quinta-feira, 19 de agosto de 2010

REPORTAGEM: drogas e violência

por Ivone Stefania Ponczek*

Rio - Dois recentes episódios chocantes e violentos relacionados ao uso de drogas foram noticiados pela mídia: o rapaz que esfaqueou os pais e a adolescente, a avó. Há tendência a se estabelecer relação linear entre uso de drogas e violência e vice- versa.

Apesar de a droga e de as crises de abstinência poderem atiçar condutas violentas, essa correlação não é tão simplista e linear. Não podemos avaliar casos sem conhecer suas histórias e seu contexto. Muito se fala sobre a violência doméstica, da palmada ao espancamento letal, do abuso sexual contra crianças e adolescentes, da prostituição infantil, dos homicídios familiares e de outras tantas questões dramáticas. Pouco se fala do silêncio e do cala-boca que não permitem que crianças e adolescentes tenham sua palavra ouvida, legitimada.

Não raro, meninas vítimas de abuso de pais, irmãos ou padrastos são desmentidas (termo usado pelo psicanalista Sandor Ferenzi) pelas próprias mães e parenetes. Em uma novela, uma adolescente é punida por querer saber quem é seu pai.

O desmatamento atinge também as árvores genealógicas de jovens com famílias desestruturadas e frequentemente inexistentes, marcados pelo desamparso. A lei e a autoridade justas e éticas faliram. Pais, professores e políticos não são modelo de identificação e internalização de valores. Roubar, matar, jogar filhos pela janela, filhos matarem pais, são fatos que chocam a opinião pública, mas que se repetem talvez porque haja “um grito parado no ar” de uma crise moral mais ampla.

Que a droga é problema sério, não há dúvida, mas cabe perguntar porque se usa drogas, por que crianças e jovens são vítimas de drogas, principalmente do crack, obscurecendo suas mentes e atacando seus frágeis corpos.
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* Diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da Uerj)

Fonte: http://odia.terra.com.br/portal/conexaoleitor/html/2010/8/

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