelo de Cristal, parte que abrigava os homossexuais. As pichações estão na parede até hoje, mas Vera Lucia Aguiar, diretora do alojamento há 18 anos, diz desconhecer qualquer caso de homofobia no local.

- Quando entrei no alojamento, essas pichações já existiam. À minha sala nunca chegou nenhuma reclamação sobre homofobia feita por aluno. Tomei conhecimento deste último caso pelo CEG e vou conversar com os estudantes envolvidos- promete Vera.

Já Rosélia Magalhães, diretora substituta da Divisão de Assistência Estudantil (DAE), reconhece as limitações em relação ao controle sobre os 504 quartos (metade para homens e metade para mulheres) do alojamento. Ela também tomou conhecimento do caso pela moção de repúdio apresentada ao CEG.

- Estou muito pouco dentro do alojamento para saber quantos casos acontecem, mas acredito que não seja algo isolado, porque isso acontece todos os dias dentro e fora da faculdade. Temos que tomar alguma atitude dentro do espaço universitário. Não existe um regimento do alojamento que preveja punições para essas situações, mas temos um grupo de trabalho estudando isso - diz Rosélia.

Responsável pela seleção, permanência, renovação e saída dos moradores do alojamento, ela afirma que seria preciso que o caso chegasse a instâncias superiores na universidade para que houvesse alguma punição. Belkiss Valdman, pró-reitora de graduação, explica que precisa de um documento formal que aponte os acusados para abrir uma sindicância e apurar o ato:

- Esse foi o primeiro episódio de homofobia em três anos que estou aqui. Não admitimos qualquer intolerância ou discriminação, e, se houver fatos, a diretoria vai chamar a atenção.

Fonte: O Globo - http://oglobo.globo.com/megazine/mat/2010/09/27/estudantes-homossexuais-sao-vitimas-de-homofobia-no-alojamento-da-ufrj-no-campus-do-fundao-922109184.asp

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Alunos bolivianos pagam para não apanhar em escola estadual de SP

DE SÃO PAULO - 28 set. 2010

Alunos imigrantes da escola estadual Padre Anchieta, no Brás (região central de São Paulo), pagam "pedágio" aos brasileiros para não apanhar fora da unidade. A informação é da reportagem de Raphael Marchiori publicada na edição desta terça-feira da Folha.

Para se sentirem seguros, os estrangeiros, principalmente bolivianos, pagam lanches na cantina ou dão aos brasileiros o que têm nos bolsos, mesmo que seja R$ 1. "Caso contrário, apanham do lado de fora da escola", diz Mário Roberto Queiroz, 49, professor de história e mediador --função criada pela Secretaria da Educação para trabalhar junto à comunidade escolar questões como atos de vandalismo, discriminação e violência.

A compra da "segurança" foi revelada à Folha por alunos e docentes. A própria direção da unidade confirma. Um aluno e um ex-aluno da escola, ambos de 16 anos, afirmam que os casos ocorrem pelo menos desde 2008. "Eles pedem R$ 1 ou R$ 2. Entreguei três vezes. Na quarta, apanhei", conta um deles, que está há 14 anos no Brasil.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/805761-alunos-bolivianos-pagam-para-nao-apanhar-em-escola-estadual-de-sp.shtml

ATUALIZAR A PEDAGOGIA EM RELAÇÃO AO MUNDO QUE MUDA

por Leonardfo Boff, teólogo e escritor

Séculos de lutas entre povos e conflitos de classe nos estão deixando uma amarga lição. Isso não nos fez mais humanos, nem nos aproximou e muito menos trouxe a paz. Vivemos em permanente estado de sítio e cheios de medo. Alcançamos um patamar histórico que "nos conclama a um novo começo". Isso requer uma pedagogia fundada numa nova consciência dos problemas econômicos, sociais, culturais e espirituais.

Essa consciência está nos mostrando um caminho: entender que todas as coisas são interdependentes e que mesmo as oposições não estão fora de um todo dinâmico e aberto. Por isso, não cabe separar, mas compor e incluir, reconhecer as diferenças, mas também buscar as convergências e, no lugar do ganha-perde, buscar o ganha-ganha. Tal perspectiva holística vem influenciando os processos educativos. Temos um mestre, Paulo Freire, que nos ensinou a dialética da inclusão e a colocar o "e" onde antes púnhamos o "ou". Frei Clodovis Boff entregou-nos um livrinho que se tornou um clássico: "Como Trabalhar com o Povo". E agora, face aos novos desafios do mundo, elaborou um decálogo daquilo que poderia ser uma pedagogia renovada.

1. Sim ao processo de consci-entização, à consciência crítica e à razão analítica (cabeça). Mas sim também à razão sensível (coração), onde se enraízam os valores e de onde se alimentam o imaginário e as utopias.

2. Sim ao "sujeito coletivo" ou social, ao "nós" criador de história ("ninguém liberta ninguém, nos libertamos juntos"). Mas também sim à subjetividade de cada um, ao "eu biográfico", ao "sujeito individual" com suas referências e sonhos.

3. Sim à "práxis política", transformadora das estruturas e geradora de novas relações sociais, de um novo "sistema". Mas sim também à "prática cultural" (simbólica, artística e religiosa), "transfiguradora" do mundo e criadora de novos sentidos.

4. Sim à ação "macro" ou societária (à "ação revolucionária"), aquela que age sobre as estruturas. Mas sim também à ação "micro", local e comunitária como base do processo estrutural.

5. Sim à articulação das forças sociais sob a forma de "estruturas unificadoras" e centralizadas. Mas sim também à articulação em "rede", na qual, por uma ação descentralizada, cada nó se torna centro de criação, de iniciativas e de intervenções.

6. Sim à "crítica" dos mecanismos de opressão, à denúncia das injustiças e ao "trabalho do negativo". Mas sim também às propostas "alternativas", às ações positivas que instauram o "novo" e anunciam um futuro diferente.

7. Sim ao "projeto histórico", ao "programa político" para uma "nova sociedade". Mas sim também às "utopias", aos sonhos, à busca de uma vida diferente, enfim, de "um mundo novo".

8. Sim à "luta", ao trabalho, ao esforço para progredir, à seriedade do engajamento. Mas sim também à "gratuidade" como se manifesta no jogo, no tempo livre, na alegria de viver.

9. Sim ao ideal de ser "cidadão", "militante" e "lutador", sim a quem se entrega, cheio de entusiasmo e coragem, à causa da humanização do mundo. Mas também sim à figura do "animador", do "companheiro", do "amigo", em palavras pobres, a quem é rico de humanidade, liberdade e amor.

10. Sim a uma concepção "analítica" e científica da sociedade e suas estruturas. Mas sim também à visão "sistêmica" e "holística" da realidade, vista como totalidade, integrada dialeticamente em suas várias dimensões: pessoal, de gênero, social, ecológica, planetária, cósmica e transcendente.

Fonte: http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdColunaEdicao=12954

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

REVISTA ELAS POR ELAS [2010]


O Sinpro Minas convida para o lançamento da revista Elas por Elas, no dia 28 de setembro (terça-feira), às 20 horas, no auditório do sindicato (Rua: Jaime Gomes, 198, Floresta). Em comemoração aos 100 anos do dia 8 de março, professores e representantes de diversos setores da sociedade serão homenageados.

Contamos com a sua presença e de seus convidados!

Sinpro Minas - www.sinprominas.org.br

A MÍDIA COMERCIAL EM GUERRA CONTRA LULA E DILMA

por Leonardo Boff*

Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o "silêncio obsequioso" pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o "Brasil Nunca Mais", onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário. Esta história de vida me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como "famiglia" mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de O Estado de São Paulo, de A Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem desse povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido a mais alta autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha. Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma), "a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes, nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo -Jeca Tatu-; negou seus direitos; arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação; conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)".

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável. Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados, de onde vem Lula, e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e para "fazedores de cabeça" do povo. Quando Lula afirmou que "a opinião pública somos nós", frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.

Outro conceito innovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas, importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA, que faz questão de não ver; protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra, mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e, no fundo, retrógrado e velhista; ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes?

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.

* Teólogo, filósofo e escritor - Representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra]. http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=51181

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Bullying: notificação será obrigatória

Casos de discriminação na escola terão que ser registrados na delegacia

Rafael D'Ângelo - 24 set. 2010

As escolas públicas e particulares do estado terão que notificar a polícia e o Conselho Tutelar os casos de bullying e violência contra crianças e adolescentes. A lei tornando a medida obrigatória foi sancionada terça-feira pelo governador Sérgio Cabral e prevê multa de três a 20 salários mínimos (até R$10.200) para quem descumpri-la. Só na cidade do Rio, segundo pesquisa do IBGE realizada no ano passado, 30,6% dos estudantes dizem ter sofrido bullying, sendo que a proporção foi maior entre meninos (31,7%) que entre meninas (29,6%). Segundo o autor do projeto, André Corrêa (PPS), as notificações eram feitas por algumas escolas, mas sem normatização.

- Nem todas as escolas notificavam, principalmente as particulares. A lei disciplina isso e torna a notificação obrigatória - afirmou Corrêa.

Coordenadora do Serviço de Psicologia Aplicada da Uerj, Maria Luiza Bustamante destacou que a medida demonstra uma preocupação com a qualidade do ensino:

- É uma lei importante, que integra um movimento de retomada das preocupações com a Educação. Os casos de bullying na infância e adolescência influenciam o indivíduo para sempre, principalmente se diz respeito ao corpo da criança.

Segundo a Secretaria estadual de Educação, as escolas já notificavam casos de bullying, mas um grupo de trabalho foi formado para elaborar um formulário específico para as notificações, por conta da lei. O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino das Escolas do Estado do Rio (Sinepe), Vitor Notrica questiona se a medida terá eficácia:

- Não será através de autuações e multas que vamos resolver o problema.

Fonte: O Globo (RJ)

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Escolas do Rio terão de notificar polícia em caso de bullying

Lei sancionada também prevê comunicação ao Conselho Tutelar. Multa por omissão chega a 20 salários mínimos

Bruno Boghossian - 24 set. 2010

RIO - O governo do Rio sancionou uma lei que obriga diretores de escolas públicas e particulares de todo o Estado a notificar a polícia e o Conselho Tutelar em casos de bullying. Caso a medida não seja cumprida, os estabelecimentos poderão pagar multas de 3 a 20 salários mínimos - pena prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para a omissão de maus-tratos. A lei estende para os estabelecimentos de ensino um modelo de notificação compulsória de violência contra crianças e adolescentes que já era adotado em unidades de saúde. Funcionários de hospitais e clínicas devem notificar autoridades policiais e conselhos tutelares quando forem observados casos de agressão contra menores.

O texto abrange tanto agressões físicas contra os jovens quanto pressões psicológicas, sem restringi-las ao ambiente escolar. Segundo a lei, a violência contra a criança e o adolescente é caracterizada quando uma ação ou omissão "resultar em morte, lesão corporal, sofrimento físico, sexual ou psicológico".

A nova lei determina que os procedimentos sejam feitos sob sigilo junto a delegacias e ao Conselho Tutelar, com o objetivo de proteger a vítima. A Secretaria Estadual de Educação informou que orientou as escolas a adotarem esses procedimentos.

Um grupo de trabalho foi formado na secretaria para elaborar um formulário-padrão, que deverá ser usado para as notificações feitas pelos estabelecimentos públicos e particulares.

Fonte: O Estado de S.Paulo (SP)
In:
http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia

INDICAÇÃO DE LEITURA...

Delas é o Reino dos Céus

Mídia evangélica infantil na cultura pós-moderna do Brasil (anos 1950-2000)

Autora: Karina Kosicki Belotti

O presente livro traz os resultados de uma pesquisa de doutorado em história, cujo objetivo foi estudar a mídia evangélica voltada para o público infantil produzida no Brasil entre as décadas de 1950 e 2000, a partir de uma abordagem de história cultural. Defendemos a idéia de que o uso da mídia foi um fator importante para a constituição de uma cultura evangélica pós-moderna brasileira. Nela as tradições evangélicas são instrumentalizadas para a construção de múltiplas identidades e estilos de vida evangélicos como respostas aos desafios da pós-modernidade. A mídia evangélica infantil é o objeto de estudo do presente livro por ter sido pouco estudada dentro do campo de pesquisas sobre o protestantismo, em contraste com sua crescente popularidade no mercado consumidor evangélico brasileiro.

Formato: 14x21cm, 356 páginas
ISBN: 978-85-391-0054-5

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

NOTÍCIAS...

Lei no RJ obriga escolas a notificar casos de violência contra crianças

Instituições que descumprirem estarão sujeitas a punições. Norma foi publicada nesta terça-feira (21) no Diário Oficial
22 set. 2010

A Assembleia Legislativa do estado do Rio (Alerj) informou nesta terça-feira (21) que escolas públicas e particulares terão obrigatoriamente que notificar aos Conselhos Tutelares casos de violência contra crianças e adolescentes. A lei, publicada em Diário Oficial, afirma que as instituições que descumprirem a norma estarão sujeitas a punições previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). De acordo com a Alerj, as unidades de saúde já são obrigadas a reportar violência contra crianças e adolescentes.

Agressão contra estudante

Em agosto, a mãe de uma aluna de uma escola municipal na Zona Oeste do Rio prestou queixa na delegacia de Santa Cruz. A polícia investiga a agressão contra a filha da mulher, uma estudante de 12 anos, dentro da sala de aula supostamente pela mãe de uma colega de turma dela. As duas são do sexto ano. De acordo com a menor, no meio da tarde, a mãe da colega entrou na sala e, mesmo na presença da professora, a segurou pelo braço e permitiu que a filha a agredisse. Em seguida, a própria mulher também teria batido na menina.

A mãe suspeita da agressão já havia deixado a escola quando a polícia chegou e levou a aluna machucada junto com a diretora do colégio para o Hospital Pedro II. “É chato, imagina teu o filho na escola, estou trabalhando, achando que está seguro, achando que está tudo ok, e você não pode ficar tranquila”, afirmou a mãe da vítima. A Secretaria municipal de Educação informou que a direção da escola vai aplicar o regimento escolar, que estabelece normas de conduta para os alunos. E que poderão ser impostas medidas disciplinares e pedagógicas.

Fonte: G1 - In: Todos pela educação

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

EM TEMPOS DE ELEIÇÕES...

HOMOFOBIA: tema é ignorado no ambiente escolar

21 set. 2010

Pesquisa em 11 capitais brasileiras revela que o conceito homofobia ainda é pouco conhecido entre professores e alunos e que falta uma política oficial mais eficiente para para tratar o tema nas escolas

A decisão não foi nada fácil, mas Abraão Ferreira da Silva, de 18 anos, encarou o papel. Vestiu-se de drag queen na feira de ciências da Escola estadual onde cursa o terceiro ano do ensino médio. Tratava-se de uma encenação com um objetivo nobre: ensinar, entre outras coisas, o respeito às diferenças. Aquelas que estão postas todos os dias ao nosso lado, seja nas bancas da Escola, no trabalho, ao longo da vida. Abraão é homossexual e por isso conta que sofre diversas agressões verbais na Escola. Nada que o faça desistir de concluir o ensino médio. Nada que o impeça de tentar o curso de medicina.

A criatividade de Abraão posta em prática em plena feira de ciências infelizmente ainda é uma ação isolada nas unidades de ensino da capital pernambucana. A pesquisa Estudo qualitativo sobre a homofobia no ambiente Escolar em 11 capitais brasileiras revela que, na realidade, o conceito homofobia ainda é pouco conhecido entre professores e alunos recifenses e que falta uma política oficial mais eficiente para tratar o tema nas Escolas. Abraão Ferreira fez papel de drag queen na feira de ciências e diz sofrer agressões verbais na Escola por ser homossexual. Foto: Cecília de Sá Pereira/DP/D.A PressQuatro Escolas públicas do Recife foram visitadas pelos pesquisadores da ONG Reprolatina, de São Paulo, sendo três estaduais e uma municipal. Em todas elas, disseram os pesquisadores, era como se os professores e alunos estivessem ouvindo falar sobre o tema pela primeira vez. "Um estudante até confundiu homofobia com claustrofobia. Outro comparou com uma espécie de travesseiro. Apesar disso, quase todas as pessoas entrevistadas reconheceram que os homossexuais sofrem discriminação e violência, embora não soubessem que isso é homofobia", disse o pesquisador Juan Diaz. Foram 109 entrevistados, entre professores,alunos e funcionários das Escolas Apolônio Sales, José Maria, Governador Barbosa Lima e Nadir Colaço.

A falta de uma política oficial mais eficiente de Educação sexual nas Escolas termina levando alguns professores, principalmente os de ciências, a tratar o assunto de forma independente, mas limitada, na opinião dos pesquisadores. Isso porque a questão muitas vezes é vista somente sobo ponto de vista biológico e reprodutivo. Outro problema apontado pelos entrevistados é o pequeno número de educadores capacitados pelos programas existentes e a baixa qualidade dos livros didáticos, que abordam o assunto de forma superficial. Além disso, faltam outros materiais educativos apropriados. Diante das agressões verbais ou físicas, os homossexuais terminam tomando o caminho contrário ao de Abraão e abandonam a Escola. "Embora professores ou estudantes não expressem que os homossexuais têm mais chances de abandonar a Escola por serem discriminados, na discussão dos grupos focais apareceram exemplos de meninos e meninas que abandonaram os estudos por causa dos maus tratos", disse Juan Diaz.

Desde que foi implantada, em 2007, a política de combate à homofobia da Secretaria Estadual de Educação promoveu três capacitações para professores da rede sobre o tema. Segundo Luciano Freitas, da gerência de Direitos Humanos da Secretaria, alunos de várias cidades, inclusive do interior, também participaram derodas de diálogo sobre saúde, prevenção e combate à homofobia. Já Rivânia Rodrigues, da Gerência da Livre Orientação Sexual (Glos), da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Cidadã, disse que trabalha o tema junto com outras secretarias do Recife e que este ano visitou cincoEscolas para tratar sobre o assunto com professores ou com alunos.

Pesquisa revela escola despreparada

Quatro unidades de Cuiabá foram analisadas, onde se percebeu que educadores não estão preparados para coibir atitudes contra gays. A adolescente Y., 15 anos, costuma policiar seu próprio comportamento mais do que a maioria dos colegas de sua idade na Escola. Por ser homossexual, embora poucos já a tenham ouvido admitir isso, ela sabe que qualquer coisa que disser ou fizer poderá ser mal interpretada ou distorcida por maldade, tornando-a objeto de chacota. Diariamente, Y. “pisa em ovos” nos corredores de um colégio cuiabano porque, em pleno século XXI, nem o ambiente das Escolas brasileiras tem conseguido ainda se livrar de condutas homofóbicas.

Esta é uma das conclusões preliminares até agora da pesquisa qualitativa nacional “Escola sem homofobia”, divulgada ontem pela Educação estadual (Seduc). Apoiada pelo governo federal e conduzida em 11 capitais por entidades como a ONG Reprolatina, a pesquisa ouviu estudantes, professores, funcionários e autoridades envolvidas com a Educaçãopromovida em quatro Escolas públicas de Cuiabá. A pesquisa tem o objetivo de fornecer ao governo federal conhecimento para implementar ações para enfrentar a homofobia e assegurar direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT).

Por enquanto, o cenário comportamental desenhado pela pesquisa na Capital mostra que asEscolas ainda não detêm métodos suficientes para tratar de orientação sexual nas salas de aula e os professores têm dificuldades para esclarecer e coibir com argumentos a homofobia. Além disso, os dados preliminares da pesquisa revelam que, para muitos que participam do ambiente Escolar, a homossexualidade ainda não é um fato esclarecido, o que leva muitas vezes à intolerância e à manutenção de um modelo “heteronormativo” que relega os homossexuais à margem da convivência. Tais constatações foram feitas com foco noensino fundamental, mas tudo reverbera no ensino médio, como declara A.M., 16 anos, amiga e colega de Escola de Y., do começo da matéria.

“Infelizmente, isso sempre vai existir, em todo lugar”, prevê A.M., pessimista. Ela diz se relacionar com meninas, mas mantém um namorado de fachada. Os pais nunca aceitaram sua orientação sexual. Tímida, ela conta que é constante a sensação de não fazer parte totalmente do grupo ou de ser vista de forma diferente no colégio. As relações ficam mais restritas, principalmente com a resistência dos meninos. A forma que ela encontrou de se preservar é parecida com a de sua amiga: manter-se na maior discrição possível.

É que, entre os cerca de mil alunos do colégio, A.M. teme se deparar às vezes com colegas intolerantes – e que insistem em argumentos contraditórios para se dizerem “contra” homossexuais. É o caso de L., 18 anos, conhecido pela polêmica que desperta em sala de aula por explicitar repúdio a quem se relaciona com pessoas do mesmo sexo. Ele argumenta que estas pessoas vão contra as leis da natureza porque não tiveram a devida Educaçãodos pais, mas não explica como isso interfere negativamente em sua própria vida para se manter contra. Embora polêmico, quando expressa suas opiniões L. costuma ser acompanhado por outros alunos, segundo professores, e são opiniões desembasadas como a dele que tornam difícil a conscientização dos demais.

Fonte: Diário de Pernambuco (PE) - In: http://todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia/10554/homofobia-tema-e-ignorado-no-ambiente-escolar

TAPA DE AMOR TAMBÉM DÓI

por Paulo Sérgio Pinheiro, 24 jul. 2010

Como os adultos, as crianças têm o direito de ver respeitadas sua dignidade e integridade física e esse respeito precisa estar traduzido em lei. Não há desculpa para a ‘palmada’ ou a ‘palmadinha’


Faz séculos que as crianças mundo afora sofrem com o castigo corporal ou físico, aquele que recorre à força e inflige certo grau de dor, mesmo leve. Na maioria dos casos, trata-se de bater nas crianças (palmadas, bofetadas, surras) com a mão ou com objetos como chicote, vara, cinturão, sapato e colher de madeira. Mas pode consistir também em dar pontapés, empurrões, arranhá-las, mordê-las, obrigá-las a ficar em posturas incômodas, produzir queimaduras, obrigar a ingerir água fervendo, alimentos picantes ou a lavar a boca com sabão. Além desses há outros castigos que não são físicos, mas igualmente cruéis e degradantes, castigos em que se menospreza, se humilha, se denigre, se ameaça, se assusta ou se ridiculariza a criança.

Agora que a escala e a dimensão dessas práticas de violência aqui descritas se tornaram mais visíveis, e conhecidas suas consequências sociais, emocionais e cognitivas devastadoras para o desenvolvimento da criança e para seu comportamento como adulto, como acelerar o processo de sua eliminação? Políticos e organizações da sociedade civil e religiosas precisam rejeitar claramente a violência contra a criança. Governos devem revelar através de pesquisas o verdadeiro nível de violência contra a criança e combatê-la. Felizmente, a luta contra as formas mais severas (e criminosas), como violência sexual, tráfico de crianças e prostituição infantil já conta com um consenso que as condena. Mas a violência sistemática nos lares , nas escolas, nas instituições continua velada e disfarçada. Mesmo que as coisas sem dúvida comecem a mudar, como demonstra o projeto de lei apresentado pelo governo brasileiro proibindo o castigo corporal, continua a haver uma atitude ambígua em relação à violência contra as crianças em todos os países.

Pelas reações iradas em entrevistas e blogs na última semana, vários pais dizendo que iriam continuar a bater em seus filhos mesmo com a lei, especialistas palpiteiros proferindo que uma "palmadinha em bebês é útil", dei-me conta de que a proibição a toda espécie de castigo corporal das crianças causa ainda enorme controvérsia. No entanto , as crianças têm exatamente o mesmo direito de ver respeitadas sua dignidade humana e sua integridade física como os adultos, e esse respeito precisa estar traduzido em lei. Não pode haver desculpa para a "palmada" ou a "palmadinha" (termos doces para que os adultos se sintam mais confortáveis). Frequentemente políticos e profissionais trivializam essa questão. Mas assim fazendo eles insultam as crianças e dão carta branca para os adultos as agredirem e torturarem. As mulheres, na sua gloriosa luta pela igualdade, fizeram do enfrentamento da violência doméstica nas suas casas um componente vital de seu combate. Hoje em dia nenhum marido ou macho ousaria defender "tapas" nas suas mulheres ou companheiras.

Claro que somente a lei não vai terminar com a violência contra a criança. É um passo necessário, mas insuficiente. A reforma legal precisa ser precedida e acompanhada por intensa promoção de práticas de relações positivas com as crianças. Para tanto, já há um enorme conjunto de orientações e práticas de "disciplina positiva" que tenta entender o que as crianças pensam e sentem, definindo objetivos no longo prazo da educação e buscando resolver problemas nas relações entre pais e crianças. Aprender a ser tolerante e não autoritário: por mais irritante que seja, crianças tendem a repetir comportamentos que foram proibidos. Isso é normal e não deve ser tomado como "lesa majestade" ao pátrio poder. Não adianta sair proferindo castigos idiotas como imobilizar crianças num quarto escuro. Melhor se esforçar por estabelecer limites. Mas não adianta berrar contra as crianças, o que fará com que concentrem sua atenção mais na raiva que nos limites. Mas sobretudo não bater nas crianças. No final os pais estarão ensinando aos filhos que baixar o cacete resolve um conflito.

Mas pais e mães não podem ser totalmente culpados por desconhecerem essas alternativas. Há enorme responsabilidade dos governos em criar estruturas de formação dos pais, ajudando-os a superar a violência contra seus filhos. As raízes da violência nas crianças e nos futuros adultos está na violência sistemática dos adultos contra eles. Logo, é do maior interesse dos governos e de toda a sociedade que essa violência contra as crianças autorizada por lei seja eliminada. A combinação de investimento em prevenção, como educação dos pais e professores, mecanismos para ouvir as vítimas e as crianças e legislação é a forma mais efetiva para reduzir e eliminar a violência contra a criança. Nenhuma violência contra a criança pode continuar a ser justificada e disfarçada como amor, educação, disciplina.

PAULO SÉRGIO PINHEIRO é COMISSIONADO E RELATOR DA CRIANÇA DA COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS DA OEA

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,tapa-de-amor-tambem-doi,585631,0.htm

NOTÍCIAS...

Pais e escola trocam acusações após bullying

Carolina Stanisci - Estadão.edu, 20 set. 2010

Ter as bochechas apertadas, ser beliscado e até virar alvo de gozação de toda a turma, até certo ponto, fazem parte dos percalços da convivência escolar. Mas e se a “brincadeira” é colocar a cabeça dentro do vaso sanitário e enfiar a língua dentro d’água, como L., de 9 anos, fez a pedido de alguns colegas?

Pais e direção não souberam como agir no caso do aluno do 4.º ano do ensino fundamental da tradicional escola particular Ofélia Fonseca, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. A história de L., assediado por colegas há um ano, provocou um jogo de empurra de responsabilidade entre família e escola. Quando soube do episódio, a mãe de L., a jornalista Ana Paula Feitosa, de 38 anos, ficou muito nervosa e também incomodada com a falta de ação da escola, onde seu ex-marido havia estudado. “Fiquei sozinha nessa história. Achei um descaso”, conta ela, que diz ter procurado o colégio por várias vezes no último ano para tentar dar fim às chacotas contra o filho.

O dono do Ofélia Fonseca, Sergio Brandão, afirma que foram “tomadas as medidas” e diz estar “tristíssimo” com o caso, que culminou na transferência de L. e na expulsão de outro colega, supostamente um dos algozes. “Foi como perder um filho.” Para Brandão, a fragmentação das famílias, com pais ausentes, atrapalha o ambiente escolar. “Às vezes, as crianças chegam chateadas e têm atitudes imprevisíveis. Elas não dão problema. Os adultos, sim.”

A história de L. não é um caso isolado de bullying em escola particular. Com medo da repercussão negativa, os colégios em geral abafam os episódios. Os pais, preocupados com o estigma, escondem a situação. Ana Paula preferiu inverter a lógica do silêncio. Para se livrar da angústia que não passava, decidiu contar a história de seu filho. “Ele sempre foi fechadinho, imaturo e quietinho; é filho único. Mesmo assim, nunca achei que fosse acontecer com ele. Agora, sempre alguém vem com um caso para me contar.” Para especialistas na área, a jornalista e o pai do menino, o técnico em eletrônica Marcelo Cortelazo, de 37 anos, agiram corretamente ao dividir a experiência com outras pessoas. A psicóloga Lídia Webber, do Núcleo de Análise de Comportamento do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, diz que não é possível esconder esse tipo de situação.

A psicóloga considera saudável que o tema seja amplamente discutido pela sociedade. As escolas, tanto particulares como públicas, diz Lídia, não têm conseguido adotar estratégias eficientes para dar conta da violência entre as crianças e adolescentes – e ela tem se intensificado.

“Lá fora, o bullying é tratado na base da tolerância zero”, diz Lídia. E isso não significa que as crianças sejam punidas pelo Estado. Ao contrário, ao menor sinal de que algo anda mal, providências intensas são tomadas, envolvendo pais e direção. “O menino que faz o bullying tem de sofrer consequências, dentro da escola”, diz.

Para Miriam Abramovay, coordenadora de pesquisas da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), o acompanhamento escolar cuidadoso e constante é necessário. No caso do Ofélia Fonseca, as medidas para sanar a situação de L., como conversas entre as crianças, para que elas se conscientizassem sobre o assunto, foram tomadas. “A escola, muitas vezes, faz alguma coisa. Mas essas ações precisam de tempo para amadurecer”, diz Cléo Fante, pedagoga da ONG Plan.

Legislação. Na opinião de alguns especialistas, parte da confusão sobre o que fazer ao se deparar com um caso de bullying na escola particular ocorre porque ninguém tem muito claro como agir. Há lacunas na legislação e faltam políticas específicas. “Não existe na esfera federal uma política pública sobre isso”, diz Cléo. Projetos de lei tramitam no Congresso, tanto no sentido de prevenir a violência na escola como para criminalizar condutas. Um deles foi aprovado em julho pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados e alteraria a Lei de Diretrizes e Bases (LDB). A proposta tem o objetivo de acabar com a “exclusão do aluno do grupo social, a injúria, calúnia e difamação, a perseguição, discriminação e uso de sites e redes sociais para incitar violência”. No Estado de São Paulo também existe um projeto de lei. Em Santa Catarina e Rio Grande do Sul foram aprovadas normas nesse sentido. Políticas públicas também foram adotadas pela Secretaria Estadual de Educação paulista, como o Prevenção Também se Ensina.

“Os programas têm diminuído muito os casos de bullying”, diz Jurema Reis Corrêa Panza, coordenadora do departamento de educação preventiva da Fundação para o Desenvolvimento da Educação, ligada à secretaria. Nem todos, porém, apostam em políticas públicas antibullying, como Arthur Fonseca Filho, do Conselho Estadual de Educação de São Paulo. “O melhor é que cada escola resolva a situação”, afirma.

Depoimento - ANA PAULA FEITOSA (MÃE DE VÍTIMA DE BULLYING)

“Ele me ligou na quinta-feira (há duas semanas) e contou que tinha feito uma brincadeira ‘verdade ou desafio’ e teve de lamber a privada. Eu perguntei a ele por que fez isso e ele disse: ‘Mãe, você não está entendendo, eles iam me fazer dançar a dança da galinha.’ Gritei tanto ao telefone, não acreditei e chorei muito.”

Definição do termo - ‘Bullying’ é empregado para designar a agressão física ou psicológica entre colegas, que ocorre repetidas vezes, sem motivação concreta.

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,pais-e-escola-trocam-acusacoes-apos-bullying,612512,0.htm

'É impossível eliminar o bullying', DIZ PSICÓLOGA

por Luciana Alvarez, 20 set. 2010

Educar as crianças para o respeito, com ações permanentes e conjuntas de escolas e pais, é a chave para aplacar o fenômeno, diz especialista.

O bullying está ficando mais frequente?

O bullying sempre existiu, mas foi potencializado e adquiriu visibilidade com o advento do cyberbullying. Antes, era considerado brincadeira de criança. Hoje, é visto como um padrão de agressão aprendido, que pode se cristalizar até a vida adulta.

É possível erradicar a prática?

Assim como a violência na sociedade, não é possível eliminá-la. O que se pode fazer é reduzir. Mas a maior parte das escolas não tem programas permanentes. Fazem só ações pontuais, o que é insuficiente.

Por que é tão difícil o combate?

É difícil porque a educação em valores – respeito, cooperação, gentileza – está deficiente. Imperam na família e sociedade modelos de desrespeito; mostra-se que é legítimo se divertir com o sofrimento dos outros. A substância do bullying é o desrespeito e a discriminação.

Que tipo de medida pode reduzir o bullying?

Uma ação que envolva a todos, dos funcionários às famílias, em um projeto de longo prazo. Mas essa parceria, que é absolutamente essencial, é também rara. A escola costuma acusar a família de não educar. A família tende a responsabilizar a escola, onde ocorre o problema.

Um agressor deve ser punido?

Consequências precisam acontecer. Mas não adianta que seja apenas punido, ele tem passar por uma conscientização e tem de haver uma reparação ao agredido. E deve haver ainda um trabalho com os expectadores.

Por que os expectadores?

Existe a plateia passiva, que finge que não vê, e a plateia cúmplice, que apoia. Mas pode existir uma plateia transformadora, que, ao presenciar o bullying, tenta inibir a ação do agressor e dar força à vítima.

O que os pais de um agredido devem fazer?

Primeiro, escutar o filho. Depois, buscar uma parceria com a escola. Não adianta tirar da escola, fora casos excepcionais. Se a vítima não fizer um trabalho para se fortalecer, pode voltar a ser vítima. Porque muitas vezes ela pertence a um grupo alvo de preconceito ou é alguém que se destaca e causa inveja.

E os pais de um agressor?

O primeiro passo é refletir sobre onde o filho está aprendendo aquele comportamento. Muitas vezes é de dentro de casa.

QUEM É: MARIA TEREZA MALDONADO - É autora de A Face Oculta – Uma História de Bullying e Cyberbullying, voltado para a conscientização de crianças e adolescentes. Atualmente trabalha em um livro teórico sobre o tema.

Fonte: O Estado de S.Paulo (SP)

domingo, 19 de setembro de 2010

A DELINQÜÊNCIA ACADÊMICA

Publicado: 04 set. 2010 por Revista Espaço Acadêmico.

por MAURÍCIO TRAGTENBERG**

O tema é amplo: a relação entre a dominação e o saber, a relação entre o intelectual e a universidade como instituição dominante ligada à dominação, a universidade antipovo.

A universidade está em crise. Isto ocorre porque a sociedade está em crise; através da crise da universidade é que os jovens funcionam detectando as contradições profundas do social, refletidas na universidade. A universidade não é algo tão essencial como a linguagem; ela é simplesmente uma instituição dominante ligada à dominação. Não é uma instituição neutra; é uma instituição de classe, onde as contradições de classe aparecem. Para obscurecer esses fatores ela desenvolve uma ideologia do saber neutro, científico, a neutralidade cultural e o mito de um saber “objetivo”, acima das contradições sociais.

No século passado, período do capitalismo liberal, ela procurava formar um tipo de “homem” que se caracterizava por um comportamento autônomo, exigido por suas funções sociais: era a universidade liberal humanista e mandarinesca. Hoje, ela forma a mão-de-obra destinada a manter nas fábricas o despotismo do capital; nos institutos de pesquisa, cria aqueles que deformam os dados econômicos em detrimento dos assalariados; nas suas escolas de direito forma os aplicadores da legislação de exceção; nas escolas de medicina, aqueles que irão convertê-la numa medicina do capital ou utilizá-la repressivamente contra os deserdados do sistema. Em suma, trata-se de “um complô de belas almas” recheadas de títulos acadêmicos, de um doutorismo substituindo o bacharelismo, de uma nova pedantocracia, da produção de um saber a serviço do poder, seja ele de que espécie for.

Na instância das faculdades de educação, forma-se o planejador tecnocrata a quem importa discutir os meios sem discutir os fins da educação, confeccionar reformas estruturais que na realidade são verdadeiras “restaurações”. Formando o professor-policial, aquele que supervaloriza o sistema de exames, a avaliação rígida do aluno, o conformismo ante o saber professoral. A pretensa criação do conhecimento é substituída pelo controle sobre o parco conhecimento produzido pelas nossas universidades, o controle do meio transforma-se em fim, e o “campus” universitário cada vez mais parece um universo concentracionário que reúne aqueles que se originam da classe alta e média, enquanto professores, e os alunos da mesma extração social, como “herdeiros” potenciais do poder através de um saber minguado, atestado por um diploma.

A universidade classista se mantém através do poder exercido pela seleção dos estudantes e pelos mecanismos de nomeação de professores. Na universidade mandarinal do século passado o professor cumpria a função de “cão de guarda” do sistema: produtor e reprodutor da ideologia dominante, chefe de disciplina do estudante. Cabia à sua função professoral, acima de tudo, inculcar as normas de passividade, subserviência e docilidade, através da repressão pedagógica, formando a mão-de-obra para um sistema fundado na desigualdade social, a qual acreditava legitimar-se através da desigualdade de rendimento escolar; enfim, onde a escola “escolhia” pedagogicamente os “escolhidos” socialmente. A transformação do professor de “cão de guarda” em “cão pastor” acompanha a passagem da universidade pretensamente humanista e mandarinesca à universidade tecnocrática, onde os critérios lucrativos da empresa privada, funcionarão para a formação das fornadas de “colarinhos brancos” rumo às usinas, escritórios e dependências ministeriais. É o mito da assessoria, do posto público, que mobiliza o diplomado universitário.

A universidade dominante reproduz-se mesmo através dos “cursos críticos”, em que o juízo professoral aparece hegemônico ante os dominados: os estudantes. Isso se realiza através de um processo que chamarei de “contaminação”. O curso catedrático e dogmático transforma-se num curso magisterial e crítico; a crítica ideológica é feita nos chamados “cursos críticos”, que desempenham a função de um tranqüilizante no meio universitário. Essa apropriação da crítica pelo mandarinato universitário, mantido o sistema de exames, a conformidade ao programa e o controle da docilidade do estudante como alvos básicos, constitui-se numa farsa, numa fábrica de boa consciência e delinqüência acadêmica, daqueles que trocam o poder da razão pela razão do poder. Por isso é necessário realizar a crítica da crítica-crítica, destruir a apropriação da crítica pelo mandarinato acadêmico. Watson demonstrou como, nas ciências humanas, as pesquisas em química molecular estão impregnadas de ideologia. Não se trata de discutir a apropriação burguesa do saber ou não-burguesa do saber, mas sim a destruição do “saber institucionalizado”, do “saber burocratizado” como único “legítimo”. A apropriação universitária (atual) do conhecimento é a concepção capitalista de saber, onde ele se constitui em capital e toma a forma nos hábitos universitários.

A universidade reproduz o modo de produção capitalista dominante não apenas pela ideologia que transmite, mas pelos servos que ela forma. Esse modo de produção determina o tipo de formação através das transformações introduzidas na escola, que coloca em relação mestres e estudantes. O mestre possui um saber inacabado e o aluno uma ignorância transitória, não há saber absoluto nem ignorância absoluta. A relação de saber não institui a diferença entre aluno e professor, a separação entre aluno e professor opera-se através de uma relação de poder simbolizada pelo sistema de exames – “esse batismo burocrático do saber”. O exame é a parte visível da seleção; a invisível é a entrevista, que cumpre as mesmas funções de “exclusão” que possui a empresa em relação ao futuro empregado. Informalmente, docilmente, ela “exclui” o candidato. Para o professor, há o currículo visível, publicações, conferências, traduções e atividade didática, e há o currículo invisível – esse de posse da chamada “informação” que possui espaço na universidade, onde o destino está em aberto e tudo é possível acontecer. É através da nomeação, da cooptação dos mais conformistas (nem sempre os mais produtivos) que a burocracia universitária reproduz o canil de professores. Os valores de submissão e conformismo, a cada instante exibidos pelos comportamentos dos professores, já constituem um sistema ideológico. Mas, em que consiste a delinqüência acadêmica?

A “delinqüência acadêmica” aparece em nossa época longe de seguir os ditames de Kant: “Ouse conhecer.” Se os estudantes procuram conhecer os espíritos audazes de nossa época é fora da universidade que irão encontrá-los. A bem da verdade, raramente a audácia caracterizou a profissão acadêmica. Os filósofos da revolução francesa se autodenominavam de “intelectuais” e não de “acadêmicos”. Isso ocorria porque a universidade mostrara-se hostil ao pensamento crítico avançado. Pela mesma razão, o projeto de Jefferson para a Universidade de Virgínia, concebida para produção de um pensamento independente da Igreja e do Estado (de caráter crítico), fora substituído por uma “universidade que mascarava a usurpação e monopólio da riqueza, do poder”. Isso levou os estudantes da época a realizarem programas extracurriculares, onde Emerson fazia-se ouvir, já que o obscurantismo da época impedia a entrada nos prédios universitários, pois contrariavam a Igreja, o Estado e as grandes “corporações”, a que alguns intelectuais cooptados pretendem que tenham uma “alma”. [1]

Em nome do “atendimento à comunidade”, “serviço público”, a universidade tende cada vez mais à adaptação indiscriminada a quaisquer pesquisas a serviço dos interesses econômicos hegemônicos; nesse andar, a universidade brasileira oferecerá disciplinas como as existentes na metrópole (EUA): cursos de escotismo, defesa contra incêndios, economia doméstica e datilografia em nível de secretariado, pois já existe isso em Cornell, Wisconson e outros estabelecimentos legitimados. O conflito entre o técnico e o humanismo acaba em compromisso, a universidade brasileira se prepara para ser uma “multiversidade”, isto é, ensina tudo aquilo que o aluno possa pagar. A universidade, vista como prestadora de serviços, corre o risco de enquadrar-se numa “agência de poder”, especialmente após 68, com a Operação Rondon e sua aparente democratização, só nas vagas; funciona como tranqüilidade social. O assistencialismo universitário não resolve o problema da maioria da população brasileira: o problema da terra.

A universidade brasileira, nos últimos 15 anos, preparou técnicos que funcionaram como juízes e promotores, aplicando a Lei de Segurança Nacional, médicos que assinavam atestados de óbito mentirosos, zelosos professores de Educação Moral e Cívica garantindo a hegemonia da ideologia da “segurança nacional” codificada no Pentágono. O problema significativo a ser colocado é o nível de responsabilidade social dos professores e pesquisadores universitários. A não preocupação com as finalidades sociais do conhecimento produzido se constitui em fator de “delinqüência acadêmica” ou da “traição do intelectual”. Em nome do “serviço à comunidade”, a intelectualidade universitária se tornou cúmplice do genocídio, espionagem, engano e todo tipo de corrupção dominante, quando domina a “razão do Estado” em detrimento do povo. Isso vale para aqueles que aperfeiçoam secretamente armas nucleares (M.I.T.), armas químico-biológicas (Universidade da Califórnia, Berkeley), pensadores inseridos na Rand Corporation, como aqueles que, na qualidade de intelectuais com diploma acreditativo, funcionam na censura, na aplicação da computação com fins repressivos em nosso país. Uma universidade que produz pesquisas ou cursos a quem é apto a pagá-los perde o senso da discriminação ética e da finalidade social de sua produção – é uma multiversidade que se vende no mercado ao primeiro comprador, sem averiguar o fim da encomenda, isso coberto pela ideologia da neutralidade do conhecimento e seu produto.

Já na década de 30, Frederic Lilge [2] acusava a tradição universitária alemã da neutralidade acadêmica de permitir aos universitários alemães a felicidade de um emprego permanente, escondendo a si próprios a futilidade de suas vidas e seu trabalho. Em nome da “segurança nacional”, o intelectual acadêmico despe-se de qualquer responsabilidade social quanto ao seu papel profissional, a política de “panelas” acadêmicas de corredor universitário e a publicação a qualquer preço de um texto qualquer se constituem no metro para medir o sucesso universitário. Nesse universo não cabe uma simples pergunta: o conhecimento a quem e para que serve? Enquanto este encontro de educadores, sob o signo de Paulo Freire, enfatiza a responsabilidade social do educador, da educação não confundida com inculcação, a maioria dos congressos acadêmicos serve de “mercado humano”, onde entram em contato pessoas e cargos acadêmicos a serem preenchidos, parecidos aos encontros entre gerentes de hotel, em que se trocam informações sobre inovações técnicas, revê-se velhos amigos e se estabelecem contatos comerciais.

Estritamente, o mundo da realidade concreta e sempre muito generoso com o acadêmico, pois o título acadêmico torna-se o passaporte que permite o ingresso nos escalões superiores da sociedade: a grande empresa, o grupo militar e a burocracia estatal. O problema da responsabilidade social é escamoteado, a ideologia do acadêmico é não ter nenhuma ideologia, faz fé de apolítico, isto é, serve à política do poder. Diferentemente, constitui, um legado da filosofia racionalista do século XVIII, uma característica do “verdadeiro” conhecimento o exercício da cidadania do soberano direito de crítica questionando a autoridade, os privilégios e a tradição. O “serviço público” prestado por estes filósofos não consistia na aceitação indiscriminada de qualquer projeto, fosse destinado à melhora de colheitas, ao aperfeiçoamento do genocídio de grupos indígenas a pretexto de “emancipação” ou política de arrocho salarial que converteram o Brasil no detentor do triste “record” de primeiro país no mundo em acidentes de trabalho. Eis que a propaganda pela segurança no trabalho emitida pelas agências oficiais não substitui o aumento salarial. O pensamento está fundamentalmente ligado à ação. Bergson sublinhava no início do século a necessidade do homem agir como homem de pensamento e pensar como homem de ação. A separação entre “fazer” e “pensar” se constitui numa das doenças que caracterizam a delinqüência acadêmica – a análise e discussão dos problemas relevantes do país constitui um ato político, constitui uma forma de ação, inerente à responsabilidade social do intelectual. A valorização do que seja um homem culto está estritamente vinculada ao seu valor na defesa de valores essenciais de cidadania, ao seu exemplo revelado não pelo seu discurso, mas por sua existência, por sua ação.

Ao analisar a “crise de consciência” dos intelectuais norte-americanos que deram o aval da “escalada” no Vietnã, Horowitz notara que a disposição que eles revelaram no planejamento do genocídio estava vinculada à sua formação, à sua capacidade de discutir meios sem nunca questionar os fins, a transformar os problemas políticos em problemas técnicos, a desprezar a consulta política, preferindo as soluções de gabinete, consumando o que definiríamos como a traição dos intelectuais. É aqui onde a indignidade do intelectual substitui a dignidade da inteligência.

Nenhum preceito ético pode substituir a prática social, a prática pedagógica.

A delinqüência acadêmica se caracteriza pela existência de estruturas de ensino onde os meios (técnicas) se tornam os fins, os fins formativos são esquecidos; a criação do conhecimento e sua reprodução cede lugar ao controle burocrático de sua produção como suprema virtude, onde “administrar” aparece como sinônimo de vigiar e punir – o professor é controlado mediante os critérios visíveis e invisíveis de nomeação; o aluno, mediante os critérios visíveis e invisíveis de exame. Isso resulta em escolas que se constituem em depósitos de alunos, como diria Lima Barreto em “Cemitério de Vivos”.

A alternativa é a criação de canais de participação real de professores, estudantes e funcionários no meio universitário, que oponham-se à esclerose burocrática da instituição. A autogestão pedagógica teria o mérito de devolver à universidade um sentido de existência, qual seja: a definição de um aprendizado fundado numa motivação participativa e não no decorar determinados “clichês”, repetidos semestralmente nas provas que nada provam, nos exames que nada examina, mesmo porque o aluno sai da universidade com a sensação de estar mais velho, com um dado a mais: o diploma acreditativo que em si perde valor na medida em que perde sua raridade.

A participação discente não constitui um remédio mágico aos males acima apontados, porém a experiência demonstrou que a simples presença discente em colegiados é fator de sua moralização.
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* Este texto foi apresentado no I Seminário de Educação Brasileira, realizado em 1978, em Campinas-SP. Publicado em TRAGTENBERG, M. Educação, política e sindicalismo. São Paulo: Editores Associados; Cortez, 1978 (e também pela Editora Unesp, 2004). O texto A Delinquência Acadêmica também foi publicado em http://espacoacademico.com.br/014/14mtrag1990.htm
** MAURÍCIO TRAGTENBERG (1929-1998) foi professor da PUC/SP, Unicamp e FGV/SP.
[1] Kaysen pretende atribuir uma “alma”à corporação multinacional; esta parece não preocupar-se com tal esforço construtivo do intelectual.
[2] Frederic LILGE, The Abuse of Learning: The Failure of German University. Macmillan, New York

Fonte:
http://espacoacademico.wordpress.com/

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

NOTÍCIAS...

Adolescentes são apreendidos com dinheiro e droga em escola de Passos

FERNANDO COSTA - 17 set. 2010

Três adolescentes foram apreendidos e um casal foi preso uma ocorrência de tráfico de drogas em Passos, município do Sul de Minas Gerais, nessa quinta-feira (16). De acordo com a Polícia Militar, durante um patrulhamento no bairro Novo Horizonte, uma mulher afirmou que os três adolescentes suspeitos teriam ameaçado um outro jovem de morte na escola da região.

Ao chegarem à unidade de ensino, os policiais encontraram os três rapazes e, com eles, R$ 800 que teriam sido obtidos com a venda de droga. Na casa dos suspeitos foram encontrados uma bucha de maconha, 620 gramas da mesma droga e uma réplica de arma de fogo. Os pais de um dos jovens tentaram oferecer dinheiro aos policiais para não serem presos e também foram encaminhados à Polícia Civil.

Fonte: http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=94547,NOT&IdCanal=1

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

VIOLÊNCIA ESCOLAR (de Tóquio)

Por Cláudia Sarmento

São bem impressionantes os números divulgados esta semana pelo governo japonês sobre a violência nas escolas. Em 2009, houve 60.913 casos, mais de 70% deles no ensino médio. Foi o quarto ano consecutivo de aumento no número de incidentes. Cometeram suicídio 165 estudantes, 29 a mais do que em 2008, e alguns estão ligados a bullying, um problema grave no Japão. Mas medidas tomadas pelas escolas para prevenir o bullying estão surtindo efeito, porque o número de registros caiu em relação a 2008.

A maioria de casos de violência aconteceu entre os próprios estudantes ou contra propriedades da escola, mas também é alto o registro de agressões a professores: 8.304. O país vem discutindo intensamente a tensão nas escolas japonesas, que têm vários motivos. Segundo Yoshihiko Morotomi, especialista em educação da Universidade Meiji, uma das mais importantes de Tóquio, entre 70% e 80% dos professores da província de Kanto, onde fica a capital japonesa, já se ausentaram do trabalho por licença médica, sendo que boa parte desses casos é diagnosticada como estresse e depressão (esse número triplicou nos últimos dez anos).

Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/lafora/

NOTÍCIAS...

Menores são apreendidos suspeitos de venderem droga em porta de escola em Itajubá

FELIPE REZENDE - Siga em: twitter.com/OTEMPOonline / 16 set. 2010

Dois menores de 15 anos foram apreendidos nessa quarta-feira (15) suspeitos de tráfico de drogas em Itajubá, no Sul de Minas. De acordo com a Polícia Militar, a dupla foi localizada por meio de denúncia anônima e estaria vendendo crack na porta de uma escola no bairro Varginha.

Segundo a polícia, os dois foram abordados quando conversavam com estudantes. Com eles foram encontrados R$ 80 em dinheiro e um celular. Os policiais foram informados de que os suspeitos guardavam a droga em uma rua paralela ao colégio. No local foram apreendidas quatro pedras de crack prontas para venda. Os adolescentes foram encaminhados para a Delegacia de Polícia junto com o material encontrado.

Fonte: http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=94407,NOT&IdCanal=1

terça-feira, 14 de setembro de 2010

CULTURA: singular e plural

Salomão Ferreira de Souza - Belo Horizonte, 14 set. 2010

É como pássaro pequeno tentando sair do ninho para o primeiro vôo, que busco analisar o conceito de cultura. Entendo que uma planta crescida difere significativamente da semente que lhe deu origem. Dessa forma penso que as expressões simbólicas, míticas e religiosas de um povo, grupo ou sujeito são insuficientes para definir os objetivos práticos que, como semente, enraizou, criou um tronco e se projetou com seus galhos, folhas e frutos inumeráveis. Comparativamente, a cultura é como essa árvore imaginária que foi semente atirada ao solo e não só regada e cuidada mas, também, judiada pelas intempéries, açoitada pelos ventos, balançada pelos temporais e castigada pela seca e rigor de invernos. Nesse processo, umas galhas se quebram e morrem, folhas secam e caem, flores vingam se transformando em fruto e outras nem tanto. Nessa floresta imaginária, embora a matriz seja bastante homogênea, as árvores que dela resultam são bem diversas, mesmo quando descendem de uma gema comum. Assim sendo, tentarei transportar essa figura de linguagem para o campo conceitual, visando entender os ingredientes históricos, os mitos e religiões bem como as crenças, gostos, regras e costumes que perpassam a formação individual e grupal desse bípede chamado homem, cujos hábitos coletivos denominamos cultura.

Embora tendo estruturado o pensamento evolucionista, os estudos de Edmund B. Taylor podem ser questionados por considerar a "cultura" ou "civilização" como um processo linear onde os níveis são distintamente mais ou menos avançados. Vale lembrar que a semente deve ser vista com o olhar de quem percebe nela a essência da planta e a semente que dela retornará ao solo. Talvez devamos ter como sensatas as considerações de Bronislaw Malinowski quando propõe ao etnógrafo que saia do escritório ou laboratório e parta para o campo buscando entender que uma folha vermelha no chão pode significar não só a presença de uma determinada espécie de árvore, mas uma estação, um lugar geográfico, a humidade do ar e que, dessa mesma forma, um viajante ou um camelo podem revelar uma cultura que escapa até mesmo ao mais prescrutador olhar antropológico.

Visando conhecer a essência da semente cultural propomos uma leitura da teoria biológica de Humberto Maturana e Varela. Aqueles autores mostram a afetação do organismo biológico pelo meio e a interação desses, resultando daí o processo de aprender e trazendo respostas para o enfrentamento dos medos, das necessidades de sobrevivência e da defesa pessoal e coletiva. Para esses dois biólogos a complexidade está tanto no micro como no macro, embora haja constante assimilação e readaptação que se multiplica pela autorreprodução. Podemos interpretar esses processos como movimentos de afetação do meio sobre o organismo resultando daí a compreensão individual e coletiva desses sinais e a gestação de mecanismos de equilíbrio garantidores da sobrevivência de cada um e do conjunto. Afirmam aqueles biólogos que um alce, quando quebra as regras do grupo, de alguma forma que não compreendemos, está protegendo o bando. Ele se oferece ao predador tal como o farmacós, ou seja, a vítima sacrificial que morre para salvar. Essa disposição biológica e natural é bem diferente da realidade cultural onde os códigos e as regras geram instâncias de poder que determinam quem manda e quem obedece, quem se salva e que está condenado ao sacrifício.

Uma vez colocado um princípio primeiro dos mecanismos naturais de sobrivência, é justificável a concepção de Levy-Strauss quando afirma que homens e mulheres serão sempre seres biológicos e culturais, jamais viverão em estado de natureza. O homem é cultural na medida de suas organizações sociais que resultam do trabalho transformador da natureza em benefício da coletividade. Ao agir coletivamente estabelecem regras, códigos, leis e jogos de poder que são determinantes na distribuição geográfica das comunidades e no controle que alguns indivíduos exercem sobre outros. A cultura tanto está na tribo que se isola na floresta amazônica como no milionário que se refugia em algumas coberturas de luxo, alternando entre elas, visando a proteção de sua fortuna e a integridade de seus familiares. O primeiro garante a integridade do grupo pelo controle do território de coleta e caça e o segundo se desfigurando num ambiente de coisas sobre as quais perdera definitivamente o controle. O objetivo primordial da cultura como regras e modos que determinam o “ser” é engolido pela lógica bêbada do “ter”. Assim, confundem a razão de grupos humanos por uma de interesses econômicos, o farmacós pelo ataque assassínio ao outro, a família por grupos de interesse e a sociedade como potenciais clientes interpretados como objetos de acumulação e restos ou descuidos convenientemente esquecidos na lata de lixo das periferias.

Fazendo uma leitura da "vida como ela se apresenta", podemos perceber o quanto essa cultura avança sobre o homem, confundido-o em sua identidade de sujeito social, controlador e conhecedor de suas ações no mundo e levando-o para o lugar desse outro indivíduo que perdeu o controle sobre suas ações. Esse sujeito se vê cada vez mais imobilizado pelo produto de consumo resultante de suas ações transformadoras do mundo, transformações essas que vão além do necessário pois opera na lógica da acumulação capitalista. Essa nova lógica, cultural porque humana, está longe das determinações primeiras e primárias da essência do ser natural. Seus objetivos já não ligam o biológico - razão de sobrevivência e de organização do grupo -, aos princípios básicos de conservação do meio, garantidor da sobrevivência das gerações futuras e do controle sobre as ações individuais e coletivas que justificam os códigos, os símbolos e as regras cujo sentido só se assenta na aceitação coletiva. Não existe sociedade sem essas e não se justificam regras, símbolos e códigos absolutamente individualizados.

Por fim, voltando à nossa imaginária floresta, procuraremos compreender o emaranhado de galhos e cipós, que confundem o observador, para tentar encontrar, talvez na semente, a lógica essencial do matagal. Ali poderemos perceber a diversidade das plantas e sementes da mesma forma que num passeio pela cidade, podemos encontrar culturas diversas e saber que cada uma tem, ou pelo menos deveria ter, na sua essência, as mais diversas percepções de mundo que, imbricadas, ou seja, sobrepostas, visam garantir a sobrevivência e a integridade dos grupos sociais. Como visto, os rumos tomados pela acumulação capitalista afasta alguns membros sociais dessa primordial significação do “ser”. Vale pensar que, comparativamente, estamos perdendo o controle sobre essa selva que se estende por um território sem fronteiras, cujas sementes são lançadas pela mediação da comunicação de massa.

Assim a meditez determina o ritmo de crescimento dessa selva, suas fronteiras, seu tempo real e virtual. Nela o agigantamento de uns sufoca a maioria e, ao lançar sua sombra sobre as sementes, eliminam a essência da própria floresta. Essa reflexão, uma vez colocada, pode ser considerada essencial para a compreensão da diversidade cultural humana e da importância de se perceber o essencial que existe em cada uma delas. Uma vez compreendido esse mecanismo, fica mais fácil pensar os movimentos, as implicações presentes e futuras das tendências de aculturação, principalmente na sociedade contemporânea embriagada pelo mercado de consumo, pela mediatez da informação e pela falta de sentido das sociedades de espetáculo, onde os sujeitos se assemelham a rebanho pastando trivialidades como afirma Du Bois em sua interpretação da sociedade de consumo americana.

Salomão Ferreira de Souza - é aluno do terceiro período da Faculdade de Educação da UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais). Belo Horizonte, 14 de setembro de 2010.